Fome Insaciável escrita por Shadow


Capítulo 20
Capitulo 20


Notas iniciais do capítulo

Ei pessoinhas! Td bem?



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P.O.V Livy

–Entãoooooo.... - começou Sophia – você e o Ian, hum?

–Cala a boca!

–Vamos lá, sei que tem alguma coisa acontecendo!

–Não há nada acontecendo!

–Seiiii – cantarolou.

–Argh! – grunhi e empurrei o carrinho mais rápido pelo corredor deixando Sophia para trás correndo tentando me alcançar com suas pernas curtas.

–Irritada? – perguntou KW do outro lado da estante de mercadorias com uma expressão divertida.

–Foda-se! Alias foda-se os dois.

–Hey! – gritou Sophia.

–Acho que encontrei algo comestível na parte dos salgadinhos. – disse KW mudando de assunto rapidamente. – Embora não tenho muita certeza se vocês querem se aventurar por lá. – falou apreensivo.

–Por quê? – questionei.

–Corredor lotado. – murmurou sombriamente.

Já havia se tornado uma tradição nós três sairmos juntos a procura de comida e eles eram as únicas pessoas além de Victor que sabiam sobre minha “imunidade” aos zumbis (longa história).

–Você sabe que eu posso passar por eles facilmente.

–Sim, sim... A questão é que... São outras pessoas, não zumbis.

–Ah, isso complica um pouco... – falou Sophia pensativa.

Claramente ela estava se lembrando do que havia acontecido da ultima vez em que nos encontramos outros seres humanos, não havia sido divertido e nem saudável para nenhum dos lados e Ian quase nos esfolou vivos por nossa idiotice colossal de sair em um grupo de três em vez de ir com um grupo maior para dar apoio, ficamos sendo vigiados de perto por todos os outros (é claro que isso nunca impediu que saíssemos). Aquelas pessoas eram estranhas, tentaram nos comer e isso obviamente não deu certo e eles acabaram sendo comidos (não por nós é claro), os zumbis invadiram o acampamento e isso foi minha deixa para bater com a cabeça no nariz do homem que me segurava e passar por entre os zumbis para libertar os outros dois.

–Quantas pessoas e quantas armas? – perguntei.

–São sete e pelo que pude ver apenas um deles tem uma arma o outro tem arco e flecha e o restante tem facas.

–Hum... Suponho que estamos em vantagem se algo não vai bem.

–Qual tipo de arma ele carrega? – perguntou Sophia.

–Uma espingarda, mas ele a pendurou nas costas, se eles resolvem nos atacar poderíamos controlar a situação, mas teríamos que tomar cuidado com o das flechas ele já tem uma preparada.

–Bem, pistolas nas mãos crianças e vamos a La Fiesta. – falei alegremente enquanto puxava a katana da bainha e verificava se minha arma estava pronta para ser retirada rapidamente.

–Idiota. – murmurou Sophia.

–Eu ouvi isso, hein!

–Era pra ouvir.

Devagar e sem fazer barulho nos aproximamos dos desconhecidos, olhamos por entre as prateleiras e eu esforcei meus ouvidos para ouvi-los.

–...estragado...um pio...arrancar sua cabeça... – foi o que consegui ouvir daquela distancia.

–Precisamos chegar mais perto. – sussurrei para os outros dois.

–Não, vão nos ver!

–Ele tem razão. Agora fiquem quietos, precisamos ouvir o que estão falando.

–Onde....babaca....Miréia? – perguntou um dos homens para uma mulher gordinha.

–Banheiro... sozinho...meia hora. – respondeu.

­–Vamos...deixa-lo...importo...sair...

–Não!

–Corram! – veio um grito desesperado de algum lugar a nossa frente, o grupo congelou e todos nos viramos para um cara correndo, ver um homem alto correndo de uma pequena horda de zumbis chamaria a atenção, mas um homem de bigode, pele lamacenta, cabelo lambido de boi, magricela, com as calças arridas e um pedaço de papel higiênico preso ao sapato brandindo um pedaço de cano era ainda mais chamativo.

–Estou dividido entre a vontade de rir e correr. – disse KW.

–Acho, não, tenho certeza de que devíamos correr. – falou Sophia.

