Primavera escrita por Jules


Capítulo 40
Promessas




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          – Mas que porcaria! – Jules resmungou. – Nossa!

– Está tudo bem, Jules? – Aaron perguntou – O que aconteceu?

Jules ficou em silêncio por alguns segundos e depois sorriu, passando a mão pelos cabelos quase ruivos de Aaron.

– Está tudo bem Aaron. Só senti uma dor na barriga... – ela o encarou – Sabia que você está a cara de sua mãe?

Aaron riu.

Peguei a mão de Jules e beijei a sua palma. Ela sorriu. Aquele sorriso perfeito e angelical, de dentinhos pequenos e brancos que deixava qualquer um desconcertado.

– Jules, já está quase anoitecendo – Rosalie alertou.

– Lá vamos nós – Jules murmurou.

Todos os dias nós mediamos sua temperatura, sua altura e comprimento da barriga. Jules não gostava nada disso mas colaborava, ela sabia que era necessário.

Jules começou a se levantar devagar. Eu levantei para ajudá-la, mas ela dispensou. A roupa dela e sofá estavam molhados.

– Está tudo sob controle – ela gemeu levantando os braços – Só preciso me esticar...

Jules foi interrompida por um estalo alto e agudo. Seu rosto ficou branco e ela ficou imóvel, segundos depois ela gritou.

– O que foi isso? – Balbuciei horrorizado.

Todos os presentes na sala ficaram imóveis por um milésimo de segundo. Eu não sei o que aconteceu, foi rápido demais – num segundo Jules estava caindo e no outro ela estava inconsciente em meus braços enquanto eu subia as escadas.

– Ligue para Carlisle e para os pais dela! – Gritei para Renesmee.

– A morfina! – Jacob gritou para Alice – Pegue a morfina!

A sala para qual fomos parecia um quarto de hospital. Tinha uma cama automática, janelas grandes com persianas, a luz fraca do sol entrava pela janela.

– Ótimo, a luz queimou – Jacob rosnou enquanto eu colocava Jules na cama com o forro descartável.

Outro grito. Não, não era um simples grito – era um guincho de agonia, capaz de gelar o sangue. O som apavorante foi interrompido por outros, guturais.

Renesmee finalmente havia chegado com a morfina, a injeção tinha uma agulha comprida e grossa. Quando ela foi injetar em Jules – quando a agulha fez força contra a pele dela – a agulha tilintou e caiu estilhaçada no chão.

– Deus – Renesmee murmurou – Como isso é possível?

Não! Que diabos era aquilo?!

Todos nós encarávamos o braço enquanto tentávamos pensar em nossas alternativas.

Não havia nenhuma, teríamos que fazer tudo a sangue frio.

– O que vamos fazer? – Jacob perguntou – Como vamos...?

No meio disso tudo, Jules voltou a si. Ela engasgou e tossiu. Quando recuperou o fôlego reagiu às palavras deles com um grito que gelou meu sangue.

– Tirem meu bebê... AGORA! – gritou ela, sufocada – ELE vai morrer!

Mais uma vez Jules tossiu e não conseguia parar. Renesmee foi para o lado dela erguendo sua cabeça para que ela pudesse respirar.

– Vamos fazê-la tomar a morfina – Renesmee sugeriu.

– NÃO! – Jules protestou com um grito – Não! Ele não vai agüentar muito mais tempo...! Taylor – ela choramingou num grito – Está ME machucando! Por favor, TIRE!

Eu olhei para Jacob quando ouvimos outro estalo, o mais alto até então.

- Isso foi a coluna dela? – Perguntou Renesmee, horrorizada.

Imediatamente peguei o bisturi e ergui a blusa de Jules. A pele de sua barriga estava tão fina, tão fraca, tão comprometida que o bisturi deslizou rasgando sua pele e pouco sangue saiu de lá de dentro.

O cheiro do sangue que escorria de sua barriga machucava o meu nariz.

Eu tentei abrir a placenta de Jules mas, assim como a agulha, quando fiz a pressão do bisturi contra a placenta ele se estilhaçou. Tive o cuidado de entregar todos os estilhaços a Nessie para que eles não pudessem perfurar os órgãos dela futuramente.

