Destinos Partilhados escrita por shamps_e_washu


Capítulo 7
Luz significa...




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Luz Significa...

- Não foi um sonho desta vez.

Raito observava Ryuuzaki dormindo. Ainda que custasse a acreditar, o corpo nu e quente de ambos não deixava dúvidas do que tinha acontecido ali.

Teve o cuidado de enrolar-se no cobertor que caíra no chão durante a madrugada. Em silêncio, recolheu também o casaco e cobriu o peito de L. A movimentação o fez se mexer um pouco e suas mãos pareceram procurar alguma coisa, mas Raito manteve-se sentado no canto do sofá, distante do toque dele.

A luz do dia trouxera muitas implicações à sua cabeça. Levantou-se e foi até a cozinha, enquanto flashes da noite anterior iam e vinha na sua mente. Seu corpo ainda guardava as sensações novas pelas quais passara, deixando-o até um pouco trêmulo.

- Como cheguei a isso?Eu dormi com o L...com um homem...com...meu inimigo...

- Raito?

Quando se percebeu, Raito segurava uma caneca de café que acabara de preparar sem se dar conta, e L, já devidamente vestido, o fitava. Teria notado a ternura no olhar dele se não estivesse tão absorto nos próprios pensamentos.

- é?

Virou-se para a cafeteira, sem querer encarar o outro.

- Obrigado. Vou aceitar.

Quando Raito se deu conta, L já o abraçava pela cintura, beijando-lhe o rosto antes de sentar-se na cadeira da cozinha. O coração do jovem Yagami batia rápido, numa confusão de sentimentos.

- Não é agora que deveríamos... fingir que nada aconteceu?Isso... foi longe demais. É preciso colocar um ponto final enquanto há tempo.

Virou-se se para Ryuuzaki, decidido a pôr tudo em pratos limpos e encerrar o caso, mas ao vê-lo sorrindo sentiu-se desarmado. Nunca o vira sorrir daquela forma, e tão à vontade. Parecia que o encontrava pela primeira vez.

- O café está ótimo, Raito-kun. – disse, pegando suavemente a caneca da mão do garoto e tomando um longo gole. – Exatamente como eu gosto, bem doce.

- Obrigado. - enrubesceu levemente. Apesar do desconforto que o atingia, teve vontade de beijar aqueles lábios, e até tê-lo por inteiro de novo. Mas passou as mãos pelos olhos, tentando se focar no lógico e controlar seus impulsos.

- Preciso manter o controle...Ryuuzaki. - Sentou-se em frente a ele.

- Hm?

- Pode parecer uma pergunta tola... mas como a gente fica agora?

- Tenho que voltar para a Central.

- Imaginei. – silenciou. Isso era tão óbvio que nem precisava ter sido perguntado, ou seja, cada um iria para seu lado e ninguém tocaria mais no assunto. Mas a próxima frase de L fez os olhos de Raito se arregalarem até parecerem duas luas cheias.

- Eu passo para te ver na saída do colégio, que tal?

- COMO?

- Ou você tem que estudar?Também pode passar na Central, se quiser...

- Espere aí, espere aí um instante. - colocou a caneca sobre a pia, processando tantos pensamentos quanto sua mente tinha capacidade. E sua mente era MUITO capaz.

Ryuuzaki aquietou-se, entendendo o desespero de Raito, e deixou que ele falasse. Aliás, sorriu, pois ele reagira exatamente como esperava.

Desesperadamente gracioso.

- Ryuuzaki. Eu. – hesitou - Eu tenho um encontro.

O sorriso no rosto de L desmanchou-se imediatamente. Aquilo fugira a seus cálculos. Esperava que ele fosse dizer que deveriam esquecer aquilo, que eram dois homens, que ele não era gay, e todo um discurso perfeito completamente condizente ao jovem estudante.

Mas, cada vez que Raito falhava em sua perfeição, Ryuuzaki sentia-se atingido por um algo parecido, mas de efeito tão explosivo quanto.

- Encontro? Já? - não pôde deixar de conotar o 'já' de forma irônica. Raito suspirou.

- É. Um jovem tem o direito de tentar superar a morte trágica da namorada. Não posso deixá-la esperando.

-Queria ter chegado primeiro, Ryuuzaki?É isso que quer dizer? – seu coração palpitou ao pensar nessa possibilidade.

- Claro. Não seria educado de sua parte se atrasar para um compromisso, Raito-kun.

O silêncio se instaurou. A confusão de sentimentos dentro de Raito era imensurável, pois, misturado à culpa e vergonha, a vontade de abraçar Ryuuzaki era imensa. Além disso, não tinha como se perdoar pelo que fizera. Não estava bêbado, não fora forçado. Ao menos, sabia assumir sua parte naquele ato.

- Foi algo que eu quis muito. Gostei muito.

