O Último Elemento escrita por Bia_C_Santos


Capítulo 9
Capítulo 9 - Movendo água


Notas iniciais do capítulo

está acabando gente, esse e mais quatro cap. só :)



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Ao contrário do que eu pensava, eu não sonhei.

       Acordei no meio da noite. Estava quente demais.

       Olhei para os lados e eu vi. De novo. Os pontinhos laranja. Eles que tanto me seguiam. E, dessa vez, não havia ninguém por perto pra me impedir de ver o que eles eram.

       Sai da barraca. Comecei a andar até os pontinhos quando ouvi uma voz.

       - Alice? O que está fazendo? – acho que nunca fiquei tão irritada por ouvir a voz de Rayan.

       Percebi que os pontinhos desapareceram rapidamente.

       - Só tomando ar. – menti. – Estava muito quente ficar na barraca.

       - Você não está com frio?

       Ele estava certo. A temperatura caiu de repente.

       - É, não imaginei que ia estar tão frio aqui fora. De todo o jeito, vou ter que voltar para a barraca. Não imaginei que aqui poderia ficar frio, nem trouxe blusa.

       - Você não parece com sono. Não que voltar para a barraca, não é?

       - É, não quero. Mas não tem outro jeito.

       Comecei a andar em direção à barraca, mas Rayan impediu:

       - Não, espere. Eu já volto.

       Rayan entrou na sua barraca. Era a barraca ao lado da nossa. Alguns segundos depois ele voltou com um manto nas costas e outro na mão.

       - Tome. É seu agora.  – ele me entregou o manto.

       O manto era preto e servia perfeitamente em mim, indo até o chão.

       - Perfeito. Quer caminhar? – ele disse, depois de me observar.

       Assenti.

       Caminhamos silenciosamente até o lago. A lua refletia na água e sua luz iluminava tudo.

       - Rayan - eu disse, depois de um tempo. –, o que você e o Giovanni estão escondendo de mim?

       Ele respirou fundo e olhou para mim.

       - Acho que não podemos esconder para sempre, não é? Mas, por enquanto, é melhor você não saber de nada, ok?

       - Quem é Verônica?

       - É... uma amiga nossa.

       - E o que aconteceu com ela?

       - Ela fugiu. Se irritou comigo e fugiu.

       - Por quê? O que você fez?

       - Amei uma garota que não é ela. E ainda amo.

       Ele olhou para os meus olhos. Deixei-me mergulhar nos olhos dele também. Por um minuto imaginei que essa garota fosse eu.

       Mas isso era impossível.

       - Mas você não fez nada de errado. – eu disse.

       - Não, mas ela não entende isso. Ela quer que eu a ame. Mas é impossível. A garota que eu amo... ela é tão simples e fascinante ao mesmo tempo, entende?

       Ele se aproximava cada vez mais. Meu coração martelava.

       - E... E quem é ela? – perguntei.

       No momento em que ele ia falar, surgiu uma chama no chão. O fogo começou a se espalhar.

       - É melhor apagarmos isso antes de arranjar confusão. – ele disse.

       - Mas, como? Duvido que nossas mãos consigam carregar tanta água para apagar todo o fogo.

       - A minha não. – ele sorriu. – Mas a sua sim...

- Ok, agora faça de conta que está puxando a água. – Rayan dizia.

       Eu não sei por que eu o ouvia. Quer dizer, aquilo era impossível. Mas eu me lembrei de todos os meus sonhos.

       Eu tentava, mas nada. A água continuava calma.

       - Mais forte, por favor. Mais forte! Alice, isso está acabando comigo. – ele dizia.

       Eu ia dizer “Com você? Mas eu que estou fazendo o trabalho todo.” Mas eu olhei pra ele. Ele estava vermelho, queimando.

       Reuni toda a minha força e “puxei” a água. Ela começou a subir.

       - Isso, agora, mova a água até o fogo. Apenas mova seus braços. – ele disse, percebendo que eu estava confusa.

       “Movi” a água até o fogo. Isso me deixava fraca, como se a água fosse pesada.

       - Agora eu solto a água? – perguntei irônica.

       - Isso mesmo, a solte. – ele respondeu. Eu ia protestar, mas não aguentava mais.

