Signatum escrita por MilaBravomila


Capítulo 48
Capítulo 47 - O fim ou o princípio?


Notas iniciais do capítulo

Gente, último - na verdade, penúltimo pq ainda tem o epílogo !!!!!
Espero que gostem e espero reviews com suas opiniões sobre o desfecho de Signatum!! E me desculpem pela demora, mas estive um pouco doente... além disso, queria fazer um final legal pra essa fic que criei com tanto carinho.
Boa leitura!



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O momento havia chegado. O vento frio congelava os ossos, o odor a nossa volta ainda era forte, pútrido e deixava agora um sabor amargo na boca. Era o sabor da derrota. Lúcifer e Harper estavam diante do Livro da vida, Jules estava desacordado após ter sofrido o ataque demoníaco, Lucius saboreava o momento de glória ao lado de seu pai e os Arcanjos estavam simplesmente entregues, todos eles.

Uriel abraçava Lilith apertado, como se fosse o último momento que teriam, Rafael, sempre tão seguro e confiante, estava estarrecido, com sua Gladius abaixada; Gabriel já não exibia a flamejante e imponente arma nas mãos e pela primeira vez, vi algo em seu olhar que ía além da ironia... tinha um ‘quê’ de arrependimento e medo.

Eu abracei o frágil corpo de Miguel, ajoelhada ao seu lado, e senti tantas coisas que não poderia descrever todas ao mesmo tempo. Jamais imaginei nada disso, jamais essa possibilidade me passou pela cabeça. Desde que escolhi vir até eles, tudo havia mudado, eu havia mudado. Tudo era tão injusto, tão errado. Por que o Pai permitiria um fim como esse? Isso não estava certo.

Senti por um instante o abatimento, a desilusão.

- Eu te amo.

A voz mansa do meu Arcanjo soou tranquila em meus ouvidos. Olhei para baixo e meu olhar cruzou com o seu. Ele ainda estava ali, derrotado, entregue, mas estava ali comigo. Eu senti algo cintilando no fundo de seus olhos verdes, mas estava tão opaco que foi difícil de ver... mas eu vi. Ele me amava.

Naquele momento, uma fagulha se acendeu dentro de mim. Aquela frase simples foi mais poderosa que qualquer outra coisa que pudesse acontecer, foi mais importante do que qualquer outra coisa que ele pudesse me dizer. Eu senti como se fosse uma despedida, como se Miguel quisesse se desculpar e dizer aquilo que ele sentia, mas foi exatamente isso que me despertou. No fim de tudo, o amor dele estava lá, resistente ao tempo, resistente às provações. Mesmo tendo se entregado ao inimigo, o amor dele por mim era exatamente o mesmo.

Foi isso o que me resgatou, o que me trouxe de volta. Eu não queria perde-lo, não queria que Lilith e Uriel se separassem, não queria que Jules e Harper sofressem... eu não queria, eu não deixaria isso acontecer porque simplesmente, o amor não podia morrer. Esse sentimento jamais deixaria de existir. E era por ele que eu lutaria até o fim.

- Miguel, eu te amo! – disse com a voz alta o suficiente para que ele ouvisse. Ao longe, Harper gritou.

- Te amo muito, mais que tudo no mundo... – continuei, virando o rosto dele para o meu e beijando seus lábios – Eu preciso que você lute comigo! As coisas não podem terminar assim!

O verde opaco e sem esperanças me encarava apático.

- Você não compreende, meu amor... fui eu que permiti tudo isso e agora que ele tem o Livro, nada mais pode ser feito.

- Não, você está errado! Eu preciso que você confie em mim, que lute comigo! Eu vou te tirar desse círculo e nós vamos lutar! Nada disso foi culpa sua Miguel, você não vê? Tudo isso foi planejado pelo Criador! Ele queria nos ensinar algo importante e nós não podemos nos render agora!

