O assassino do Cantor escrita por Kitty


Capítulo 19
Capítulo 19




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Capítulo dezenove

1

– Certo, Nakai. Obrigado por essa informação.

Subaru encerrou a ligação pelo celular e depois retornou para a sua sala. Ele parou na porta e se se encostou à batente da porta, observando Tacchon concentrado ouvindo algumas gravações. O mais novo não tinha notado a sua presença. Subaru reconhecia que Okura estava se mostrando cada vez mais esforçado em seu trabalho. Era um pouco ingênuo e sensível, que é uma falha para um policial, mas ele compensava com a sua dedicação. Sorriu ao se lembrar da imagem do jovem quando se conheceram. Ele tremia e gaguejava ao lhe falar, certamente intimidado pela sua fama. Essa época foi engraçada, mas rapidamente Okura se sentiu à vontade e eles se tornaram amigos.

Aproximou-se e colocou a mão no ombro do rapaz. Okura ergueu o rosto em sua direção e era visível que estava morrendo de sono. Subaru notou alguns copos plásticos vazios, mas que, pelas marcas, eram de café.

– O que está fazendo?

– Ouvindo as conversas de Kimura em seu celular. Quando pegamos essas gravações não descobrimos muitas coisas.

– Sim, realmente não há nada além de conversas com produtores, gravadoras, jornalistas e a família. Kimura devia ter outro celular para conversar com seu amante.

– Provavelmente...

– Mas porque está escutando de novo?

–... Eu fiquei incomodado com um telefonema... Depois do que Kamenashi nos contou sobre a viúva e Nishikido...

– E nas ligações do Kimura há algo que te incomodou?

– Não, na verdade foi nas do Nishikido. Eu não sei exatamente... Apenas uma suspeita... Realmente não é nada demais, mas... A voz de uma das conversas de Nishikido com suas amantes... E a voz da viúva Kimura... São parecidas.

– Deixe-me ouvir.

Okura fez que sim e colocou primeiro o aúdio da conversa entre Nishikido e uma amante. A que tinha o celular em nome de Nishikido Ryo. Subaru escutou o casal marcando um encontro e depois escutou a viúva Kimura conversando com o marido sobre um jantar para os produtores do seu próximo álbum. Retirou os fones.

– Mande para Kagawa, ele pode fazer uma análise e comparar as vozes. Mas não devemos mais ter dúvidas quanto a isso. A viúva Kimura é uma das amantes de Nishikido.

– E isso...

– E isso, Tacchon, nos traz um cenário mais interessante... – Subaru sorriu.

2

Após Kamenashi narrar tudo o que vivenciou na casa de Nishikido e sobre a viúva Kimura, a primeira providência de Subaru foi reunir uma equipe para prender os homens de Nishikido em flagrante. Essa equipe recebeu ordem para seguir Nishikido Ryo aonde quer que ele fosse para descobrir se, depois do ataque à sua casa, os planos não seriam mudados.  

O resultado das comparações entre as vozes da viúva e da amante de Nishikido comprovou que eram da mesma pessoa. Assim, agora faltava apenas interrogar Inagaki Goro mais uma vez, descobrir o que ele foi conversar com Kimura enquanto o cantor ainda estava sozinho no motel. Por isso, os dois agentes estavam se dirigindo novamente para a produtora.

Não ficaram surpresos quando encontraram Kusanagi Tsuyoshi na companhia de Inagaki Goro. Subaru tinha alertado Tadayoshi de que certamente o produtor usaria de todos os escudos possíveis para proteger o que quer que ele queira esconder.  

– Inagaki-san, nós temos gravações que mostram o senhor chegando ao motel. Você conversou com Kimura-san naquela noite. – Okura disse, a voz firme para que o outro não pudesse duvidar de suas palavras. – Você precisa se explicar sobre este fato.

Kusanagi olhou para o amigo e, com a mão em seu ombro, aconselhou-o:

– Isso você deve explicar a eles. Goro-chan, você sabe que Kimura odiaria que você continuasse a mentir para preservar a honra dele.

– Demo... – hesitou. Seus olhos caíram para o retrato de Kimura em sua mesa. Este objeto não estava ali na primeira vez em que os policiais estiveram ali e Okura notou esse fato.

– Por que razão você foi se encontrar com Kimura Takuya na noite do crime? – Subaru inquiriu com sua voz fria retirando Goro de seus pensamentos.

O produtor respirou fundo, suas mãos tremiam de leve e ele pediu permissão para tomar um pouco de uísque. Subaru aquiesceu e negou a bebida para ele e Okura, aguardando enquanto Goro servia ao advogado e a si mesmo. O moreno tomou o gole demoradamente, seu olhar perdido, certamente estava relembrando aquela noite.

– Se ao menos eu pudesse ter evitado que ele retornasse ao motel... Eu disse a ele para retirar essa ideia da cabeça. Que ele próprio deveria procurar a polícia... Mas ele não quis. Quis preservá-la, a mulher. Queria resolver ele mesmo...

– Inagaki-san... Porque Kimura teria que procurar a polícia? – Okura perguntou.

– Para denunciar o esquema de tráfico de drogas da Nishikido-gumi. Quem denunciou aquela transação... Fui eu.

Ele fechou as mãos, os cotovelos apoiados sobre a mesa e mantinha uma expressão dolorosa.

– Nakai estava certo. Ele sempre esteve, sobre o caráter daquela mulher. Ela não presta e acredito que tenha mesmo forçado a gravidez... Kimura foi uma pessoa de senso de justiça e honra muito forte. E, algum dia, ele foi apaixonado pela Haruka.  Ele assumiria aquele casamento, mesmo abrindo a mão de sua felicidade por isso. Eu não pude perdoá-lo por ser tão fraco...

– Fraco? – Okura não entendeu aquela acusação. Sob seu ponto de vista, Kimura era uma pessoa admirável. Honrou seu compromisso, aceitou suas responsabilidades, acima de qualquer benefício para si próprio. Mas Inagaki tinha outra visão.

– Ele não teve forças para lutar pela sua felicidade. Se entregou ao que a sociedade determinou o que era o certo. Não foi forte para lutar contra isso... Eu não pude perdoá-lo por muito tempo. Nós cortamos nossa... Amizade... Por muitos... Anos...

