Primavera escrita por Jules


Capítulo 61
Beije-me forte antes de ir, tristeza de verão...




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Uma das coisas que eu mais gostava no mundo era dormir. Achava maravilhosa a sensação de deitar na cama e sentir cada osso do corpo estralar; cada músculo doer. Sem falar que poucas coisas superavam o prazer de cair no sono.

Eu dormia por horas a fio, com a boca aberta e roncando. Meus sonhos eram sempre nítidos, coloridos, reais. Eu os adorava. Até os meus sonhos mais tristes eram lindos e renderiam um bom livro.

Meus pesadelos eram um inferno.

Era como conhecer a pessoa que matou seus pais e se apaixonar por ela. Era como ter seus olhos arrancados por alguém. Meus pesadelos conseguiam ser piores do que os fatos. Conseguiam ser piores do que a realidade. Piores do que as lembranças.

E era assim como eu me sentia: Amaldiçoada. Dentro do meu próprio pesadelo. Do pior de todos eles.

Quando abri os olhos desejei desesperadamente cair no sono novamente. O calor era insuportável, havia gotas de suor em minha testa. O quarto estava num silêncio fúnebre, o que significava que ele estava acordado.

Meu Taylor.

Olhei para Taylor e meu coração se partiu em mil pedaços. Sua pele dourada estava suada, sua expressão era triste como poucas vezes eu tinha visto. Seus olhos estavam rosados e sua boca estava mais vermelha que o normal.

Meus olhos encontraram os dele por um momento e eu sorri numa tentativa de amenizar sua dor.

Ele sorriu para mim.

E então, eu não me importei com meu mau-hálito matinal, com meu cabelo bagunçado ou com meu rosto inchado e olhos sujos. Joguei-me nos braços de Taylor e desejei poder continuar ali para sempre.

- Bom dia, meu anjo – eu disse.

- Bom dia, pequena – ele beijou minha testa e respondeu com uma voz rouca que fez meu coração parar. – Você está bem?

Sorri confiante.

- Estou.

Ele assentiu.

Por mais que ele tentasse disfarçar, a tristeza de Taylor era aparente. Sentei-me ao lado dele, me cobrindo com lençóis e coloquei a mão em seu rosto.

- Não importa o que aconteça Taylor, eu sempre estarei com você, bem aqui – Eu disse colocando a mão em seu coração. Peguei a mão dele e beijei sua palma, depois coloquei sobre o meu coração – E você sempre estará aqui, comigo.

Seus lábios tremeram e ele me apertou tanto contra seu corpo que eu mal conseguia respirar.

- Podemos ficar aqui por mais algum tempo? – Perguntei.

- Já são onze horas. E, além do mais, Carol Anne já acordou. – Eu me levantei, Taylor me olhou de cima a baixo e sorriu – Não é engraçado pensar que ao invés de nossa pior noite, essa foi a melhor?

Eu sorri sem graça.

Peguei Carol Anne e eu e Taylor deitamos no sofá-cama.

- Oi – Ela disse, beijando a mim e a Taylor – Papai Taylor – Ela já conseguia dizer  o nome de Taylor perfeitamente. Então ela subiu em minha barriga e apoiou a cabeça em minha bochecha.

Carol Anne levantou a cabeça e sorriu para mim. Sua língua fazia movimentos enrolados como se ela quisesse dizer algo.

- M... m... – Ela tentou.

- Ma-mãe – eu disse devagar, tentando ajudá-la.

Os olhinhos de Carol Anne encheram-se de lágrimas. O som de seu choro me inundou e eu quase comecei a chorar também.

- Shh... – eu disse a embalando – Meu amor, você é muito pequenininha ainda! Meu bebezinho. – eu fiz cócegas em sua barriga e ela parou de chorar. Passei a mão pelo seu rosto e enxuguei suas lágrimas – Eu não fico chateada por você não conseguir dizer meu nome. Quando você tiver de dizer, você dirá.

Ela me abraçou por um longo tempo.

Enquanto nós íamos para a casa de meus pais, Carol Anne caiu no sono. Uma conversa que Taylor e eu tivemos há muito tempo não saia da minha cabeça.

- Juliet... Você já percebeu o jeito como Aaron olha para Carol Anne? Como se...

- Como se ele tivesse tido um imprinting? – Completei - Já. Mas, você sabe isso é tecnicamente impossível... Ele não é um lobo ainda.

Ele assentiu.

- Além do mais, eu não me importaria, se ele tivesse tido. Mesmo eles sendo primos... Se é para ser, será.

- Concordo. Isso é até bom. Proteção nunca é demais

.

- Cuide bem dela – eu disse entregando Carol Anne a Aaron – E se cuide também.

Quando chegamos lá o clima era agradável. Uma confraternização, todos estavam se abraçando e rindo.

- Jules! – Hadwin chamou – Jules... Nós só queríamos te dizer que... se acontecer alguma coisa com qualquer um de nós, você deveria saber que a melhor coisa que nos aconteceu foi poder ver você novamente.

Eu sorri e o abracei com força.

Nessie e Jake também vinham em nossa direção, porém eu levantei o dedo indicador para eles e, com ar de riso, disse:

- Isso não é uma despedida. Nem quero ouvir o que vocês querem me dizer. Depois que nós acabarmos com eles, se julgarem necessário, vocês me contam. O.K?

Eles sorriram.

- Essa é a Juliet que eu conheço – Jacob sussurrou quando se afastou de nós.

De repente os únicos sons eram os de nossos corações. Até Carol Anne e Aaron ficaram quietinhos dentro de casa

Eu estava perdida, mas agora me encontrei.

Eu posso ver, mas já fui cega.

Eu era tão confusa quanto uma criancinha. Tentando levar o que eu conseguia, com medo de que eu nunca acharia todas as respostas.

Eles não usavam mais o típico uniforme e tampouco mostravam alguma parte da educação costumeira deles. Ela me encarou com os lábios arreganhados sobre os dentes. Ela não me assustava nem um pouco, ela não tinha chance nenhuma contra mim.

Eles seriam aniquilados.

Sem nenhuma chance de atacar, eles nem viriam o que os atingiu.

Nós estávamos em maior número e ninguém ali estava para brincadeiras. Eu era treinada para aquilo, há muitos anos meu treinamento tinha começado e agora - finalmente - eu iria me vingar. E eu não estava sozinha, não desta vez. Agora eu realmente tinha algo importante pelo qual lutar. Não era algo, mas quem.

Eles iriam ver do que eu era feita.

Jane continuava assustadoramente linda. Aro não era tão assustador pessoalmente. Deveria haver mais de cem vampiros ali.

- Juliet? – Perguntou Alec abrindo caminho em meio a multidão. Eu olhei em seus olhos e ele ofegou. Alec hesitou dar um passo em minha direção, mas quando Taylor sibilou Alec tomou a decisão mais inteligente e recuou.

Nós nunca tivemos uma opinião concreta sobre aquele dia. Nós nos dividíamos entre o melhor dia de nossas vidas, o pior dia de nossas vidas, o juízo final, a libertação, o funeral, a vingança...

E até naquele momento eu ainda não tinha uma opinião final. Uma corrente elétrica passou pelo meu corpo e eu entendi que aquele era o dia mais importante da minha vida, o dia em que eu defenderia o que era meu. O dia em que absolutamente tudo melhoraria, ou absolutamente tudo pioraria.

Uma vida inteira que se resumia a um dia. Àquele dia. 


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