       Soltei a água, espalhando-a pelo fogo. Parecia impossível, mas o fogo apagou. Andei até o lugar onde soltara a água. Estava molhado. Então, não havia sido uma ilusão.

       - Como eu fiz isso? – perguntei rindo.

       - Um dia eu te conto. Agora vamos. Já é tarde.

       Ele percebeu que eu cambaleava e foi me ajudar a andar. Me apoiei nele, passando o braço atrás de seu pescoço e ele passou o braço em volta da minha cintura.

       Foi a melhor sensação que eu tive. Eu me sentia segura.

       Chegamos até a barraca e Rayan me soltou. O sol já estava começando a nascer.

       - Você tem algumas horas ainda, então tente dormir. E prometa que não vai ficar sozinha. – ele disse, preocupado.

       - Eu prometo. - sorri. Ele se preocupava comigo!

       Eu ainda me apoiava em Rayan. Ele se aproximou até que tivesse um milímetro de distância entre nós. Lentamente, senti os lábios dele encostando-se ao meu.

       Era como num sonho. Eu caia nos braços dele e minha fraqueza ia diminuindo. Acho que aquilo respondia a minha pergunta não respondida.

       Ele se distanciou, lentamente, e eu juro que teria ficado ali, parada, a noite inteira, se ele não abrisse a barraca.

       - Entre. Amanhã nós... conversamos melhor. - ele disse, e me deu outro beijo, de despedida. 

Acordei outra manhã com a sensação de felicidade.

       Eu lembrava do meu sonho. Era maravilhoso. Queria que fosse realidade.

       Até eu olhar ao meu lado e ver um manto negro. Sorri. Então fora mesmo realidade. Era difícil de acreditar que aquilo poderia ser real.

       Gabi não estava no colchão ao lado. Com certeza já teria acordado, mas isso seria um milagre. Ela dormia até tarde. Então só tinha uma explicação: eu dormi até muito tarde.

       Liguei o celular. 11h35min! Ok, eu não poderia ter acordado tão tarde!

       Peguei uma muda de roupa e sai. Estava indo até o banheiro quando uma voz me parou:

       - Bom dia, Bela Adormecida! Já ia chamar o seu príncipe para te acordar.

       Olhei para trás e vi Gabi. Ela já estava pronta e parecia estar acordada faz tempo. 

       - Ah, oi, Gabi. – eu disse. – Vocês já tomaram café?

       - Sim, faz tempo – ela respondeu, como se não fosse importante.

       - E por que você não me chamou?!

       - O Rayan disse que era melhor não acordarem você. E que você tinha dormido muito tarde. Só não sei como ele sabia disso. – ela me olhou, como se estivesse me perguntando o que aconteceu.

       - Eu já te conto. Só vou me trocar.

       Então, tinha sido real mesmo. Isso não entrava na minha cabeça. Era bom demais para ser verdade.

       Sai do banheiro e me deparei com Gabi me esperando. Ela não precisou dizer nada. Comecei a contar tudo, desde os pontinhos laranja até o beijo. E não deixei de fora o negócio da água.

       - Ok, você está delirando. – ela disse depois que contei tudo. – Você não pode “mover” a água.

       - Não, é verdade! – eu disse. – Eu posso te provar.

       - Ah, ta, você vai mover a água na minha frente?

       - Bom, eu só posso com a ajuda do Rayan, mas eu tenho o manto comigo.

       Fui até a barraca e entrei. Lembrei que tinha deixado o manto do lado do meu travesseiro. Mas não tinha nada lá. Ele não estava em nenhum lugar.

       - Viu? – Gabi disse, vendo que eu não o achava. – Não tem nada. Acho que você sonhou e pensou que foi de verdade.

       - Mas como você explica de o Rayan saber que eu estava fora essa noite? – perguntei.

       - Você é sonâmbula. Acho que ele te encontrou no meio da floresta.

       - Mas eu podia jurar que era verdade!

       - Você estava só sonhando.

       - Você não acredita em mim!

       - Alice, ninguém pode mover a água.

       Eu realmente tinha ficado irritada. Igual a vez que eu tinha me irritado na festa e na escola. Eu não sabia o que estava acontecendo.

       Sai correndo antes que eu me descontrolasse. Fui até o único lugar onde eu não perderia o controle: no rio.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem :)



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