Perfeição Inalcançável escrita por Simone Hoffmann


Capítulo 7
Susto e Confusão




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Por Erick ~
A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitória própriamente dita.

Mahatma Gandhi

Ao relembrar-me quem era e onde estava, me levantei do chão ainda um pouco confuso. Eu me sentia diferente porém não sabia exatamente em qual sentido. Já estava de manhã e a chuva foi para o norte. Tinha uma leve brisa no ar. Voltei para meu quarto e ao caminhar até ele percebi que não notaram minha presença. Encontrei Sophia em meu quarto. Ela estava sentada no chão, recostada na parede. Sua face aparentava quem havia chorado muito e que não tivera um sono bom durante a noite. Me aproximei dela e sentei-me ao seu lado. Chamei por seu nome estendendo a mão em sua direção, a qual atravessou seu corpo. Fiquei assustado. O que estava acontecendo?! Eu não conseguia tocá-la e ela não me ouvia.
Permaneci sentado ao lado de Sophia, em silêncio enquanto ela chorava baixinho. Depois de refletir durante algum tempo, acabei recordando-me da noite em que eu havia encontrado aquele espírito jovem na floresta perto daqui. Suas palavras agora me faziam sentido. Eu não tinha mais meu corpo, era só uma alma e era por culpa daquele espírito. Chorei, apavorado. Sophia não ouviria mais a minha voz e não me veria. Nunca mais poderia tocá-la. Eu não sabia mais o que fazer e não sabia como eu ainda permanecia entre os vivos. Ao tentar me levantar de sua cama me senti mais leve do que eu me lembrava. Olhei para mim e ao tocar em certos lugares logo percebi que haviam mudanças em mim. Minhas orelhas estavam muito maiores do que o normal. Eu tinha uma cauda e compridas asas.

Olhei pela janela na tentativa de avistar alguém parecido comigo, mas não encontrei. Saí de meu quarto e continuei caminhando em direção à aposentos abandonados e empoeirados. Tentando me acostumar com minhas asas, algumas vezes eu voava alguns metros logo perdendo o equilíbrio e caindo ao solo. Descobri que aqueles quartos que estavam ao meu redor, estiveram à venda há muito tempo. Como meu tio não conseguiu vendê-los eles ficaram abandonados. Resolvi parar de caminhar. Os corredores não chegavam a lugar algum. Todas as portas estavam abertas e as salas atrás delas, vazias. Não tinha nada para se ver ou fazer. Eu já me sentia como uma lufada de vento que se extingue inesperadamente. Deitei no chão, onde fiquei por muito, muito tempo. Cansado de pensar no que fazer, me escorei na porta que havia logo ao meu lado. Como fantasma, acabei atravessando-a e fiquei do outro lado, deitado em frente a uma parede de tijolos.
O que será que existe atrás desta parede... - Pensei. Eu era um fantasma, poderia atravessar a parede e ver o que havia do outro lado. Concentrei-me e atravessei a parede. Do outro lado estava quase tudo escuro. Eu só conseguia enchergar um pequeno ponto de luz o qual parecia estar muito longe. Ao caminhar em sua direção percebi que era uma porta que estava semi aberta. Eu conseguia ver uma espécie de neovia do outro lado, onde haviam muitos seres parecidos comigo passando de um lado para o outro, sem ligar para a minha existência.
Comecei a caminhar, observando a cidade. Todos pareciam muito felizes por ali. Haviam muitas crianças correndo pelas ruas. Eu só queria saber como aqueles seres apareceram neste lugar. Talvez eu conseguiria descobrir se perguntasse à algum morador.