Era nítido que Inagaki estava com remorso. Okura o olhou penalizado, já envolvido naquele relato. Até mesmo Subaru desviou seu olhar da janela em que estava próximo para fitar o produtor.

– Naquela noite, Kimura tinha me pedido para encontrá-lo... Não no horário em que eu fui. Mais cedo. Às 19h. Em outro local. Mas eu me recusei. Não queria voltar a falar com ele nunca mais... Estávamos indo muito bem ignorando um ao outro durante tantos anos, mas... Ele pareceu tão sério ao telefone... Talvez tivesse pressentido o que aconteceria naquela noite.

– Você acha que ele sabia que seria morto? – Okura perguntou.

– Não sei. Foi apenas impressão minha. Quero dizer, quando a pessoa se comporta de uma forma diferente e é assassinada no mesmo dia... Você não acha isso estranho? Mas geralmente não significa absolutamente nada... Bem... Mais tarde eu resolvi ir até ele, então. Perguntei onde ele estava. Chegando lá, ele não me permitiu entrar. Desceu e foi me encontrar em meu carro. Talvez quisesse me impedir de encontrar aquele menino, Akanishi Jin. Eu sabia que ele ia se encontrar com ele. Quero dizer, eu sabia que eles eram amantes, e, como Kimura estava em um motel, muito provavelmente era com esse menino.

– Mas você não chegou de fato a perguntar, certo? A Kimura-san... Se ele estava com Akanishi?

– Não, não perguntei.

– Bem, continue, por favor.

– Kimura veio até meu carro. Depois de muitos anos, era estranho que estivéssemos tão próximos... Ele me abraçou... Ele nunca ficou ressentido comigo na vedade. Quem estava magoado era eu, somente eu. Se eu ao menos não fosse tão orgulhoso...

– Não seja tão rigoroso com você mesmo Goro-chan. – Kusanagi disse, a voz tranqüila. – Não teria evitado o destino de Takuya...

–... Provavelmente não, mas... Agora... Talvez teria mais memórias com ele... – sorriu de leve – Em todo caso, ele me entregou naquela noite as provas da transação da família Nishikido. Eu não entendi porque ele estava confiando isso para mim. Ele deveria ter entregue a Tsuyoshi-kun, que é advogado ou mesmo para Nakai... Mas porque para mim? Eu perguntei a ele. Ele respondeu que, como todos sabiam que estávamos brigados há anos, qualquer suspeita de seu envolvimento ou da sua esposa poderiam ser abafado do que se ele mesmo ou outro amigo mais próximo fizesse a denúncia, mas que também... Ele sabia que poderia contar comigo e era um modo de fazermos as pazes. Esse foi o seu modo de se despedir de mim, eu acho... Me mostrar que não estava zangado ou chateado comigo... E que ainda confiava em mim...

Ele interrompeu a narração para se servir de mais uísque. Sua voz estava controlada com grande esforço. Okura achou que fosse melhor desviar o rumo daquele relato.

– Como Kimura-san soube sobre esse esquema?

– Kimura sabia que sua mulher estava envolvida com o herdeiro. Por muito tempo, fechou os olhos para isso. Kimura, como disse, se sentia responsável pela felicidade de sua mulher. Não era capaz disso e, quando ele arranjou um amante, sentiu ainda mais que era seu dever proteger a felicidade dela. Acabou descobrindo que ela estava feliz com um rapaz mais novo e pensou que era o certo não se intrometer.

– Foi então que Kimura comentou sobre estar sendo enganado. – Kusanagi entrou no relato – Ele nunca explicou exatamente sobre a que se referia, mas penso que talvez estivesse se referindo ao relacionamento de sua esposa com Nishikido. Não no sentido amoroso, mas talvez eles estivessem usando o dinheiro de Kimura nos negócios da máfia.

– Por que não nos contou isso antes? – Okura perguntou.

– Goro-chan fez uma denúncia anônima. – ele explicou – E, como advogado, não posso revelar detalhes das conversas com meus clientes. Cheguei a essa suspeita a partir do que Goro-chan me contou. Não temos provas, além disso. Mas Kimura mantinha uma boa mesada para a sua esposa.  E comentou algumas vezes sobre ela exagerar em seus gastos, mas sempre pensei que fossem com jóias, carros e outras coisas.

– Mas ela pode estar financiando a Yakuza. – Goro completou. – Kimura tinha mais acesso aos negócios de sua mulher, poderia facilmente ter descoberto que ela estava envolvida com Nishikido e, alías, não só com ele, mas também com a Yakuza. Acho que essa era a maior suspeita que meu amigo tinha...

Okura ainda se sentia penalizado com a expressão tristonha de Inagaki e se virou para Subaru, a fim de questionar o mais velho se podiam encerrar o interrogatório ou pelo menos dar uma pausa. Mas não precisou abrir a boca, Subaru já estava indo em direção à porta. Disse algumas palavras educadas como despedida e agradecimento, que ninguém, além de Taayoshi, realmente entendeu. O mais novo pediu desculpas e se despediu corretamente, tendo que correr em seguida atrás de seu parceiro.

– Porque essa pressa de repente? Você não quer saber por que Inagaki escondeu sobre tudo isso?

– Ora, Tacchon. Você não percebeu?

– Eh? O que?

– Inagaki escondeu esses fatos em respeito ao pedido de Kimura. Kimura não queria que sua esposa fosse denunciada à polícia, quis preservá-la por essa honra antiquada que, sendo o homem, ele tinha que protegê-la, principalmente porque ele se considerava o culpado pela infelicidade dela. Além disso, é a mãe das filhas dele. Mesmo que tivesse um amante, a sua esposa era Kimura Haruka e ele faria de tudo que estivesse ao seu alcance por ela.

– Ok, e aí?

– Aí que Inagaki quis continuar a missão de Kimura. Protegendo a viúva, mesmo a contra gosto, até que acabou se enrolando demais com a polícia e foi convencido por Kusanagi a entrergar a mulher, porque o senso de justiça de Kimura não colocaria o amigo em problemas.