– Jake... A cama – Jules murmurou.

– Como?

– A... A... – ela desistiu de terminar e sufocou com um gorgolejo.

O que protegia o bebê era duro como pedra, eu tentei abrir com os dentes, mas não consegui. O único jeito foi rasgar tudo com as próprias unhas...

Oh!

Jules estava enganada. No que ela não se enganara, afinal?

Carol Anne, tão linda!

Eu sorri para bebezinha que me olhava assustada. Ela não parecia ser recém-nascida e sim ter dias de idade. Carol Anne inspirou com força e quando o fez suas bochechas ficaram rosa.

Eu provavelmente devo estar ficando louco, mas aquela criança que tinha acabado de sair da barriga da mãe... sorriu.

O jeito que Carol Anne me olhava, os olhos dela... eram exatamente iguais ao de Juliet.

– Leve-a – eu disse a Jacob entregando a criança ensangüentada para ele.

Renesmee agiu rapidamente e começou a dar pontos na barriga de Jules. A cena dentro daquele quarto não era tão perturbadora quanto eu achei que era. Não havia mais sangue no chão, não havia gritos – só a respiração irregular de Juliet. A única coisa que iluminava o quarto era um abajur no canto da parede.

Renesmee olhou para mim por um longo tempo.

- Eu... Ah! – Ela sussurrou e desapareceu pela porta.

Minha história não é longa, e não há muita coisa boa nela. A única coisa realmente feliz em minha vida era ela. Juliet, minha Juliet. Como é que eu iria viver sem ela? Viver sem a razão da minha existência? Ela estava morrendo em meus braços e não havia nada que eu podia fazer. Se eu perdesse ela, eu perdia tudo.

– Taylor? – Jules soltou um murmúrio estranho e fraco – Tay...

Eu andei até ficar ao lado de sua cabeça. Seus olhos giraram procurando por mim, sem nada ver.

– Incline a cama, por favor? Eu estou sem ar – ela pediu e eu obedeci rapidamente – Não a deixe reta, está bem?

Eu assenti e ela começou a ofegar. Ela inspirava o ar, mas ele não entrava em seus pulmões, ela estava desesperada.

E então eu me desesperei.

O que eu deveria fazer agora? O que ia acontecer com ela?

– Jules, como eu te ajudo?! Diga-me o que fazer – eu dizia desesperado e lágrimas quentes transbordaram de meus olhos – Do que você precisa Jules...?

– Shh, shh – ela me interrompeu. A mão tateava o ar tentando encontrar alguma coisa. Depois de algum esforço ela colocou as mãos em meus lábios – Fique calmo, Taylor – e então seus olhos encontraram os meus. Jules colocou a mão em meu rosto, e alguma coisa dentro de mim se desfez ao seu toque. Eu coloquei a minha mão em cima da dela, mantendo-a ali.

Nós ficamos em silencio por duas batidas de coração.

– Como ela é? – Jules perguntou – Você não me deixou vê-la.

– Ela linda, Jules. Tão linda quanto você.

Ela deu um sorriso fraco.

– Você vai ser um pai maravilhoso – ela sussurrou ainda sorrindo – eu queria estar... Eu queria poder ver.

As lágrimas caiam de meus olhos.

– Não, Jules! Você não pode fazer isso comigo! – eu quase gritava.

Seu olhar ficou triste.

– Você vai cuidar direitinho dela, não vai?

Eu a encarei. Não tinha mais forças para falar. Como ela conseguia? De onde ela tirava toda aquela força? Como... Não. Eu me recusava a viver sem ela.

– Vou, Jules! Nós dois vamos, entendeu? Nós dois!

As lágrimas escorriam de seus olhos e os dedos de sua mão afagaram minha bochecha.

– Me desculpe por quebrar minha promessa – ela disse num soluço choroso – eu te amo tanto Taylor.

– Não! Não, Jules! – eu protestava – Fique comigo, agora! Fique!

– Eu te amo – ela sussurrou novamente.

Os olhos dela começaram a se fechar devagar até ela estar completamente inconsciente. A mão que eu segurava não se sustentava mais, ela escorregou do meu rosto e caiu ao lado do corpo silencioso de Jules.




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