Destinos Partilhados escrita por shamps_e_washu


Capítulo 14
Confissões do silêncio


Notas iniciais do capítulo

DISCLAIMER: DN e seus personagens não nos pertencem, isso é apenas um fanfic despretenciosa com intuito de divertimento (e correção de certas 'injustiças' que todos conhecemos muito bem...)

Contém spoilers do anime e do mangá, ao menos até o episódio 25.

IMPORTANTE: os capítulos que contém cenas lemon/hentai estarão devidamente sinalizados, para que os leitores que não curtem esse tipo de cena possam pula-lás.

MUITO OBRIGADA a todos que leram, comentaram e voltaram!Chegamos ao capítulo 14, e esperamos que se divirtam!Boa leitura!

E obrigada pelos comentários e por mostrarem que não se esquecem da gente, hehe. Acreditem, ficamos muito emocionadas! Amamos vocês!



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Confissões do Silêncio

- Eu te amo.

L sentiu seus olhos piscando muitas vezes e sua boca entreabrindo-se apenas o suficiente para que a respiração próxima do outro soprasse suavemente entre seus lábios.

Apenas três palavras. Três singelas palavras com o poder de dissipar a tontura e o amortecimento que tomavam seu corpo e mente, acelerando seus batimentos cardíacos e o trabalho dos músculos.

Como uma repentina e avassaladora injeção de adrenalina.

-Raito-kun. Não chore.

Um sorriso formou-se em sua face enquanto levava suavemente a mão ao rosto quente do garoto que ainda ansiava por uma reação, uma palavra, qualquer coisa que pudesse ser interpretada como uma resposta à sua confissão.

O carinho demonstrado enquanto ele limpava as lágrimas misturadas ao sangue acalentou o coração de Raito, enchendo-o de alívio e alegria. As dores amainaram-se, como se o toque fosse curativo.

Como uma bênção.

- Ryuuzaki...

Ainda em silêncio, deslizou a mão pelo rosto e pescoço de Raito até chegar ao peito ofegante dele, colado à camisa pelo suor abundante. O coração acelerado confirmava o que o olhar demonstrava quando L o fitou.

-Na verdade eu nunca desisti de você. Eu não poderia. Afinal, eu te amo.

Contemplar as sempre opacas pupilas de Ryuuzaki ganhando um forte e vivo brilho enquanto ele dizia serenamente palavras tão contundentes causou uma nova onda de pranto em Raito, mesmo que tentasse se controlar. Abaixou a cabeça e segurou com força a mão pálida pousada em seu peito.

- A voz, os gestos. Como aquele dia.

Raito viu-se de novo no sofá de sua casa, quando, após uma interminável noite fria, experimentara a força de um afeto capaz de transpor as barreiras de seu orgulho e egoísmo. E descobrira o inconfundível ritmo do coração de Ryuuzaki, tão único e característico que o reconheceria mesmo se fosse privado de todos os sentidos. O som familiar que conduziu seu retorno da completa escuridão quando todos os métodos terrenos haviam falhado.

Irônico pensar que a sua redenção de um coma profundo tivesse sido marcada por intensos e vibrantes batimentos cardíacos.

- Não chore mais. Precisa cuidar de seus ferimentos, Raito-kun.

L temeu que não pudesse acalmar o nervosismo do garoto, mas quando este levantou os olhos novamente, sorria tranqüilo e com a conhecida obstinação que se acostumara a encontrar nele. Aliviou-se.

- Âos aír ahí. (vamos sair daqui.) - Recomposto, levantou-se e pegou o enfermo no colo tomando cuidado com o braço ferido.

L não pôde deixar de lembrar-se de seus pés cortados. Naquela época seu carinho por Raito crescia a cada dia, alimentado por um conjunto de pequenos gestos com grandes conseqüências.

Da mesma forma, ser acomodado com todo o esmero nos lençóis da cama de casal enquanto ele preparava um banho trouxe imediatamente à mente a cena da repentina dor de estômago, quando sentiu pela primeira vez a proximidade do que seria um toque materno.

Quando o poder dessa sutileza o encantou.

- Também quero isso. Trocaria metade dessa mente privilegiada pela capacidade de dar e receber... amor. Por que é tão difícil assim até mesmo pensar nessa palavra?

