- Vem Kamus! Sobe aqui! – gritou o garoto de cabelos loiros que estava sentado em um dos grandes e fortes galhos da macieira.

- Milo! Daqui a pouco está na hora do treino! – o garoto ruivo que se encontrava próximo a macieira, tentava inúltimente convencer o outro a descer para poderem sair dali. Tinham treino e se chegassem atrasados teriam que correr sabe-se lá quantas voltas por todo o Santuário. E ele não queria fazer isso. – Se não formos agora chegaremos atrasados!

- Se não te conhecesse Kamus, diria que está com medo. 

Se tem algo em que Milo o provável sucessor da armadura de Escorpião é bom, é em tirar Kamus futuro Santo de Aquário do sério. Parecia possuir um dom para isso. Ele era o único que conseguia tirar alguma reação do ruivo, fosse de alegria ou raiva. E dessa vez não foi diferente. Kamus não toleraria ser chamado de covarde, não pelo escorpiano! Subiu na macieira com facilidade, não tanta quanto o outro que já estava acostumado.

- Pronto. – disse enquanto olhava o outro nos olhos, o desafiando a dizer que era covarde.

- Sabia que você viria! – foi tudo o que ele disse antes de começar a pegar as maçãs. Não reparou a leve mudança de expressão que surgiu na face de Kamus, que emburrado cruzou os braços e ficou ali, sentado vendo o outro se esticar todo para pegar as malditas maçãs.

- Cuidado Milo... As maçãs vão cair! – alertou o amigo que estava enchendo sua túnica com a fruta, mas assim como o outro disse, caiu tudo no chão. – Eu avisei. É o que você ganha por ser tão guloso Escorpião! – Milo deu a língua para Kamus que sorriu de lado.

- Aaah, vou ter que pegar mais! 

- Milo, vamos para o treino! – já ia descendo da arvore quando sentiu a mão do outro agarrando seu braço.

- Hoje não tem treino. – sorriu divertido.

- Como? 

- O mestre pediu para que eu o avisasse. Hoje não terá treino. Eles estão nos dando o dia de folga. – enquanto falava Milo tinha um sorriso que ia de orelha a orelha. Já o Aquariano estava irritado, bem irritado!

- E quando você pretendia me contar? – puxou o braço com força, fazendo o outro se desequilibrar.

- Opa... – se ajeitou no galho e passou a encarar o ruivo – Se eu te falasse antes, você não estaria aqui comigo. Você iria treinar sozinho! E eu queria sua companhia. 

Kamus ficou quieto por um instante.

- Por que você não me convidou? Se tivesse me chamado eu teria passado o dia com você tranquilamente Milo...

- Mas... Quer a verdade? – baixou a cabeça e corou um pouco.

- Claro!

- Eu achei que você pensaria que fosse um encontro, então não iria aceitar.

Kamus corou. Isso não havia passado por sua cabeça. 

- Não seja bobo Milo! Porque alguém iria ter um encontro comigo? 

- Isso é sério? – Milo olhou para ele com um sorriso no rosto, Kamus fez que sim com a cabeça, Milo começou a rir como se tivesse ouvido uma piada.

- O que é tão engraçado?

- Você é tão cego Kamus! – parou de rir – Você é lindo, forte e inteligente. É meio fechado mesmo, mas todo mundo tem um defeito, e o seu nem é tão grande assim. 

Kamus corou e ficou calado. Milo reparou que seu amigo não falaria nada por um bom tempo, então decidiu voltar à tarefa de pegar as maçãs. 

Ficaram sentados ali até o dia se tornar noite. Conversaram algumas vezes, mas não tantas quanto o habitual. Kamus não havia se recuperado da “noticia”, o que divertia muito o outro.

- Milo, vamos descer... – Kamus queria sair dali, fugir e ir para bem longe. Ainda estava muito envergonhado. Sentiu as mãos de Milo sobre a sua mão direita e não sabia o porque, mas se arrepiou. Virou para o Escorpião, para convencê-lo a descer, mas foi surpreendido com um selinho.

Milo queria apenar provocar Kamus, fazê-lo se sentir confortável com sua presença novamente, mas ficou surpreso ao constatar que os lábios do aquariano não eram frios. Eram quentes, e tinha um gosto doce, como maçã. Ou será que era o gosto da maçã que estava comendo? Não importava. Ele gostou e não consegui desgrudar as bocas. Abriu os olhos e viu que Kamus estava com os dele fechado. 

Pararam o beijo atrás de ar e ficaram se olhando. Nenhum deles sabia o que dizer, haviam gostado, estavam se sentindo estranhos, queriam mais. Mas... Mais o que? Mais beijo? Mais contato? Eles não sabiam. 

- Milo eu... – o Escorpiano não deixou ele falar, juntou os lábios novamente, mas dessa vez foi mais rápido, mas nem por isso menos prazeroso.

- Eu também. – disse para ele. Ambos sorriram como se tivessem aprontado alguma coisa e voltaram a comer as maçãs, que haviam ficado sobre o colo do futuro detentor da armadura de escorpião.

Decidiram não falar sobre isso agora, afinal não sabiam nem sobre o que falar. Estavam felizes e era isso que importava no momento.