Destinos Partilhados escrita por shamps_e_washu


Capítulo 1
Quando isso começou?




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Capítulo 1

Quando isso começou?

- Nossa, de novo? É sempre assim...você podia ao menos repor quando faz isso, né? Avoado. - enquanto falava, o rapaz de cabelos castanhos se dirigia ao armário superior da cozinha, pegando um dos muitos pacotes fechados de açúcar em cubinhos.

- Mas ainda não acabou. Ainda tem dois. - uma voz serena respondeu, aparentemente vinda de um cômodo próximo. Na cozinha, ouviu-se um suspiro.

- E por que você deu pra deixar esses restinhos agora? Tique novo depois dessa idade? Era só o que faltava...

- Não fui eu. Deve ter sido coisa da Mei. - o dono da voz serena aproximou-se, retirando os dois cubinhos solitários do açucareiro direto para a boca. - Pronto, agora não tem mais nada.

- Muito..agradecido... - apenas sorriu, despejando o pacote novo no açucareiro, após lavá-lo rapidamente - Precisamos cortar logo essa maniazinha, antes que ela fique igual a você.

- Hum? Ah, certamente que mãe jamais perdoaria... - sorriu também, pegando com naturalidade o pote de açúcar.

- É ! E nem eu! - tirou o açucareiro da mão do outro, guardando-o. Depois, virou-se para ele. - E você prometeu diminuir o açúcar, ao menos puro desse jeito.

- Tá, tá...já entendi.- colocou as mãos nos bolsos da calça, e voltou a atenção para o cesto de frutas cheio de maçãs.

- Isso, coma uma maçã que é mais saudável. - adoçou levemente o café, com expressão satisfeita, e olhou pela janela - Ah, olha só que dia lindo! É a perfeita manhã de domingo. Aposto que a mãe e o pai estão se divertindo muito com... - parou a frase, encarando uma cena incomum ao virar-se para dentro novamente. – Lawliet ???

- Faz tempo que não me chama assim, Raito-kun. Sabe, eu gosto. - sorriu, ignorando a surpresa do outro ao vê-lo pegar quase todas as maçãs do cesto e depositá-las na pia. Abriu a torneira para lavá-las.

- Para você é sempre no tudo ou nada, hein... - Raito coçou a cabeça, incrédulo - Achei que fosse comer UMA maçã.

- Eu não vou comer todas essas maçãs. - enquanto falava, abria os armários, pegando o que precisava. - Vou preparar algo para nós.

- Uma torta? Andou aprendendo mais receitas, é? - aproximou-se, interessado.

- Não é torta, não. É bem mais pueril. Consegue deduzir, pelos ingredientes? - apontou a mesa da cozinha, com os itens dispostos. Raito colocou a mão no queixo, como se estivesse diante de importantes pistas para um caso difícil.

- Hum...deixe-me pensar...maçãs...muitas, inclusive ...açúcar...calda...palitinhos de madeira na mesma quantidade das maçãs...hum...é o suficiente para eu chegar a uma conclusão! - virou-se para L, mostrando seu tradicional sorriso de vitória.

- E qual é a conclusão? - disse serenamente, embora a visão daquele sorriso fizesse seu coração reagir como quando se ouve, sem aviso, uma música querida e há muito tempo esquecida no fundo do coração.

- Aposto em maçãs do amor.

- Incrível, Raito-kun! - arregalou os olhos, em uma surpresa de brincadeira - Você é mesmo um dos maiores detetives da atualidade, perdendo apenas para L, como bem dizem!

- É, eu sou! E um dia vou superar esse tal de L, pode crer! - piscou, ajeitando a camisa de um jeito um pouco espalhafatoso.

- Hum, vai é?Acho que vai ser difícil, mas se há alguém capaz, deve ser você...quem sabe, não é?

- Heh! Pode confiar! Afinal, eu resolvi o caso da maçã do amor com uma rapidez impressionante, fale a verdade.

- Em tempo recorde!Nem precisou analisar os utensílios de cozinha. - pegou uma das panelas e foi para o fogão - Notável...tem certeza de que você mesmo não é o L e só está me enganando? - aproximou-se dele, estudando-o, com expressão desconfiada.

-Heh! Diga-me você...- encostou-se na mesa, cruzando uma perna na frente da outra, fazendo pose só para ser melhor analisado.

