Equalize escrita por Anny Taisho


Capítulo 2
Maldito cor de rosa




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Cap. II – Maldito cor de rosa

Olivier estava sentada em seus aposentos olhando para um pequeno retângulo que estava jogado sobre a cama. Aquela coisinha estava atormentando-a desde que saiu do consultório médico. Passou todo o dia dentro da gaveta de sua escrivaninha esperando para ser usado.

Um teste de gravidez, Corine tinha suspeitado de estar grávida algum tempo atrás por isso ainda tinha um em suas coisas. A médica afirmou ser besteira, pelo conjunto da obra, não podia ser outra coisa. Mas Olivier era uma mulher que precisava de provas incontestáveis para certos assuntos.

Não podia estar grávida. Ela, logo ela grávida.... Balela. Tantas mulheres no mundo querendo um filho e ela que nunca se quer pensou no assunto não podia estar grávida. Seria injusto, muito injusto. E também... Quantas vezes se encontrou com o moreno quando esteve no Leste? Três ou quatro... Tudo bem que estava trocando de anticoncepcional na época, mas situações parecidas já haviam acontecido antes e nenhum acidente daquela magnitude aconteceu.

Era isso, não estava esperando um filho coisa nenhuma! E aquele exame provaria isso! A mulher levantou-se e foi para o banheiro a passos largos, não devia e por isso não tinha medo.

***

Cor-de-rosa.

Se tinha uma cor que Olivier nunca gostou era essa. A mãe a vestia dos pés a cabeça assim até aos dez anos de idade. E agora aquela notícia bombástica jogada em seu colo com aquela cor.

Por que o exame não ficou azul? Porque tinha de ter ficado daquela cor irritante? Por que a vida estava fazendo isso com ela? Uma criança estava dentro de seu útero? Uma criatura viva dentro do seu corpo?

O corpo da militar caiu sobre a cama desleixadamente e os olhos azuis passaram fitar o teto como se ali fosse encontrar a resposta para aquilo. Sua cabeça estava girando, seu pensamento completamente fora do foco... Não é como se algum dia Olivier tivesse pensado no assunto maternidade e decidido não ser mãe, ela simplesmente nunca pensou no assunto. Em nenhum momento de sua vida teve tempo ou foi colocada em uma situação que a fizesse pensar nisso.

Miles já tinha uma filha de quinze anos, por isso mesmo em tantos anos de relacionamento, apesar de nunca ter sido um relacionamento comum, o assunto nunca foi colocado em pauta. O moreno era bem ‘conservador’ por assim dizer, era o tipo de homem que casou cedo, quis filhos e é um bom pai. Algo não muito comum nos dias atuais.

Mas será que algum dia ele imaginou em ser pai de um filho deles? Ela não sabia se o namorado queria outros filhos, não que achasse que ele pudesse rejeitar a criança, mas Olivier tinha uma opinião sobre prole apesar de nunca ter pensado em tê-los ou não: filhos deveriam ser um ato planejado e desejado para que não fossem motivos de desentendimentos ou problemas.

- Meu Deus... – as pálpebras caíram e o peito arfou languidamente – O que vou fazer da minha vida agora?

Do lado de fora das paredes de Briggs uma grande tempestade de neve assolava a montanha de maneira mortífera para quem não conseguisse se proteger. O que era algo bom, isso era uma certeza de que não haveriam sustos, não havia como atacar com a natureza em estado de fúria.

Olivier levantou-se pesarosamente e caminhou até uma mesa que havia em seu aposento pessoal onde tinha deixado o livro que estava lendo atualmente. Não conseguia pensar mais naquele assunto, precisava digerir tudo antes de pensar no que faria. Céus, como se tomar decisões apenas por si já não fosse complicado!

