Destinos Partilhados escrita por shamps_e_washu


Capítulo 2
Aproximação




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Aproximação

Conforme os dias passavam, o ódio mortal que Raito previa não se instalou. Ao menos, não dava sinal de que apareceria. Apesar de ele volta e meia se sentir incomodado com a falta de privacidade e as manias estranhas de L, estava conseguindo levar tudo a um bom termo – e o objetivo de capturar Kira consumia toda a sua energia.

Mas, sinceramente, aquela depressão do detetive estava começando a incomodar. Partiram para a ignorância uma vez, o que não adiantou muito para melhorar o humor de L e só piorou o de Raito.

Para completar... Misa.

Onde quer que Raito fosse, lá estava a garota, pedindo por um pouco da atenção do menino. Este não tinha a menor vontade de corresponder, mas também não a repelia de uma vez por todas. E as indiretas pareciam ser completamente ineficazes. Era sempre a mesma coisa:

- Mas Raitinhooooo...você passa mais tempo com o Ryuuzaki do que com a Misa-misa!!!Misa é sua namorada! – Raito lembrava de como ela falava e saltitava, agarrando-lhe o braço como uma criança pidona.

-Ela pode ter aqueles... todos aqueles atributos que Deus lhe deu, mas basta abrir a boca para estragar ...

De todas as garotas com quem Raito já havia tido algum tipo de relacionamento, Misa Amane era a que menos fazia seu tipo. Na verdade, modelos cabeça-de-vento nunca chegaram nem perto de sua preferência, mesmo com seus lindos rostinhos e pernas lisinhas.

-Se ao menos ela fosse um pouco mais... nem digo esperta, mas com a inteligência normal de um ser humano...o suficiente para uns cinco, dez minutos de conversa...e também seria bom se fosse um pouco mais séria.

- Um pouco mais... como o Ryuuzaki.

Raito piscou, espantado com o próprio pensamento - desde quando aquele detetive estranho (e do sexo masculino) era base de comparação para o tipo de namorada que ele deveria ter?

Concentrou-se no trabalho, mas não por muito tempo, pois ouviu a voz característica da jovem popstar gritando seu nome corredor afora.

- Raitinhooooooooo!!! - pulou no colo dele, sem prestar atenção na cara aborrecida de Ryuuzaki ao ter a corrente puxada - Misa sentiu muitas saudades!!!

- Ah...claro..eu..eu também, Misa...voltou cedo, né?

- Sim!!!Não é ótimo, Raitinho?

-É. Agora pode ir pro seu quarto?Estou trabalhando.

- Nyaaaaa!!! Mas Misa quer namorar...ficar com Raitinho!

- Estou trabalhando, já disse... é muito importante... - a retirou de seu colo com o máximo de delicadeza possível, a empurrando levemente. Resmungando e fazendo bico, a loirinha finalmente foi convencida a deixar o recinto.

- Você sempre é tão frio com Misa. - Ryuuzaki se manifestou.

- Eu apenas não posso me distrair.Não estou em clima de namoro com tudo isso... - olhou de volta para o monitor - E, quanto mais cedo isso terminar, mais cedo posso voltar à vida normal.

- Entendo. Deve ser o que mais quer, não é verdade?

Raito não respondeu, hesitando por um momento. Apesar de ter dito a frase mais óbvia possível, a simples lembrança do tédio que dominava sua vida anterior lhe causava um embrulho no estômago. E, após os acontecimentos recentes, voltar se tornaria ainda pior.

- Pois é.Minha vida normal, de volta.E o mesmo vale para você, não é?

- Para mim? - estranhou a pergunta, como se ela não fizesse sentido. Raito entendeu logo.

- Ah, claro... esta deve ser a sua vida normal...desculpe, não é algo que todas as pessoas vivem, não é? - deu um sorrisinho amigável, enquanto L devorava o décimo bombom da caixa a sua frente.

- Confesso que o caso Kira é único em vários sentidos, mas realmente não é tão diferente do que estou acostumado.

- Você tem uma vida bem agitada mesmo.

Ficaram os dois em silêncio por um tempo, apenas o som dos teclados enchendo o ambiente.

- De certa forma, invejo você. - Se entreolharam.

Riram da dupla confissão sincronizada e não disseram mais nada, apenas imaginando o que exatamente era tão invejável em suas próprias vidas. Mas ainda preferiam ficar em silêncio a ter de confessar o que invejavam no outro, caso fossem perguntados.

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- Estou dizendo, isso não vai durar... não tem como.

- Porque eles não podem sossegar?Na verdade, a gente não é obrigado a aceitar uma coisa dessas!

- Deve ser efeito da convivência forçada... bem...ao menos é uma explicação...

- Não importa a explicação, ainda é um comportamento anormal!

