O Desafio Final dos Deuses - a Prole de Loki escrita por ZackSun


Capítulo 2
Capítulo 2 - Velhos hábitos nunca mudam...


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que disse que o nome do capitulo era diferente mas aconte que me enganei na ordem, Skills do coração era o terceiro capítulo e não o segundo. Enjoy!
=D



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O sol se escondia no horizonte, manchando com um laranja melancólico as árvores do cerrado. Cortando a mata, um jipe seguia pela estrada em uma velocidade nada segura para a via, mas seu condutor não se importava. Arthur pisava fundo pela tarde enquanto Arthemis tentava cochilar no banco de trás. Os faróis iluminaram uma placa verde com letreiros brancos, que anunciava os limites da cidadezinha de Alto-Taquari, em Mato Grosso, a poucas horas de onde eles estavam. Arthur saiu da estrada entrando em outra de terra, o piso irregular chacoalhava o carro e fez Arthemis acordar.

 

Arthemis: Chegamos? – Ela bocejava um sono mal dormido.

 

Arthur: Sim, estamos indo para a pista de pouso.

 

Não falaram mais nada até chegar ao local. Uma enorme pista de pouso feita na terra apenas para aviões de pulverização ou jatinhos comerciais. Lâmpadas de alta potência iluminavam sua extensão e um jatinho particular estava pousado em um dos lados. Vitor, Ariel e Douglas estavam lado a lado, correram em direção ao carro quando Arthur chegou. Não houve nenhum cumprimento por parte de ninguém. Um silêncio estranho pairou por alguns minutos quando Vitor finalmente se manifestou.

 

Vitor: Lamento o que aconteceu com vocês.

 

Arthur: Também lamentamos por você.

 

Vitor: Pode me contar, em detalhes, o que aconteceu?

 

Arthur descreveu a história, inclusive os sonhos que tivera com Hellena. Vitor também descreveu a sua versão e seus sonhos, aos poucos todos os Escolhidos revelaram algum pesadelo com a valquíria.

 

Douglas: Lembram-se que todos sonhamos com ela na noite anterior a nossa partida?

 

Arthemis: É, mas desta vez não temos mais computadores, nem o CD dourado, e o Ragnarök é tão velho que já virou clássico dos games.

 

Vitor: Não foi o computadores ou o jogo que nos levou para RuneMidgard, foi a árvore.

 

Arthemis: Ih! Agora pirou na batata de vez...

 

Vitor ignorou sua rival.

 

Vitor: A Yggdrasil é uma enorme árvore. Ela conecta todos os universos existentes através de portais nas pontas de suas raízes e galhos.

 

Ariel: Sabemos disso Senpai, mas aonde você quer chegar?

 

Vitor: Vamos pensar gente! Se a Yggdrasil é uma arvore e conectam outros mundos, qual seria a coisa mais lógica para usar como portais?

 

Douglas: Árvores, as árvores!

Arthemis: Mas não qual quer arvore, tem que ser uma arvore especial. Lembro de citações em tomos antigos que achamos na escavação da área desmatada na Amazônia. Lembra Arthur?

 

Arthur: Sim, então... Deve ser a árvore em que acordamos no dia em que voltamos!

 

Vitor: Exato!

 

Arthemis: Isso é impossível! São oito anos essa árvore já foi derrubada faz tempo.

 

Vitor: Acho que não. Como você mesmo disse, elas são árvores especiais, não se derruba uma delas com um simples machado.

 

Arthur: Mas Vitor, onde acharemos essa árvore? A cidade cresceu muito em 8 anos, ela pode estar em qualquer lugar.

 

Vitor: Eu acho que tem uma pessoa dessa cidade que deve saber.

 

---

 

            Já eram 2 horas da manhã e Julio, o prefeito de Alto Taquari, estava na sala de roupão vermelho e sandálias. Era um homem magro, nos seus 50 anos, os cabelos já clareavam nas costeletas, não era bonito, mas tinha uma espécie de charme magnético no seu olhar, por trás de óculos esguios. Ele andava de um lado pro outro com uma caneca de porcelana na mão, a qual enchia de café de meia em meia hora. Não eram os assuntos da cidade que o afligia, eles eram bem amenos se comparados ao motivo de sua insônia: ele tinha uma filha adolescente.

