Primavera escrita por Jules


Capítulo 24
Raiva




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Eu me enfiei no meio do mato onde ninguém sem habilidades especiais pudesse me encontrar. Eu deitei no chão e não conseguia parar de rosnar – era assim nesse corpo, minha raiva era transformada em rosnados altos e assustadores.

Ouvi o barulho de patas pesadas esmagando galhos e folhas secas. O lobo negro como carvão e meia-noite saiu de entre as arvores e me encarou. Fiquei arrependida de olhar em seus olhos – toda minha raiva desapareceu, mas eu não queria ficar calma, eu queria sentir raiva de Jacob.

Ele se deitou ao meu lado, me fitando.

Era impressionante o modo como eu era tola. Eu deveria saber – alguém que já teve um imprinting não pode se apaixonar por outra pessoa. Depois de tudo pelo que passei com Taylor eu jamais conseguiria olhar para outro homem. Agora eu e Jacob estávamos quites; eu só sentia por ele o que um amigo sente pelo outro, o que um irmão sente pelo outro, nada mais do que isso.

Eu não percebi mas os meus rosnados tinham se transformado em gemidos. Eu me encolhi para perto de Taylor e ele pôs a perna dianteira por cima de mim, me apertando mais contra seu flanco.

Shh – ele disse em minha mente – Vai ficar tudo bem. Eu o mataria, se você pedisse, mas sinto que isso a magoaria pela manhã.

Não diga isso. Ele é seu irmão. Não quero ser motivo de brigas.

Mas você está sofrendo.

Eu não estou sofrendo por ele, Taylor! – Bufei – Eu estou nervosa comigo mesma por ter acreditado nele. Por... por... ah!

As lembranças daquela noite invadiram minha mente e espalharam-se como veneno. Eu balancei a cabeça tentando me livrar delas.

Ah! – Taylor ofegou – Nossa! Eu sinto muito.

Nós ficamos em silencio por inúmeras batidas de coração.

Eu não preciso do amor dele – eu pensei por fim – eu tenho o amor da pessoa mais linda, inteligente, forte e adorável do mundo.

E quem seria?

Você.

Ele roçou o focinho no meu rosto.

Porque você não se transforma de volta? Assim eu poderia fazer o que eu realmente quero com você.

Eu o encarei.

Minhas roupas foram destruídas esqueceu?

Ele se levantou e pegou seu suéter com a boca.

Tome, ponha isto. Eu fico de guarda.

Obrigada.

Fui para trás das arvores e me certifiquei de que ele não estava conseguindo me ver. Voltei a forma humana e vesti o suéter bege, de mangar compridas. Ficou parecendo um vestido em mim. Sai do meio das arvores e Taylor me esperava. Ele já tinha posto sua calça jeans. As linhas de suas costas eram perfeitas assim como as linhas de seu peito. A cor, a suavidade, a aparência, era tudo lindo.

Minha boca estava aberta, me debati mentalmente tentando lembrar de como fechá-la quando ele olhou para mim com um sorriso malicioso no rosto.

- Ficou melhor em você do que em mim – ele disse me puxando para perto dele – e então, o que você estava dizendo mesmo?

Foi a minha vez de sorrir maliciosamente.

- Eu estava dizendo que eu tenho o amor da pessoa mais linda, inteligente e adorável do mundo. Você.

Ele me beijou.

Não adiantava. Mesmo com Taylor ao meu lado era impossível esquecer o que Jacob dissera. Era constrangedor pensar em tudo o que eu disse a ele naquele dia; nas minhas lágrimas constrangidas e minhas declarações e nas palavras e lagrimas falsas dele.

Era tanta humilhação! Perguntei-me o que ele deve ter sentido quando eu falei aquelas coisas. Ele deve ter feito muito esforço para não rir. Jacob atua muito bem.

Eu amava Taylor – não tinha duvida nenhuma quanto a isso, mas doía quando eu pensava no quanto eu sofri, no quanto eu me sacrifiquei por alguém que nem se importava comigo.

Uma duvida veio a minha cabeça e eu virei o rosto para Taylor.

- O que Jacob foi fazer na sua casa, afinal?

- Ele foi nos chamar para um almoço na casa dos Cullen, mas é claro que eu não vou.

- Porque não?

Ele me encarou surpreso.

- Você quer ir?

- Sim.

- Tudo bem, então.

Chegamos à minha casa, eu não tinha percebido, mas já era bem tarde. Todas as luzes estavam apagadas e não havia quase ninguém na rua.

- Você quer que eu durma aqui hoje? – Taylor perguntou.

- Acho melhor eu ficar sozinha hoje.

Ele esticou o canto dos lábios.

- Tudo bem, eu entendo.

Ele me beijou na testa e foi correndo para casa.

Eu tomei banho e troquei de roupa – coloquei um pijama. Foi esquisito deitar na minha cama vazia. Ela era dura demais, fria demais sem Taylor. Talvez eu pudesse ir até a casa dele e fazer uma surpresa... Não, definitivamente não. Não queria ser uma namorada grudenta.

Quando cheguei na casa de Taylor eu me arrependi mortalmente. Queria voltar para casa. Eu parecia uma criança perdida com uma trouxa de roupas na mão, vestida com pijamas e andando de um lado para o outro.

Até que tomei coragem e dei batidinhas na janela de Taylor.

- Taylor? Taylor? – sussurrei.

Ouvi alguém levantando bruscamente da cama. Taylor abriu as janelas assustado.

Ele sorriu, um sorriso tão alegre, tão lindo! Meu coração acelerou.

- Oi – eu disse sorrindo um pouco enquanto ele me ajudava a entrar pela janela.

Ele não respondeu, só me puxou para um abraço e nós ficamos assim por um tempo.

- A cama ficou muito desconfortável sem você – ele sussurrou em meu cabelo.

Eu suspirei.

- A minha também.

Nós dois deitamos e dormimos abraçados.


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