Mas não conseguiria dizer isso a L. Por outro lado, sabia que o detetive não desistiria tão fácil de algo que queria, e que os dois haviam consentido. O olhou resoluto.

- Não é nada sério, de qualquer forma. É só... uma namoradinha à não vou deixar ir longe demais. Na verdade, só aceitei por insistência dela e para esquecer os problemas.

- Então você vai terminar com ela?

- Hum... – coçou a cabeça, suspirando – Eu não quero dar falsas esperanças, mas também seria injusto não dar uma chance. Ela não poderá reclamar se não der certo.

- Atitude exemplar como sempre, Raito-kun.

Por algum motivo, toda vez que L elogiava as atitudes perfeitas de Raito, ele sentia como se todas as suas falsidades e imperfeições fossem escancaradas. Apenas sorriu de leve, como se o comentário o agradasse.

- Seu primeiro sorriso hoje. Gosto dele.

- Pare com isso, Ryuuzaki - ficou ainda mais vermelho, e apertou as mãos nos joelhos – Afinal, o que você pretende? Se isso é...

L inclinou-se para frente e segurou o rosto de Raito, beijando-o ternamente. O garoto não pôde evitar corresponder à altura. Após o beijo, continuaram se olhando, em silêncio.

- Isso é exatamente o que é. – acariciou-lhe o rosto – É o que eu quero e o que você também quer.

Raito sabia que não adiantaria negar isso para o sutil observador de cada ação sua. Seria patético. Mas ainda não tinha calculado todas as reações e possibilidades a respeito dessa explosão.

- Me dê um dia, então... deve entender o quanto isso é novo para mim. – segurou nas mãos dele e reparou naqueles dedos compridos, brancos, tão suaves, deixando escapar um sorriso rápido. Eram belas mãos, mesmo tão diferentes das suas. Essas mãos apertaram as dele e as levaram à boca para um beijo delicado.

- É novo para mim também, Raito-kun. – levantou os olhos para ele – Falo com você à noite.

Raito fez que sim com a cabeça. Levantaram-se ao mesmo tempo, e seguiram até a porta de mãos dadas. Ao passarem pela sala, a olhadela para o sofá foi inevitável. Apesar de terem vivido uma experiência única, certo desconforto ainda pairava entre eles.

Mas agora estava feito.

- Ryuuzaki.

- Sim?

- Quer dizer então que você... gosta mesmo de mim? - o olhou profundamente, atento a qualquer traço de jogo, estratégia ou ironia naquela expressão enigmática. L sorriu e devolveu o olhar, como se o oferecesse à prova.

- Encontrei algo que amo. E está em você, Raito-kun. Acho que agora eu entendo porque seu nome significa ‘luz’. Se você sequer desconfiasse, Raito-kun... o seu nome, eu... já tinha notado. Permita-me guardar isso comigo.

Do mesmo modo que L adivinhava tão bem os pensamentos de Raito, este também sabia ler as emoções e intenções escondidas sob a camada de porcelana do rosto do detetive. Provara isso mais de uma vez durante as investigações. Por isso, confiou no próprio veredicto.

- Não é mentira.

O abraçou com a mesma ternura que tivera durante a noite anterior, permitindo-se sentir o coração de Ryuuzaki batendo forte junto ao seu.

Seria tão mais simples se fosse uma mentira...

- Pode levar o casaco... eu te dei, lembra? – confidenciou ao ouvido dele, que o apertou mais junto a si ao ouvir isso. Não estava errado quando leu os sentimentos de Raito, e o alívio que sentiu por isso foi imenso.

Não sabia dizer o que faria se perdesse a capacidade de adivinhar, prever e entender a fundo aquele garoto, seu mais encantador suspeito. Se isso acontecesse, a vida seria como um bolo sem açúcar. Talvez até pior.

- Obrigado, Raito-kun. – e antes de pegar o casaco e se retirar, o beijou mais uma vez.

Raito continuou olhando Ryuuzaki sumir de vista, com o casaco jogado sobre os ombros. Ao ver-se sozinho, tratou de limpar qualquer traço da presença dele na casa e em si mesmo. Tomou um longo banho como há tempos não fazia, deixando a água escorrer pelo corpo e os pensamentos fluírem sem pressa.

- Permiti que ele me tocasse, me invadisse. Por que não o parei?Ansiava tanto assim por isso?A ponto de assumir tantos riscos?

Encostou-se à parede do banheiro e fechou os olhos.

- Não dá para acreditar... que ele também... queria tanto quanto eu. Ryuuzaki.

L caminhava de volta à Central, abraçado ao seu novo casaco e envolvido no cheiro de Raito, que lhe dava coragem para continuar o que começara na noite anterior.

Sempre ia atrás de tudo o que queria e não parava até conseguir, como uma criança ansiosa. Mas essa brincadeira não era nada infantil, isso ele sabia. E também não fazia idéia de onde poderia levá-los.