–Concordo.

E nós corremos, corremos o mais rápido que podíamos, mas isso não era o suficiente já que ficamos encurralados na seção de frios (que não cheira nada bem). Onde estávamos havia alguns zumbis e podíamos ouvir a horda se aproximando em sua marcha lenta e contínua.

–Fudeu!

–Totalmente! – concordei com KW.

–Para nós dois talvez, mas você não faz parte do cardápio.

Não respondi a isso já que estava tentando pensar em como salva-los de uma morte lenta e desagradável. Eu estava decepando a cabeça de um zumbi quando a ideia me ocorreu (quase pude sentir uma lâmpada se acendendo sob minha cabeça).

–As estantes! – gritei ao mesmo tempo em que KW gritava “o outro grupo”.

Virei tão rápido que as vertebras de meu pescoço estalaram ruidosamente, minha espada quase dividiu o nariz do carinha de bigode.

–Wow! Calminha ai! – pediu enquanto levantava as mãos em sinal de rendição. –Estamos todos no mesmo barco.

–Abaixa! – mandei e ele obedeceu. Minha katana entrou direto na boca aberta do zumbi que ia mordê-lo.

–Obrigada! – agradeceu ao levantar-se.

–De nada.

A horda estava vindo de todos os lados finalmente percebendo que seu precioso alimento não tinha para onde ir. Todos eles estavam ferrados, menos eu.

–Não temos para onde ir. – choramingou a mulher gordinha.

–Livy, o que você falou sobre as estantes? – perguntou Sophia com a voz traindo uma pontinha de medo.

–O quê? Ah, subam nas estantes. – respondi.

Sem um momento hesitação, todos começaram a se mover e tentar escalar ate o topo das estantes, havia alguém do meu lado ajudando a dar cobertura aos que tentavam subir. Não foi até ouvir seu grito de angústia que percebi que era o homem das flechas.

–Joana! Não, não! – ele tentou correr, mas o segurei. – Me solta! Preciso ajuda-la, me solta!

–Não tem mais jeito! Ela caiu bem no meio deles, não há como salva-la.

Os gritos de dor da mulher diminuíram para um gorgolejar familiar de quando alguém se afoga em seu próprio sangue. Aos poucos ele parou de lutar contra mim e começou a chorar sentado no chão frio e molhado de sangue. Os que haviam subido estavam seguros, infelizmente isso significa que os zumbis nos notaram, ou melhor, notaram o homem chorando ao meu lado.

–Merda! – grunhi.

–Sebastian! – a mulher gordinha gritou tentando chama-lo, mas ele não quis ou não ouviu. – Sebastian!

Eu tinha que mantê-lo vivo, pela mulher que gritava o seu nome, pela mulher que obviamente era a sua mãe.

–Filho, por favor! – suplicou chorando e confirmando minhas suspeitas.

Não foi preciso muita motivação para matar os meus amiguinhos pútridos, uma cabeça rolava aqui outro se abria lá, algumas viravam fatias e aos poucos os números foram diminuindo. Os que tinham armas queriam atirar, mas eu falei que era melhor não, iria chamar atenção dos zumbis que estavam pela redondeza. Quando o ultimo zumbi estava se aproximando, Sebastian levantou-se do cantinho onde estava encolhido chorando baixinho e balançando-se de para frente e para trás.

–Ela é minha. – disse pousando a mão no meu ombro. Era a garota, Joana, que havia caído no meio dos zumbis. Lentamente ele puxou uma flecha da aljava e a armou no arco.

–Adeus, irmã. – sussurrou e liberou a flecha que acertou bem no meio da testa.

Uma dor antiga feriu meu peito, mas não havia tempo para se lamentar agora, pois quando achávamos que tinha acabado uma coisa inesperada aconteceu. Todos estavam prestes a descer das estantes quando um rosnado ressoou pelo lugar.

–O que foi isso? – perguntou Sophia do alto da estante em que estava empoleirada com KW e outra garota.

–Parece que vem do açougue. – disse a garota ao lado dela.

–Livy, acho melhor você se afastar dai, lentamente. – disse o carinha do bigode.