– Tá, mas porque Inagaki faria tudo isso por Kimura se eles estavam brigados há anos?

Subaru parou de andar quando já estavam na rua, próximos ao carro. Ele olhou para Tadayoshi com um sorriso grande diante da inocência de seu parceiro. Okura estava se esforçando, mas ainda precisava de mais experiência.

– Porque Inagaki Goro o amava. E eles tiveram um relacionamento, um namoro talvez, antes de Kimura conhecer Haruka. Você não percebeu como ele disse quando romperam a “amizade”? Inagaki Goro não perdoou Kimura por ser fraco diante da sociedade que o obrigava a casar com a mulher que engravidou. Inagaki jamais o perdoou por ter sido fraco em não manter o relacionamento gay, que, em sua visão apaixonada, era a felicidade de Kimura. Isso na época. A mágoa apenas aumentou quando depois soube que Kimura traía a esposa com... Um rapaz.

– Eh... – a expressão atordoada de Okura o fez rir. – Você concluiu tudo isso por causa da reação de Inagaki-san? Subaru é mesmo incrível!!

– Não, eu liguei para o editor Nakai e o fiz confessar que ele não era o único que sabia sobre o amante de Kimura. Nakai também não acreditava que pudesse ter sido o amigo a assassinar Kimura, então colaborou para tentar entender porque Goro foi até lá naquela noite.

– Mou~... Não me engane desse jeito! Mas como você suspeitou sobre isso?

– Por que Inagaki foi até o motel. Se Kimura tivesse confiado seu amante apenas a Nakai, não teria deixado Inagaki ir até ele. Ele teria ido até Inagaki em algum ponto da região, mas não na frente do motel, onde ele praticamente estaria revelando que tinha um amante.

– Ah... Porque eles não contaram logo tudo o que sabiam?

– C’est La vie... C’est La Amur.  É a vida… É o amor. Parece que as pessoas hoje em dia continuam protegendo as pessoas que amam. – Subaru disse. – Pelo menos é o que parece no caso Kimura.  A começar pelo morto.

– Sim e... Nani?? Kimura... Estava protegendo alguém?

– Tacchon, Tacchon. Porque você acha que o encontro entre Kimura e seu algoz aconteceu no motel em que ele viveu momentos felizes?

– Mas... Se o assassino for Akanishi, faz sentido que seja lá...

– Se Akanishi for assassino, Kimura morreu tentando proteger o amor deles. Aceitou o encontro querendo que eles voltassem a se dar bem. E se Akanishi não for o assassino, não tenho dúvidas de que ele foi a isca para levar Kimura até lá.

Okura congelou onde estava e viu seu parceiro entrar tranquilamente no carro. Como Subaru podia lidar tão bem com histórias tão tristes? Ele teve que segurar as lágrimas quando também entrou no carro.

– E agora, o que faremos? – disse, fungando.

– Agora, Tacchon... Tá na hora de quebrarmos alguns sigilos bancários. – ele piscou e ligou o carro.

3

A Yakuza é uma organização impressionante. Não à toa, ela conquistou seu espaço na sociedade e, na verdade, acabou criando uma sociedade à parte, embora misturada com a outra. Kamenashi pensava nisso quando entrou naquele hospital. E não era somente o hospital. Escolas, universidades, restaurantes, bares, entre os mais diversos comércios também estavam sobre os braços protetores da máfia japonesa.

Ele pensou, não sem algum receio, que novamente estava se enfiando na toca do lobo. Duas semanas tinham se passado desde o ataque à casa de Nishikido Ryo, cedo demais para qualquer pessoa desejar outro contato com a família. De alguma maneira bizarra, ele estava sendo atraído para a Yakuza com muito mais freqüência do que gostaria. Mas, desta vez, ele não estava envolvido em nenhuma investigação. Dessa vez, seu motivo era seu amigo Koki.

Quando bateu na porta, escutou a voz animada de Koki pedindo para que entrasse. Kamenashi respirou fundo, sabendo que o choque seria inevitável, mas procurando forças para que sua voz não falhasse.

Koki já não estava mais inchado, embora seu rosto ainda não tivesse retornado à coloração normal. Hematomas estavam visíveis próximos à boca e também próximo aos olhos. Um deles estava enfaixado e o outro já estava sendo coberto por um tapa-olho preto com o desenho de uma caveira. Isso fez Kamenashi rir. Somente Koki para lidar com essa situação de forma bem humorada.

– Hey, pirata! – disse, se aproximando da cama.

A cama de Koki estava levantada, de modo que ele pudesse se manter sentado. Ele ergueu as mãos no ar, à procura de Kamenashi, que ofereceu as suas mãos a ele. Koki as segurou com firmeza e acariciou os dedos dele.

– Essas mãos pequenas e gordinhas! – brincou. – É, Baby... Você nunca vai deixar de ser mesmo um baby.

– Mou~... Que coisa mais irritante, pare de usar esse apelido!

Koki riu, soltou as mãos de Kamenashi e manteve o sorriso ao dizer:

– Eu estava querendo te ver, mas agora eu não posso mais.

– Não diga essas coisas. – Kame pediu, mas não pode deixar de rir. – Não vai fazer a cirurgia no olho esquerdo?

– Un. É, vou fazer... Mas eu estava querendo dizer que você demorou em vir em visitar. Ocupado demais trepando com aquele assassino?

– Você já soube...

– Ouvi alguma coisa sobre isso do Maru. Ele se entregou, então... Ele é corajoso.

Kamenashi inclinou o rosto, discorando dessa afirmação.

– Acho que... Burro... Seria uma palavra que o definiria melhor.

– Bem, isso também. – Koki sacudiu os ombros – E o que você acha?

– Ele é inocente. Por isso é burro de se entregar

– Acredita mesmo que ele é inocente?

– Sabe o Shigue? Ele fotografou o Jin na noite do crime. Não é uma prova que o inocenta, ainda teria tempo dele chegar ao motel. Mas não no horário que ele declarou. Porque ele mentiu sobre isso? Porque ele quer proteger Yamashita, que você deve saber que também se entregou como assassino. Se Yamashita é o assassino, então Jin o protegeria.