Enquanto Raito e L cumpriam a obrigação do encontro com Misa, os detetives conversavam a respeito dos acontecimentos da última semana: a seqüência incrível de brigas entre os dois acorrentados. A fase de adaptação realmente estava se tornando complicada. Além de a investigação estar empacada, o humor de Ryuuzaki só piorava, e as suspeitas sobre Raito não ajudavam em nada.

- Qualquer dia, eles se matam... - Aizawa suspirou - Daí sim, estamos feitos.

-É inacreditável. Quer dizer, em uma hora estão bem amigos, rindo juntos e conversando no nível de gênios, e de repente, do nada, PAM! - Matsuda bateu as duas palmas em um ruído surdo - Começam a se chutar e xingar feito cão e gato.

- É uma amizade ainda sim, uma amizade. - Mogi completou.

- Falando neles... - Aizawa indicou com a cabeça a direção da porta, de onde já era possível ouvir as reclamações de Raito e as réplicas estóicas de L.

Todos voltaram às suas posições no clássico modo 'não é comigo', enquanto a dupla subia as escadas, envolvida em mais uma discussão onde se ouviam muitos 'Eu não sou Kira!', 'Vá ao banheiro antes de ir para a cama' e etc.

- Você anda tão estressado, apanhar, digo, brigar de no..?

Antes que terminasse, um soco já voava em sua direção, e por um milímetro não o acertou.

- Você está mais rápido.

L puxou a corrente, forçando ambos a entrarem no quarto já trocando golpes. Entre socos, pontapés e ofensas variadas, Raito descontava toda a frustração acumulada. Decididamente, nunca havia brigado tanto na sua vida - afinal, sempre fora o aluno-modelo, o filho perfeito. Mas Ryuuzaki conseguia tirá-lo do sério e despertar emoções que ele se imaginava incapaz de sentir até então.

Já L se surpreendia cada vez mais com as reações de Raito, tão diferente do garoto que havia espionado por uma semana, ou com quem convivia no colégio. Ele não era perfeito, e isso ia ficando cada vez mais claro.

Embora o instinto aguçado de Ryuuzaki dissesse que havia causas ocultas por trás dessa mudança radical, não tinha bases científicas ou provas concretas para afirmar nada. Mas que alguma coisa havia acontecido ao final da primeira semana de cárcere de Yagami, ah, isso com certeza.

Entretidos na luta, os dois não perceberam que seus movimentos os deixavam cada vez mais próximos, até que seus pulsos ficaram completamente enrolados nas correntes. Para completar, um puxão mais forte os fez perder o equilíbrio e ambos caíram ao chão.

Ficaram em silêncio por alguns segundos, imóveis, se encarando. Além dos pulsos, L percebeu que uma volta da corrente havia passado na altura da barriga de Raito e de suas próprias costas, tornando a situação mais difícil e a posição extremamente comprometedora.

- Olha só o que você... - Raito começou a se debater, mas parou imediatamente, enrubescendo e percebendo o perigo - Mova essas pernas, droga!!!

- Se eu movê-las vai ser pior ainda... a não ser que você queira muito que eu faça isso.

- CALE-SE!Não quero o seu... se esfregando no meu...tsc...se levanta um pouco, pelo menos!!!

- Não consigo me levantar o suficiente. Agüente um pouco.

- Tá difícil...com esse bafo na minha cara.

- Não é tão ruim assim.É doce.

- Não fale assim, é constrangedor!!!! - Raito enrubesceu mais ainda, mas tinha que admitir que era verdade.

- O seu bafo de maçã também não é ruim. - sorriu. Desta vez, Raito ficou sem ar e pareceu ter levado um choque.

- SAI LOGO DE CIMA DE MIM, SEU ANORMAL!!!!

- Agora é você que está se mexendo demais!!! CALMA! - L segurou-lhe os pulsos, prendendo ao chão um Raito completamente vermelho e com batimentos cardíacos acelerados.

- Ryuu...zaki?

- Calma. Isso é fácil de resolver.

L moveu um dedo na direção da algema e deslizou um milímetro, revelando o compartimento secreto com a micro chave. Raito bufou.

- Por que você não fez isso antes?????

- Você nem deu tempo. Pronto. – desvencilhou-se da algema e saiu de cima dele – Se desenrosque agora. Aproveite e coloque o pijama.

- Você não manda em mim...seu anormal. – disse isso, mas foi na direção da cama e pegou o pijama – E não olhe para mim!!!

Ryuuzaki continuava quieto sentado no chão. Raito foi se trocar atrás da porta do armário, e depois se deitou na cama sem dizer nada. Quando percebeu, já estava novamente algemado ao detetive. Temeroso, se afastou ao máximo.

- Eu não vou te atacar, então pare de agir como se eu fosse.

- Eu sei lá do que você é capaz...

- Posso dizer o mesmo de você.

- Certamente eu não faria nada, hum, estranho.

- E o que eu fiz de estranho?

Raito teve vontade de dizer algo como “o que você não faz de estranho?”, mas se conteve. Respirou fundo e se virou para L, encontrando os olhos penetrantes de sempre.