Enquanto eu caminhava pela cidade, ninguém quis conversar comigo, pareciam saber muito bem que eu não morava naquele lugar. Olhavam e sussurravam coisas sobre mim. Fui até a biblioteca procurar informações. As placas existentes pelas ruas facilitaram muito.
O que deseja meu jovem? - Disse a bibliotecária enquanto arrumava os livros em suas respectivas prateleiras.
Eu gostaria de saber que lugar é este, e qual seria exatamente a localização em um mapa...
Ela deu uma pausa no que estava fazendo, removeu os óculos e ficou me observando alguns instantes
Você não é daqui, é? - Perguntou ela.
Bem, na verdade não. Eu moro na mansão de meu tio, que acredito que ela esteja acima desta cidade e...
Se você não vive neste lugar, saia daqui! Estrangeiros não são bem vindos! - Disse-me grosseiramente empurrando-me para fora da biblioteca.
Olhei para trás, só ouvindo ela gritar E nunca mais volte aqui!. O tempo estava passando e nada eu havia descoberto. Sem saber o que fazer, continuei caminhando, sem rumo, enquanto me observavam e cochichavam coisas sobre mim quando eu passava. Acabei me perdendo. Era uma cidade maior do que eu imaginava.
Como irei sair daqui agora? Não faço idéia de onde estou e...
Se quiser, eu posso ajudá-lo... - Disse uma jovem ao aproximar-se.
Quem é você?
Carmen, Carmen Forkston. - Disse ela, dando uma breve pausa.
Em que posso ajudá-la?
Ela deu uma gargalhada, enquanto eu a observava, com expressão facial imóvel.
Acho que você é o único que precisa de ajuda por aqui, não? - Perguntou Carmen, rindo - Você me parece um pouco, digamos...Perdido
Fiz um gesto, informando que eu realmente não fazia idéia de onde eu estava naquele momento. Ela acenou, pedindo-me para segui-la. Talvez ela estivesse querendo me levar para fora da cidade. Como demorei para tomar minha atitude de dar o primeiro passo em direção à Carmen, ela segurou em meu braço e sobrevoou a cidade. Passei a me acustumar com minhas asas a partir daquele momento.
Denada - Disse-me ao soltar meu braço.
Virei-me em direção a saída, e quando fui olhar para ela novamente - e perguntar que lugar era aquele - ela já havia desaparecido. Onde ela teria ido tão depressa? Nem tive tempo para agradecer por ela ter me ajudado, coisa que eu acredito que ninguém mais teria feito. Eu estava novamente dentro da casa de meu tio.
Sophia! - Gritei ao lembrar-me dela. Fui o mais depressa que podia em todos os quartos da casa, procurando por ela, e não a encontrei. Ela deve ter voltado para sua casa, nos Bosques Assombrados.
Não posso ficar longe dela... - Suspirei.
Eu não poderia ficar vivendo longe de Sophia, eu jamais conseguiria. Tomei a decisão de ir até sua casa, e conviver junto com ela mesmo sem ela perceber minha presença. Fiquei um dia inteiro olhando os lugares ao redor enquanto voltava aos Bosques Assombrados.

Enquanto tentava voar acima das árvores, um ponto de luz no meio da floresta acabou chamando minha atenção. Não era em um lugar muito distante da casa de meu tio. Resolvi para e ver o que era. Ao me aproximar lentamente, percebi que era a mesma jovem espírito que me fez fantasma.
Então foi você! - Gritei ao vê-la. Ao ouvir minhas palavras, rapidamente virou seu rosto em minha direção. Ao perceber que eu não era um ser humano virou-se novamente.
Porque... Porque você fez isso comigo? E quem é você?
A jovem lentamente levantou-se e veio em minha direção. Seu nome era Jaqueline.
Eu sinto muito ter feito isso com você - Lamentou-se ela - Mas eu fui obrigada
Como... Como assim? Não compreendo.
Ela respirou fundo e passou a explicar o que havia acontecido.
Seres semelhantes a mim não podem ser vistos por seres humanos. Nós fomos amaldiçoados há muitos milênios, e por causa de tal maldição, quando algum ser humano nos vê. Sentimos uma dor insuportável. - Disse Jaqueline.
E o que isso tem haver com o fato de você ter me transformado em fantasma?
Bem... Essa dor, quando dura muito tempo é capaz de nos matar e ainda matar quem nos viu. Fui obrigada a lhe fazer sofrer para não causar a minha e também a sua morte...
Agora eu sabia que eu só havia me transformado em fantasma por causa dela. Curiosidade realmente pode matar...
Mas existe uma maneira - Suspirou ela - De lhe fazer voltar ao normal
Como?
Existem algumas bruxas e feiticeiras nos Bosques Assombrados, principalmente nas florestas de Brightvalle que fazem negócios. Ela poderia lhe devolver seu corpo se você a desse algo em troca e... - Disse Jaqueline, parando repentinamente. Quando eu estava prestes a lhe perguntar o que havia acontecido, ela sussurrou que havia escutado alguém. Mesmo sem ela explicar-me melhor, rapidamente despediu-se de mim e foi embora as pressas.