- Não, não pode ser...foi só uma , sabendo a idade de Yagami Raito, não é difícil deduzir que, quando ele ainda estava na escola fundamental, L já resolvia casos internacionais.

- Hunf! - cruzou os braços, inconformado - Isso é apelação, seu detetive de quinta. O que L diria de uma dedução assim?

- "Perfeitamente correta". - disse, o encarando de perto.

- Vá fazer suas maçãs do amor, docinho.

- Nossas maçãs. - virou-se de volta para o fogão, levando de brinde uma mão boba de Raito na parte de trás.

- Olha a retaguarda, detetive!

- E o que o faz pensar que eu não estava atento? - olhou de esguelha, piscando.

- Safado. - riu-se - Estarei na sala, então, para não te atrapalhar. - desencostou-se da mesa, deu-lhe um beijo no rosto e saiu, girando nos calcanhares.

Raito jogou-se no sofá e espreguiçou-se, aproveitando esse raro momento de descanso mental. Mas, sendo como era, não agüentou muito tempo sem um livro na mão. Dirigiu-se à estante, e, correndo os dedos pelas prateleiras, selecionou um título , julgando ter escolhido bem. Sonhos de uma Noite de Verão, de Sheakespeare, era um de seus favoritos.

Voltou ao sofá. Não podia ver o que L fazia na cozinha, mas imaginava todos os seus movimentos. Ele não costumava cozinhar, e, inocente, não fazia idéia do quão gracioso era ao fazer isso. Ao menos para Raito.

Ele sempre tinha sido assim. Desde o começo. Mesmo escondido sob uma camada de impassividade fria e calculista, por vezes a ternura encontrava uma brecha e transparecia em um gesto, um sorriso inesperado, um meneio mais demorado de cabeça. No mínimo, eram detalhes que atraíam a atenção de Raito como um ímã.

Na cozinha, L preparava sua obra culinária calmamente. O velho hábito de segurar as coisas do seu jeito particular tornava o processo ainda mais lento, mas não se importava, pois não havia motivo para ter pressa. A última coisa que queria era ver esse dia acabar rapidamente.

Fitou as maçãs alinhadas, prontas para receberem a calda e os confeitos. Certamente Raito reclamaria de exagero na cobertura e na quantidade, diria algo relativo à taxa de glicose e diabetes e comeria apenas uma maçã. Mas depois, passaria o dia inteiro elogiando a doçura do beijo dele. É assim que ele é. Por mais duras que sejam suas reclamações, elas sempre vêm com uma cobertura de mel para adoçar.

Enfiou o dedo no pote de mel, como que completando seus pensamentos, e sorriu. Gostava de dizer que Raito pensava demais em tudo, mas a verdade é que o mesmo acontecia com ele. Agora mesmo, sozinho na cozinha, lembranças vinham à sua mente.
Suspirou, satisfeito, pensando em tudo o que tiveram de passar para chegar a essa tranqüila e pacífica manhã de domingo...

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- Começo a me questionar se isso é REALMENTE necessário.

- Você concordou com as condições.

Raito estava parado em frente à porta do quarto, com expressão desconfortável. Inicialmente, não havia posto empecilhos às condições de L para ser libertado e dar continuidade às investigações, mas agora pensava que tinha sido ingênuo demais.

Parecia uma boa idéia estar sob vigilância ininterrupta e fora da cadeia ao mesmo tempo, mas só neste exato momento, quase à meia-noite do primeiro dia fora da cela, se dava conta de uma coisa.

Ele teria que dormir algemado a outro cara.

Indiferente a isso, L caminhava para dentro do quarto, sem se importar em puxar a algema de Raito no processo.

- Ai! Cuidado aí, Ryuuzaki! - disse, irritadiço, pela sexta ou sétima vez. Sentia-se um palerma por ter passado o dia inteiro tomando cuidado para não limitar os próprios movimentos e os do amigo, apenas para vê-lo agir e se mexer como se não houvesse um Raito preso a ele. Sem alternativa, adentrou o cômodo também.

- E como vai ser? – desafiou, os braços cruzados. L apenas o fitou, e apontou na direção da cama.

- Seu pijama está ali. Quer escolher o lado?

