Poderíamos não ter tido nada

Tínhamos que bater num muro

Por isso o afastamento é inevitável

Mas eu sentia que era sério. Sabia que Hermione havia ficado sentida. Eu tinha mexido na memória da Brown, que morreu na batalha de Hogwarts. E ela sempre foi amiga dos Weasley e mexer com os Weasley também implicava mexer com Fred, outro que faleceu na batalha de Hogwarts. Ela não falou comigo por semanas, até que um dia estava passando pelos arredores da sala precisa e resolvi entrar. Era só um impulso, queria entrar e ficar sozinho lá dentro. Mas quando abri...

Flashback

– Quem está aí? – Perguntei com medo.

A sala estava escura e parecia uma espécie de poço. Talvez o fundo dele. Escutei um choro baixo vindo de algum canto.

“Lumus”, disse e avistei uma castanha encostada em um canto, com a cabeça encostada no joelho.

– Hermione. – Sussurrei.

– Não se aproxime, e não me chame de Hermione. – Ela gritou.
Ela estava chorando.

– Hermione... – Disse me aproximando e me sentando ao lado dela.

– Já disse pra não me chamar de Hermione.

– Mione...  – Eu a abracei, contra a vontade dela, que tentava se soltar. – Por favor, pára de chorar.

Ela não parou.

– Me diz, porque tá chorando?

– Porque tá chorando? – Repetiu aos gritos. – PORQUE SERÁ QUE A SANGUE-RUIM-GRANGER ESTÁ CHORANDO, MALFOY?

– Não diga isso, Mione. – Eu disse encostando minha testa na dela.

– Você e Pansy me causam náuseas. Vocês são nojentos.

– Você...

– Eu não tenho ciúmes de você, Malfoy. Mas você acha que é quem, pra insultar a família do Ronald? Falar dos irmãos do Ronald? Ronald perdeu um irmão, e você? Você perdeu seu guarda-costas, não foi, Malfoy? Chorou por ele? Huh? Sentiu falta dele todos esses dias? George perdeu seu irmão gêmeo Malfoy, e você vem me fazer piadinha sobre não caber mais irmãos na casa deles?

– Eu não...

– Você não pensou nisso, não é, Malfoy? Você não pensou que depois Ronald iria passar o resto da semana sentido por tudo o que falou, certo? Pensou que ele fosse passar o resto da semana pensando em Fred e até falar nele durante o sono? Você pensou nisso, Malfoy?

– É claro que não.

– É óbvio que não. Tudo isso doeu no coração de Ronald, sabe porquê? Porque ele tem um coração.

– Você está insinuando que eu não tenho um coração? É claro que eu tenho um coração.

– Não parece, Malfoy. – Ela gritou novamente. – Não parece!

Ela ainda chorava muito.

– Eu não devia, eu sei que não devia ter dito...

– E a Lilá, Malfoy? – Ela disse secando as lágrimas e me encarando. – Queria me atingir chamando Ron pelo apelido que Lilá o chamava? Perdemos Lilá também. Será que você tem um fraco por brincar com o nome de pessoas que já morreram? E quando perder seus pais, vai falar asneiras no nome deles também? Já posso imaginar você pelos corredores de Hogwarts falando mal de Snape.

Não disse nada. Eu nunca falaria mal de Snape.

– Não quer mais insultar a família de Harry? – Ela perguntou aos gritos. – Eles também já morreram, esqueceu? Ou já perdeu a graça chamar o Harry de órfão-cabeça-rachada? Você me dá nojo, Malfoy. Harry merece toda felicidade do mundo, ao contrário de você! Ele merece ter ao lado a menina que ama, ao contrário de você! E olhe como é injusto, Harry merecia ter uma família, mas quem tem é você... Mas se bem que Harry merecia uma família um pouco mais amável que a sua, não é mesmo Malfoy?

– Não ouse falar de Narcissa! – Gritei.

– Olha, começo à achar que você tem um coração. Pelo menos sabe defender sua própria mãe. – Ela disse ainda chorando muito. – Mas e o seu pai, Malfoy?

– Eu não quero falar nesse homem, ele não é meu pai.

– Sim ele é seu pai! – Gritou, definitivamente fora de controle. – E você está me saindo igual à ele.

– Eu não puxei ao Lucius, Hermione.

– Sabe o que eu estava fazendo no corredor, Draco?

– Não.

– Terminando com o Ronald. – Ela riu. – Eu ia fazer a maior besteira da minha vida!

– Você ia...

– Eu ia terminar com Ronald, porque acreditava que ficar com você era o certo, mas você me mostrou o contrário.

Fiquei em silêncio.

– Agora me deixa em paz, Malfoy.

– Her– 

– Ouviu? Me deixe em paz! – Gritou e eu não tive escolhas.

Flashback Off