- Você parecia – ruborizou levemente – Estar...gostando.

O silêncio de Ryuuzaki obrigou Raito a repetir, sendo mais específico. L ainda ficou em silêncio um tempo, antes de responder.

- Só porque não fiz um escândalo, não quer dizer que eu estava gostando. A situação foi incrivelmente patética, e só me restou aceitar isso.

- Ah, então era só uma brincadeira??? – Raito revirou os olhos, incrédulo.

- Bem, você realmente tem hálito de maçã. Maçã é melhor que alho, por exemplo.

-Não é essa a questão!!!!!! – Raito elevou um pouco a voz, sem perceber que ruborizava cada vez mais – Bem...só não faça mais isso, ok?

- Realmente, não está nos meus planos. Não seja tão dramático e sheakesperiano, ok?

- Hah! – Raito soltou um sorrisinho convencido – E o que você sabe sobre Sheakespeare?

Em resposta, L recitou um verso do autor em questão, perfeito em todos os detalhes. Raito não se fez de rogado.

- Macbeth, ato 2, cena 1.

- Está certo. E o que vem depois?

Em um inglês sem falhas, Raito declamou a fala seguinte. Continuaram até terminar a cena que haviam começado, e ambos pareciam empolgados com a brincadeira. Estenderam-se nisso, ora jogando versos para o outro adivinhar de que peça era, ora completando cenas inteiras em dueto.

- Raito-kun realmente tem um inglês primoroso. É como o de um nativo.

- Assim como seu japonês. Eu não diria que você vinha da Europa se não tivesse me contado.

- Você seria capaz de chegar a essa conclusão mais cedo ou mais tarde. De qualquer forma, foi uma brincadeira interessante.

- Como assim?Já está entregando os pontos?

- Quer continuar? O que sugere agora?

Depois de uma pausa, pensativo, Raito iniciou a brincadeira novamente, com empolgação ao falar.

-"Píramo, acorda! Fala, estás mudo? Acabou tudo; da voz roupeu-se-me a corda. Sinto-me louca."

L sorriu. Completou o conhecido verso logo em seguida.

-"A essa tua boca, essa boca açucarada, levou a Morte de negro porte, deixando-me abandonada. Chorei bastante."

- "Parca gigante, de aparência falsa e treda, já lhe cortaste do belo engaste o fio vital de seda. Língua, calada! Vem, bela espada, coloca-me aos pés de Deus."

- "A que foi linda, Tisbe, aqui finda, a todos dizendo adeus, adeus, adeus..."

-"O Luar e o Leão ficaram para enterrar os mortos."

Declamaram a última frase juntos, olhando nos olhos um do outro, e permaneceram assim, em silêncio. Sem perceberem, haviam se aproximado bastante.

- Seu inglês e literatura são realmente perfeitos, Raito-kun.

- Lisonja-me sinceramente, vindo de um inglês de sangue.

- Além do talento para dramaturgia. Não que me surpreenda... – pensou em falar algo como ‘vindo de um suspeito de ser Kira’, mas, dessa vez, calou-se. Raito sorriu tristemente, parecendo entender o significado da falta de palavras.

- Obrigado, Ryuuzaki. Por mais que a gente tenha se estranhado ultimamente, é sempre enriquecedor conversar amigavelmente com você.

- Idem. A propósito, Sonhos de uma Noite de Verão é uma das minhas favoritas.

- Minha também. Quem sabe um dia, nós possamos assistir juntos. Não é?

- Espero que esse dia chegue logo. – imaginou que ver a expressão de Raito ao assistir a peça seria um espetáculo à parte, tendo por base o brilho que brotou nos olhos dele quando começou a declamar os versos.

Um olhar que, até então, ele não acreditava existir naquele garoto.

- Você deve estar com sono, Raito-kun. Boa noite. – virou-se, encolhido na posição típica, e fechou os olhos.

- Boa noite... – ainda se demorou um tempo observando a figura pacata e infantil de Ryuuzaki, o casulo de uma mente brilhante. Sorriu sem se dar conta.

- Sinto-me bem. Deve ser...meu tédio se esvaindo. Por mais que tenha aprontado comigo, L, isso é obra sua. Obrigado. Realmente, te devo essa.

Adormeceram, dispostos a ignorar o sentimento estranho que tomara ambos quando se viram caídos no chão e quase abraçados. Mas, oras, todos têm seus segredos, e o direito de fazerem o possível para mantê-los a salvo.


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Notas finais do capítulo

Notas Finais: ok, sabemos...cadê o lemon???Calma, as cenas fortes virão, com certeza...deixa os meninos cozinharem um pouco!Haha!!! No próximo capítulo já teremos um ensaio/evil/

De qualquer forma, escrever essas cenas fluffys é tão legal... D

No próximo capítulo: Sonhos!Atos desesperados!Dores, brigas e fraquezas expostas!E quem sabe, mais alguma coisa! Nos vemos lá!