Doce Pecado escrita por Akiel


Capítulo 16
Redenção




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Doce Pecado

Redenção

- Você me ama? - minha voz soa baixa, mas alta o suficiente para que Alexis possa ouvir.

Meu coração se contorce desesperadamente em peito, tão forte que sinto que não restará nada dele quando finalmente ouvir a resposta.

- Sim. - Alexis responde e um sorriso nasce nos lábios finos - Eu te amo, eu preciso de você. Mais do que posso suportar.

- Então por que me deixou? - pergunto, abaixando meu rosto e encostando-o ao de Alexis.

- Eu nunca te deixei. - ela responde - Sempre estive ao seu lado. Em silêncio.

Ouça o silêncio, padre. Lembro-me das palavras de Ludwig e um sorriso surge em minha face, um sorriso falso, quebrado. O que posso ouvir se fizer o que Ludwig disse? Ecos de vozes que já não podem ser mais ouvidas? Resquícios de um passado distante, que não pode ser recuperado? Ou a saudade que ameaçava me consumir sempre que me lembrava de Alexis? Se eu ouvir, escutarei o silêncio dela? Esse silêncio feito de palavras e gestos montados para ocultar o fato de que ela voltará a partir?

- Fique comigo. - sussurro.

- Não posso. - Alexis responde e tal resposta é como uma facada em meu peito.

- Por quê?

- Porque não posso ficar mais aqui. - olho nos olhos escuros tentando entender a resposta dada - Não aguento mais.

Como se tivesse levado um choque, compreendo a que lugar Alexis se refere como aqui. Dou um passo para trás, sentindo as lágrimas que escapam de meus olhos, vendo-as se refletirem nas linhas vermelhas que marcam a face de Alexis.

- Nunca foi ele. - começo - Sempre foi você! - minha voz se torna um pouco mais alta - Não é Ludwig... É você que vai...

- Desaparecer. - Alexis completa, o tom de voz baixo e suave.

Não digo nada, concentrando-me apenas em sentir. Sentir meu peito subindo e descendo em uma respiração descompassada, meu coração doendo cada vez mais, a dor me sufocando. Respiro fundo e olho para Alexis, vendo, no brilho contido dos olhos escuros, que, há muito tempo, ela sabe como isso vai terminar.

- Por quê? - pergunto, o desespero claro em minha voz - Se esse sempre foi o final, para que fazer tudo isso? Por que me transformar no que sou? - Um pecador, minha mente completa - Por que me deixar no silêncio? POR QUE ME AMAR? - acabo por gritar a última pergunta, incapaz de ignorar a sensação de que o significado do verbo contido nela está por trás de tudo o que Alexis fez.

Caio ajoelhado sobre a grama, minhas mão sobre meus olhos, chorando como uma criança dominada pela confusão. Logo, sinto o toque de Alexis sobre meus pulsos, abaixando-os. As unhas afiadas tocam meu queixo e erguem minha face, fazendo-me encarar as íris escuras.

- Sua última pergunta não responde as outras? - ela questiona em um sussurro - Eu te amo e mesmo sabendo que não teria muito tempo com você, que não aguentaria permanecer ao seu lado sabendo que desapareceria, eu queria te mostrar meu mundo. - uma pausa, um fraco sorriso - Eu sei que te fiz sofrer, mas a dor não foi boa? Foi através dela que você desvendou seu próprio mundo e descobriu quem você realmente é, não foi?

Não respondo, entregando-me a meus pensamentos. Tudo pelo que passei nesses duzentos anos, todo pecado que cometi... Só fui capaz de continuar por causa dela. Meu desejo por me tornar a redenção dela se tornou minha força. E tudo o que faço por minhas crianças, faço por causa do que ela fez a mim, do que ela me mostrou. A verdadeira beleza do mundo, a força e o valor da fé.

Mais calmo, desfruto do toque de Alexis em minha face, secando minhas lágrimas. Ergo minha mão, tocando o rosto pálido e sentindo o líquido vermelho sob meus dedos.

- O que eu sou para você? - pergunto.

- Você é meu pecado. - Alexis responde - Você é minha redenção. Meu amor. Minha razão para voltar.

Dói ouvir a última frase, mas também faz nascer algo em mim. Uma pequena esperança.

- Prometa que te verei novamente. - peço.

- Prometo. - ela diz - E você? Promete que te verei novamente?

Toco o pescoço de Alexis com minhas mãos ao mesmo tempo em que me aproximo.

- Me beije. - sussurro contra os lábios finos.

Meu pedido é imediatamente atendido. Eu prometo, penso e eu sei que ela pode me ouvir. Por isso, digo, em minha mente, algo que ainda não disse em voz alta: Eu te amo.

Procuro aproveitar cada momento desse último beijo. Sentindo Alexis em meus braços, gravando o toque dela em meu corpo. Toque que se torna cada vez mais fraco, mais suave, até que seja praticamente impossível para mim sentir os lábios sob os meus.

Afasto meu rosto e abro meus olhos. Não há nada. Abaixo meu olhar e, em minhas mãos, vejo cinzas. Meu corpo começa a tremer enquanto tento controlar minhas lágrimas. Sinto toques quentes em minha pele e olho ao redor, percebendo que minhas crianças me abraçam. Pergunto-me o quanto do que viram elas compreendem.

Uma delas se ajoelha a minha frente. Lágrimas vermelhas sob olhos dourados. Sem dizer uma única palavra, Ludwig me entrega uma rosa.

Uma rosa azul.


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Notas finais do capítulo

Comentários?
O fogo morre, transformando-se em cinzas. (Presença)
Fogo => A presença de Alexis.
Cinzas => A partida de Alexis.
Okay? ^^



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