A melhor coisa que eu poderia fazer naquele momento era antes de mais nada ir procurar alguma bruxa ou feiticeira. Eu achei uma melhor idéia voltar para Brightvalle, pois lá elas seriam encontradas com mais facilidade, porém acabei me distraindo tanto que confundi o caminho e acabei indo para um pântano dos bosques assombrados e deparando-me com uma cabana. Observei uns instantes ao redor, eu não sabia exatamente onde estava.
Será que existem feiticeiras aqui?
Fui até a porta tentando descobrir se alguém residia naquele lugar. Havia uma feiticeira lá e acabou me dando um susto com o grito que deu quando percebeu que eu estava espionando-a.
O que está espiando aí!? - Gritou ela. Lentamente abri a porta - Você não deveria estar aqui! - Disse ela, furiosa. Educadamente desculpei-me, justificando que havia me perdido.
Acho bom que vá embora, a não ser que queria negociar.
Negociar?
Sim, negociar. Muitos parecidos com você já estiveram por aqui procurando ajuda. Eu lhe dou o que você quer em troca de algo que você tenha.
Achei interessante sua proposta, talvez esta feiticeira poderia me dar vida novamente. Mas... O que eu poderia lhe dar em troca? Fiquei paralizado, pensando.
E então? - Perguntou.
Eu tenho uma proposta. Você poderia me dar meu corpo humano e...
E o que eu ganho com isto!? - Ligeiramente interrompeu-me ela.
Bem... O que você gostaria em troca?
Ela ficou calada. Caminhou ao meu redor, observando-me.
Eu lhe darei seu corpo com uma condição: Você terá de ir, e trazer-me nos próximos dois dias, alguma alma perdida. Deixarei-lhe nesta forma até retornar. Agora vá. - Disse ela empurrando-me para fora de sua casa. Antes mesmo de eu dizer uma só palavra, ela já havia me colocado para fora de sua casa e trancado a porta.
Eu não tinha idéia do que seria exatamente aquela alma que a feiticeira me pediu. Só havia um lugar onde eu poderia descobrir o significado e era a cidade abandonada, que supostamente estava abaixo da mansão de meu tio. Agora eu chegaria muito mais rápido até lá com a ajuda de minhas asas.

Como antes quase todos ainda preferiam me ignorar como se eu fosse um demônio ou algo parecido. Depois de procurar por mais de três horas sem descanso acabei encontrando Carmen novamente, enquanto caminhava sem rumo pela cidade.
O que faz aqui? - Disse, surpresa - Pensei que você já não estivesse mais aqui.
Eu havia saído da cidade, porém precisei retornar. Preciso de ajuda...
Denovo?
Er... Sim
Tudo bem, o que é desta vez? - Resmungou ela.
Contei-lhe o ocorrido, observando que a face de Carmen pouco a pouco de alterava. Percebi que seu coração acelerou.
O que houve?
Essa alma que você diz... - Suspirou Carmen - é um de nós que esteja fora da cidade de Garttean.
Cidade de o quê? Onde fica?
Ela deu um suspiro profundo, e respondeu.
Exatamente onde estamos. Acho que você não tem outra saída, então, boa sorte. - Disse ela e começou a afastar-se de mim.
Espere! Você não vai me ajudar?
Desculpe, mas não posso. E nem deveria. Boa sorte, novamente.
Espere, por favor! - Corri em sua direção - Como posso sair deste lugar?
É só caminhar à sua direita - Gritou ela já distante.
Saí da cidade de Garttean e caminhei, novamente, até a casa da feiticeira. Acreditei que no caminho eu encontraria a alma que eu precisava. Cheguei a ficar cansado de tanto procurar e acabei dando uma pausa, na qual adormeci.