– E se for Yamashita quem está protegendo Akanishi?

– Então porque Akanishi mentiu sobre o horário que chegou ao motel? Deve ser algo importante... Em todo caso, eu não tenho mesmo uma prova concreta da sua inocência, mas há outro ponto agora em investigação.

– Que ponto?

– A viúva Kimura. Ela faz parte da Yakuza, não faz Koki?

–...

– Eu a vi se encontrar com Ikuta Toma. Ela entregou a ele um envelope sobre a próxima transação da Yakuza. Você sabe que a polícia vai fazer um flagrante... Se quiser avisar seus superiores...

– Porque está fazendo isso, Kazuya?

– Bem... Digamos que é um agradecimento. Porque foi Toma quem me salvou quando atacaram a casa de Nishikido Ryo.

Koki suspira e ri.

– Não vou avisá-los.

E, então, quem fica surpreso é Kamenashi.

– Ne, Kazuya... Talvez algumas coisas não sejam tão claras no momento em que acontecem, mas, no futuro, os historiadores podem afirmar quais são as conseqüências de certas ações... Assim... Visando o futuro... As mudanças no presente são necessárias.

– O que você quer dizer, Koki?

– Ah... Sei que você vai entender Kazuya... Um dia... Você vai entender. Mas talvez seja melhor descruzarmos nossos caminhos. Não como amigos. Se você sumir da minha vida eu te mato! – ele disse, rindo – Mas talvez o jornalista deva procurar outras fontes.

Kamenashi não acreditou nessas palavras. Sabia que se precisasse, Koki continuaria lhe ajudando, mas ele concordava que deveria procurar por fontes menos arriscadas. Deixou de tentar entender sobre as palavras de Koki, creditando-as a alta dosagem dos remédios e mudaram de assunto.

4

Quando chegou em sua casa, Kamenashi ficou surpreso por ter uma visita. Ele tinha ficado à sua espera o dia todo sem atender aos apelos de Takahashi-san para que fosse embora, pois o jornalista demoraria muito para voltar e houve dias em que nem ao menos retornou para casa. Apesar disso, o rapaz insistiu em continuar ali, esperando. Era uma pessoa muito teimosa e, também, parecia muito preocupado. Algum assunto urgente. Takahashi-san se comoveu e o deixou que ele esperasse em seu apartamento.

Kamenashi pediu a Takahashi-san que avisasse à pessoa que já tinha chego e que o aguardava em seu próprio apartamento. Depois, ele subiu até o seu andar, indagando-se quem e o motivo para procurá-lo com tanta urgência. Ainda teve tempo de se colocar à vontade antes da campainha tocar. Ele estava com um confortável conjunto de moletom azul marinho quando abriu a porta para Tegoshi Yuya.

O cantor mantinha o rosto baixo, mordia os lábios e esfegava uma mão à outra. Estava bastante indeciso.

5

Subaru ficou satisfeito. Conseguiu o número de homens que tinha pedido e a equipe de inteligência confirmou que os planos da Nishikido-gumi não foram alterados. Assim, ele nomeou o agente que julgava mais capacitado para liderar aquela equipe, enquanto Tacchon e ele seguiriam com a outra parte do plano. A ideia era prender Nishikido Ryo ao mesmo tempo em que encurralavam a viúva Kimura.

Depois da conversa com Inagaki, Subaru abriu o processo para conseguir a quebra do sigilo bancário da viúva. Ele teve a permissão quando a equipe de inteligência descobriu os códigos nas conversas triviais entre Nishikido e suas amantes. A maioria das conversas era sobre esquemas de transações de drogas. Marcando o lugar e o ponto de encontro para o tráfico. Outras eram de fato apenas lúxuria do herdeiro.

A viúva Kimura sempre foi uma pessoa discreta, mas não o suficiente para escapar da atenção de Subaru. Não havia grandes movimentações de dinheiro, mas havia uma freqüência em um determinado período do mês. Era sempre a mesma quantia e as datas coincidências com registros de transações que a equipe de inteligência mantinha em seus arquivos. Comprovada a ligação dela com Nishikido, era o suficiente para abrir uma denúncia contra ela.

Quando eles chegaram a casa dela, Kimura Haruka estava se preparando para uma entrevista em homenagem ao marido falecido, segundo ela informou.

­– Eu tenho certeza... – Subaru subiu dois degraus da entrada da casa e retirou o distintivo – De que os produtores do programa serão gentis o suficiente para compreender a sua ausência, Kimura-san.

Ela movimentou os lábios, contrariada. E com muita má vontade pediu que eles entrassem, virando-se e retornando para sua casa com passos regulares, firmes enquanto sacudia levemente o quadril.

Apesar do horário, ela se serviu com brandy, alegando que era para os nervosos. Andava muito instável desde que perdera o marido.

– Sim, compreendo. – Subaru tomou a palavra, surpreendendo Okura – Não é fácil decidir-se pela morte do próprio marido e pai de suas filhas. É algo que certamente abala os nervos de qualquer pessoa.

Os dedos delicados, com o esmalte rosa bem pintado, seguraram o corpo com mais força. Ela encarou o policial por um breve instante e depois seu rosto assumiu um ar frágil e surpreso.

– Não entendo o que o senhor está querendo dizer, Shibutani-san.

– Ah, entende sim. – ele afirmou – Ou talvez a senhora compreenda melhor depois que Nishikido Ryo for preso pela venda de drogas que está sendo efetuada neste momento em Shibuya. A senhora está a par, eu presumo, já que foi você quem entregou os dados da transação para Ikuta Toma. Temos testemunha.

O rosto frágil se desfez e ela voltou a encarar o policial mais velho. Subaru ainda recomendeu que procurasse outro advogado, pois Sakamoto Masayuki certamente estaria ocupado demais tentando livrar a pele do herdeiro.

– Mas... – ele disse de forma lenta e se permitiu a um sorriso de canto – Desta vez existem provas demais sobre a atuação dele no mercado negro e no narcotráfico. Desta vez, Nishikido Ryo não poderá ser salvo. Principalmente porque ele também vai ser acusado pelo homicídio de Kimura Takuya. Por isso, você estará sozinha se não procurar um bom advogado.