O som de unhas batendo no chão ecoou atrás de mim, a primeira coisa que me vinha a mente era que havia um cachorro andando, a segunda é que a julgar pela palidez de Sebastian e os suspiros dos outros era que só podia ser um cachorro zumbi e a terceira era: será que eu sou invisível aos cachorros zumbis?

Respondendo a minha pergunta: Não, aparentemente minha capa de invisibilidade zumbi, só servia para os que foram humanos. Virei lentamente, rezando para que ele não fosse um pit bull ou rottweiller.

–Santo Pai! – gritou a mãe de Sebastian. Engoli em seco, felizmente não era um dos dois piores tipos, era um labrador (ou foi) infelizmente ele parecia um urso pequeno ou talvez fosse um pônei muito grande?

–Puta que...

Senti o ar abandonar meus pulmões e minha cabeça fazer um barulho doentio contra o chão, ouvi os gritos de Sophia e KW e então eu apaguei.

P.O.V KW

Um barulho de coco rachando ecoou em meus ouvidos, vi a katana de Livy voar para longe e nenhum de nós tinha uma mira boa para atirar sem acerta-la. Então eu fiz uma coisa muito heroica e estupida, agarrei minha faca e joguei-me nas costas do cachorro que estava prestes a morder a Livy. Foi por pura sorte eu conseguir cair direto nas costas daquela coisa, talvez fosse todo aquele tamanho que ajudou já que eu não havia calculado aqueda apenas tinha me atirado de lá.

O cachorro ficou alucinado, virou a cabeça tentando morder minha perna esquerda, mas fui mais rápido e afundei minha faca em seu olho e velho aquilo foi nojento fiquei coberto de uma coisa amarela e pegajosa que parecia ser um tipo de pus corrosivo, minha camisa derreteu onde aquela coisa espirrou. A gosma pegajosa começou a se espalhar pelo chão e o cão escorregava a cada coice que dava no ar tentando me jogar de suas costas. Finquei minha faca em suas omoplatas para me firmar e com minha outra mão levantei seu queixo (uma coisa muito difícil para se fazer em cima de um cachorro raivoso que não parava quieto um minuto) evitando ser mordido por centímetros e prendi minhas pernas em suas laterais, puxei a faca, ele deu um urro de dor e pulou novamente, comecei a escorregar e antes que caísse mergulhei a faca em sua cabeça com toda minha força.

–Argh, isso arde. – falei quando a fera finalmente caiu morta (de vez) no chão. Todos os outros desceram e formaram uma roda onde eu, Livy e o cachorro mutante estávamos.

–Você seu estupido, irresponsável, filho de uma... - começou Sophia.

–Hey! Ele ia comer a Livy! – me defendi.

–Isso dói muito? – perguntou ela apontando para amancha vermelha que se formava em meu estomago.

–Não, só arde como o inferno.

–Bom. – disse e foi em direção a Livy.

Garota maluca nem pergunta se estou bem, mas tanto faz. Aproximei-me de Livy e notei seu rosto pálido e o sangue saindo em grandes quantidades de sua cabeça.

–Oh cara, Ian vai nos matar! – falei sem pensar.

–É só nisso que você pensa? – guinchou Sophia. – Ela esta com a cabeça aberta e você pensa no que vai acontecer conosco se Ian descobre que saímos sem permissão! Diabos garoto eu vou arrancar sua pele!

–Hey! – gritei indignado, é claro que eu me preocupava com Livy, mas isso não quer dizer que eu vou esquecer-me das ameaças de Ian. – Claro que não sua louca! Mas ele vai ficar uma fera.

–Argh, você tem razão, mas nossa prioridade é leva-la para o acampamento antes que perca todo o sangue do corpo.

–Ai. – grunhiu Livy. – Quem me acertou com uma marreta? – perguntou tentando se levantar, mas Sebastian a impediu.

–Não se mova tão rápido, você levou uma bela pancada na cabeça. – disse empurrando seus ombros.

–Merda. – respondeu voltando a ficar quieta no chão.

–Suponho que devamos sair daqui. – disse o bigodudo. – Ela tem que ser atendida imediatamente.

Com muito cuidado arrumamos o que conseguimos de comestível em um único carrinho, ao que parece vamos todos seguir viagem juntos. Bem eu não notei nada de ruim sobre qualquer um deles.