Miles estava deitado em seu dormitório olhando para o teto. Depois de cinco anos no Leste, já havia se acostumado com o calor, mas naquela noite não estava conseguindo dormir muito bem. Tinha falado com Olivier a quatro dias e havia algo estranho na voz da loura... Parecia que ela tinha algo para falar, mas que suprimiu após ouvir que estava correndo um boato de ele receberia uma promoção após o término de sua missão em alguns meses

O prazo de sua missão na ajuda de reestruturação da Nova Ishival terminava em sete meses e apesar de ter recebido uma proposta de permanecer para compor a comissão permanente não pretendia ficar. Depois de oito anos tinham decido morar juntos quando voltasse, tanto que já tinha uma imobiliária na história. Se fosse apenas pelos dois não precisaria ter nada de especial. Mas como tinha que ser um lugar com jeito de casa mesmo devido a Dominique o assunto precisava ser tratado com mais cuidado, sem contar que num futuro não muito distante poderiam pensar em ter filhos.

Nunca tinha falado nada relacionado a isso com a companheira, o que não queria dizer que não havia pensado. Ela era mulher e por mais durona que fosse, certas coisas eram da natureza. E a essa altura do campeonato não poderiam adiar isso por mais que dois ou três anos devido a idade da Armstrong, não queria que ela corresse risco algum.

Mas o grande problema estava mesmo na impressão de que ela estava escondendo alguma coisa importante, não imaginava o que poderia ser, mas deveria ser importante.

O major levantou-se e parou diante da janela, Olivier não era de esconder nada, o que poderia estar acontecendo?

Duas semanas.

 Duas semanas foi o tempo que a Major General demorou para tomar uma decisão sobre sua nova situação. Estando grávida, ficar dentro da muralha era uma opção absurda, aquele não era o lugar para se estar vulnerável, um ataque era sempre esperado e nada poderia garantir a segurança de alguém que não estivesse em plenas condições, sem contar a facilidade de um aborto devido a estresse ou qualquer outra situação de nervosismo.

Não era seu desejo deixar seu castelo e não tinha medo que um afastamento pudesse colocar outro líder perante seus homens, sabia que era a mulher que respeitavam e que jamais a deporiam por um motivo tão fraco, mas praticamente toda sua vida estava dentro daquelas paredes. Era militar desde os dezessete anos, aos vinte já tinha alcançado a patente de coronel e foi colocada em Briggs, e em menos de três anos já era a Comandante da Muralha.

O seu mundo girava em torno da carreira militar, tudo o que pensava estava ligado a uma melhor maneira de comandar e defender aquelas terras inóspitas que poderiam ser o grande ponto fraco de todo território caso não fossem bem defendidas. E agora teria de parar por um tempo longo, afinal, mesmo depois do parto, não poderia voltar para muralha e ficar quatro, cinco ou seis meses sem voltar para casa.

É claro que sempre poderia tomar decisões, fazer e assinar relatórios do quartel do Norte ou mesmo de casa, mas não gostava de se imaginar como uma comandante que apenas observa e manda. Olivier Mila Armstrong não era esse tipo de general, não observava o campo de batalha, participava do campo de batalha.

Apesar de serem tempos de paz, a mulher sabia que tudo isso era muito subjetivo depois de mais de dois séculos de guerras. Muito sangue já havia sido derramado, sangue amestrino e sangue drachmaniano, muitos rancores nasceram. Povos que num passado distante coexistiam, hoje se odiavam. Tolos aqueles que acreditavam em uma paz no sentido literal da palavra, aquilo não passava de uma paz armada onde uma tênue linha evitava confrontos abertos. Qualquer um que não tivesse experiência em campos de batalha poderia colocar tudo a perder em uma fração de segundo.

E ainda tinha mais, como se tudo isso não bastasse, sua patente a colocava em uma posição pública assim como seu sobrenome. Não podia sair alegando abertamente uma gestação, seria um escândalo sem precedentes. A sociedade sabe muito bem como ser hipócrita e não era casada, Miles poderia ter sua conduta militar colocada em xeque e acusado por agitadores de ter feito sua carreira dormindo com um superior que ainda por cima vinha de família influente. E também não queria vincular o impecável nome de seu castelo a sua vida pessoal de maneira maculá-lo.

Miles... O homem que nem se quer sonhava que teria um filho e que estava trabalhando do outro lado do país. Nem se quer tinha digerido a notícia e já tinha que passá-la para frente. O Major estava prestes a receber uma promoção devido ao excelente e impecável trabalho que realizou e pelo que conhecia de sua conduta sabia que a primeira coisa que faria ao saber era pedir dispensa para voltar ao Norte de maneira que quem assumisse sua função pudesse receber todos os louros de um trabalho que não lhe pertencia.