Tive um sonho muito diferente de qualquer outro. Eu estava em um lugar que me lembra algo parecido com a cidadela de darigan, onde um dragão, com o olhar fixado em mim, aguardava que eu me aproximasse para ele falar comigo. Eu não sabia quem ele era, e como estava ali. Depois de alguns instantes apenas observando, ele calmamente começava a conversar comigo, tentanto explicar em qual situação eu estava. O dragão era aquele tal de Aramaiko. Contou sobre sua vida que aconteceu há mais de cinco mil anos. Aramaiko era uma parte de mim.
Eu nasci há muito tempo, em uma família de dragões demoníacos. Nossa sociedade vivia em montanhas. Cada família tinha a sua montanha. Meus pais cuidaram de mim e de minha irmã por apenas dois anos, e depois nos deixaram por mais de um século sozinhos, cuidando da montanha. Em minha época, todos os dragões que fossem do bem seriam punidos, e eu fui um deles. - Lamentou Aramaiko - Eles me prenderam em um objeto e fiquei ali durante muitos milênios, até você me encontrar.
Aramaiko deu uma breve pausa para observar minha reação, e então continuou a falar.
O que nenhum de nós sabia, era que tudo estava prestes a acabar. Caçadores de dragões que eram imbatíveis estavam dizimando toda a nossa sociedade, e apenas eu pude sobreviver, por estar preso no colar. Eu só seria libertado daquela prisão o dia em que alguém parecido comigo viesse a me encontrar.
Mesmo em um sonho, eu começava a compreender porque haviam acontecido mudanças em meu corpo. Aramaiko passou a fazer parte de mim quando encontrei aquele antigo colar. Sua alma havia juntado-se a minha, porém durante todo o tempo que ele esteve presente dentro de mim, ele se manteve silencioso.
Muitas pessoas já haviam me encontrado anteriormente, porém elas não serviam. Você foi o mais compatível que pude encontrar - Sussurrou Aramaiko, logo após desaparecer. A chuva forte acabou me fazendo despertar.

Eu não tinha certeza se aquilo foi realmente só um sonho, pois se assemelhava muito com a realidade. Agora, eu sabia que podia contar com Aramaiko para me ajudar quando eu precisasse, pelo menos foi o que eu pensei que aconteceria. Eu podia sentir Aramaiko a falar comigo, me dando forças para bater minhas asas e voar.
Com a ajuda de Aramaiko, eu conseguia manter o equilíbrio melhor do que nunca e pude rapidamente voltar até Garttean. Eu teria de esperar perto daquele lugar, pois era onde seria mais provável de encontrar o que eu estava procurando. Agora eu tinha certeza de que era o Aramaiko que muitas vezes me forçou a fazer coisas que eu não queria, inclusive amar Sophia.

Na copa de uma árvore, muitos dias e muitas noites passavam enquanto ninguém eu encontrava. Nada me impediria de conseguir o que eu buscava porém eu precisava encontrar uma maneira de conseguir mais depressa. Fiquei pensando sobre o assunto durante uma tarde inteira e não encontrava uma solução. Aramaiko permanecia em silêncio, mesmo eu a implorar por uma ajuda. Quando me viu sem mais opções, acabou me dando uma sugestão.
Porque em vez de você procurar um ser humano, porque não passa a procurar por algum animal? Talvez possa encontrar mais facilmente.
Era uma idéia muito boa. Imediatamente voei para longe daquela mesma árvore, procurando por qualquer animal que eu pudesse encontrar. Depois de algumas horas procurando, surgiu um filhote de raposa. Aproximei-me dele e ao estar a poucos metros de distância atirei meu corpo contra o dele e consegui imobilizá-lo.
Quase ao fim do dia, eu estava de volta a casa da feiticeira.
É você denovo!? - Resmungou ela - Espero que tenha trago o que lhe pedi!
Entreguei o filhote de raposa à ela, percebendo que ela não estava totalmente satisfeita.
Hm... - Suspirou ela - Não era bem o que eu esperava, mas tudo bem. Almas como estas estão escassas hoje em dia.
Provavelmente ela não conhecia a cidade de Garttean, consequentemente não sabia que as almas se escondiam por lá. Achei que fosse uma boa idéia não contar à ela sobre tal lugar. Poderia ser catastrófico.
A feiticeira começou a preparar uma espécie de feitiço em seu caldeirão, utilizando ingredientes com aparência nada agradáveis e que eu não conhecia.
Aqui está. - Disse ela, entregando-me um vidro com um líquido cor púrpura - Agora vá embora e não volte mais! - E empurrou-me para fora de sua casa.
Agora eu finalmente poderia re-encontrar Sophia. Com minhas asas e a possível ajuda de Aramaiko, em alguns minutos eu já estaria onde eu mais queria.