Okura, ainda influenciado pela imagem que aquela mulher tinha construído, achou que seu parceiro estava sendo mais agressivo do que o necessário. Sabia que Subaru estava satisfeito, ele adorava acuar os culpados e só o fazia quando tinha certeza de seu julgamento.

Haruka era uma mulher muita prática que aprendeu a pensar rápido. Naquele momento, ela calculou as suas chances para, então, tomar a sua decisão. Ela abriu os lábios, prendeu um cigarro entre eles e o acendeu tranquilamente. Após a primeira tragada, ela disse, seu rosto encoberto pela fumaça.

– Está bem. Por onde eu devo começar? – perguntou, cruzando as pernas.

– Comece sobre seu relacionamento com Nishikido.

Okura disse, finalmente ocupando o seu lugar de questionar as pessoas enquanto Subaru deveria se manter próximo a uma janela, apenas escutando os diálogos, refletindo e mexendo em sua moeda. Mas, desta vez, Subaru se manteve próximo a poltrona em que ela estava sentada, seus olhos diretamente no rosto da viúva.

– Conheci Nishikido em uma viagem à Europa. Paris. Sempre que posso, estou viajando. Desde que minhas filhas já não dependendem mais de mim... Fisicamente, eu quero dizer. Eu tento viajar ao máximo possível. Dentro do país, fora do país... Foi há mais ou menos um ano e meio que eu o conheci. Jovem, galanteador. – e aqui ela se permitiu a um pequeno sorriso divertido – E, vocês sabem. Meu marido já tinha um amante naquela época.

– Você sempre soube sobre Akanishi Jin? – Okura perguntou, imaginando que não deve ter sido fácil para ela ter conciência de que o marido não a amava e que encontrou o amor nos braços de outro homem.

– Não. Eu sabia que Takuya tinha outra pessoa, ele era fácil de perceber que estava novamente apaixonado... Estava mais tranqüilo, mais sorridente, com mais energia... No começo, isso realmente me irritou. Fiquei com muita raiva daquele homem estar feliz daquela forma e muitas vezes eu pensei que ele poderia pedir o divórcio. Me senti terrivelmente humilhada. Depois que conheci Ryo, esse sentimento não mudou. Precisava me vingar de alguma forma do meu marido.  Pedi a ele que descobrisse sobre a amante de Takuya. Vocês podem imaginar o que eu senti quando soube que quem estava tomando o meu lugar no coração dele era um... Moleque que vende o corpo... Minha humilhação não podia ser maior.

– Foi então que você decidiu se envolver nos negócios de Nishikido? Para se vingar do seu marido?

– Não digo que foi premeditado... Não poderia me envolver nos assuntos de Ryo simplesmente porque eu desejava me vingar de Takuya. Mas eu tinha esse sentimento. E então houve a oportunidade. Uma grande transação que o pai de Ryo não queria arriscar. Ele precisou arranjar dinheiro por fora, então veio até mim. No começo, admito que foi para me satisfazer gastando o dinheiro que Takuya me dava e o envolvendo num mar de lama. Vocês sabem... Takuya presava demais o seu trabalho, o seu nome, a sua honra... Para uma pessoa magoada como eu estava, bastava satisfação de saber que todos os esforços dele estavam sendo transferido para a Yakuza. Mas depois... Eu comecei a me envolver de verdade nos negócios... É excitante... Fazer algo ilegal, receber um lucro inigualável... E também... Quando percebi... Passei a amar de verdade aquele rapaz... Aos poucos eu fui esquecendo Takuya...

Parou para tragar mais uma vez, calmamente. Seu olhar vago indicando que estava revivendo em sua mente tudo o que narrava.

– Você nunca pensou em suas filhas? Quero dizer... Takuya era o pai delas... Ao menos...

– Quando sua vida perde o sentido e você o encontra novamente... Agarra-se a ele com todas as suas forças... Eu amo as minhas filhas. Mas as coisas aconteceram, as chances apareceram... Eu apenas me lancei, me deixei levar... Me permiti voltar a viver. A morte de Takuya nunca esteve em meus planos, se é o que vocês estão pensando. Pelas minhas filhas, eu não planejaria isso. Mas... Se tornou inevitável.

– Nada é inevitável. – Subaru foi firme. – Sempre há alternativa, mas, normalmente, ela é desafavorável para você. Ser forte o suficiente para aceitar isso é a diferença de uma pessoa forte para uma desprezível.

– Diga o que quiser, Shibutani-san. Ninguém pode entender o sofrimento da outra pessoa. Em todo caso, não planejei isso... Mas Kimura descobriu sobre Ryo. Sobre ele ser um Yakuza. Acho que escutou alguma de nossas conversas, não sei bem ao certo... Uma vez ele nos flagrou aqui em casa. Disse que era o sobrinho de uma amiga, ele foi educado com Ryo, não demonstrou saber a identidade de Ryo... Eu quero dizer, os figurões da máfia não são expostos nos jornais dessa forma. Sei que desde esse dia Ryo ficou inquieto quanto a Takuya. E ele tinha razão porque Takuya me encurralou algum tempo depois. Disse que denunciaria Ryo, que enfrentaria o que fosse preciso, mesmo que nossos nomes fossem expostos como cúmplices, que ele me tiraria dessa vida. Naquele dia eu até fantasiei que ele pudesse voltar a me amar... Explodiu com tanta paixão que cheguei a ficar sem fôlego... Me fez lembrar do nosso namoro... – ela deixou escapar um risinho. – Apesar de tudo, houve uma época em que nos amávamos. Em todo caso, Takuya estava sério. Contei sobre isso para Ryo, então ele disse para matarmos Takuya. Eu me recusei, deveria haver uma alternativa. Ele disse então para ameaçarmos o menino. Akanishi Jin.

– O alvo era Akanishi? – Okura se mostrou surpreso.

– Sim. Mas Takuya logo percebeu nossa intenção porque Ryo mandou um de seus homens para a Casa de Show a fim de se tornar cliente de Akanishi. Essa aproximação o deixou em alerta... Então Ryo disse que não havia outro jeito. Quem deveria morrer era Takuya... Então marcamos um encontro com Takuya. Nas mesmas condições que ele costumava marcar com Akanishi.