E Olivier sabia o quanto Miles estava satisfeito em estar ajudando a re-erguer a terra de seus avós que lhe deram o tom de pele e os olhos carmesim. O moreno sempre sentiu-se muito culpado de ter escapado das perseguições devido a sua posição como seu suporte. Porque querendo ou não admitir, o nome e influência de Olivier o livrou de maus lençóis. O homem se sentia redimindo uma falta do passado, algo importante demais para ela não relevar.

Uma batida na porta seguido da entrada do Capitão Smith, o homem que nos últimos cinco anos passou a desempenhar o papel antes desempenhado por seus dois suportes. Um homem de confiança que durante toda aquela confusão de cinco anos atrás se provou de índole incontestável. Alguém em quem podia confiar para levar a situação em Briggs durante sua ausência.

O homem de cabelos negros com leves rajadas alaranjadas bateu continência e depois de um sinal sentou-se na cadeira diante da General.

- Aconteceu alguma coisa, General?

- Smith, durante os últimos anos você tem se mostrado um militar exemplar, alguém em quem posso confiar. Estou certa?

- Sim, senhora. Estou aqui para servir a esse país e sou fiel ao meu comandante.

A Armstrong suspirou profundamente e se levantou arrastando o olhar masculino curioso.

- Alguns acontecimentos inesperados me forçarão a deixar Briggs por um tempo... Consideravelmente longo.

- Gene... – ele foi impedido de falar –

- Deixe-me terminar. – o homem assentiu com a cabeça, teria paciência e escutaria – Não é algo que eu possa ir contra, realmente não tenho opção. Mesmo a distância tentarei manter voz ativa aqui dentro, apesar de repugnar generais que só ficam atrás de mesas. Resumindo, precisarei de alguém de minha maior confiança aqui dentro para manter a ordem e organização.

- Eu... Eu fico lisonjeado de a senhora estar depositando uma confiança tão grande em mim, mas não compreendo um motivo que pudesse afastá-la de Briggs, desculpe a insolência.

- São motivos de saúde, vamos colocar assim. – a comandante voltou a sentar-se – Então, está disposto a aceitar a responsabilidade de cuidar das coisas por mim e se reportar a mim mesmo a distância?

- Eu aceito a missão, não precisa se preocupar com nada além de se recuperar para voltar a Briggs, General.

- Muito bem, espero não me arrepender de minha escolha.

- Não vai. – a voz do militar era decidida – Mas quando a senhora vai sair? Já pensou em como vai falar com os soldados?

- Farei um comunicado formal assim que tiver a resposta do quartel da central, sair assim de Brigss necessita de certas formalidades.

- Entendo. Eu não sei o que está acontecendo, mas sei que tudo vai se resolver e a senhora vai voltar.

- Eu nunca pensei em não voltar. “Como também nunca pensei em sair para ter um filho!” – completou em pensamento –

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Foi um reboliço e tanto em Briggs após o anúncio oficial do afastamento da General Armstrong, nenhum dos soldados conseguia compreender o que estava acontecendo. O comunicado não foi claro com relação ao motivo e nada parecia grande o suficiente para afastá-la de seu castelo. Não fazia sentido, não tinha nexo, nada estava se encaixando. Tudo bem que as decisões importantes ainda seriam tomadas por ela, mas a muralha de briggs sem Olivier Armstrong não parecia existir. As duas figuras se completavam.

Todos concordavam que ela não estava os abandonando, mas diversos boatos começaram a correr. Tantos homens juntos podem ser infinitamente mais fofoqueiros do que qualquer grupo de mulheres bisbilhoteiras. Mas nenhuma hipótese absurda chegou aos ouvidos da pessoa referida, pois ela deixou o recinto na manhã seguinte ao comunicado.

