Estava chovendo.

Era a única coisa em que conseguia prestar atenção. O vidro embaçado, marcado pelos traços molhados dos pingos que escorriam. Estava bêbado pela enésima vez na semana. Que copos havia tomado? Quantos? Só conseguia se lembrar das três últimas doses de tequila. A cabeça latejava de tal forma que conseguiu se confundir, deveriam ter sido umas cinco ou seis doses antes de sair do bar. Aquele quarto... Não era o seu. Como havia chegado ali? Apoiado nas mãos e nos joelhos sobre o colchão desconhecido, parecia ignorar completamente a presença daquele que o penetrava por trás.

Por um minuto, havia se esquecido do nome de seu amante.

– Hmm... Kaya... – chamou o mais velho, num tom rouco e libidinoso.

Aquela voz... Ah, claro. Hora.

As mãos fortes do igualmente compositor seguravam-lhe os quadris com força, certamente as marcas demorariam a sumir. Os movimentos eram rápidos, intensos, quase violentos. Não doía, já havia se acostumado com o volume de Hora dentro de si. Para falar a verdade, não sentia nada.

– Só... Hwnr... Mais um pouco... – gemeu entre dentes cerrados, aproximando discretamente os joelhos.

Levou a mão direita ao membro esquecido, esfregando-o rápido. O baixo ventre fora tomado por um formigamento horrível, fazendo-o ter vontade de gritar. Finalmente se desfez, sujando o próprio abdômen e também o lençol delicado abaixo de si. Mais algumas estocadas, um gemido longo e rouco escapando da garganta do maior, e por fim sua essência lhe escorrendo na parte interna das coxas.

O menor jogou-se de costas no colchão, exausto. O som dos ofegos descompassados era abafado pelo barulho dos pingos de chuva batendo na janela. Há quanto tempo estavam ali? Sequer olhara para o relógio quando entraram naquele quarto. Acabara tão rápido... Como em todas as outras vezes. Remexeu-se na cama, incomodado. Era sempre aquele maldito silêncio depois do sexo.

Ficou a encarar a janela, enquanto o maior abraçava sua cintura, puxando-o para junto de si. Sentiu o tórax definido de Hora a roçar-se no seu, enquanto os lábios delgados tocavam-lhe a pele do pescoço. Não tinha forças para pedir que o soltasse, de modo que apenas grunhiu.

Hora prontamente entendeu o que se passava.

– Kaya...

– Hn...?

– Está pensando nele, não está?

“Está tão na cara assim?”, pensou.

Encontrara Kamijo pela última vez na semana anterior, saindo de um restaurante de braço dado com Hizaki. Ele estava tão feliz... Devia ter tido uma ótima noite com aquela falsa princesa nojenta que o havia roubado de si. Queria acreditar que Kamijo não o amava, que estava com ele apenas para se divertir assim como tinha feito consigo. Mas vendo-os rir daquela forma, enquanto passavam porta afora de braços entrelaçados, conseguiu duvidar de sua própria teoria. Por diversas vezes, pegou-se a pensar em onde estava seu erro. Tinha plena consciência de que se envolver com o vocalista do Versailles lhe traria problemas... Tomara tanto cuidado! “Não se envolva demais, Kaya”, repetia mentalmente em todas as vezes que se encontrava com ele.

Tsc, para que continuar mentindo para si mesmo? Era inevitável. Não importaria o que fizesse, todos os seus esforços seriam completamente inúteis. Aquele amor por Kamijo vinha de tempos...

Queria esquecer, certo? Não era por isso que tinha enchido a cara de novo? Que estava ali, nu sobre a cama de Hora, após ter transado com ele de novo?

De qualquer forma, a tentativa não havia funcionado. Precisava mentir.

– Não.

– Mas, Ka--

– Boa noite, Hora. – Disse, virando-se para o lado e dando-lhe as costas.

Apagou no mesmo minuto. Sonhou com Kamijo.