Não apenas o que foi dito, mas como foi dito, significou a gota d'água para o já impaciente Yagami fundo, se controlando para não partir para a ignorância e perder a dignidade que lhe restava . Agora tinha certeza do que já desconfiava.

Ryuuzaki podia ser o maior detetive do mundo, mas isso não eliminava o fato de que era também um maldito sádico. Raito era capaz de jurar que, por trás da expressão vazia, ele se divertia feito louco vendo-o em todas aquelas situações constrangedoras, humilhantes, dolorosas e assustadoras.

Mas não daria mais prazer a ele do que o mínimo inevitável. Nunca.

- Eu fico com o lado esquerdo, então. - sorriu, se dirigindo para a cama. - Isso vai ser interessante...quer dizer, estou surpreso só de saber que você dorme! E em uma cama!

- Tem muitas coisas a meu respeito que você não sabe, Raito-kun. - disse enquanto soltava a algema para colocarem o pijama. Raito tomou o cuidado de ficar de costas, decidido a conservar uma fração de sua privacidade.

- Isso é algo que você não precisa me dizer... enfim,é melhor dormirmos...

Antes mesmo que percebesse, já estava novamente algemado ao detetive. Respirou fundo. Aceitara as regras do jogo, e não era um trapaceiro, só não sabia aonde isso poderia levá-los - provavelmente ao ódio extremo pela convivência forçada. Deitou-se pensando nisso.

- Eu não gostaria de odiá-lo, e vou me esforçar para isso. É um bom amigo. Espero que continue sendo depois que tudo isso acabar...

Olhou na direção dele, que havia se deitado de roupa mesmo. Isso não era surpreendente. Como estava com o braço passado na frente dos olhos, não dava para saber se dormia ou não.

- Então, boa noite, Ryuuzaki.

- Boa noite, Raito-kun.

L ainda demorou algum tempo para dormir, aproveitando a quietude da noite para ramificar suas linhas de raciocínio e traçar novas possibilidades sobre o caso - que complicava a cada dia, levando-o a tomar medidas extremas. Sabia que muito do que fazia ia contra qualquer princípio de direitos humanos e poderia render "alguns" tipos de processo, mas felizmente conseguira bons colaboradores tão dispostos a capturar Kira quanto apreciava muito, mas não negava a simpatia especial por Raito, o mais próximo a ele em muitos aspectos.

E ele era o principal suspeito. Talvez fosse justamente essa semelhança a força motora que o levasse a insistir tanto no jovem Yagami.

- Parece que o sono está desviando a minha linha de raciocínio... - Virou-se para o lado oposto a Raito, disposto a dormir.

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- Claro, porque desgraça pouca é bobagem.

Era esse o pensamento-síntese da situação em que Raito se encontrava agora. Ele contemplava o teto, concentrado. Talvez tantos dias enclausurado tivessem afetado mais do que o esperado o seu metabolismo. Talvez fosse efeito do estresse , no momento, as causas não importavam - o fato era um só: precisava de um banheiro urgente, ou a situação se tornaria degradante ao extremo.

-A questão é: eu não quero esse cara do meu lado nesse momento...é vergonhoso...mas que droga, eu preciso ir agora!! - cruzou uma perna sobre a outra, tentando ganhar tempo - Eu já estaria envergonhado o bastante sozinho...não, tem que ter outro jeito!

Então, lhe ocorreu. Ryuuzaki tinha que ter uma chave com ele em algum lugar, afinal...se arrependeu de não ter prestado atenção enquanto colocava o pijama. E ele estava com a mesma roupa...

-O que é pior...? - suspirou - Ora, dane-se... eu preciso disso...e não vou deixá-lo se divertir me vendo assim, suando e com disfunção intestinal!

Aproximou-se devagar, verificando se L estava mesmo dormindo. Parecia que sim. Primeiro, correu os olhos, vendo se encontrava algum volume de chave sem precisar encostar nele.

- Mesmo dormindo, ele permanece nessa posição esquisita e com o dedo na boca...o tique é mais sério do que parece.É como uma criança... - demorou-se um instante observando - Certo, não vai ter jeito mesmo!

Colocou um dedo bem devagar no bolso de trás, procurando a chave. Não havia nada. Resolveu colocar a mão inteira para se certificar, afinal era uma chave pequena. Nada. Igualmente no outro bolso.