 

Julio: É só uma festa paizinho. - Disse ele fazendo uma voz esganiçada. — Uma ova! Essa menina me paga! Quando chegar vai ficar um ano, não, dez anos sem ir à festa nenhuma!

 

Enquanto praguejava e fazia promessas que nunca iria cumprir quanto ao castigo da filha, ele ouviu a capainha tocar. Armou-se de um cinto de couro e ainda muito irritado seguiu para a porta, não iria argumentar, iria catar a filha pelos cabelos e dar uma surra que ele jamais sonharia em vida. Ele abriu a porta e agarrou um braço sem ao menos ver quem era, de súbito, o seu braço deu uma volta, e seu corpo acompanhou fazendo-o estatelar no chão. Logo um joelho pressionava sua garganta e o cinto prendia uma de suas pernas ao braço, mas o joelho parou de fazer pressão e uma voz conhecida soou em espanto.

 

Vitor: Pai?PAI! Oh meu Deus, pai me desculpa! Mas é que estava escuro e eu pensei que o senhor fosse algum agressor...

 

Julio se virou e a raiva passou em segundos.

 

Julio: Vitor, meu filho! Meu varão! Meu primogênito! Filho de minhas bolas!

 

O rapaz ajudou o pai a levantar, ele ficou muito mais alegre quando viu Arthur e Douglas entrando pela porta.

 

Julio: Mas a que devo essa visita tão querida? Não é natal ou dia dos pais. –zombou.

 

Arthur: Desculpa chegarmos tão tarde da noite e tentado te matar, pai. –disse olhando Vitor com uma cara de reprovação.

 

Vitor: Quê? Foi sem querer, reflexo das aulas de defesa pessoal. -Mentiu.

 

Julio: Ah, não tem problema filhos, eu não me machuquei... -ele levou a mão nas costas. —... Não muito, mas venham, vou fazer um café pra você e vocês podem me contar tudo.

 

Não contaram tudo, e nem poderiam, o coração do velho homem não agüentaria saber que a nora e os netos haviam sido seqüestrados, ainda mais por uma luz branca misteriosa. Ao invés disso contaram que estavam com projetos de investimento em recursos do meio-ambiente e por isso perguntaram sobre as arvores nativas da região. Julio deu um suspiro, como se lembrasse de algo ruim.

 

Julio: Nem me falem de árvores, pelo amor de Deus. Tem uma empresa de segurança querendo comprar um terreno com uma árvore velha e não para de ligar na prefeitura.

 

Vitor: Que empresa?

 

Julio: Uma tal de Iklo’s Segurança Patrimonial, tem mil e um terrenos pra comprar mas eles querem a da maldita árvore.

 

Douglas: Mas o que tem esse terreno de tão especial?

 

Julio: Não é o terreno em si, é a arvore nele, ela é indestrutível, tentamos tirar ela até com dinamite, mas não funcionou! Agora tem um grupo de ambientalistas me pressionando de um lado dizendo que a arvore é sagrada e eles do outro, até montaram acampamento lá com cerca e tudo, enquanto seguranças do empresário só esperam o alvará pra invadir o local.

 

O grupo se entreolhou, era o portal para Rune Midgard.

 

Vitor: Pai, temos que ir.

 

Julio: Mas já?

 

Arthur: Sinto muito pai, prometemos ficar mais da próxima vez.

 

Julio: Tudo bem então, vão com Deus meus filhos, e não esqueçam do seu velho pai.

 

Vitor: Pai, uma última coisa, o cinto era pra Giulia?

 

Julio: Era sim, aquela sua irmã me enganou, disse que ia pra uma festa, mas liguei para amigas dela e ela não foi! Ta sumida desde ontem!

 

Eles pararam de súbito se entreolharam de novo.

 

Vitor: Pai, alguma dessas amigas mencionou um clarão de luz?

 

Julio: Não, não...

 

Arthur: Ufa...

 

Julio: ...Mas agora que você mencionou, ontem teve um clarão enorme perto da escola, até achamos que um transformador tinha explodido, mas não havia sinal algum disso. Mas o que isso tem haver com sua irmã?