–Eu a levo. – disse Sebastian quando tentei carregar a Livy. – Você deve ir na frente sabe, para nos proteger caso outro cachorro zumbi apareça. – terminou com um sorriso hesitante, revirei os olhos, mas concordei (não porque acho que outros vão aparecer, mas por não me sentir muito bem).

–KW? – chamou Sophia.

–Hum?

–Tem certeza de que está se sentindo bem? – perguntou preocupada. Pensei em responder: Não muito, acho que estou enjoado e um pouco tonto. Em vez disso falei...

–Estou ótimo, apenas cansado.

–Verdade? Você parece um pouco pálido e essa marca está ficando de uma cor estranha.

–Quê? – perguntei quase gritando.

A mancha vermelha em meu estomago mudou para um tom entre verde vomito e roxo, estava até latejando um pouco.

–Isso tá feio pra cacete! É melhor irmos para o acampamento o mais rápido possível, não... não por mim é claro... – gaguejei sob seu olhar de quase pânico – pela Livy que rachou a cuca, eu vou ficar bem.

Espero que sim, pensei. Sebastian a tinha no colo e a mãe dele segurava a cabeça de Livy que tinha um pano amarrado ao redor.

–Vamos andar devagar para não agravar a situação dela, ok? – disse a mulher.

Antes de sairmos, Sebastian e a mãe deram um ultimo olhar melancólico em direção à garota estirada no chão e então como se ensaiado começamos a andar ao mesmo tempo. A menina que havia estado em cima da estante conosco segurava a katana de Livy como se fosse um bebe.

–Pode ficar com ela. – disse Livy com a voz fraca. A garota arregalou os olhos, mas então sorriu esperançosa. – Enquanto estamos aqui, mas quando eu melhorar vou a querer de volta.

O sorriso da menina foi substituído por um careta e ela deu um aceno em concordância, pensei ter ouvido algo que soou muito parecido com “estraga prazeres”. Sebastian entregou seu arco e aljava para o rapaz a seu lado.

–Miréia – chamou Sebastian – mãe – se corrigiu sob o olhar severo da senhora gordinha – acho melhor entregar a chave para Suzan.

–Oh, claro. - ela enfiou uma das mãos no bolso e pescou um molho de chaves e jogou para a última integrante do grupo, uma mulher de estatura media pele morena e loira platinada.

–Ela é gata. – murmurei – ai, caramba Sophia! – choraminguei esfregando o braço no local do soco – por que você sempre faz isso?

–Idiota.

As coisas ficaram dessa forma: Sebastian e a mãe levavam Livy, Suzan a loira gata levava a chave do carro e o carrinho de mantimentos, a garota levava a katana de Livy, o Mister Bigode levava o cano que sabe-se lá onde ele conseguiu, o pirralho que eu não sei o nome estava com o arco e a aljava, Sophia e eu estávamos com as armas.

–Ei – chamei a atenção deles – vocês só tem essas facas? – perguntei inocentemente tentando descobrir o paradeiro da espingarda.

–Eu tinha uma espingarda, mas houve uma situação bastante inconveniente... - disse o Mister Bigode e então começou a falar baixinho sobre descargas de vaso sanitário.

–Ah... que...hum...estranho.

–Pegue. – falei oferecendo a minha arma.

–Você tem certeza?

–É melhor que um cano de pia. – respondi.

–Obrigado.

–Agora vamos.

Não demorou muito para sairmos de lá e pelo caminho havia poucos zumbis, em algum momento entre a seção de frios e o portão da frente eu comecei a ser meio carregado/arrastado por Sophia. Finalmente paramos e lançando um olhar preocupado de mim para Livy e vice-versa, Sophia disse que iria pegar nosso carro, Suzan foi noutra direção para pegar o outro carro, eu encostei minha cabeça em uma estante e acho que dormi, pois só lembro-me de alguém batendo uma porta e um grito abafado seguido de tiros. Agora que estávamos indo embora de carro, não havia motivos para não usar armas de fogo.