Suspirou, tomando coragem. Já não tinha sido agradável, e, para não ser pior, precisava calcular bem a posição do bolso da frente, o que ficava complicado com L naquela posição.

Escorregou a mão com suavidade, se inclinando o mínimo possível e tentando enxergar na escuridão. Tateando, encontrou o início do bolso.

- Isso!!! - sorriu, satisfeito pela perfeição. Mas foi cedo demais, pois, no instante em que direcionou a mão para o bolso, o detetive se movimentou um pouco e Raito não pôde evitar tocar a área de risco.

-OUCH !!!- tirou a mão rápido, sem poder evitar o o bastante para os olhos do amigo adormecido se abrirem repentinamente.

- Algum problema, Raito-kun? - L acendeu a luz do abajur.

- ...

- Você está vermelho?

- ...

- Que cheiro é esse?

Raito se enfiou debaixo do lençol, as mãos no estômago. A dor pareceu aumentar com a humilhação, e sentia o rosto queimar.

- Não é nada! Volta a dormir!

Ouviu o som da algema se soltando.

- Com esse cheiro, não dá. Vá se limpar.

Depois de alguns segundos, Raito juntou forças e, sem opção, correu até o banheiro sem olhar para os lados. L coçou a cabeça, e pegou o telefone.

- Watari, traga lençóis e pijamas limpos, por favor. E...remédio para o estômago.

Mesmo que Raito estivesse torcendo para que L já estivesse dormindo quando ele voltasse, o que demorou um tempo, isso não aconteceu. Pelo contrário, a impressão era de que o aguardava sentado na cama, o que fez o garoto sentir-se pior ainda.

- Tome aquilo, Raito-kun. Vai se sentir melhor. - disse, apontando o remédio que Watari trouxera.

-Não, obrigado, já estou bem. - apressou-se em vestir-se e deitar-se – E obrigado pelo pijama limpo.

- Tudo bem. - colocou a algema novamente nele - Porque não me chamou, se precisava ir ao banheiro?

A naturalidade de L, ao mostrar o óbvio a se fazer, deixou Raito envergonhado. Coçou a nuca, sem olhar para o outro.

- É meio embaraçoso... mas...é verdade, foi pior assim.

- Tem certeza de que não quer o remédio? Ainda está pálido.

- Eu estou bem. Está mesmo tão preocupado?

- Bem, eu me importo com você, embora não pareça. Não é minha intenção te deixar doente.

Desta vez, não foi por raiva ou dor que Raito sentiu o rosto queimar.

-Hum...obrigado, estou mesmo bem. Eu só não esperava que você fosse me deixar sozinho tão facilmente...

L meneou a cabeça para o lado e piscou.

- Se você fosse Kira e isso fosse armação sua, não acho que teria escolhido algo tão é orgulhoso e esperto o bastante para pensar em alguma coisa.

- Obrigado...eu acho...boa noite, então! - virou-se rápido para dormir, sem saber se contente ou não com a resposta.

- Além disso... Kira não esperaria uma atitude gentil de minha parte, já que somos inimigos e ele conhece meus métodos.

- Hum... então foi só por isso que você foi gentil? - um sentimento de tristeza atingiu Raito, sem explicação.

- Não. Só estou dizendo que Kira não sabe que posso ser gentil.

- Então - virou-se repentinamente - Posso esperar que o próximo ato de gentileza seu será uma armadilha para ver se eu ajo como Kira ou não, me aproveitando desse seu lado que Kira ainda não conhece?

Raito estava disposto a iniciar uma discussão, mas o sorriso largo que L abriu tirou-lhe todo o ânimo para isso.

- É por essas e outras que Raito-kun é tão incrível e eu desejo seriamente que não seja noite.

L deitou-se novamente, sem ver o olhar paralisado de Raito perante a reação do detetive.

- Boa...noite...então...então, se eu não for Kira, você será gentil comigo sinceramente?

- Pois, se você não for Kira, posso ser gentil com você sem receios.

E com esses pensamentos enchendo o coração de ambos, adormeceram.


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Notas finais do capítulo

Notas finais: bem, como vocês vão perceber no decorrer da fic, ela tem algumas diferenças de tempo, pois começou a ser escrita quando nós não tínhamos visto tudo de DN ainda... mas nada que comprometa a história. Esperamos que gostem e continuem lendo!

Fortes emoções virão!!!!E fluffy moments também...