Já havia se passado uma semana desde que eu faleci. Sophia parecia trabalhar normalmente quando passei em frente a padaria. Engolia lágrimas, quase não suportava mais. Resolvi ir até a minha antiga casa, onde vivi grande parte demeus dias. Mas ela já não era mais a mesma. Ao chegar no portão havia uma placa que insinuava que ela seria demolida em breve. Um tesouro de muitas décadas logo não existirá mais. Foi frustrante. Eu sabia que meu tio havia condenado a casa na qual eu residi. Lágrimas escaparam.
Retomei o meu rumo até a casa de Sophia. Eu não sabia exatamente o que aconteceria depois de beber aquilo, mas isto não era muito importante. Se eu voltasse a poder tocar em Sophia já era o suficente, e ela era a primeira pessoa que eu quereria encontrar. Como a saudade dói no meu peito. Bebi todo o líquido, que tinha um gosto amargo e ruim. Joguei o vidro fora, logo depois lembrando que eu estava com algumas mudanças em meu corpo. Meu reflexo em uma poça revelou que eu ainda permanecia com as enormes orelhas, a cauda e as asas. Sophia provavelmente ficaria surpresa em me ver desta maneira, mas eu não aguentava mais esperar para abraçá-la novamente.

Quando abri a porta ela estava lá trabalhando e nem me viu entrar. Caminhei lentamente até ela e chamei por seu nome. Ao reconhecer minha voz, olhou em meus olhos e demonstrou grande alegria. Sophia se atirou sobre mim chamando por meu nome e chorando de tanta felicidade por me ver novamente. Ela não acreditava que eu estivesse ali.
Mas, mas como!? Eu lhe encontrei morto, poucos dias atrás. Como pode estar aqui agora!? E o que aconteceu com você? - Perguntou ela após observar-me por alguns instantes - Você tem uma cauda e... Asas!?
Acabei lhe contando tudo o que havia acontecido. O forte abraço que eu constantemente lhe dava acabou fazendo com que Aramaiko falasse comigo novamente.
Agora posso perceber que você realmente a ama muito... E tudo por minha culpa - Disse dando uma breve risada.
Eram as palavras que eu precisava ouvir para ter a certeza de tal coisa.
Vamos ficar juntos, para sempre - Sussurrou Sophia, enquanto lentamente aproximou seus lábios perto de meu rosto, sussurrando as palavras Porque eu te amo. Minhas mãos escorregaram por seu rosto. Com uma ajuda de Aramaiko, segurei firmemente e logo após dar uma leve olhada em seus lábios lhe dei um caloroso beijo, o qual ela jamais conseguiria resistir. Foi a melhor sensação que já senti em toda a minha vida. Ficamos durante aquela noite inteira trancados no quarto, juntos. Foi o melhor dia de toda a minha vida.

Acordei bem cedo logo pela manhã. Eu havia dormido no chão ao lado da cama de Sophia. Movimentei-me vagarosamente, tentando não acordá-la. Desci as escadas e olhei para o relógio, eram cinco horas da manhã. Fui até a rua, sentei na calçada e fiquei sentindo a leve brisa que passava por ali. Não me lembro de muitas coisas que devem ter acontecido ontem, só espero não ter feito qualquer estupidez ou coisa absurda. Estava tudo tão calmo por ali que acabei adormecendo.
O que faz aí? Levante-se! - Veio Sophia a sacudir meu corpo, às sete horas - O que faz deitado na calçada?
Olhei ao redor, ainda tudo quieto. Não respondi, apenas levantei-me e fui para dentro.
Seu pai me pediu que comesse algo junto com ele e Sophia. Estava interessado em saber o que havia acontecido comigo. Não falei uma só palavra, apenas observei e fiz gestos discretos. Eu não queria contar, ele acharia que eu era um maluco ou algo assim.