P.O.V Sophia

Kw era muito pesado, mas fiz um esforço sobre-humano para leva-lo ate a saída. Estávamos relaxados e talvez tenha sido por isso que o ataque nos pegou de surpresa. O rapaz que estava segurando o arco os entregou para a garota que segurava a katana e disse que a natureza estava chamando. Eu estava fechando a porta da Pick Up quando ouvimos seu grito e um rosnado.

–Merda, não acredito. – rosnou Sebastian de dentro do carro com Livy ainda em seu colo. – Cintia entre no carro agora! – gritou para a menina.

A menina correu para a caminhonete verde e se jogou no banco de trás, Suzan já estava no banco de motorista e ligava o carro, Kw estava no banco do passageiro.

–Vamos embora! – gritou Sebastian.

–Mas...

–Mas nada! O Gabriel morreu André! Entre no maldito carro!

André estava indeciso, mas desde o primeiro grito não ouvíamos nada além do som de mastigação, então ele entrou no banco de trás da caminhonete verde e eu entrei na Pick Up. Seguimos em direção ao acampamento. Já estava escuro quando chegamos lá, ao longe eu podia ver a silhueta inconfundível de Ian andando de um lado para outro.

–Ele está puto! – falei nervosa.

–Quem? – perguntou Sebastian distraidamente olhando para o rosto pálido de Livy.

–Ian. Ele é meio que um dos lideres do grupo.

–Hum...

Estacionei entre as arvores e Suzan de alguma forma encaixou sua caminhonete entre a Pick Up e o caminhão. Desci do carro seguida dos outros.

–Hey, Ian! – saudei com alegria fingida, seus olhos se estreitaram e ele cruzou os braços seus músculos estavam tensos, droga ele é gostoso, me esbofeteei mentalmente, ele é da Livy!

–Você tem alguma ideia de como eu estava preocupado? – perguntou com a voz perigosamente baixa.

–Ér...Muito?

–Eu vou arrancar os membros do corpo de cada um de vocês e cortar em rodelas!

Antes que eu pensasse em algo para responder seus olhos viajaram ate onde KW estava sendo arrastado por André e Suzan, seu rosto sério e irritado se suavizou e então seus olhos encontraram Livy e seu rosto demonstrou pânico.

–O que aconteceu? – perguntou preocupado, mas assim que viu Sebastian carregando Livy sua preocupação dividiu lugar com ciúmes e desconfiança.

–Longa historia. – respondi rapidamente – resumindo fomos atacados por uma horda e em seguida um cachorro zumbi.

Por um estranho momento Ian ficou encarando Sebastian, ah se olhares matassem.

–Ian...- chamei – Ian, caralho! – ele pulou, eu quase nunca falava palavrões (não que eu fosse santa), mas quando eu me estressava eles fluíam como um rio. – Olha, Livy e KW precisam de um medico urgentemente. E esse pessoal perdeu dois integrantes hoje, uma dessas pessoas era a irmã dele. – falei apontando para Sebastian que ficou rígido (pelo menos eles não estavam no alcance da voz), eu também ficaria se alguém estive apontando para mim sem saber do que as pessoas estão falando, o olhar assassino de Ian se transformou em um de pena.

–Sigam-me.

Todos relaxaram e seguimos direto para a enfermaria, Ian podia estar com pena de Sebastian, mas ainda estava com ciúmes e irritado por Sebastian não ter entregado Livy para ele quando pediu.

–Coloque-a naquela maca, vou chamar Dr. Rafael. – disse Ian e então percebeu que Kw não estava melhor do que antes. – Ponha ele na maca ao lado, já volto.

Ian desapareceu em meio à escuridão, alguns minutos depois voltou com Dr. Rafael ao reboque.

–Minha cabeça dói! Por que está tudo rodando? – perguntou Livy.

–Deve ser por causa de sua pequena aventura. – respondeu Ian sarcasticamente.

–Ah... Sim, me lembro disso, zumbis... cachorros zumbis... estantes de supermercado... é me lembro de tudo.

–Isso é bom. – disse Dr. Rafael animadamente – deixe-me dar uma olhada nessa cabeça para que eu possa ver seu amigo.

–KW? O que aconteceu com ele? – perguntou e em seguida gemeu de dor quando Dr. Rafael tocou a área ensanguentada.