– Para ele pensar que se encontraria com Akanishi?

Ela sacudiu a cabeça, negando a pergunta de Okura.

– Era uma forma para incriminar Akanishi, mas fizemos Takuya pensar que era apenas uma ameaça. Takuya pensou que essas condições era um aviso nosso de que sabíamos tudo sobre eles dois. Por que Takuya nunca imaginaria que eu concordaria em matá-lo. E foi esse o seu erro... Confiar em mim. – ela riu de novo e apagou o cigarro em um cinzeiro na cômoda ao lado da poltrona. – Reservamos dois quartos para o dia inteiro. Um em nome de Yabuki Hayato e o outro no nome de Hayami Minami, exatamente como eles faziam, mas deixamos uma garra de uísque com sonífero no quarto de Hayami. Ryo esperaria até o horário do encontro no quarto de Yabuki. Na hora do encontro, à meia-noite, eu fui até a recepção, me anunciei como Hayami e fui para o quarto de Yabuki. Na hora do encontro, Ryo serviu a ambos, mas o efeito nele demoraria a surgir porque ele tinha tomado outra droga que cortaria ou pelo menos retardaria o processo do sonífero. Assim, foi questão apenas de esperar que Takuya adormecesse... E Ryo pode estrangulá-lo. Depois, nós apenas arrumamos o cenário do crime para que parecesse um encontro íntimo. Fomos embora e ligamos para Akanishi.

– Akanishi, então, esteve na cena do crime? – Okura lançou um olhar para Subaru.

– Sim e aquele imbecil nos deu uma chance valiossissima. Ele deve ter ficado desesperado quando viu Takuya já morto. – Haruka disse, parecendo saborear essa pequena vitória – Imagino o seu belo rosto contorcido em dor. E ele é uma pessoa atrapalhada, deve ter ficado ainda mais. Deixou cair o seu isqueiro. Ninguém poderia inocentá-lo.

– Mas vocês não imaginavam que Kimura tinha dado alguns passos na frente. – Subaru disse – Ele elaborou a denúncia e deixou as provas com Inagaki-san. Vocês não contavam que ele tinha ido conversar com Kimura naquele dia por causa desse assunto, já que, para todos, a impressão era de que eles estavam brigado há anos por um motivo obscuro, mas o suficiente para cortarem relações.

– Sim... Eu soube que alguém tinha ido falar com Takuya, mas, antes de descobrir com quem, pensei que fosse Katori. Porque eles estavam envolvidos em terminar uma música. Mas quando soube que foi Inagaki, sim, pensei que fosse alguma coincidência envolvendo o motivo pelo qual teriam brigado... Ou apenas mais uma investida de Inagaki em querer roubá-lo de mim. Sim, aquele produtorzinho medíocre sempre amou o meu marido. Talvez tenham mantido um relacionamento no passado. E por isso imagino que ele tenha se ressentido demais com Takuya a respeito de Akanishi. Não poderia nunca supor que ele aceitaria ajudar logo a Takuya... Ou que Takuya fosse confiar logo a ele... Em todo caso. Isso é tudo. Essa é a história.

Ela se levantou e se aproximou de Subaru com os pulsos estendidos.

– Acho, senhor policial, que é aqui que o senhor me prende. Não é?

A resposta foi o som das algemas sendo fechadas. Subaru, então, lhe disse:

– Você está enganada sobre Kimura.

– A que exatamente você se refere? – ela quis saber, levantando uma sobrancelha.

– Kimura sabia que você o mataria. Ele se deixou matar.

– Isso não é possível...

– Inagaki-san pensa que Kimura o procurou para se despedir. Confiou a ele a denúncia porque queria se despedir e fazer as pazes. Eu penso da mesma forma. Sendo o homem que todos descrevem com um senso forte de justiça... Acho que ele aceitou o encontro para cometer o harakiri... Não literalmente... Mas ele se jogou na morte para compensar o que ele acreditava ser a sua culpa. Ele se sentia responsável pela sua felicidade... Deve ter sido um grande choque para ele quando descobriu no que você se transformou. E, além disso, pôs em risco a vida da pessoa que ele mais amava. Acredito que ele quis terminar com tudo isso. E foi ao encontro de Nishikido.

Haruka vacilou. Seus olhos brilharam por um instante porque, afinal, aquelas palavras condiziam com a personalidade e atitudes de Kimura. Será que até o final ele teve consideração com ela? Haruka se deixou levar sem dizer mais nada.

6

Nunca passou pela sua cabeça que alguém estivesse esperando por ele quando finalmente foi declarado inocente. Akanishi sentiu lágrimas ameaçarem se formar quando viu Nakai e Koyama o esperando na saída da cadeia.

– Mou~... Bem que o Pi dizia que é preciso ficar de olho em você Akanishi. Como uma criança, quando está sozinha, apenas apronta. – Koyama disse e sorriu – Que bom que tudo não passou de uma grande confusão!

– Como eu poderia imaginar onde o Pi estava naquela noite? – Jin tentou se defender – E depois o meu isqueiro na cena do crime... Eu nem lembrava que estava com ele no meu bolso... O Pi estava tão estranho...

– Ele apenas não queria contar sobre seu cliente. – Koyama explicou – Mas é um grande alívio que tudo tenha terminado bem para vocês dois.

– Onde está o Pi?

– Ele está esperando por você... Escondido. Você sabe que agora Nagase deve estar furioso com ele né? Matsuoka também. Nós o levaremos até ele... O primo do Shingo me emprestou seu carro. – ele girou a chave do veículo. – Vou esperá-los no carro.

Koyama se afastou e Nakai esperou algum tempo para começar a dizer algo. O vento brinxou com os cabelos de Akanishi e, mesmo estando tão magro e pálido, ele ainda era muito bonito. Nakai sempre compreendeu o motivo por ele ter encantado Takuya da forma como encantou, mas, naquele momento, ele próprio admirava o rapaz. Despertou de seu encanto quando se lembrou do que queria dizer o jovem.

