# Bella Swan #

Acordei junto com os primeiros raios solares daquela manhã. Edward continuava dormindo ao meu lado, de bruços e apenas trajando uma calça do pijama. Eu levantei com cuidado para não despertá-lo.

Fui nas pontas dos pés até uma das janelas e puxei um pouco a cortina, avistando as montanhas no horizonte. Tão longes e imponentes.

Eu suspirei e olhei para meus pés, mexendo os dedinhos recém-pintados de um rosa tão claro que era quase difícil de percebê-lo. Eu sorri e olhei para meus braços, sem nenhuma memória palpável daquele acontecimento no banheiro, mas na minha mente, aquilo permaneceria por um longo tempo. O símbolo de toda a minha fraqueza, o único modo que eu encontrei de enfrentar minhas dores. Mas hoje eu sabia que eu não estava enfrentando.

- Estamos muito pensativos hoje hein... – Edward murmurou atrás de mim.

Eu pensei que ele fosse se aproximar e de alguma forma, me tocar. Mas ele manteve distancia, com as mãos dentro do bolso da calça.

- Apenas lembrando...a propósito, você tem algum evento importante hoje? – eu perguntei, indo em direção até o banheiro.

Como de praxe, Edward me seguiu, e eu fui para a pia, escovar meus dentes e dar um jeito no meu cabelo, que incrivelmente não estava muito bagunçado.

- Tenho, mas ontem eu já pedi que Esme desse um jeito, nós vamos sair hoje.

- Para onde?

- No more questions...

- Para de falar inglês comigo Edward, sabes que eu odeio! – resmunguei, com a boca cheia de pasta de dentes e ele riu.

Eu terminei de escovar os dentes e me virei olhando para ele.

- Eu sei minha alemãzinha linda, você fica toda irritadinha when I talk english with you.

- Ah vai te catar! – joguei minha escova de dentes nele, mas ele pegou a tempo.

- Grandes coisas, você é austríaco, nem língua oficial tem...

- Quem te iludiu?

Eu revirei os olhos e saí do banheiro, fui até o closet e olhei para meu guarda-roupa. Que roupa iria por?

- Use uma coisa leve, vamos para um ambiente ensolarado.

- Posso te lembrar que é outono?? E raramente há muito sol aqui....

- Só faça o que te peço! – ele induiu , pegando uma calça caqui e uma camisa pólo.

Eu murmurei e peguei uma camiseta de alcinhas e uma bermudinha jeans até o joelho, no fundo do closet, eu achei uma relíquia, algo que eu não usava desde que tinha saído da casa das Escolhidas para vir pra cá.

- Meu all star!

- Ah, isso você sabe falar em inglês hein...

- É uma marca Edward, logo é fácil se dizer!

Ele riu e continuou a se vestir.

Eu os peguei e vi o quão surrados estavam, mas e daí? All star que preste tem de estar surrado!

Coloquei um par de meias soquetes e calcei o tênis.

- Pronta?

- Espera, vou pegar um casaco. Ao contrário de você, eu sinto frio.

[...]

- Se a gente cair...

- Nós não vamos cair Bella...

- Ta, mas se nós cairmos...

- Corta esse “se”, nós não vamos cair. – ele respondeu, me ajudando a entrar na bendita canoa.

- Aham, e jacaré não tem dente!

- Como?

- Nada, é uma gíria que eu aprendi com Jéssica, uma brasileira que trabalhou de garçonete no mesmo lugar que eu.

- Mas enfim, um pouco de confiança ajuda.

Quando finalmente consegui me ajeitar naquela canoa, ele pegou o remo e começou a nos afastar da margem. Eu dei uma olhada em volta da lagoa e consegui ver os mustash de Edward.

- Eles nunca cansam? Ou se movem? Ou falam algo?

- Eles são como aquelas guardas reais britânicos, Bella. Só que sem o chapéu ridículo e muito mais úteis.

Eu sorri e relaxei a mão na beirada da canoa, os nós dos meus dedos já estavam ficando brancos de tanta força com que eu apertava.

- Até que aqui não ta frio...

- Eu disse que não estaria! Anda, vem ca... – ele falou, me puxando pra perto dele, e me fazendo dar um gritinho.

- O que você...? – eu logo fui interrompida por um beijo.

- O que eles vão achar? De ver a gente se beijando desse jeito?

- Não é como se eles já não soubessem que fazemos muito mais entre quatro paredes.

Eu olhei para ele, por um longo momento.

