Minhas mãos ficaram tremulas. Cody pode até ser o motivo de uma das maiores dores que já senti, mas continuava sendo meu primo.

- Co- como assim ? – Gaguejei.

- Eu não entendi direito. Ele mal consegue falar, Joe. Você precisa vir comigo, eu já chamei a ambulância e eles podem chegar a qualquer momento.

Me virei depressa e esbarrei em Paige, ela estava com expressões de fúria, seus olhares estavam voltados para Ashley – que retribuía com o mesmo olhar –. Sacudi a cabeça, corri para o quarto e me troquei o mais rápido que pude. Atravessei o corredor em tempo recorde e segurei Paige pelo ombro.

- Eu não vou demorar – abaixei o olhar – Espere aqui. 

Corri em direção a porta, não olhei para Ashley, por mim ela não precisaria ir junto,mas ela me informou sobre isso, nada mais justo. Consegui ouvir seus passos apertados atrás de mim. Quando cheguei a portaria parei na porta e fiquei completamente paralisado.Haviam muitas pessoas em volta dele,mas consegui vê-lo. Cody estava estirado no asfalto sobre uma poça de sangue, seus olhos estavam entreabertos e ele deu um leve sorriso, com dificuldade, quando me viu. Corri até ele, empurrando todos que estavam na minha frente, apoiei sua cabeça em meu braço e tentei limpar o sangue de sua testa.

- Onde está a ambulância ? – gritei para Ashley, tentando segurar o choro.

- Não sei ... Não sei. Já deveriam estar aqui – ela respondeu entre soluços.

Uma lágrima escorreu de meus olhos, não consegui me controlar. A cada segundo que se passava os olhos de Cody se fechavam cada vez mais e isso me desesperava.Me lembrei de todas as nossas brincadeiras, de quando quase fomos presos, de todas as vezes em que tive que lhe levar nas costas para a casa por ele estar bêbado demais e de quando mentíamos que íamos estudar um na casa do outro para sair com alguma garota. Ver seus olhos se fechando me fez esquecer ele com a Ashley e perdoá-lo imediatamente.As sirenes da ambulância pareciam próximas, eles chegaram e estacionaram perto ao corpo de Cody e um homem com estatura média e barbicha se aproximou.

- Então, o que houve ? – Perguntou.

Revirei os olhos.

- Ah! Eu não sei ! – respondi ironicamente – Você não está vendo um garoto ensanguentado no chão ? – gritei com lágrimas no rosto.

- Ele esta nervoso... – Ashley respondeu suavemente.

- Dá pra abrir logo essa droga de ambulância e levar meu primo para um hospital? Ou vão ficar parados olhando pra minha cara?

- Não grite conosco,senhor, não vamos discutir – ele se virou e pegou uma maca.

Seu amigo loiro de olhos escuros saiu do carro e o ajudou a colocar Cody sobre a maca.Entrei na ambulância junto com o médico de barbicha e Ashley correu até a porta da ambulância e me encarou.

-Eu também quero ir ! – falou.

- Tem um ponto de ônibus aqui perto, você sabe onde fica o hospital.

O médico puxou a porta direita da ambulância e Ashley gritou:

- Eu quero ir !  

- Não ! – gritei de volta, fechei a outra porta e pedi para acelerarem.  

O hospital não era longe, chegamos bem rápido. Retiraram Cody de lá de dentro e o levaram para uma sala, então me disseram para esperar na sala de espera. Bom,eu já havia visto novelas em que isso acontecia e eles ficavam andando de um lado para o outro, mas eu só fiquei sentado de cabeça baixa, rezando. Ashley apareceu toda descabelada e se sentou ao meu lado. 

- Já falaram alguma coisa?  

Apenas  balancei a cabeça em reprovação.  Ela deu tapinhas no meu ombro. 

- Não encosta em mim – disse com desprezo e me afastei dela. 

- Você não vai ficar bravo comigo para sempre,Joe.Você vai voltar a falar comigo como antes. 

- Fique esperando então. 

Me virei e a vi chorando, quando viu que estava olhando, ela tapou o rosto com as mãos. Me senti mal, sei que não deveria, ela não gostava de mim como eu gostava dela, isso era óbvio, todos perceberiam,mas não pude vê-la chorar. 

- Ashley,eu é quem deveria estar chorando. 

- Não foi você quem foi rejeitado – ela soluçou.

Abaixei a cabeça e respirei fundo, depois olhei em seus olhos. 

- Você surtou quando citei o nome de uma ex namorada minha e quando eu disse que morava com uma , também. E depois beijou meu primo.

 Ela abaixou a cabeça e sussurrou “desculpe”.

Sacudi a cabeça. 

- Eu não vou dizer que seremos amigos, porque não seremos e eu também não quero. 

- O  quê ?  

- Eu não quero te ver mais, eu não quero mais olhar pra você e lembrar do que você fez comigo. 

- Eu já pedi desculpas. 

- E isso adianta alguma coisa? 

Ela ficou calada, olhando para meus olhos e se aproximou do meu rosto. No mesmo momentos, me levantei e vi o médico se aproximando. 

- Então, doutor. Como ele está? – perguntei. 

- Ele vai ficar bem, só precisa ficar aqui alguns dias para podermos controlar os medicamentos. 

- Tudo bem - suspirei de alivio

– Posso ir vê-lo ?  

- Claro.

 Andei rápido até a porta do quarto e quando a abri, entrei bem devagar. Cody sorrio fraco. 

-Não achei que viesse – ele disse, sereno. 

Me sentei ao seu lado. 

- E então, cara.Eu sempre soube que você era desatento,mas não a esse ponto. 

Ele riu. Fiquei feliz por fazê-lo rir. 

- O que eu posso fazer? Sou tão charmoso que nem o carro conseguiu resistir.  

Assenti com a cabeça. 

- Mas é claro – disse com ironia. 

- Você não esta mais bravo comigo ? – ele perguntou.

Respirei fundo.

- Não.

- E com a Ashley?

- Eu não quero mais ficar perto dela ,cara.

- Mas você ama ela, não é ? – ele tossiu.

- E desde quando isso é suficiente? Se ela não gosta de mim o que eu posso fazer?

- Sabe o que agente vai fazer? Sabe qual vai ser a primeira coisa que agente vai fazer quando eu sair desse hospital?

- O quê?

- Nós vamos a uma festa e eu irei te ajudar a esquecer a Ashley – ele se empolgou e tentou se levantar,mas sentiu dores e voltou a deitar.

- Ei, fica calmo, relaxa. 

- Tudo bem.