- Ensinar? Ensinar o que, Melanie? Ele está decepcionado comigo, está com vergonha do que fiz... eu estou.

Segurando firme seu rosto em minhas mãos, deixei as palavras saírem de mim e senti que não era apenas eu quem as dizia... simplesmente saiu.

- Talvez Ele queira nos ensinar a lutar pelo o que verdadeiramente importa. Não podemos deixar isso morrer.

Meu olhar transmitia a ele todo o calor do meu amor. Eu queria que ele visse o que estava tão claro pra mim.

- Me ajuda a salvar os homens, me ajuda a salvar o amor.

Ele me encarava de perto, os olhos verdes agora brilhavam em raios dourados. Era só disso o que nós precisávamos... de um mínimo de esperança...

- Como você espera que eu te ajude, se a culpa disso tudo é minha?

Ele ainda me encarava surpreso com minha atitude, com minhas palavras. Mais uma vez, o que eu respondi veio de um lugar além de mim mesma:

- Você agiu com o coração e não há nada errado nisso... as consequências de sua escolha levaram a um caminho mais difícil, mas são com as dificuldade do caminho que crescemos. Você não é diferente de nenhum de nós, Miguel, e agora, tem a chance de se redimir e de lutar pelo o que é certo, pelo o que deve continuar vivo.

Ele refletiu por alguns segundos, e o segundo grito de Harper o fez despertar.

- Estou preso aqui, não posso sair, e mesmo que saia, minha Gladius não me responde mais, não depois que eu liberei o Livro Sagrado... como posso enfrentar Lucius e Lúcifer assim?

- Você não precisa enfrenta-los... Só quem pode escrever no Livro é Harper e é ela a única que pode nos salvar, você só precisa ajuda-la.

- Ajudá-la? – ele me perguntou pensativo.

- Mostre a verdade e ela saberá o que fazer.

Dizendo isso eu me soltei dele e corri para alguns metros de distância, onde jazia a reluzente Gladius dourada. Eu sabia que poderia manejá-la, rezava por isso.

Com esforço, segurei o pesado objeto e corri de volta para perto de Miguel.

- O que você está fazendo? Ela não me responde mais! – ele disse encarando sua sempre fiel espada.

- Não é pra você... é pra mim. – dizendo isso, fiz um corte profundo em minhas mãos. Sua lâmina cortou a carne como se fosse água.

O sangue escorreu vivo e intenso pelo chão, sobre o qual me ajoelhei. Com ambas as mãos sobre o círculo que prendia meu Arcanjo, eu pedi:

- Pelos poderes contidos em meu sangue alfa e com o direito concedido a mim pelo Criador, eu exijo a libertação de Miguel!

 Um vento quente surgiu no círculo e minhas mãos ficaram presas ao chão. Tudo foi muito rápido. Senti minhas energias sendo drenadas para a terra de uma forma avassaladora, ao mesmo tempo, vi que Miguel conseguia sair aos poucos do selo que o aprisionava.

- Vai! – gritei em sua direção, encarando seus olhos agora completamente dourados pela ânsia de redenção.

Ele não hesitou, não voltou para me ajudar. Ele sabia que aquela era a chance que ele tinha, sabia que nossa luta era por algo bem maior que minha vida simplesmente.

Vi suas asas brancas se materializarem nas costas e consegui sorrir com a visão. Ele tinha conseguido a coragem que precisava para nos salvar, para lutar por todos nós. Ele era, mais uma vez, o Arcanjo Guerreiro.

...

Meu corpo pulsava com o calor da alma de Melanie. Meu peito ainda ardia com os pecados que cometi, mas agora eu tinha um propósito, o propósito que nunca devia ter sido esquecido e que ela me fez relembrar. Eu lutaria por ela, lutaria pelos humanos e lutaria para manter vivo esse sentimento. Nem que minha própria existência fosse condenada, o amor resistiria.

