Hocus Pocus escrita por Tatiana Mareto


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

PRÓLOGO



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A história que eu vou narrar agora é fantástica. Não... claro que não é fantastica só porque eu vou narrar. É que se trata de um fato, digamos... nada comum. Eu diria totalmente anormal e inacreditável. Se não tivesse acontecido comigo, nunca acreditaria.

Antes de tudo, vamos às apresentações. Meu nome é Débora, mas ganhei o simpático e americanizado apelido de Debby quando fui morar no México. Ou europeizado, vocês escolhem. Prefiro europeu porque não sou muito fã dos americanos não. Retomando, sou brasileira e nasci em Capim Forte, no interior do Amapá. Meu pai era jogado pela empresa onde trabalhava para todos os cantos do país, e foi nesse lugarzinho pitoresco que eu escolhi nascer. A vida era boa, que eu me lembre, mas meus pais se separaram, e mudamos para o México com o novo namorado de mamãe, que depois virou marido, o Brad. Nem era o Brad Pitt... Quando digo mudamos, é porque além de mim, minha mãe e o Brad, ainda havia Bob e Luke, que não eram os cachorros. Eram meus dois irmãos mais novos, filhos já do segundo casamento de minha mãe. Meus três irmãos mais velhos, Bernardo, Denis e Rodolfo decidiram ficar com meu pai no Brasil, e com sua nova esposa e meu outro irmão pela metade, Felipe.

Confusão, não? Pois é, meus pais decidiram me dar um time de futebol de presente, ao invés de família. Tinha tanta gente que eu sempre me perdia. Nas festas, era um caos sempre que mamãe inventava de reunir todo mundo. Mas foi isso, mudamos para o México porque Brad trabalhava para uma empresa americana que o transferiu para lá. Minha mãe adorava escolher homens instáveis, que não criavam raízes. Essa era a fala de minha avó. Brad tinha a mesma vida nômade de meu pai, não parava em lugar nenhum. Mas ele tinha muito dinheiro... fomos morar em Acapulco, lindas praias e muitos turistas. Eu estudava por lá mesmo, apesar de não ter muita opção. Só de pensar em ir para os Estados Unidos, tinha dores de barriga. Não gostava mesmo daquele lugar, e nem conhecia. Nossa casa era uma mansão, tínhamos oito empregados, entre jardineiro e cozinheiras. Havia também a babá de Luke, que tinha apenas dois anos. Minha mãe, desde que se casou com Brad, virou madame e passava o dia todo participando de eventos ou no salão de beleza.

Já eu... bem, eu era diferente. Nunca me acostumaria com luxo, nem com riqueza, nem com coisas caras. Morei anos no Pará, acampei em cima de árvores para não ser comida por onça. Tinha o sangue quente, Consuelo dizia que em minhas veias corria tequila. Consuelo era minha melhor amiga, conheci já no México. Fazíamos faculdade juntas, mesmo curso e mesma classe. Gostávamos praticamente das mesmas coisas, mas ela morava em uma cidadezinha nos arredores de Acapulco, que agora nem me lembro mais do nome. Sua casa era simples, vivia com uma tia e só conseguia estudar porque era boa aluna e conseguia bolsas do governo.

Voltando à minha história fantástica, foi em um ano bastante diferente. Era verão, e no México fazia tanto calor que eu tinha certeza que ia derreter. Nem conseguia entrar no jeans para ir à faculdade, era como se todo o meu corpo estivesse se transformando em água. Mas eu precisava ir à aula, o professor de anatomia era um chato, e eu tinha certeza que ele faria chamada oral naquele dia. Pelas piadas que ele falava era possível se entender o que ele pretendia. Peguei meu Fusca e passei na casa de Consuelo, eu sempre lhe dava uma carona.

_Madre de Dios, ouvi no rádio que amanhã vai fazer ainda mais calor. – Consuelo se abanava com um leque bastante cafona enquanto tirava pedras de gelo de uma bolsa térmica e colocava na nuca.

_Não é possível, mais calor derreteria qualquer coisa viva.

_Mas é verdade! Eu ouvi. Minha tia disse que vão todos até o Monte Cuervos invocar os espíritos e pedir por clemência!

Nem preciso dizer que os mexicanos são todos uns crentes. Acreditam em tudo, desde duendes até magia poderosa. Eu não acreditava em nada, era totalmente cética e se não tivesse provas que existia ar, talvez não acreditasse nele também. Podemos dizer que eu não tinha fé nenhuma. Era uma grande incoerência, eu vivia me arriscando com todo tipo de maluquice, mas não tinha fé.

_Para com isso, Consuelo! – Resmunguei, parando o carro no estacionamento da universidade. Universidade no México... não era grandes coisas, mas dava para fazer o curso de biologia. – Essas coisas não se resolvem com um bando de gente invocando nada.

_Debby, Debby! Um dia essa sua descrença toda ainda vai te arrumar confusão!

_Por que? Os espíritos vão se irritar comigo?

Desabei em uma gargalhada incontrolável, já estávamos a caminho da aula do professor García. Era um homem baixinho, gordo, cabelos sempre desarrumados. Usava um óculos de armação imensa.

_Bem que podiam.

Consuelo não falou mais comigo até o final da aula, acho que ela realmente se irritou com meu ceticismo. Eu realmente não me importava, mas aquela pequena discussão criou um clima de revanche entre nós duas. Eu querendo provar a Consuelo que magia não existia, e ela querendo me provar que sim. Essa pequena passagem não contribui muito para a história mesmo, mas foi como tudo começou.


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