Já fazia seis anos, mas Ryan ainda vivia naquela casa. A casa de sua mãe. Ele já se formara, agora trabalhava como advogado num pequeno escritório, para um chefe gordo e barbudo, que mandava que ele fosse comprar sanduíches para depois devorá-los na sua frente sem nem sequer oferecer um pedaço.

O salário não era bom, as coisas pioravam. A única coisa que Ryan tinha era aquela casa. E muitas construtoras vinham oferecendo muito dinheiro por ela, para demolirem e construírem prédios no lugar, como fora feito com a casa de todos os seus vizinhos.

Ryan poderia ter vendido muito tempo atrás. O que o impedia não eram as memórias de sua mãe, ou de seu pai. Isso até machucava, se fosse por isso teria vendido a casa antes ainda. Não, não. O problema não era a mãe, nem o pai. O problema era a janela.

Não saia da cabeça dele que se, por algum motivo, Brendon não tivesse fechado a maldita passagem, ao demolir a casa ele fecharia. E ele não podia suportar a idéia. Afinal, para ele fazia seis anos. Mas para Brendon isso era o que? Quinze minutos?

E se ele tivesse mudado de idéia?

O negócio é que a esperança morre um dia, mesmo que ela seja a última. Já disse, os tempos eram difíceis. E Ryan tinha trabalhado muito para se convencer que tudo aquilo não passara de sonhos. E chega uma hora que o dinheiro se faz necessário.

Vendendo a casa e comprando um apartamento menor, ele poderia abrir seu próprio escritório, livrar-se do maldito chefe e começar a advogar de verdade. E chegou uma hora que nem a janela foi mais forte que essa idéia – ele assinou o contrato com uma construtora. Tivera duas semanas para deixar a casa.

Naquele dia, era seu penúltimo dia. Sua última noite. Estava tudo empacotado, o caminhão de mudanças chegaria pela manhã para levar as coisas para o apartamento de um amigo, onde ele ficaria por um tempo, até achar um lugar para ficar. Toda a sua vida estava encaixotada, e era sua última noite na casa onde a vivera.

Certificou-se de que estava tudo pronto, foi à cozinha e pegou uma caneca de café que fizera mais cedo, antes de desmontar tudo. Já estava gelado, não se importou. Havia deixado um colchão na sala para passar a última noite, uma vez que a cama e os outros móveis já estavam desmontados. Aconchegou-se entre as cobertas, tomou um gole do café frio e olhou triste para a janela.

Se você vai mudar de idéia, Brendon, essa é a hora, pensou. Nada aconteceu. Deu nos ombros, terminou seu café e deitou-se em meio às cobertas.

Algumas horas depois, algo o acordou. Havia uma luz vinda da janela.

- Impossível – sussurrou, sentando-se na cama, os olhos doendo pelo contato repentino com a luz.