Eu e Sophia fomos passear mais tarde. Como eu tinha asas, segurei Sophia pelos braços e fomos até um gramado verde que ficava em uma ilha perto de Meridell. Ficamos o dia inteiro conversando.
Aproveitei o máximo que eu podia, até Aramaiko me interromper.
Eu não quero estragar sua felicidade, porém posso sentir que em breve você voltará a ser um fantasma como anteriormente.
Rapidamente contei a Sophia que precisava urgentemente levá-la de volta para casa. Estávamos em uma ilha, e se o efeito da poção terminasse antes de eu poder levá-la de volta ela não conseguiria mais retornar. Segurei-a em meus braços e a levei até seu quarto. Consegui chegar à tempo.
O que aconteceu? - Perguntou ela, logo ao chegar em casa.
Chegou a hora de ir
Mas, como assim? - Perguntou ela, já com face apreensiva - Você não pode ir, temos que ficar juntos, eternamente!
Eu não queria ter que ir, mas você não me verá durante muito tempo...
Ela não conseguia me compreender, até eu começar a desaparecer subitamente na sua frente.
Adeus, Sophia. - Suspirei.
Minha voz ecoou pelo quarto, enquanto ela correu o mais rápido que podia em minha direção, tentando abraçar-me. Porém já era tarde, eu já não conseguia mais tocá-la e ela não podia me ver. Caminhou de volta até sua cama, atirou-se sobre ela e começou a chorar baixinho.
Não chore... - Sussurrei.
Erick... - Suspirou ela
Estou aqui... - Respondi, mesmo sabendo que ela não estaria a me ouvir.
Depois de alguns segundos calada. Virou-se para o outro lado e de tanto chorar acabou adormecendo. Aguardei ao seu lado até ter certeza de que ela estava desacordada. Então eu desci as escadas e fui até a rua. Estava anoitecendo. Não havia movimento algum além da leve brisa da noite. Lembrei-me que eu ainda tinha asas, então sobrevoei a cidade por uns minutos, logo voltando de onde parti. Deitei-me no chão e ali logo adormeci.

Ao acordar na manhã seguinte me deparei com Sophia já de pé trabalhando. Ela sabia, de alguma forma, que eu estava por perto, e estava com uma expressão facial muito, digamos, agradável, em relação ao acontecimento do dia anterior.
Voei até o telhado da casa de Sophia, e ali tentei concentrar-me numa tentativa de conversar com Aramaiko.
Por que... Porque você me forçou a amar Sophia? - Perguntei à ele, aguardando alguns intantes pela sua resposta.
Durante quase toda a minha vida - Suspirou ele - Eu evitava as pessoas. Eu pensava que não precisava de quaqluer um, que eu poderia ficar muito bem sozinho, porém eu estava errado. Só pude perceber minha enorme falha quando passei a amar uma jovem que resolveu me cumprimentar em uma de nossas festividades. Eu não sabia ao certo o que era amar uma pessoa porém eu sentia algo diferente dentro de mim que eu nunca havia sentido antes.
E o que sua vida tem em comum com a minha?
Você não percebe? Eu sabia que você seria infeliz quase toda a sua vida, então resolvi tentar mudar o seu destino, decidido a lhe fazer amar a primeira jovem que viesse a encontrar a partir do momento que eu estava junto de você - Respondeu-me Aramaiko - E pelo que percebo, acabou funcionando. Fico feliz em saber que você já não é mais o mesmo, e tudo por causa de Sophia.
Fiquei em silêncio por alguns instantes, refletindo sobre as palavras de Aramaiko. Porém eu ainda não tinha absoluta certeza de que aquilo era realmente verdade.
Se você não estivesse aparecido em minha vida, acredito que pouca coisa mudaria. Talvez seria melhor se eu nunca tivesse conhecido você.
Não finja estar certo, pois você não está! Você sabe muito bem que gosta de Sophia, e que nada seria de você sem ela. Sem ela você jamais teria descobrido a parte boa de sua vida. Você deveria era agradecer à mim por ter pena de você e lhe ter ajudado. - Suspirou Aramaiko, logo após permanecendo em silêncio.


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