- Você está meio estranho hoje, isso teria algo a ver com os últimos acontecimentos?

- Você está querendo dizer sobre Tanya e o bebê?

- Que é seu. – eu concluí.

Edward suspirou e largou os remos na canoa.

- Ele parece ser mesmo meu.

- Você vai se casar com ela? – eu perguntei, resolvendo olhar para meu reflexo na água, ao invés dele.

- Isso nunca se passou pela minha cabeça Bella. O meu compromisso é com a criança, não com a mãe.

- Mas ela vai estar sempre presente...

- Ou não.

Eu olhei para ele, que estava sério demais.

- Você não pensa em tomar o bebê dela, ou pensa?

- Bella, nós dois sabemos que essa é a melhor decisão. Sinceramente, você consegue imaginar uma mulher como Tanya cuidando de uma criança?

- Edward, ela é a mãe dessa criança! Do mesmo modo que eu não te consigo imaginar cuidando de uma! Na primeira oportunidade, você vai largar pros empregados cuidarem!

- Não me acuse dessa forma Bella, você sabe que isso não é verdade!

- Ah não é? E você acha que Tanya te daria o bebê de mão beijada?

- É pra isso que serve o dinheiro.

- Você vai comprá-la?

- Não pense desse modo, é mais uma bonificação!

- É uma vida Edward, uma vida que em parte é sua! Você não pode pagar por ela!

- Eu não posso é permitir que essa criança fique com Tanya, sabe-se lá, qual será o exemplo que ela vai crescer tendo! E como eu já disse, casamento não é uma opção!

Eu bufei e cruzei os braços. Estávamos num impasse. Um estranho impasse. De fato, eu não conseguia imaginar Tanya dando uma boa educação para o bebê, mas o que Edward planejava fazer também não era legal.

- Hey, não fique assim, ainda faltam muitos meses para essa criança nascer... – ele murmurou, pegando em meu braço carinhosamente.

- É, gravidez de vampira. Saquei.

Ele riu e me puxou mais para mais um beijo, dessa vez bem rápido.

- O que acha de irmos ver um filme?

- Em casa?

- Nop, no cinema.

- Nós nunca fomos em uma cinema...

- Para tudo há uma primeira vez!

Eu apenas calei a boca e deixei que ele continuasse a remar...

[...]

- Eu vou ao banheiro. – disse me levantando e Edward apenas assentiu.

Eu saí da sala do cinema, com dois mustash me vigiando de perto. Era claro que eles não iriam me perder de vista. Eu abri a porta do banheiro, mas antes, me virei para eles.

- Estão vendo essa placa? Aqui diz: feminino. Eu tenho certeza que ambos são homens. Então...vocês vão me dar um voto de confiança e ficarem aqui fora me esperando ou, vocês podem entrar e eu faço um escândalo dizendo que vocês querem me estuprar...acreditem, eu sou ótima com escândalos!

Eles reviraram os olhos e se puseram ao lado da porta. Eu sorri e entrei.

Antes que eu entrasse num dos privados, eu a vi.

- Você é Leah não é? A garota com quem Emmet está saindo! – eu disse me aproximando.

Ela colocou a maquiagem dentro da bolsinha e virou-se para mim, sorrindo.

- Sim Isabella, sou eu mesma. Pensei que você não viria nunca!

- Desculpe-me, não entendi.

Ela suspirou e fechou o zíper de sua bolsa.

- Você não se lembra de nada não é? É claro que não. Edward deve ter feito um bom trabalho em você. Eu sou a enviada, aquela que mandaram para te ajudar.

No começo eu não entendi absolutamente nada, mas depois, a imagem daquela espécie de sonho, em que minha consciência me disse que viria alguém para ajudar. Seria Leah?

- Você sabe sobre...?

- Querida, eu sei sobre muitas coisas. Inclusive que Edward roubou você.

- Me roubou?

- É, é uma história longa, vou lhe contar o resumo! Era uma vez, papai e mamãe Swan, dois humanos que sabiam demais! Então a mamãe Swan engravidou e temeu pela vida de sua filhinha, no caso você. Ela fez um acordo com Jacob Black, um homem muito bom e muito poderoso, um lobisomem. Nesse acordo, Jacob lhes prometia proteção e em troca você ficava com ele. Mas é claro, se você não se sentisse confortável, você poderia não escolher ficar com ele. Nós adoramos o livre arbítrio querida. Mas então, Edward apareceu...o homem de qual seus pais temiam. Ele ofereceu dinheiro para eles, em troca de você. Edward e Jacob competiam sobre tudo, e desde que você surgiu – ainda no ventre de sua mãezinha fofa – ele e Jacob estavam dispostos a brigar com você, mas é claro, Edward não joga limpo. Então quando seus pais não aceitaram o dinheiro, Edward os matou e pegou você.