Vato Fallman que estava com uma transferência marcada para dali quatro meses, iria para o Leste onde toda a equipe Mustang se reuniria para que fossem para Central depois, o velho Grumman iria se aposentar e a cadeira de Fuhrer passaria pra outro, nada oficial havia sido liberado, mas estava na cara que a cadeira pertencia a Roy. No entanto, alguns estudiosos alegavam que Olivier Milla Armstrong também era uma possibilidade, o que Fallman não acreditava, sabia de um acerto feito entre os dois. A general não tentaria mais a cadeira em troca de total autonomia nas decisões a serem tomadas em seu castelo e também, no final, a vida dela estava ligada aquele lugar e não a Central – caminhava pelos corredores.

Chegando ao refeitório foi até a mesa onde ficava os amigos que fizera. Aquele dia parecia, particularmente, mais frio que o comum. Talvez fosse a proximidade com o inverno. Sentou-se e começou a conversar. O assunto na mesa não podia ser outro: o comunicado.

- Cara, é tão estranho estar aqui sem a General... Tipo, a todo momento você a via caminhando pela muralha mantendo tudo exatamente do seu jeito. – o homem palitou os dentes – Não acha, Hensell?

- Realmente é muito incomum, ela está aqui há quinze anos e agora essa saída repentina... O que acha, Fallaman, você com essa memória assombrosa não lembra de nada que pode ser a causa? – o militar de óculos virou para o amigo –

- Não consigo pensar em nada... Tudo tem estado tão calmo... – Vato levou uma caneca de café aos lábios – Só se algo aconteceu quando eu estava na cidade com a minha família. Não sabem nada sobre a general ter se machucado e precisar fazer um tratamento?

- Iie, ela só saiu daqui de dentro desde que voltou do Leste uma vez e nada aconteceu. – alegou Joshua passando as mãos sobre os cabelos – Eu estava na tropa do treinamento, não aconteceu nada. Será que aquelas conversas que o pessoal anda falando tem fundamento...?

- Que história? – Indagou Fallaman –

- A de que ela pode ser indicada para a cadeira de Marechal, afinal, nossa rainha fez tanto quanto o herói de Ishival durante aquela guerra... Eu não ficaria surpreso se fosse verdade.

- Realmente, parece provável e eu já andei ouvindo uns boatos do tipo... – os homens viraram o olhar o subordinado de Mustang –

- E... Eu... Eu não sei de nada, mas na minha opinião, a general nos falaria se fosse algo desse tipo. Pareceu mais algo relacionado a doença, talvez ela esteja doente.

- Ela não parecia doente...

- Mas ela teve um imprevisto quando chegou do Leste quase três meses atrás... E essas coisas são super estranhas, pode ser alguma coisa ainda no começo...

- Eu acho isso muito mais plausível do que toda essa teoria de conspiração que vocês estão ai pensando. – Vato riu – De qualquer jeito, a única coisa que podemos fazer é desejar que se for doença, não seja nada grave e que ela volte logo. Como Briggs não parece Briggs sem a general Armstrong, é quase impossível pensar nela longe daqui.

- Com certeza... Principalmente agora que Buccaner Tai não está mais aqui e que o Major Miles está longe. Será que ele volta? Eu acho que não... Cinco anos lá para bandas do leste, aposto que vai ser promovido e receber um convite de permanecer na Nova Ishival.

- Um soldado da Muralha nunca deixa de ser um soldado da Muralha. Eu aposto que ele volta. Ele fez carreira aqui e é o braço direito da rainha.

- Sei lá... Por mais que ele tenha gratidão pela nossa rainha, uma promoção e um bom posto no leste parece muito mais atraente do que uma vida sempre alerta aqui nas montanhas. Principalmente depois de cinco anos por lá... Aposto até que ele já deve ter um enrosco por lá. Veja só o exemplo do nosso amigo aqui... – bateu nas costas de Fallman amigavelmente – Mas e sua mulher, não falou nada sobre vocês se mudarem?

- Iie, a Julia é um anjo. Sabe que por mais que eu goste daqui, eu já era da equipe do General Mustang. Sem contar que estando lá passarei mais tempo com ela e com as crianças.

- É verdade que ele está de casamento marcado com a tenente dele, a “olhos de falcão”?

- Hai... – o homem riu – A capitã o encoleirou de jeito! Vão casar agora, pouco antes do natal.

- Saíram algumas biografias da vida deles nos últimos anos, parece que os dois têm uma história e tanto.