–Fui atingido por uma gosma infecta de cachorro zumbi. – respondeu fracamente.

–Seus idiotas! – rosnou Ian – podiam ter morrido! Espero que isso sirva de lição!

–Sim – respondeu KW – nunca pule em um cachorro zumbi, mesmo que ele esteja para comer algum amigo seu.

–Não a lição é... – começou Ian irritado.

–Nunca seja atingindo pela gosma do cachorro zumbi?

–Livy! A lição é...

–Use capacete? – sugeri começando a ajudar meus amigos a irritar o gost...Ian.

–Ah! Foda-se! – gritou nervoso – Vou manter Victor na tenda até amanhã.

–UH! Ele ta de TPM. – disse Cintia.

Dr. Rafael era rápido, em menos de dez minutos a cabeça de Livy estava limpa, remendada e enfaixada. Então ele se virou para KW e seu rosto se contorceu em uma careta.

–O rapaz está uma bagunça. Ei docinho, é melhor levar seus amigos para a barraca provisória.

–Não me chame de docinho, velho! Vou leva-los, mas eu voltarei!

–Eu vou ficar. – disse Sebastian, olhando para Livy que agora dormia pacificamente. Dr. Rafael seguiu seu olhar e enrugou a testa e em seguida pegou um instrumento pontiagudo e o espetou nas costelas de Livy.

–Ei! – gritou com raiva.

–Não pode dormir, não até que eu tenha certeza de que você não tem algum tipo de trauma.

–Precisava quase me esfaquear com esse treco?

–Não, mas foi divertido.

–Pra você, velho!

–Exatamente! Agora meu rapaz – se virou para KW – vamos ver o que posso fazer pelo seu corpo moribundo. – disse esfregando as mãos como um vilão de filme.

–Moribundo?

–Calma, foi só uma brincadeira.

–Ora seu...

Arrastei os outros para fora antes que KW terminasse a frase e os guiei em direção à tenda onde ficavam as barracas e os poucos suprimentos. Entreguei duas barracas grandes, seis sacos de dormir dez garrafas d’água e algumas barras de granola.

–Por enquanto é isso que vão conseguir, amanhã o café será servido as 8:00hs, o almoço é as 12:00hs e a janta as 7:00hs o que por sinal já perdemos. Se decidirem ficar terão que falar com Ian ou Donnie, eles são responsáveis pelas tarefas, vocês podem erguer sua barraca perto da floresta, mas é melhor não ir muito longe já que não nos aventuramos muito dentro da floresta, se quiserem ir embora terão que avisar. E eu acho que é só isso por agora.

–Obrigada.

Seguimos caminhos separados e eu voltei para a enfermaria, um cheiro horrível vinha de lá.

–Argh, que cheiro de carniça é esse?

–Isso minha querida é o cheiro do que estava dentro da bolha. – disse Dr. Rafael.

–Bolha? Que bolha?

–Uh! Você devia ter visto. – disse Livy. – Foi como estourar uma espinha, só que na barriga.

–...

–A mancha na barriga do seu amigo se transformou em uma bolha e eu a estourei com o bisturi, foi como sua amiga falou: parecido com uma espinha.

–Nojento. – falei torcendo o nariz.

Foi quando eu notei que Dr. Rafael estava totalmente equipado, mas não com roupas comuns de medico e sim com uma roupa parecida com que os virologistas usam em seus laboratórios e ele estava banhado em uma mistura de sangue e gosma.

–Foi muito divertido! – disse ele com um sorriso um tanto psicopata no rosto.

Livy, Sebastian e KW o encarram, Livy com diversão, Sebastian com uma mistura de perplexidade e horror e KW com puro ódio.

–Sim, muito divertido! Fudidamente divertido, veja só como eu estou rindo histericamente. – debochou KW.

–Claro que foi divertido! Mas como eu ia dizer antes que a pequena Smurff entrasse, você tem sorte que essa coisa ficou na superfície da pele.

–Você me chamou de Smurff?

–Não, chamei de pequena Smurff ou você prefere Hobbit, toquinho de amarrar jegue ou quem sabe anão de jardim?

–Nem todos nasceram com quase dois metros de altura, ok!