Um nó na garganta o fez engolir em seco e encarou o braço enfaixado, resultado físico dos sentimentos encarcerados. Por não saber lidar com eles, as conseqüências explodiram em cadeia. Como da primeira vez que se abre afoitamente uma lata de leite condensado e ele transborda sem parar, melecando os dedos, a mesa, a colher, enfim, tudo ao redor.

- Mas nem por isso se desiste do leite condensado.

Foi desperto dos devaneios quando Raito apareceu no quarto, arregaçando as mangas e apontando para a banheira. Fez que sim e estendeu a mão quando ele se aproximou e o carregou até o banho. Sorriu quando ele encostou as mãos nas suas pernas e o olhou como se pedisse permissão.

- Não posso tomar banho de jeans. Faça isso.

- Mesmo que seu chute seja arrasador, é quase frágil. Como esse corpo magro pode agüentar tanto?

Após despi-lo num misto de preocupação, constrangimento e encantamento, Raito começou a lavá-lo com cuidado, mantendo o curativo seco. Só o contato com a água na temperatura ideal foi um alívio para o corpo, como pôde constatar na expressão que abrandava pouco a pouco. E sentiu um pouco dessa calma ser transmitida para si próprio.

- Sei que não devo falar mais, mas a situação ainda é crítica e não posso deixá-lo dormir.

Juntou um punhado de água nas mãos e derramou sobre os cabelos negros, escorrendo as mechas pelos ombros e rosto, e retirou a franja que tapava a visão, fitando-o por todo o tempo em que lavou o sangue seco e suor do pescoço e tórax.

E pelo visto, o soro da verdade ainda agia em seu sangue.

- Oha eha aça isurada hom aheza... ohe éh indo, ahia?ahece...áhil, as é horte.

(toda essa graça misturada com magreza... você é lindo, sabia? Parece... frágil, mas é forte.)

- Mas eu posso dizer a mesma coisa do toque das suas mãos. –segurou-lhe a palma, passando-a no próprio rosto. – Firmes, mas gentis. Eu sei disso desde a massagem que me fez na Central. Lembra-se?

Raito enrubesceu, concordando. Atinou que ele o entendia perfeitamente mesmo nessa situação e não tentou pensar se era leitura de lábios ou dicção aprimorada, mas certamente era uma ótima surpresa.

- No nervosismo da cirurgia, nem parei para pensar que ele estava respondendo ao que eu dizia. Incrível mesmo, L.

Passou os dedos pelas faces dele, sem deixar de notar que ainda estavam anormalmente frias e que os globos oculares tinham os cantos muito avermelhados. Aproximou o rosto, roçando o próprio nariz no dele por um tempo. Mesmo que desejasse muito beijá-lo, por enquanto se contentaria com as respirações misturadas e a textura da pele. Sem dizer nada, L apenas retribuiu o carinho.

Quando Raito voltou a ensaboá-lo, percebeu a água já bastante escura e a mistura de sangue seco e sujeira particularmente concentrada na parte dos pés. Foi quando se deu conta de que Ryuuzaki estava descalço desde que chegara para salvá-lo.

-Que descuido, não verifiquei se havia ferimentos nos pés!

Imediatamente levantou a perna dele, constatando apenas alguns arranhões e pequenas pedras presas na sola do pé direito, e uma marca perfurante mais funda na parte de cima do esquerdo.

- Ela tentou me parar com o salto. Felizmente pegou de raspão. - explicou, sorrindo amarelo - Mas por conta do braço, até me esqueci desses machucados.

- Hói ûio? (dói muito?) - alcançou a toalha e o sabonete, lavando os pés cuidadosamente para logo fazer os curativos.

- Agora não mais.

O som suave da água reinou durante os minutos seguintes. Raito reparou que nas duas solas restavam marcas semelhantes e um pouco antigas de cortes feitos por vidro, lembranças ocultas de um dia que poderia ter sido fatídico. Alisou-as com ternura, sabendo que esse foi o preço que Ryuuzaki pagara por salvar sua vida.

E agora, novamente.

- Isso é uma prova de que ele nunca mudou comigo. Pode-se duvidar de palavras, mas é impossível questionar tais atitudes.

Manteve a cabeça baixa e continuou massageando os pés dele, fazendo disso quase um ritual para quem porventura visse a cena. Havia notado que aquele corpo não tinha nenhuma outra marca de batalhas anteriores, algo até certo ponto óbvio para alguém que vivia nas sombras como ele. Entretanto, de alguns meses para cá, L adquirira várias cicatrizes por conta de situações extremas e Raito estava envolvido em todas.