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Olivier estava sentada em um café olhando para a rua movimentada do centro da cidade, tinha ido ver um apartamento, ela e Miles tinham decido no Leste três meses antes que quando ele voltasse morariam juntos. E para isso era necessário um apartamento maior, afinal, Dominique viria todos final de ano e também tinha o bebê...

Havia gostado de todos os três que olhara, mas escolher sozinha um lugar que seria deles como um casal era muito difícil. Estava procurando por algo sóbrio, de três quartos pelo menos, uma cozinha fácil de equipar – nada daqueles cubículos que mal cabem os móveis, uma sala razoavelmente grande, quem sabe uma varanda, dois banheiros, em um lugar nem muito perto do centro da cidade, mas não em um bairro somente residencial – não queria ficar isolada do mundo com uma adolescente dentro de casa.

O último que olhara pareceu se encaixar mais, todos os cômodos eram bem amplos e ao mesmo tempo aconchegantes por assim dizer, bem localizado, um preço que valia a pena, não precisaria de reformas e tinha uma boa estrutura para crianças... Esse detalhe algum tempo atrás não faria diferença.

A Armstrong passou a mão pelos cabelos louros, ainda estava se acostumando com a idéia e não tinha contado para ninguém. Nancy estava olhando-a de maneira desconfiada desde que chegou ao apartamento para ficar indeterminadamente, maneira como se pronunciou. Sabia que não poderia esconder mais por muito tempo, pelas suas contas estava com três meses ou um pouquinho mais... Dali um mês provavelmente teria uma barriguinha saliente.

E seu físico bem definido devido a carreira militar daria lugar a um delicado físico de mulher gestante. Pelo que lembrava da mãe grávida das irmãs(ão) não achava ficaria muito grande, só que isso era o de menos, afinal, comendo bem, fazendo exercícios regulares e fazendo as consultas médicas não havia com o que se preocupar.

Tinha que escolher um obstetra e se tinha uma coisa que a irritava mais do que médicos conhecidos era médicos desconhecidos. Falaria com seu médico pessoal, Kennedy, ele deveria ter algum colega de confiança.

Levou a xícara com café aos lábios e suspirou, como aquilo podia estar acontecendo? Não era justo, não era esperado, não era racional, não era nada com que quisesse ou tivesse habilidade para lidar. Não tinha arrancado os cabelos ainda porque era uma mulher muito centrada e racional. Caso contrário já teria pirado.

Uma mulher que aparentava ter a mesma idade que a sua ou pouco menos passou do lado de fora da cafeteria empurrando um carrinho de bebê azul prendendo a atenção da futura mamãe. A moça parou por alguns segundos aparentemente para dar uma olhadinha na pessoinha que estava agitada dentro do carrinho. Eram gestos tão naturais, a moça parecia que fazia aquilo sempre – o que mesmo se tratando de um segundo filho – soava tão estranho aos olhos azuis da Armstrong. Será que estava preparada? Será que conseguiria ser tão natural? Será que tinha o tão falado instinto materno?

Não podia dizer que não brincou de bonecas, mas suas brincadeiras quase sempre terminavam com um ataque de um Godzila ou qualquer outro monstro onde tinha que comandar tropas para vencê-los. Ou seja, sua vocação militar vinha desde a mais remota infância. Não achava tão divertido dar mamadeira, trocar fraldas, roupinhas, fazer chazinhos... Todas essas coisas no diminutivo a irritavam. Era tão desligada que as bonecas mais caras nunca saíram da caixa e estavam guardadas na mansão na Central. Não tinha coragem de destruí-las como fazia com as outras durante os ataques dos monstros.

O celular tocando tirou Olivier de seus devaneios, a mulher levou a mão a bolsa pendurada na cadeira. O visor indicava Miles e para o moreno estar ligando assim no meio do dia enquanto acha que ela está em Briggs, deveria ser uma coisa importante.

[- Mochi mochi. – Olivier levou a xícara aos lados enquanto esperava a resposta –

- Olivier? Pode falar?

[- Posso, algum problema?

- Nada demais, só queria conversar um pouco. As coisas estão bem calmas por aqui, tive uma reunião a pouco com Scar.