–Tudo bem, tanto faz. Eu tenho coisas para fazer, lugares para ir, pessoas para matar, crianças para torturar, sabe com é.

–...

–Cara estranho. – disse Sebastian após Dr. Rafael sair.

–Não se preocupe, nem sempre ele é assim. Acho que hoje ele bebeu ou algo assim... - tranquilizou Livy.

–Estranho, estranho é um zumbi dançando a Macarena, esse velho é doido, pirado, lunático... – começou KW.

–Já entendemos. – o cortei. – Mas como vocês estão?

–Minha cabeça está doendo pra caramba.

–Isso parece mais um coração de tanto que lateja. – disse KW apontando para a barriga enfaixada.

–Doi? – perguntou Sebastian.

–Incrivelmente, não.

–Pelo menos a febre passou antes de cozinhar seus miolinhos! – a voz alegre do Dr. Rafael nos fez pular.

–Esqueci meus óculos. – disse ele, pegando os óculos e nos olhando sombriamente antes de dar um sorriso e ir embora.

–Velhinho assustador. – sussurrou KW.

–Completamente. – concordamos.

P.O.V Livy

Sebastian havia adormecido entre meia noite e duas da manhã, seus cabelos castanhos estavam emaranhados e seu rosto estava amassado. Quando Ian o viu ao lado da minha cama seu rosto se transformou em uma carranca, mas não parecia tão irritado quanto ontem.

–Como você está? – perguntou baixinho para não acordar os outros dois.

–Ótima e pronta pra outra!

–Nem pense nisso!

–Awn! Ele está preocupadinho! – falei imitando voz de criança e apertando suas bochechas. Ian me lançou um olhar irritado, embora estivesse sorrindo.

–Você é tão idiota às vezes Livy. – disse pegando uma de minhas mãos e beijando-a.

–Eu sei, é como uma segunda personalidade.

–E o KW?

–Ficou bem melhor, no entanto ainda está cansado.

–O pessoal dele resolveu ficar. - disse apontando para Sebastian.

–Isso é bom, não é?

–Não sei, não pude achar nada que mostre perigo vindo deles, embora Donnie quer que eles fiquem sendo vigiados.

–Argh, lembro-me de como isso me irritava quando cheguei aqui.

–Sim, o mesmo para mim. Mas é o fim do mundo devemos ter cuidado redobrado.

–Sim, só diga aos outros para serem mais discretos, eles eram muito óbvios alguns até perguntavam quantos copos com agua eu bebia.

–Não exagere...

–É verdade!

–Os pombinhos podem sair daqui, com todo esse cochicho não consigo dormir. – rosnou KW cobrindo o rosto com o travesseiro.

–Chato!

–Cala a boca. – retrucou jogando um travesseiro em minha direção que acabou acertando Sebastian.

–Hey! Quem...

–Foi mau cara, mas esses dois não calavam a boca. – se desculpou KW e voltou a dormir.

–Hum...- resmungou sonolento, Sebastian pegou o travesseiro e caiu no sono novamente.

–Ele é fofinho. – falei sem pensar.

–Eu não acho. – disse Ian com irritação.

–Seria estranho se achasse.

–Bom o que acha de um belo café da manha?

–Seria a melhor coisa que me aconteceu desde ontem!

–Perfeito, já são quase oito horas a senhorita deve tomar um banho e ir até a comida.

–Pensei que meu príncipe encantado traria café na cama. – resmunguei.

–Eu não sou príncipe encantado, posso ser o lobo mal se quiser... – provocou.

– Vamos logo lobo mal, estou morrendo de fome. – pulei da cama e me arrependi ao sentir uma dor horrível - Ai!

–Talvez eu devesse ter trazido o café aqui.

–Não seja bobo, em algum momento eu teria que sair dessa maca.

Foi uma longa e sofrida caminhada, a cada passo parecia que alguém me dava uma martelada na cabeça, quase cai duas vezes na terceira vez Ian me pegou no colo.

–Sabe quando eu imaginei alguém me carregando assim, sempre me visualizei com um vestido branco não com uma bata hospitalar.

Ian deu um sorriso brilhante e me levou em seus braços durante todo caminho.


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Notas finais do capítulo

Saudades?
Cometários?



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