- Ele...ofereceu dinheiro por mim?

- Aham, uma quantia enorme. Mas seus pais eram honestos sabe...muito honestos, jamais aceitariam. Eu estou aqui para te ajudar a fugir, e te levar até Jacob. Ele espera a 20 anos por você Bella. Acredite, você não sabe como esse homem apaixonado sofre.

Eu me apoiei na bancada da pia e Leah mordeu o lábio.

- Então...eu pertenço a outro homem?

- Mais ou menos isso.

- E porque Jacob não protegeu meus pais? Quando Edward mandou que os homens fossem atacá-los.

- Ora querida, Jacob fora pego tão de surpresa quanto seus pais, ele jamais imaginava que Edward fosse capaz de uma covardia como essa!

# Narrador #

- Eu já imaginava que você estaria aqui! – Emmet falou com desprezo, assim que entrou no apartamento.

- Me desculpe eu...vim pegar umas ultimas coisas que tinha deixado. – Rose falou com a voz baixa, se controlando para não chorar.

- Termine de pegar e se manda. Você não é mais bem-vinda aqui Rosalie.

Ela assentiu e terminou de guardar algumas coisas na pequena mala que trouxera. Na parede acima da cama, havia uma marca de um quadro que ficava la. Mas aquilo era passado. Emmet percebeu seu olhar e sorriu desgostoso.

- Eu mandei queimar aquele retrato. Só me trás más recordações.

Rosalie não falou mais nada, apenas terminou de fechar a mala e a pegou, indo em direção a porta de saída.

Uma ultima vez ela olhou para trás. Emmet havia se sentado no sofá e estava tomando um copo de uísque, ali haviam recordações, das noites em claros que eles passavam juntos e das tardes animadas dentro da banheira. Rose fechou os olhos para impedir que as lágrimas caíssem e fechou a porta.

- Pode jogar essa chave fora. Vou trocar a fechadura da porta. A cópia vai ficar com Leah, você já a viu Rose? Ela é tudo que você nunca foi!

[...]

- Taxi! – Rosalie gritou e um carro parou, ela entrou e deu o endereço para o motorista.

O lugar era longe, então Rosalie apenas encostou a cabeça no vidro da janela e começou a chorar. Algumas vezes o motorista olhou pelo retrovisor e a via chorar, mas seus anos de trabalho lhe ensinaram a não se meter nesse tipo de coisa. Era só mais uma cliente, uma cliente logo iria embora, lhe daria o dinheiro e nunca mais o veria. Afinal, era Viena, uma das principais capitais da Europa, quantos taxistas haviam ali? Um milhão?

Uma tarde se passou e o preço pela carona fora pago. Rosalie estava agora parada, em frente a uma casa antiga, na zona rural da cidade. Ela tinha somente um andar, e na velha varanda com uma madeira já desgastada, havia uma cadeira de balanço, onde uma senhora já com cabelos brancos, tricotava uma casaquinho de bebê.

- Vovó?

A velha olhou e sorriu para Rose, haviam poucos dentes em sua boca.

- Rose minha querida é você?

A loira largou sua mala e correu até a velha senhora, lhe abraçando com toda a força que podia.

- Eu senti saudades vovó! – ela disse chorando.

- Oh querida eu e ele sentimos também. Muitas saudades! Não é o dinheiro que você nos manda todo mês que queremos minha querida, é você!

Rose sorriu ainda com os olhos cheios de lágrimas e deu um beijo na testa de sua avó.

- Ele está indo?

- Está sim, brincando com o cachorro.

As duas entraram na casa e viram o garoto, de quase dois anos, olhar para as duas. Ele olhou para Rose alguns segundos, tentando lembrar de onde conhecia aquela mulher. Com uma rápida e furtiva olhada para um porta-retrato perto do sofá, sua cabeça lhe enviou a resposta. De fato, ele era tão esperto quanto o pai.

- Mamãe! – o menino gritou, largando o cachorro e correndo com passos trépidos até ela.

Rose se abaixou e abraçou-o. Faziam seis meses que ela não via seu filho e agora se assustara com a exorbitante semelhança entre ele e Emmet.

- Olá meu amor!