 

Vitor: Ah, não...

 

---

 

As estrelas enchiam o céu sem lua e um vento gelado passeava pelas ruas. O grupo havia se dirigido para o terreno indicado pelo prefeito e, como ele havia descrito, tinha muitos acampamentos no lugar. Os ambientalistas tinham rodeado a árvore com uma cerca de malha e se instalado dentro dela. Os seguranças da construtora tinham rodeado o acampamento e se instalado em grandes contêineres metálicos adaptados para serem alojamentos. Os cinco olhavam do telhado de um prédio baixo na quadra oposta ao terreno. Estavam vestidos com roupas de frio, pois ventava muito naquela madrugada. O vento balançava os galhos da frondosa árvore, que se encontrava no meio do terreno. Na época era difícil destingi-la, mas agora, podia se notar o quanto era majestosa, mesmo com o vento forte nenhuma folha se soltava.

 

Vitor: São 13 barracas, 12 contêineres, acho que tem 20 pessoas do lado dos ambientalistas a julgar pelo tamanho das barracas e o dobro dos seguranças da empresa.

 

Douglas: Você contou tudo isso só de olhar? –perguntou impressionado.

 

Vitor: Devo estar enganado, eu nunca fui bom com números... Arthur vai checar por trás das árvores, eu não consigo ver daqui. Douglas e Ariel chequem mais de perto. Eu e Arthemis vamos ficar aqui pra vigiar o movimento.

 

Ele distribuiu dispositivos que pareciam celulares.

 

Vitor: São walk-talkies*, mantenham no canal sete e chamem se precisar.

 

Eles se separaram, Arthemis e Vitor ficaram olhando o acampamento abaixo. O vento soprava a lona das barracas fazendo o chão parecer um mar revolto. Novamente, um silêncio estranho pairava no ar, até que Arthemis não agüentou mais.

 

Arthemis: Armou pra ficarmos sozinhos, né?

 

Vitor: Não, é verdade eu nunca fui bom com números, mas de uns tempos pra cá minhas habilidade começaram a voltar.       

 

 Arthemis: Se você sabia do portal, por que não me disse antes?

 

Vitor: Eu não sabia, nunca soube, posso estar errado agora e colocar vocês em perigo.

 

Arthemis: Não, você não está errado, nunca esteve. Sempre a um passo de nós sempre soube de tudo.

 

Vitor: Não sabia que isso iria acontecer.

 

Arthemis: Não sabia ou não queria?

 

Vitor: Você tem todo o direito de ficar zangada comigo Arthemis, não fui com você nas suas empreitadas, disse não quando me pediu ajuda. Vai me achar um canalha por dizer isso, mas fiz isso tudo pensando no bem estar de todos vocês.

 

Arthemis: Tem razão, eu acho mesmo.

 

Vitor: Será que você não percebe? Rune-Midgard é lindo, cheio de magia e aventura épicas, mas é um mundo perigoso, muito perigoso. Vocês não passaram o que eu passei...

 

Arthemis: Não me venha com essa de que “Você não passaram o que eu passei...”. Passamos sim e você sabe muito bem, nos vivemos, morremos e ressuscitamos da mesma foram que você! Você é um egoistazinho, egocêntrico que só pensa no próprio umbigo.

 

Vitor: E mesmo depois disso tudo você iria ter a coragem de criar o seu filho em um mundo onde ele pode morrer a qualquer momento na mão se seres malignos?

 

Arthemis hesitou. Até agora nunca tinha pensado na falta que seu filho faria em sua vida. Os riscos que ela havia corrido até agora eram calculados, mas em RuneMidigard nunca dá pra prever o que acontecerá.

 

Vitor: Viu só? Eu queria apenas proteger a minha família, e isso inclui os meus amigos também.

 

Arthemis: Tudo que eu descobri então foi em vão? Anos de trabalho pra saber que tudo que eu sempre quis estava em baixo do meu nariz...

 

Vitor: Também não seja dramática, não é em assim, “nunca uma pesquisadora desvendou tanto sobre a mitologia nórdica em tão pouco tempo”. –Disse parafraseando um premiado documentário feito sobre as descobertas da amiga.