Materializei minhas asas, já sabia o que fazer. No instante que fui liberto do selo, Lucius correu em minha direção, finalmente desviando sua atenção do Livro Sagrado. Ele veio até mim, mas eu estava determinado demais, nada me pararia, nem mesmo Lucius.

Com uma esquiva perfeita, desviei de seu ataque e o atingi no estômago com força suficiente para parti-lo em dois. Lucius dobrou o corpo, urrando de dor. A presença de seu pai o alimentava nesse plano, mas o golpe me daria o tempo necessário para avançar.

Nesse momento, Lúcifer me encarou e viu minha aproximação. Eu estava determinado, mas ele também estava. Nunca ele tinha estado tão perto da vitória.

- NUNCA! – Lúcifer berrou em minha direção ao mesmo tempo em que seu corpo era envolto em uma fumaça negra e asquerosa.

Ele foi mais rápido que eu e seu corpo se transmutou rapidamente, sendo capaz de assumir sua forma verdadeira e muito mais poderosa.

As asas cresceram, o corpo se assemelhava a um dragão, com rosto desfigurado. Dentes pontiagudos e podres arranhavam a própria língua negra, de tão afiados. Quatro chifres enormes partiam do crânio, um par curvado para trás e outro para frente. Os braços eram como carne podre, corroídos pelo enxofre, mas que tinham uma força colossal.

Ouvi mais um grito estridente de Harper; era o rabo da criatura que a envolvia e pressionava a cintura. Ele queria que ela escrevesse sua vitória definitiva no Livro e faria o que fosse preciso pra tal.

Consegui alcança-lo, e o demônio berrou. Mesmo assim, consegui atingi-lo na face com força. A criatura voltou-se contra mim e, nessa hora, senti Lucius se aproximar. Eu tinha que fazer algo, não conseguiria enfrentar os dois.

- MORRA MIGUEL!

O grito de Lucius varreu o quarteirão. Virei no momento exato do impacto. Contraí os músculos na hora certa. Ele disparou uma sequencia de golpes furiosos contra mim e eu os bloqueava agilmente, até que senti uma das garras de Lúcifer cortar minhas costas.

- AAHH!! – gritei, enquanto senti meu sangue escorrer violentamente da feria exposta.

Mesmo ferido, consegui revidar os golpes de Lucius e o distanciei. Nessa hora, senti o deslocamento do vento atrás. Era a segunda investida de Lúcifer e se me acertasse como na primeira, seria quase fatal; eu perderia a luta. Então, ouvi o urro de dor que veio da criatura.

Três lâminas brilhantes estavam fincadas no corpo grotesco. Eram as três Gladius dos meus irmãos, que, mesmo de longe, ainda acertaram Lúcifer com severidade.

Sangue negro caia dos pontos onde as espadas foram fincadas na couraça podre. A espada de Gabriel lhe perfurou o pescoço e as de Rafael e Uriel estavam próximas ao coração, bem no centro.

Lúcifer cambaleou e eu vi minha chance. Saltei em direção a Harper e me concentrei. Eu só teria uma chance, um segundo para que ela visse o que precisava ver. No momento que Lúcifer levantou os enormes braços para arrancar a Gladius do pescoço, passei por ele e estiquei o braço; Com a ponta do dedo, encostei na pele fria e sensível de Harper e passei a ela tudo o que sabia, tudo o que um dia, Lúcifer havia sido.

...

Então ele revelou seu verdadeiro eu. Era terrível. A maldade e a força que emanavam dele esmagavam meus pulmões e sua cauda feroz me apertava a cintura tão forte que gritei.

O ar me faltava e ouvia sua voz insistente em minha mente dizendo as coisas que eu deveria escrever no livro. Com a ponta do rabo que terminava em um ferrão, ele fez vários cortes em minha carne e sua voz, que inundava minha cabeça, gritava coisas horríveis que faria a todos, especialmente a Jules.

