A admiração

Ela estava sentada na janela enquanto observava a chuva fina que caía aquela noite. A névoa causada pela chuva recente encobria a parte mais alta dos prédios e, também, os pensamentos de Tenten.

— “Provavelmente ele também está encoberto por essa névoa.”— pensou a garota de odangos castanho e olhos cor de chocolate.

Seus pensamentos estavam voltados para o rico empresário que habitava a cobertura do prédio onde morava. Hyuuga Neji. Herdeiro da maior montadora de carros de luxo do Japão. E muito bonito por sinal, pensou a jovem. Com pouco mais de trinta, anos ele exalava um ar de seriedade enquanto era envolvido por uma aura de mistério. Tendo longos cabelos cor de café e olhos perolados jamais vistos, Neji era sem dúvida um homem muito desejado pelas mulheres. Tenten não fugia a regra, apesar de ainda ser uma adolescente. Recém completara dezoito anos.

Tinha o visto naquele final de tarde. Chegaram juntos ao prédio. Tenten vestida de maneira simples – calça jeans, camiseta branca com a estampa da Janis Joplin e um tênis normal e sua mochila jogada nas costas – enquanto ele vestia um caríssimo terno da Armani de risca de giz. Estava acompanhado por uma belíssima loira de olhos azuis. A mulher estava vestida para matar. Vestido curto e vermelho colado no corpo e um batom vermelho que destacava seus lábios carnudos. Os cabelos loiros desciam como cascata por seus ombros. Ele a cumprimentou com um aceno de cabeça e apertou o botão referente ao andar que ficaria. Era sempre assim. Ela o admirando de longe enquanto ele não perdia uma oportunidade de sair com as mais belas mulheres de Tóquio. Tenten se contentava em apenas observar e se conformava com o fato de ser apenas admiradora.

Sempre fora apaixonada pelo empresário. Era um amor platônico, coisa de adolescente, que ela não sabia quando começara. Talvez sempre o amou. Não sabia dizer. Abandonou seus pensamentos na janela e foi dormir. Precisava acordar cedo.

— Boa noite pra você também, Neji.— desejou a garota.

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O som estridente do despertador invadiu o quarto em que Tenten dormia. Debaixo do edredom estendeu sua mão para desligá-lo. Queria dormir mais, porém tinha uma entrevista de estágio em uma editora e não podia se atrasar. Aspirante à escritora, queria começar causando uma boa impressão. Saiu da cama e foi tomar um café prá acordar. Vestiu-se, pegou suas coisas, despediu-se de sua empregada e saiu em direção ao elevador. Entrou apressada no elevador, com uma torrada ainda na boca, monte de papeis na mão e não percebeu que tinha mais alguém ali dentro. Depois de alguns segundos escutou um soluço. Olhou para trás e viu a loira estonteante da noite anterior. Estava com a maquiagem borrada, o vestido amassado e o rosto inchado de tanto chorar. Provavelmente Neji a dispensara. Exatamente como fazia com todas.

— Canalha.— Resmungou a mulher chorosa – Quem ele pensa que é prá fazer isso comigo.— dizia entre soluços e lágrimas – Eu nunca fui tão humilhada.

Tenten apenas a escutava sem falar nada. Não iria se intrometer. Não tinha nada a ver com isso. Saiu do elevador e foi para o estacionamento pegar seu carro. Já estava atrasada. E não podia estar. Antes que pudesse ligar a ignição do carro ela o viu. Neji andava em direção ao porsche prata que estava estacionado em frente ao seu carro. Vestido em um terno preto, segurando uma maleta e com seu andar firme, pegou suas chaves e desligou o alarme do carro. Sabia que o carro de Tenten estava estacionado em frente ao seu. Olhou em direção a ela e a cumprimentou com um breve aceno de cabeça, que foi prontamente retribuído pela morena. Ele entrou no carro com a altivez de um gato. Deu a partida e foi embora. Ela, como que hipnotizada, o observou dirigir seu carro até a saída do estacionamento. Quando por fim acordou do transe, lembrou-se que tinha um compromisso e se apressou em sair do estacionamento.