 

Arthemis: Trocaria isso tudo para respirar o ar puro de Gefen mais uma vez.

 

Vitor: E vai.

 

Arthemis iria indagar Vitor novamente sobre o que ele realmente sabia, mas foi interrompida por um chiado do walk-talkie.

 

Arthur: Mano, não tem mais ninguém além do que você contou, câmbio.

 

Douglas: Aqui também, por que você pediu isso pra gente mesmo? Câmbio.

 

Vitor: É melhor estar prevenido, reagrupem e me encontrem no carro do Arthur, câmbio final.

 

Vitor se virou para Arthemis e a olhou nos olhos de uma maneira que a deixava constrangida.

 

Vitor: Bem acho que nos entendemos não é mesmo?

 

Arthemis: Não tenha tanta certeza, ainda não sei se confio em você.

 

Vitor: Que bom, quer dizer que voltamos ao nosso relacionamento normal.

 

---

 

Vitor abriu o porta-malas do Jippe de Arthur e retirou duas grandes maletas pretas, daquelas de carregar armas de fogo.

 

Arthur: Mano, você vai mesmo usar a força para entrar naquele local?

 

Vitor: Não vejo alternativa, nem para mim nem para vocês. Mas é só por precaução.

 

Douglas: Eu não vou fazer isso, vai que dê algo errado...

 

Vitor: Pois é, foi por isso que eu trouxe.

 

Ariel: Mas, Senpai não seria melhor se só usássemos o diálogo?

 

Vitor: É o que eu queria, mas não vai dar certo. Então, caso de problemas, usaremos isso.

 

Arthemis: Nem vem, eu não vou matar pra entrar naquele local.

 

Vitor parou de mexer nas maletas e olhou para os amigos, só então notando a cara de preocupação que eles faziam ao olhar para elas.

 

Vitor: Esperem, o que acham que tem aqui?

 

Arthur: Pistolas?

 

Douglas: Metrancas?

 

Arthemis: Revólveres?

 

Ariel: Er...Bazucas?

 

Vitor: C-como? –Disse abrindo os trincos da maleta e mostrando para os amigos. Em uma delas havia um boken de bambu, e um martelo de haste. Na outra havia um par de tonfas e dois bastões retráteis.

 

Vitor: Não é só porque matei uma vez que gosto de fazer isso, além do mais, vocês são tão hábeis com armas de fogo quanto um chimpanzé.

 

Ele entregou o boken para Douglas, o mangual para Arthur.

 

Vitor: É o mais parecido que achei com as armas de vocês.

 

Douglas: Estou meio enferrujado, mas acho que vai servir. -Disse balançando a espada de madeira usada para treinos.

 

Arthur: Nossa, isso aqui não tem balanceamento nenhum...E a cabeça desse martelo, parece uma bola de basquete recheada com ferro!

 

Vitor: Er...eu não tive muito tempo pra preparar, e não é fácil fazer armas medievais nos tempos de hoje, sabe.

 

Arthur: “Grila” não mano, me vê um canivete e fita adesiva e deixo ele digno de um Mestre-Ferreiro.

 

Vitor entregou o que o irmão pediu e se voltou para as meninas.

 

Vitor: Vocês ainda têm magia?

 

Arthemis: Bem...-ela levantou o polegar e fez ele pegar fogo.-Também consigo fazer o fogo mudar de cor.

 

Ariel: Eu curo tanto quanto um band-aid.-disse desanimada.

 

Vitor: É melhor do que nada, em todo caso...-ele entregou para as duas dois bastões de alumínio retráteis.

 

O Algoz retirou ou as tonfas e prendeu na cintura.

 

Vitor: Estamos prontos, vamos atacar...

 

Arthur: É isso aí galera, como nos velhos tempos! Atacar!

 

Todos saíram correndo deixando Vitor sozinho com cara de quem acaba de ver um maestro de musica clássica dançando funk.

 

Vitor: ...furtivamente?

 

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Notas finais do capítulo

Prometo que não demorarei como demorei nesse, é que crise de criatividade é fogo. Além disso eu escrevo um livro e tive que me dedicar mais a ele. Mas agora que ele está adiantado postarei com mais frequência.