[- Por aqui também está tudo calmo, acho que Briggs nunca conheceu tempos tão pacíficos, mas você sabe que rancores antigos não se curam tão facilmente. Não vamos baixar a guarda. – a mulher recruzou as pernas e passou a mirar a rua enquanto falava –

- Sabe, eu sinto falta da rotina do norte... As coisas aqui são bem mais calmas e menos rígidas, mas não consigo me acostumar, me sinto meio fora do meu habitat.

[- Cuidado, se fosse ficar mole como o Mustang não vai poder voltar. – um sorriso maroto brotou nos lábios rosados –

- Não se preocupe, não corro esse risco. A Dominique pediu que mandasse um ‘alô’, ela gostou mesmo do colar que você deu.

[- Eu imaginava que ela fosse gostar, não é exatamente difícil agradar uma adolescente vaidosa. Nancy está olhando alguns apartamentos por nós, eu confio no bom gosto dela e você?

- Plenamente. Tenho certeza de que ela chegará a boas opções por nós... Acha que tudo estará arrumado até daqui seis meses? Dominique quer voltar comigo, nem que seja par passar uma semana apenas, ela fez algumas matérias extras nas férias por ter ficado de castigo...

- Imagino que sim, eu deixei claro que não quero ter que mexer com obras ou pequenos consertos. Mas você já conversou com ela sobre nossa última decisão?

- Claro, ela é a única pessoa a quem eu devo alguma satisfação e ela já é grandinha o suficiente para entender. Eu acho que teria problemas se escondesse dela... – Miles riu do outro lado da linha –

- Entendo...

Outra vez a xícara de porcelana chegou a boca feminina, mas desta vez o café não trouxe o prazer esperado. O gosto forte do café sem açúcar fez com que o estômago reclamasse e fizesse, do nada, com que a comida voltasse. Olivier simplesmente levantou-se largando o celular e correndo até a lata de lixo mais próxima, chamando a atenção de todos.

- Olivier? Olivier...? O que aconteceu?

O barulho ao redor fez com que moreno ficasse aturdido, o que tinha acontecido? Ele repetiu mais algumas vezes, mas chegou a conclusão de que talvez a ligação tivesse caído e que o melhor era refazer a ligação.

No café, após colocar tudo o que ingeriu no dia para fora e ser amparada por uma das garçonetes, a general foi ao toalete lavar o rosto e a boca. Céus que coisa comprometedora, ainda bem que não havia ninguém conhecido ali, seria bem embaraçoso ter que explicar o acontecido.

Voltou a mesa vendo que tudo já tinha se normalizado, seu sobretudo vermelho de botões pretos ainda estava sobre a cadeira, a bolsa tinha sido colocada sobre a mesa visto que havia sido derrubada no rompante de minutos atrás. Desdobrou as mangas brancas da blusa gola alta que usava e sentou-se vendo o celular que vibrava desconsoladamente.

Ainda sentia o gosto amargo na boca e a garganta arranhando, mas não podia deixar de atender o moreno.

[- Mochi mochi.

- um longo suspiro do outro lado da linha – Olivier, você me assustou! O que aconteceu ai? Por que demorou tanto para me atender de novo?

[- A ligação teve interferência, estou em Briggs, Thomas, o sinal pode falhar ocasionalmente.

- Me pareceu que seu celular caiu, achei que tivesse acontecido um ataque ou você passado mal...

[- Estou ótima, agora tenho que resolver algumas coisas aqui, depois nos falamos.

- Tudo bem, depois conversamos. Ja ne.

[- Ja ne.

Olivier colocou o celular de volta na bolsa e passou a mão sobre os cabelos loiros e suspirou. Maldito enjôo. Maldita saia justa. Não estava preparada para passar por esse tipo de coisa. Talvez além de um obstetra, precisasse de um psicólogo.

- Precisa de alguma coisa senhorita? Está melhor?

A Armstrong sorriu.

- Uma água com gás e a conta, por favor.

- Hai. Já trago.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Gente!!!! Amei os comentários que recebi e por isso agora estou muito mais confiante!!! Espero que gostem desse cap e me contem td o que acharam!@!!!!
Muitos kiss kiss



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