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O dia havia sido muito corrido. Chegou, não se sabe como, a tempo para a entrevista. Conseguira por fim o estágio e a partir do dia seguinte trabalharia na editora como digitadora. Capachinho de todos, pensou. Era pouco, mas o primeiro passo rumo ao topo tinha sido dado. Estava na cozinha pensando sobre o novo emprego. Teria que encaixar as aulas Estava se arrumando para deitar quando a imagem da mulher de vermelho passou pela sua cabeça. Ela devia estar apaixonada pelo Hyuuga. Ficou com pena. Será que ela não sabia que com Neji era sempre assim? Era apenas uma noite e fim. Para ele não existia o ‘nós’ no dia seguinte. Era sempre assim, sussurrou Tenten para si mesma. Deitou-se e fechou os olhos e tentou dormir. No entanto não conseguiu. Imaginava-se na pele daquela mulher. Mesmo que conseguisse ficar com Neji, ainda assim seria apenas mais uma conquista dele. Não havia amor, não havia paixão, nem compaixão. Nada. Apenas sexo. E nada mais. Era deprimente pensar assim. Era deprimente que a vida fosse assim. Enfim... O melhor era continuar levando sua vida e tentar esquecê-lo. Quem sabe assim não sofreria menos?

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Sol novamente iluminou o quarto da jovem. Antes que o despertador tocasse Tenten acordou. Sentou-se na cama e passou a observar seu quarto. Não era um quarto típico de adolescente, mas era assim que a morena gostava. As paredes eram pintadas num tom pêssego. Sua cama de casal ficava de baixo da janela. Toda vez que queria observar a cidade ajoelhava-se na cama e se debruçava na janela. Era ladeada por criados-mudo, e cada uma tinha um abajur pequeno e decorado com flores. Ao lado esquerdo da cama tinha duas portas, uma do banheiro e outra do pequeno closet. Na parede oposta da cama tinha uma escrivaninha com um laptop, e ao lado uma estante cheia de livros. Tenten era uma ávida leitora. Seu quarto era forrado por tapetes claros. As cortinas eram rendadas e nas paredes havia pequenos quadros com diferentes pinturas. A pintura que Tenten mais gostava era a de uma criança na praia. Ela estava agachada e brincava na areia. Na verdade a criança da pintura era ela quando tinha três anos. Seu pai a fotografara e sua mãe pintou a tela. Não raro passava horas olhando a tela. Apesar de a pintura conter apenas a criança, Tenten via toda a sua família ali. Por fim o despertador tocou. Levantou-se da cama e foi para o banheiro. Essa era a sua rotina.

Foi até a cozinha e tomou seu café, como fazia todos os dias. Arrumou-se e foi para o estacionamento do prédio. No caminho encontrou Neji. Sua pele, antes morena, ficou corada com a aproximação do Hyuuga.

— Bom dia.— desejou Neji.

— Bom dia.— respondeu timidamente.

— Akemi me contou que você está trabalhando.

— Ah! – Tenten ficou surpresa por ele puxar papo com ela. – Na verdade é um estágio em uma editora no centro.

— Hum. Você está estudando jornalismo, certo?

— É. Passei na Toudai. Estou gostando bastante do curso.

— Acredito que sim.

Assim que abriram as portas do elevador, Neji despediu-se de Tenten e foi para o estacionamento. A garota ainda o observou por algum tempo tentando conter a alegria de ter trocado algumas palavras com Neji. Ele era um empresário frio e um pouco arrogante, mas muito educado e, raramente, simpático. Ainda tentando se conter foi para o estacionamento e de lá para a editora. Hoje tinha muito trabalho prá fazer. Seria um dia cansativo.

Ao fim do dia, como de praxe, Tenten chegou ao seu apartamento, colocou um vestido de alças, rodado e cor lilás e decidiu ficar um tempo na piscina, enquanto observava a noite. Viu Neji adentrar o local acompanhado de uma linda garota. Desta vez morena. Mas também com um corpo escultural e um rebolado quase exagerado. Passaram por Tenten e Neji a cumprimentou educadamente e foi prontamente respondido. A morena apenas a olhou com desprezo. Seguiram para a cobertura do empresário, enquanto Tenten permanecia na piscina segurando as lágrimas. Já não era fácil ser apaixonada por um homem tão inatingível como Neji, ainda tinha que vê-lo com mulheres tão vulgares como aquela morena, que mostrou nitidamente o seu desprezo pela jovem. Ainda segurando as lágrimas subiu para o seu apartamento e achou que o melhor naquele momento era dormir. E assim o fez. E assim sempre o fazia. Não podia competir com aquelas garotas e não competiria. Não precisava e não queria. Se tivesse que ser vulgar e desprezível para conquistar Neji, então preferia ficar sozinha.