Eu não sabia o que fazer, estava desesperada. No último pingo de força e esperança que me restaram, eu pedi a Deus, cuja existência sempre me foi indiferente e sem valor, para que me ajudasse... eu não queria ter o fim do mundo em minhas costas.

Então aconteceu. Lúcifer berrou na direção oposta a minha e quando percebi, Miguel havia ressurgido das cinzas e voava com suas asas incríveis e olhos dourados brilhantes na direção da besta. Será que ele tentava me salvar?

Com dificuldade, vi o local onde ele estava antes. Vi Melanie ajoelhada em uma enorme poça de sangue. Ela olhava Miguel e sorria fracamente, estava feliz, orgulhosa.

O guerreiro veio com tudo pra cima de Lúcifer e quase foi emboscado por Lucius, mas conseguiu se defender. Então o demônio tentou ataca-lo por trás, aproveitando-se que Miguel estava duelando com o filho. Vi apenas três reflexos dourados passarem por mim e Lúcifer urrou de dor. As Gladius dos Arcanjos salvaram Miguel, cravando-se na carne podre do Diabo.

Foi o tempo que Miguel precisava para me alcançar. Mas ele não veio me salvar. Pensei que ele tentaria me tirar das garras de Lúcifer, mas, ao invés disso, senti seu toque em minha pele. Com ele, veio uma enxurrada de imagens, sons e cores.

Tudo parou. O tempo, não corria mais normalmente. Tudo estava suspenso no espaço-tempo enquanto eu via aquelas cenas de Eras antigas. Eu vi os Arcanjos, quando havia apenas eles no Céu. Mas não eram quatros, eram cinco. Havia um Arcanjo que eu não conhecia. Todos eles sorriam juntos e aprendiam uns com os outros a controlar seus dons.

Reconheci cada rosto, menos o do quinto Arcanjo, que, até então, não tinha conseguido ver... até que ele se virou. Era Lúcifer. Céus, como podia ser?

Então tudo passou rápido, como uma fita que é avançada. Vi Lúcifer liderando um grupo de anjos contra seus próprios irmãos, que foram pegos de surpresa. Eles estavam lá, todos os príncipes do Inferno que lutaram há pouco contra nós. Eles estavam com Lúcifer.

A guerra foi sangrenta, mas os Arcanjos venceram. Então um grande rasgo na Terra se fez e todos os rebeldes foram expurgados para o abismo, o Submundo, incluindo Lúcifer.

Nessa hora, vi seu corpo se dividir, como se um outro Lúcifer saísse de dentro do primeiro. A imagem que saiu dele era luz pura. Senti tanto amor daquela criatura, que chorei. Essa energia maravilhosa encarou seu reflexo, seu igual, antes dele cair no Inferno.

“Eu sou parte de você, Lúcifer, e estarei ao lado do Pai esperando pelo dia em que nos reuniremos novamente. Somos um só.”

O espírito subiu cada vez mais alto após proferir as palavras, enquanto seu outro eu caia cada vez mais fundo no abismo infernal, onde reinaria por Eras.

Então, tudo foi voltando, lentamente. A realidade, o espaço, o tempo. As coisas ao meu redor começaram a se mover lentamente, voltando ao seu estado natural. Miguel ainda estava com o braço esticado, havendo acabado de tocar minha pele; Lúcifer, o demônio, estava com a mão próxima à espada de Gabriel cravada em seu pescoço.

Mas eu podia sentir o meu rosto quente, mesmo com toda a dormência em meu corpo, mesmo com toda a dor. O calor vinha das lágrimas que soltei ao ver a imagem imaculada do amor puro que saiu de Lúcifer, o quinto Arcanjo. E eu simplesmente soube o que teria que fazer.

Levei o dedo indicador até a umidade que escorria em meu rosto e surpreendi-me em como minha lágrima brilhava. Estiquei o braço até alcançar o Livro Sagrado e, com dificuldade, escrevi a história.

“Então, o Quinto Arcanjo voltou a ser um só.”


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Notas finais do capítulo

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