- Raito-kun. Estou preocupado com sua língua. Precisamos olhá-la também.

Fez que sim, sorrindo com melancolia. Acreditava que culpa e gratidão não faziam mais parte de sua essência, mas descobrira que tinha humanidade o suficiente para se comover com alguém que priorizasse seu bem-estar mesmo que perdesse um braço e a própria vida. Não teria tanto efeito vindo de uma garota cegamente apaixonada, mas por ser a pessoa mais inteligente e sagaz que conhecia, a única que sabia tudo sobre ele, via-se ainda em estado de choque.

- Não. Isso apenas fez-me admitir de uma vez por todas um sentimento que eu já sabia ter despertado em mim.

O recolheu da banheira com cuidado e continuou pensativo enquanto o secava. L respeitou o momento do garoto, e só quando Raito o deitou na cama e sentou-se ao lado dele é que se encararam novamente. Os olhos castanhos denunciavam muitos pensamentos aglomerados, mas, entre pedidos de desculpas, análises de sentimentos, dúvidas e certezas, apenas uma frase saiu da boca do jovem.

- Ou ao ihioa.. eo ehiêi he um ôho há herae há oher ê eharar...

(sou tão idiota... eu precisei de um soro da verdade pra poder me declarar...)

O coração de L apertou-se, emocionado. O mesmo sentimento que agoniava Raito o atingia também, por isso, e por nenhum outro motivo, sentiu-se capaz de consolá-lo. Tocou seu queixo com a ponta de dois dedos e fez com que seus olhares se encontrassem.

- Ainda temos um Kira para encontrar e neutralizar. Conto com sua força para isso também. Eu preciso de você, Raito.

Um objetivo. L enxergava claramente como a falta disso corroia a vida de Raito feito um câncer, projetando a si mesmo na rotina dele e recorrendo ao fulgor que o circundava durante o ritmo frenético do caso Yotsuba. Comprovando sua observação, um lampejo de firmeza transpassou a expressão exausta.

- Eo hei. Hão ou ahar.

(eu sei. Não vou falhar).

Ajeitou as cobertas e deu a L mais uma dose de remédio. Verificou as ataduras e uma possível febre, só se acalmando quando o deixou confortavelmente instalado e medicado.

- Eo há êho. Hê eíár, hâe.

(eu já venho. Se precisar, chame).

- Sim. Tome cuidado. – ainda beijou-lhe a mão antes que saísse.

Por segurança passou na sala onde jazia a garota caída, confirmando se ela continuava desacordada. Por via das dúvidas, algemou-a, atou os pés e a jogou no sofá em que L estava antes – tendo o cuidado de deixá-la de bruços em cima das maiores manchas de sangue.

- Não queria tirar o nosso sangue? Então agora, durma nele...

Voltou ao banheiro levando a caixa de primeiros-socorros e, com dificuldade, usou o espelho para dar pontos na própria língua. Além de ser um local de difícil acesso e sensível, o cansaço já tornava os braços pesados e só a força de vontade o mantinha em pé, deixando o processo mais lento e difícil.

- Isso é completamente diferente das aulas de Enfermagem...

Ao final, todo o sangue que manchara a pia e os pedaços de algodão encharcados tornou intoleráveis a aparência e o odor do banheiro. Tirou a camisa e a jogou ali mesmo, pois estava no mesmo estado. Esforçando-se para não vomitar, pressionou a toalha sobre o rosto para limpar as lágrimas que voltavam a escorrer. Quando a retirou, viu que acabara manchada também e soltou um suspiro mais parecido com um gemido.

- Não agüento mais isso. Sangue, sangue, sangue por todo o lado... preciso manter a concentração.

Jogou a toalha para um canto também, e despiu-se para tomar uma ducha. A água quente o animou um pouco, lavando as manchas e tirando o cheiro acre, mesmo que o rosto ardesse. Não se demorou ali, preocupando-se em reiterar a compostura quando voltou ao quarto. Fechou a porta rapidamente, pensando que ou seu olfato ficara extremamente sensível ou a podridão da sala espalhara pela casa o cheiro enjoado de sangue.

- Raito-kun, venha aqui. Traga a caixa de enfermagem, por favor.

Temendo que as feridas estivessem abrindo ou algo pior, aproximou-se a passos rápidos, surpreendendo-se quando o kit médico foi retirado de suas mãos.