Jin, curioso, o viu pegar uma folha de seu bolso. Estava dobrada em quadro e ele a desdobrou antes de entregá-la ao rapaz. Jin pode reconhecer a caligrafia de Takuya.

– Isso...

– Essa é a letra que Takuya e Shingo estavam trabalhando antes... Antes de Takuya decidir partir... Ele tinha pressa em terminá-la antes do seu aniversário. Seria o seu presente. No dia do crime, ele terminou a letra com Shingo e o deixou encarregado da melodia. Confiava em Shingo o suficiente para aceitar se encontrar com Nishikido sem remorsos... Shingo acabou demorando um pouco, ficou abalado, como todos nós ficamos... Mas Shingo era bastante dependente de Takuya e só pode finalizar a música agora...

A cada palavra dita pelo editor, Akanishi notou que seu corpo reagia. Primeiro, o arrepio pelo último gesto de amor de Takuya para ele. Depois, o coração se inquietando com o fato de que não poderia agradecer ao cantor e, por último, as lágrimas que, enfim rolaram, pela saudade de que não voltaria a se encontrar com o cantor... Nunca mais.

– Shingo enviou para Goro-chan. Ele vai produzir. – Nakai deu uma pausa, ele próprio sentindo-se um pouco emocionado: – O single deve tocar nas rádios em breve... Mas achei que você deveria ler a letra antes disso.

Akanishi fez que sim e, apesar da dificuldade em ler com a vista embaçada, ele leu. Sentindo em linha por linha, letra por letra, todo o amor que Kimura lhe devotava... Ao final, não pode mais resistir. Desabou, ajoelhado, e chorou. Finalmente ele podia liberar toda a sua dor pela morte de Takuya, que ele teve que sufocar desde que passou a acreditar que Yamapi era o assassino.

Nakai o deixou estravazar. Aproximou-se e se ajoelhou ao seu lado para afagar suas costas, mas não disse nada. Não havia mais nada a ser dito.

7

Um mês depois...

– Então... Yamashita passou a noite do crime com Tegoshi Yuya? – um assobio longo indicava que Maru estava surpreso com aquele fato.

– Sim... Era uma data importante para Tegoshi. Parece que foi a data em que Tegomass recebeu um prêmio pelo recorde de álbuns vendidos. Algo bem badalado. E Yamashita o convidou para comemorarem. Yamashita não o ama, mas tem uma grande consideração por Tegoshi... Daí a cofusão do Jin, que sabia que o amigo passou o dia todo fora e, depois, ele mesmo ficou andando pelas ruas até ser fotografado por Shigue. Ou seja... Naquela noite, nenhum dos dois estava em casa ou sabiam onde o outro estava. Mais tarde Jin recebeu o telefonema que o levou até o motel e, ao encontrar Kimura daquele jeito, acreditou que o asssassino era Yamapi porque sabia que o amigo era capaz disso. Jin se culpava porque sempre soube que tudo o que falava e pedia, mesmo que de forma indireta, Yamashita realizava... Por ele ter confessado a Yamashita que preferia que Kimura morresse, ele ficou aflito que o amigo tivesse levado isso a sério. Mas Jin só não levou em consideração que, sim, Yamashita faz tudo por ele, menos feri-lo. Ele nunca seria capaz de provocar uma dor tão grande em Jin mesmo que fosse para fazê-lo feliz depois...

– Porque Tegoshi não contou isso antes?

–Tegoshi ficou em dúvida sobre contar isso ou não à polícia porque Yamashita o ameaçou se fizesse algo contra Akanishi... E inocentar Yamashita poderia condenar Akanishi, Tegoshi pensava isso porque ele acreditava que Akanishi era o culpado e Yamashita estava tentando protegê-lo. – Kamenashi explicava, de costas, enquanto lavava a louça em que eles tinham terminado de almoçar.

– Mas Akanishi era inocente no final. – Maru completou, sentado próximo à porta e inclinando-se para o chão quando Akame chegou com uma bola em sua boca. Ele pegou e jogou o brinqueo, observando o cão se afastar animado. – Akanishi também não era o assassino. Que coisa... Você realmente pode estar dormindo com o inimigo sem imaginar. Quando será o julgamento da viúva?

– Acho que semana que vem. O do herdeiro foi ontem.

– Eu fiquei sabendo que ele foi condenado à perpétua. Homicídios, narcotráfico e mercado negro. Além de ser o líder da organização.

– Mas os advogados estão trabalhando para reduzirem. – Kamenashi comentou. – Não deve ficar muito tempo preso. Ele é o herdeiro. Embora Shibutani esteja trabalhando com afinco para que ele não escape.

– E a Casa de Chá também estava envolvida?

– Sim, quem assassinou a menina Hayami Minami foi a própria dona da Casa de Chá Midori, Nishiyama Megumi, que há tempos tem negócios com Nishikido. E foi a mando dele, é claro. Naquele dia, realmente Yamashita e Jin estiveram lá, conversando com Minami. Yamashita insistia para ela fugir, se esconder, de modo a não prejudicar Jin, enquanto Jin foi lá apenas para acalmá-la e dizer que ela podia contar a verdade. Acho que Jin já pensava em se entregar como assassino... E, no final, não importava quantos clientes tivessem visitado Hayami, se a assassina era Megumi, seu nome não estaria mesmo na lista dos clientes... E ela pode fazer isso logo que Akanishi foi embora, assim, a hora da morte coincidiria com o encontro.

– E sobre Akanishi?

– Un?

– Não me venha com esse ar de indiferente.

– Não importa, ele não me procurou desde que saiu da cadeia. Deve ter ido embora com Yamashita, soube que eles devolveram o apartamento que moravam para o proprietário.

– E vai ficar por isso mesmo? Você vai deixá-lo ir depois de tudo?

Nakamaru observava atentamente as costas de Kamenashi, tentando notar alguma reação que evidenciasse os sentimentos do amigo. Kamenashi apenas continuou lavando a louca. E sua voz soou resignada quando o respondeu.