- As suspeitas sobre Raito-kun ainda não desapareceram completamente da minha cabeça. Mesmo que não haja provas, acredito que ele possa ter o outro caderno... pode muito bem ser o Kira. Estarei cometendo um erro crasso e amador por conta desse desejo?

Olhou para as próprias mãos, quase sentindo a pele de Raito novamente. Uma pele tão suave e lisa, perfeita. Até o salgado das lágrimas que limpara das faces dele era agradável. E quente. Tudo nele era quente e pulsava vida.

Sorriu largamente. Por este calor, por esta vida, valeria a pena qualquer risco.

O dia transcorria tranquilamente. Raito se arrumou e realmente se encontrou com a garota em questão, Harumi. Almoçaram e passaram parte da tarde juntos.

Após tanto tempo em companhia apenas de L, as conversas desse dia se resumiram em uma palavra: pesadelo. Prestando o mínimo de atenção ao que ela falava, apenas para não prejudicar sua imagem zelosa, Raito procurava distrair-se com outras coisas.

Ryuuzaki ainda não lhe saíra da cabeça, e era nele que pensava quando o programa que passava no telão da sorveteria foi interrompido por uma chamada especial. Na tela, os rostos e nomes dos integrantes de uma gangue de motoqueiros que acabara de pôr fogo em uma escola.

- Olha só, Raito! Que coisa horrorosa e vil!

Olhou com aparente desinteresse, limitando-se a comentar como as pessoas podem ser tão selvagens. Por outro lado, Harumi se mostrava indignada e enojada.

- Tomara que o Kira mate todos eles!

Por trás do copo de suco, um olhar estreito e um sorriso característico se formaram no rosto do melhor estudante do Japão.

- Que justiça seja feita. – e terminou a bebida de um gole.

- Hum, você fica tão lindo falando essas coisas, Yagami-kun! – passou a mão pelo braço dele, sorrindo abertamente – Pensei que fosse mais tímido.

- Ora, assim eu fico realmente encabulado! Estou perdendo o foco. Ainda há muito o que fazer por esse mundo, e L é um obstáculo a isso... não posso me permitir fraquejar dessa maneira. E nem chamar a atenção de um jeito tão... indigno.

Retribuiu o sorriso da garota da maneira mais encantadora que era capaz. Ela conseguia ser mais irritante do que Amane Misa e não tinha olhos de shinigami, mas apoiava Kira e seria inócua o suficiente para uma distração. A namorada de Yagami Raito.

- Então, Harumi-chan. Quer ir para minha casa? Preciso voltar logo ao trabalho.

À noite, os criminosos foram julgados e punidos com a morte por enfarto.

Na Central, conforme os ataques do dia iam sendo contabilizados, L concluiu que só poderiam ter sido feitos em um espaço de duas horas atrás. Levantou-se dizendo que todos deveriam dormir um pouco e foi para o sofá da outra sala, pois não utilizava a cama desde que livrara Raito das algemas. Nesse momento, sua intuição o inquietava em relação ao garoto.

- Raito-kun deve estar sozinho em casa agora... como terá sido o ‘encontro’?

Curioso e ansioso, e com uma ponta de preocupação, ligou para o celular de Raito.

- Aloooou? – uma voz feminina sonolenta atendeu, e essa estranha recepção fez Ryuuzaki estreitar os olhos.

- Este é o celular de Yagami-kun?

- Ah, é sim... mas ele tá dormindo agora... ficou cansado, coitadinho! – L quase podia vislumbrar a expressão de euforia da garota através de sua fala. Continuou a sondar.

- É a irmã dele, Sayu?

- Não, não!É a... namorada dele, Harumi! Só que ele está sozinho em casa e eu estou aqui fazendo companhia... é um amigo dele?

- É. É um amigo. Você disse que ele está... cansado. Aconteceu alguma coisa?

- Ah! – soltou um risinho maroto muito mal contido – Não se preocupe. Foi muito bom pra ele... na verdade eu tô bem cansada também, você pode ligar amanhã, né? Tcha-au!

Desligou o telefone, sem ter idéia da bola de neve que desencadearia.

Não importava mais se a gangue de arruaceiros havia sido morta por Kira.

Não fazia diferença se Raito era Kira.

E não fazia diferença quem era aquela garota.

A única coisa que importava era que Ryuuzaki sabia exatamente o que fazer no dia seguinte, logo depois que ordenasse a Watari que arranjasse outro celular para substituir o que acabara de jogar contra a parede.

- É assim que retribui, então... pois muito bem, Raito-kun. Eu também sei retribuir.


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Notas finais do capítulo

Notas Finais: até que foi rápido esse capítulo, né?Mas esses meninos inspiram a gente...bem, dá pra ver que agora a coisa vai ficar séria para o lado deles...e fortes emoções virão!!

No próximo capítulo: Erros e mal-entendidos se agravam cada vez mais. A dor é forte. Onde isso vai parar?