- Seu rosto, Raito-kun. Ao menos isso me deixe fazer.

Sem delongas nem espaço para negação, L se pôs a fazer os curativos nas feridas causadas pelo chicote, inflamadas e endurecidas pelo tempo de exposição. Raito mal podia mover os músculos da face sem que as fizesse sangrar, e por não ter notado isso antes, agora estavam mais doloridas.

- Espero ser um enfermeiro tão bom para você quanto foi para mim. Apenas relaxe o rosto, assim. Feche os olhos se quiser.

Os fechou com força, tentando em vão não chorar enquanto L manipulava os cortes em carne viva, mesmo que toques gentis limpassem as lágrimas cada vez que estas vazavam dos cantos dos olhos. Anestesiado do nariz para baixo, toda a sensibilidade do rosto se resumiu a essa pequena parte.

Por isso, só percebeu que Ryuuzaki examinava sua língua quando sentiu uma pontada aguda e a dor se espalhando pela boca. Não conseguiu evitar emitir um lamento.

- Sh...tudo bem, tudo bem... já vai passar. Só estou vendo como você fez. Alguns pontos estão frouxos... não me olhe assim, vai ser rápido.

- Não deve mexer o braço... Ryuuzaki, seu maluco. – sentiu o sangue gelar e arregalou os olhos, mas, como não pudesse protestar verbalmente, L cuidadosamente utilizou agulha e linha para reforçar os pontos. Ele também permaneceu quieto, concentrado, sabendo que qualquer falha poderia arruinar permanentemente os movimentos do músculo.

- Pronto. Chega de costuras por hoje. – sorriu, limpando o suor da testa alguns minutos depois. Abraçou Raito da maneira que podia. – Agora, precisamos descansar, nem que por algumas poucas horas.

A menção de tempo fez Raito olhar o relógio na parede. Meia noite e quarenta. As últimas três horas haviam sido intermináveis, e a cada segundo ficava mais difícil manter os olhos abertos e a consciência desperta.

- Âoh orhír enhão... ahãâ o ia ehá heio.

(vamos dormir então... amanhã o dia será cheio.)

Ajeitaram-se na cama, abraçados. L circundou o corpo de Raito com a mão livre e este descansou a cabeça no peito dele, cobrindo a ambos. Olhou do braço enfaixado para os olhos de Ryuuzaki.

- He ehiar, ahise. Ão ehonha.

(se precisar, avise. Não esconda.)

- Sim, fique tranqüilo. E o mesmo vale para você. Boa noite, meu pequeno Raito. – beijou a testa dele, descansando o queixo em seus cabelos.

Mais uma vez, os olhos cansados do garoto se encheram d’água. Mas um sorriso sincero acompanhou o choro emocionado, e mesmo o latejar do rosto pareceu ser diminuído por um toque reconfortante. Aninhou-se mais a L com a certeza de que dormiria em paz, embalado pelo pulsar daquele coração em seu ouvido.

- Õa hôite...Íuáki.

(Boa noite...Ryuuzaki.)

E, apesar do caos que os circundava, tiveram um sono abençoado.


- Como vamos fazer? O clássico ‘cara mau e cara legal’?

- Eo oto hos dos ahas haus. (eu voto nos dois caras maus.)

- É um dia bom para isso.

Depois da batalha, a premiação. Além de terem se entendido entre si, conseguiram interceptar duas pistas que poderiam levar ao fechamento do caso em pouquíssimo tempo.

Só precisavam do incentivo certo.

E nada como passar a noite em um armário apertado ou em um sofá cheio de sangue e acordar com uma ducha fria em uma banheira suja.

Impassíveis, os garotos esperaram em silêncio que as duas irmãs recobrassem os sentidos e percebessem a situação em que se encontravam. As expressões deles não deixavam à mostra nem um resquício do sofrimento pelo qual tinham acabado de passar, e ao encarar os olhos sem brilho de Ryuuzaki e o fogo contido nas pupilas de Raito, elas guardaram para si qualquer ofensa que pudessem ter engatilhado. Mesmo os esparadrapos atravessados no rosto do mais novo pareciam intimidadores.

Mais alguns segundos contados de silêncio para arrematar e deixá-las mais preocupadas. Provavelmente a mais frágil, sufocada, tentaria agir nesse intervalo.

