Loou acordou muitíssimo cedo no dia seguinte. Katherine estava encolhida ainda, agarrada a um travesseiro. Chorara muito na noite anterior. Não queria fazer nada daquilo a Lua. Elas conversaram e Katherine disse que a reação dela ao sangue de Min e Lua fora diferente. E que ela gostava de Lua. Queria ser amiga dela, apesar do começo ruim.

- E quando eu gosto da pessoa eu não sinto vontade de matá-la ao ver seu sangue, eu sinto só desejo, é terrível, eu acabo machucando-a mais... - dissera Katherine, chorosa. Loou dissera a ela para ir dormir.

Agora, olhando para Katherine, Loou sentia uma pontinha de dó. Katherine era uma pessoa boa, simpática, de bom coração mesmo. Não merecia aquela maldição toda. Loou vestiu os sapatos e saiu da barraca. Estavam todos dormindo, a fogueira apagada.

Loou decidira dar uma caminhada por aí. Não tivera mesmo a oportunidade de dar uma olhada melhor no lugar. Começou a andar por entre as árvores, às vezes assustando-se com um ou outro animal. A fila de árvores não parecia ter fim. Até que Loou achou uma abertura entre elas.

A brecha entre as árvores dava para um campo imenso, com flores até onde os olhos podem alcançar. Todas uniformes, da mesma cor, balançando ao vento. Bem no meio daquele campo de flores amarelas, sentado, encontrava-se Adam. Ao vê-lo, Loou sentiu vontade de virar as costas e sair correndo. Mas o garoto percebeu que ela estava ali antes disso.

- Loou! - exclamou ele, acenando.

A garota corou forte. Adam chamava-a para ir lá. Ela não queria, mas acabou indo. Mas sentiu como se Zeit estivesse lá, ao lado dele, rindo de sua cara. Sentou-se ao lado de Adam.

- Porque está acordada tão cedo? - perguntou ele.

- Porque... - Loou ia responder, mas deu uma olhada na infinidade de flores em volta. Sentiu como se estivesse em um cemitério. Abaixou os olhos.

- ... Loou? O que foi? - disse Adam, preocupado, olhando a garota.

Loou abriu a boca para responder. Ia dizer apenas que "não era da conta dele" ou que "não interessava". Mas, inconscientemente, acabou contando a história inteira para Adam. O garoto, que não esperava tamanha sinceridade da parte de Loou, ouvia-a perplexo.

Quando terminou de contar, Loou estava ofegante. Nunca contara isso para ninguém, para nenhuma amiga sequer. Seus olhos estavam marejados de lágrimas. Não queria que Adam visse isso, portanto olhou para o chão.

- Porque contou isso pra mim? - perguntou Adam, tirando delicadamente uma mecha de cabelo do rosto de Loou. - Você nunca gostou de mim.

- Não sei porque. - respondeu ela, a voz abafada. - Não conte pra ninguém. Esqueça.

- Não vou esquecer - riu Adam - Mas obrigado, eu acho, por ter contado isso pra mim.

- Não agradeça a esse tipo de coisa - disse Loou, triste - Não vai trazer nada de bom pra você.

- Mas você está se sentindo melhor, não está? - ele levantou as sobrancelhas.

Loou ficou em silêncio por alguns segundos. Não queria ser legal com ele. Além do mais, estava no pior ambiente possível.

- Um pouco... mas esse lugar me lembra um cemitério. - ela suspirou.

- Pra mim, esse é o melhor lugar do mundo. Sabe - ele olhou Loou - eu tenho controle sobre a natureza, quatro elementos, essas coisas... Poluição e cidade grande não fazem bem pra mim. Por isso fico tão feliz em lugares como esse. Mas se quiser podemos sair daqui.

- Ah... - murmurou Loou, pensando no modo como ele disse podemos. Nós podemos sair daqui. - Não, fica aí. Eu tenho que ficar lá com a Katherine, ela não está muito bem hoje.

- Tudo bem - sorriu ele - mas antes de ir, vem cá.

Adam passou os braços em volta de Loou e abraçou-a apertado. A garota não retribuiu o abraço, mas corou forte e apertou os olhos. Suas mãos estavam no peito de Adam, como se quisesse empurrá-lo, mas sem empurrar de verdade. Quando ele a soltou, a garota levantou-se e foi embora correndo, sem se despedir. Adam pegou uma florzinha e ficou brincando com ela, fazendo-a abrir-se e fechar-se, até Loou sumir de vista.