–... Akanishi ama Yamashita. Ele estava disposto a dar a própria vida por ele, Maru. Os dois. Tanto Yamapi por Jin quanto Jin por ele. Assim como Kimura esteve disposto a dar a sua vida por Akanishi... Como posso competir com isso? Não há espaço para mim entre esses dois sentimentos que envolvem Jin. O amor pelo Pi e por Kimura...

Nakamaru apenas olhou penalizado para seu amigo e não disse mais nada. Talvez fosse melhor assim. Em breve Kamenashi se recuperaria. Ninguém morre de amor. A não ser assassinado, Nakamaru completou a si mesmo.

– Bem, vou indo. – ele anunciou. – Logo mais o chefe deve passar aqui e eu não quero encontrá-lo, ainda não terminei umas matérias e ele está pegando no meu pé.

Kamenashi riu e lhe bronqueou por ser tão relapso com os dead lines. Depois que Maru foi embora, Kamenashi tomou um banho e esperou por Nakai. Tinham combinado que naquela tarde visitariam o túmulo de Kimura.

8

Kamenashi não chegou a conhecer Kimura pessoalmente, mas, ao final da história, não pode deixar de admirá-lo. Foi um homem bem sucedido profissionalmente, era uma pessoa de valores rigorosos e ainda conquistou o amor de Akanishi. Mesmo que tenha sido apenas para desviá-lo do amor a Yamashita, mas, ainda assim, era um feito grande conseguir a atenção de Jin para si durante tanto tempo, algo que somente Kimura Takuya foi capaz.

– Ah, meu amigo finalmente está descansando em paz. – Nakai comentou, subindo as escadas de pedra ao seu lado. – Finalmente tudo foi esclarecido. Que história triste... Mas acredito que ele tenha sido feliz.

– Sim, eu acho que ele foi. – Kamenashi concordou.

Eles carregavam baldes com água, com conchas de madeira e, nos ombros, panos para limparem o túmulo do cantor. Quando chegaram ao local, encontraram duas pessoas já empenhadas naquela função. E o coração de Kamenashi deu um salto.

Ali estava ele. Com uma aparência um pouco melhor do que a última vez em que se viram, mas ainda havia traços de que estava abatido. Akanishi estava um pouco mais corado, mas ainda magro. Os cabelos estavam cumpridos, presos em um rabo de cavalo. Ele sorria carinhosamente para o túmulo enquanto despejava mais água sobre ele.

Ao seu lado, Yamapi o observava com sua postura taciturna de sempre, mas ele foi o primeiro a notar as companhias. Olhou com certa irritação para Kamenashi, que apenas lhe acenou com a cabeça, e depois cutucou Jin. O rapaz olhou na direção que Yamapi lhe indicou e exibiu um sorriso largo assim que os reconheceu. Levantou-se e aproximou-se dos jornalistas.

– Nakai-san! Kazuya! Obrigado por virem!

Kamenashi pensou consigo mesmo que era uma situação muito estranha que Yamashita e ele estivessem ali. Seria mais natural Akanish ter vindo com Nakai... Eram eles as pessoas mais próximas de Kimura, afinal.

– Nós já começamos, mas, por favor, juntem-se a nós.

Sobre um olhar pouco amigável de Yamashita, Kamenashi se aproximou do túmulo, mas consciente o suficiente para permanecer longe do outro rapaz. Nakai e Akanishi pareciam muito à vontade, parecendo não notar o que estava se passando. Bem, talvez Akanishi não estivesse realmente notando, mas Nakai certamente preferia ignorar.

Eles conversaram pouco. Nakai e Akanishi foram o que fizeram mais comentários, sempre carregados de carinhos e saudades, do falecido. Em um determinado momento, quando já estavam quase terminando, Yamapi avisou que esperaria Akanishi no carro, queria fumar. Pouco depois, Nakai também deu uma desculpa para ir embora.

Sozinhos, foi o jornalista quem se mostrou pouco à vontade, como sempre. Era difícil dizer o que estava sentido. Encontrou Akanishi com outro homem prestando homenagem para uma terceira pessoa a quem amou demais. Não era o encontro que imaginava que teria com Akanishi ao final de toda a história. Mas tinha admitir que aquele sorriso estampado nos lábios de Jin o deixou feliz, mesmo que fosse destinado à uma lápide. Finalmente Jin poderia descansar depois de meses sofrendo em silêncio pela dúvida sobre a inocência de Yamashita. E também agora ele poderia se deixar abater pela morte de Kimura sem culpas.

– No final... Você conseguiu mesmo me tirar de lá, não é Kazuya? Eu sempre soube que você era incrível! – ele fechou os olhos e sorriu. – Só não te beijo agora por que... Ne~... – Apontou para o túmulo e riu.

– Idiota. – o jornalista resmungou. – Tenha um pouco mais de respeito pelo lugar que você está...

– Mau-humorado como sempre. – arqueou uma sobrancelha e manteve uma expressão entediada. – Takuya... Descanse em paz! – ele uniu as mãos e se despediu.

O jornalista também fez uma reverência ao falecido e depois eles começaram a descer as escadas de pedra em direção à saída.

–... O que você vai fazer agora, Jin?

– Eh?

– Soube que deixaram o apartamento.

– É... Vamos nos mudar. Você sabe. Nagase deve estar querendo o couro do Pi, né? É melhor darmos o fora o quanto antes. Vamos para fora do Japão.

Kamenashi não pode se mostrar indiferente a essa informação. Só que não era algo que o surpreendesse. Tinha entendido que Jin era uma pessoa livre, passional, que tinha que viver a vida à sua maneira e com intesidade. Perder-se pelo mundo combina com ele. Ele sabia disso, mas a sensação de derrota era desagradável.

– Cuide-se, né, Kazuya...

O jornalista ergueu o rosto para a sua direção e teve seus lábios tocados. Uma buzina se fez ouvir.

– Mas que cara impaciente! – Jin bufou – Arigatou... Por tudo! Nunca vou esquecer você, tartaruga.

Dito isso, Akanishi desceu os últimos degraus e correu até o veículo de Yamapi. Kamenashi enfiou as mãos no bolso e suspirou.

– Né, Kimura-san? Como você conseguia lidar com esse sentimento pelo Jin? Não foi fácil, não é verdade? Gostar de alguém tão livre como ele...      


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