- Nós não vamos dizer nada. – a algoz de Raito disparou, encarando-o com uma autoconfiança hesitante – Vocês sabem disso.

- Com qual devemos começar? – L perguntou, ignorando propositalmente a reação da garota ajoelhada na banheira. Sem tirar as mãos dos bolsos, Raito apontou com um movimento para a mais nova, que mantinha a cabeça baixa.

- Então. Maki-chan. Se é que é este seu nome. – agachou-se em frente a ela, gradualmente diminuindo o tom de voz – Vai ser melhor para você colaborar. Eu não estou mentindo. Não tenho a intenção de fazer mal a vocês. O que diz?

Depois de um instante de silêncio, ela começou a soluçar e levantou um rosto choroso e vermelho para L.

- A gente... a gente não teve escolha! É verdade... mas aquela pessoa é um demônio, é horrível! Se não obedecermos, é o fim! - inclinou-se para frente, os olhos muito vidrados – Por favor nos ajude! Essa cidade é um inferno desde que isso começou!

- Maki! Nós vamos morrer de qualquer forma agora... o que esses – olhou de soslaio para Raito, que cumpria brilhantemente sua função de ‘cara mau’ – forasteiros podem fazer?

- Ainda estamos vivas, Shiko. – fungou – E podemos ter uma nova chance.

A mais velha piscou, ponderando. Raito apenas observava as atitudes e expressões das duas, um tanto surpreso.

- Quem diria... essa Maki. Eu devia saber que pouca coisa não conseguiria ameaçar Ryuuzaki. Mas agora ele está apto a perceber o teatrinho dela.

- Gosto de pessoas que não desistem enquanto estão vivas. Você poderia ter um bom futuro. – estreitou os olhos – Mas infelizmente, eu sei que está mentindo.

- Como?Não!Não é mentira!Nossa vida era tranqüila... seria bom se pudéssemos voltar a isso, eu... eu sei que o que fizemos foi errado, mas tivemos tanto medo! – adoçou a voz, deixando que mais lágrimas caíssem.

- No hotel você disse que seus pais morreram recentemente em um acidente, certo? Pergunto-me... se foi só isso mesmo.

As duas arregalaram os olhos e voltaram-se na direção de Ryuuzaki. Este ignorava completamente Shiko e concentrava-se em Maki.

- Não que falar a respeito?

- Você é bem esperto, né... mas está certo. – respirou fundo, sorrindo afetadamente – Foi isso mesmo. Esse Kira matou nossos pais, e por isso temos medo. E não temos ninguém a quem recorrer. Você entende, não é? Com sua inteligência.

- Mentira dela. – Raito estreitou os olhos. – Descarada e mal disfarçada.

- Entendo, sim. Realmente entendi. E quanto a você, Shiko-chan? - ela desviou o olhar imediatamente – Não quer falar a respeito?

- Diga a ele, Shiko. Como aconteceu aquilo. ­– Maki prendeu a respiração, parecendo repentinamente preocupada com a irmã. – Você pode fazer isso, né?

Como ela permanecesse quieta, L e Raito se entreolharam e concluíram que era hora de terminar.

- Bem, só nos resta chamar a polícia da capital para prendê-las por assassinato, tentativa de assassinato e acobertamento de cadáver. No mínimo, até agora.

- O QUÊ? – Maki bufou, estridente – Você disse que tinha entendido, e vai fazer isso? Por quê?

- Justamente porque eu entendi claramente as suas mentiras, Maki-chan. Por algum motivo vocês mataram seus pais e ganharam a confiança desse Kira. E trabalham pra ele com prazer. – colocou a mão sobre o próprio braço - Indecisão e medo não resultam em uma facada tão efetiva.

A mais nova estreitou os olhos e apertou os dentes, finalmente endurecendo a expressão. Ao contrário dela, Shiko revirou os olhos e riu nervosamente.

- Mais espertos que o demônio! Mas... será que vão chegar até ele?

- A essa altura, já sabem que falhamos. Vocês vão ter que correr.

- Eu me pergunto... – olhou displicentemente ao redor – como tudo pode se encaixar. Sua mãe era muito chegada ao Sr. Fujitaka da livraria, não é mesmo?

Elas se olharam, receosas e surpresas. Shiko franziu o cenho e virou-se para L disposta a dizer alguma coisa, mas um espasmo a percorreu antes que pudesse falar. Sua irmã gritou e perdeu o equilíbrio na banheira, caindo para trás e estrebuchando logo em seguida. Lutaram pela vida por poucos segundos até pararem de se mexer, contorcidas e com os olhos vidrados.

- Para a livraria. Devem estar nos esperando. Não precisamos ter tanto resguardo, já que claramente não possuem os olhos de shinigami, ou já teríamos morrido aqui.

- ão he um hira ão ieihente ahín.

(não é um Kira tão inteligente assim.)

- É o que vamos descobrir.

No caminho para a livraria, puderam comprovar que, mesmo não sendo inteligente, o Kira de Yukishiromiya sabia ser cruel e trabalhava bastante. Assim que saíram da casa, uma fileira de pessoas caídas nas ruas denunciava que ele passara a madrugada realizando julgamentos. Os garotos mantiveram seu caminho irredutíveis, sem se importar com um possível aviso ou intimidação.

Conforme seguiam, era possível notar que a maioria das mortes havia sido detalhada das maneiras mais variadas, algumas mais chocantes do que outras. O silêncio sepulcral deixava em dúvida se havia sobrado alguém vivo além do assassino e dos perseguidores.

Por vezes, sons distantes de tiros e de batidas de carros quebravam a monotonia. Na maioria dos quintais arborizados, famílias inteiras ocupavam a mesma árvore, e nas calçadas dos poucos prédios com todas as janelas quebradas juntava-se uma aglomeração do que deveriam ter sido os moradores. Mesmo Raito se recusou a olhar diretamente para o parquinho da praça.

Quando chegaram à rua da livraria, um punhado de pessoas se encontrava parada nos telhados das casas, aparentemente aguardando um sinal. Conforme os dois caminhavam para frente, eles se projetavam no ar aos pares, como um tapete vermelho se estendendo. No ritmo dos baques surdos e sem desviar o rosto para os lados, pararam à porta aberta da loja, que parecia estar vazia.

Mantendo o silêncio, entraram juntos e confirmaram o abandono, avistando apenas a porta atrás do balcão escancarada. O convite final.

- Se ele quer um confronto direto... devemos ir.

L olhou para Raito e sentiu um calafrio o percorrer ao encontrar uma desagradável expressão no olhar que fitava a porta. O seu pequeno Raito estava diferente, e mesmo não tendo captado o ponto de mudança, sabia muito bem o que o causara.

- O caderno está próximo. Raito-kun... esse assassino escandaloso à nossa frente não me causa abalo algum. Entretanto... o que você pretende fazer?

Ryuuzaki controlou sua ansiedade enquanto cruzavam o recinto até chegar do outro lado. Após um pequeno corredor, outra porta simples entreaberta, que simplesmente empurraram. O cômodo era escuro, mas não chegava a impedir a visão.

Um escritório de porte médio, sem decoração, com exceção de um pequeno tapete na entrada. Mais prateleiras de livros preenchiam o outro lado da sala, e entre as duas havia uma escrivaninha colocada de frente para quem entra. Atrás dela, uma pessoa sentada e concentrada, escrevendo nomes em um caderno.

O Caderno.

Ao lado, uma taça e uma garrafa de vinho flutuavam surrealmente. Mas isso não era mais surreal do que a visão completa do ser humano responsável por arrasar a cidade.

Não devia ter mais que 15 anos. Cabelos negros longos e uma franja espessa, ladeada por um arquinho. O vestido leve de verão contrastando com o lugar abafado onde estava e com a pele pálida do rosto que emoldurava dois olhos negros e sem brilho. Ao levantá-los para os visitantes, um sorriso em forma de risco contornou a face e os dedos finos descansaram a caneta.

- Eu sabia que as pessoas da capital eram interessantes.

Nesse instante, todas as peças se encaixaram.

- A pequena Akemi Fujitaka.


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Notas finais do capítulo

Notas Finais: Quase dois meses sem atualização, mas a gente não se esqueceu!Depois de muito pesar, parece que os meninos finalmente começaram a se entender, e isso é empolgante, que a demora tenha compensado, que tenham gostado do rumo dos acontecimentos e queiram ver a continuação!Esperamos que não demore tanto tempo também! Até a próxima!

No próximo capítulo: a investigação do caso Kira de Yukishiromiya deixou marcas profundas, com as quais L e Raito terão que aprender a lidar. Mas antes de tudo, é preciso que os ferimentos se curem totalmente.