-Ah, nem acredito que passei o mês inteiro nesse porcaria e agora tenho que voltar para ter aula. –Resmungou Kelly, se jogando contra a cadeira e colocando a cabeça sobre a mesa, deixando os braços dependurados.

-Qual é, você não foi a única que passou as férias aqui! E pior que isso, eu tive que passar as férias inteiras olhando pra sua cara! –Resmungou Meggie com o queixo apoiado na mão esquerda.

-Melhor agüentar minha cara do que a sua. –Bufou Kelly.

-Elas são realmente amigas? –Perguntou Rafe, deixando transparecer a atmosfera de vergonha alheia que o cercava.

-Bem, sim, mas as vezes, até eu duvido. –Disse, rindo envergonhada e coçando a cabeça.

-Bom dia pessoal! –Disse uma voz calma e conhecida entrando lentamente pela porta. Drew. Eu suspirei por dentro e o olhei um pouco. Franja meio bagunçada, gravata ajeitadinha, camisa arrumadinha, perfeito!

-Ah, vou te agarrar gostoso! –Berrei, um tanto inconsciente. Logo, Kelly e Meggie levantaram a cabeça e me ficaram intrigadas e Rafe me olhava da mesma maneira. Drew parecia assustado. Eu fiquei branca como papel, mas depois, corei parecendo um pimentão. Pense, pense, pense imbecil! De repente, tive uma idéia que soou como minha salvação. –Ah, eu estou falando do Danny, o vocalista e guitarrista do Mcfly. Ele é tão lindo que eu acabo soltando essas besteiras, hehe! –Era a desculpa perfeita.

Mostrei uma foto que tinha colocado ontem na contracapa do caderno e era do Danny com a camisa levantada e cara de sedutor enquanto jogava futebol. Todos caíram perfeitamente, até Kelly, que sempre foi a mais ligada nas merdas que eu falo.

-Pelo menos você tem bom gosto para homens, ao contrário da Meggie. –Kelly provocou e olhou para Meggie com um olhar do tipo “eu sei que você gosta do Ray”. Meggie empalideceu e depois corou forte.

-N-Não sei que porra é essa que você está falando? –Retrucou e olhou pela janela. Ela tentava disfarçar, mas percebi que ela olhava para Rafe pelo canto do olho.

-Tem razão, tem razão, eu não sei de nada. Mas aposto de Ra...

-CALE A BOCA! –Disse Meggie, esmurrando Kelly com tanta força que ela bateu no teto e caiu aos meus pés. Vergonhoso, mas cômico.

-Ai... Acho que perdi alguns dentes. –Gemeu Kelly e babava aos meus pés.

-Ora, pare de babar no meu tênis e chega com esse drama! Ei, Kelly... AAAH, MEGGIE, O QUE VOCÊ FEZ, VOCÊ A MATOOOU! –Gritei e agarrei Meggie pelos ombros e a chacoalhei com violência. Realmente, eu sentia que éramos figuras bizarras, mas era divertido, garanto.

-Elas são do Primário... –Resmungou Rafe com tom de constrangimento. Pelo canto do olho, pude ver que Drew dava um sorriso sereno e estava perto de rir. Lindo demais!

-Bom dia classe, é um prazer revê-los depois dessas férias tão boas. –Disse Professor Carvalho, entrando na sala e dizendo isso de “prazer em revê-los” com um tom que pareceu ironia. Mas, nada de discussões, sente-se e cale-se, pensei.

Fui até meu lugar, na parede, primeira carteira, perto de Meggie e Kelly, porém, eu sempre evitava conversar, elas eram como pirralhas barulhentas, não podiam ficar quietas nem um pouco ou então sussurrar. As horas, tediosas horas foram se passando. É, realmente, as férias foram ótimas, pena que tiveram que acabar. Olhei para minha unha colada. Ela parecia engraçada, mas nem me importava, meu orgulho não iria se ferir mesmo. Quando o sinal do intervalo tocou, senti um alívio, como se a sala me deixasse claustrofóbica. Dei uma respirada funda quando cheguei ao pátio e me sentei num banco embaixo de uma árvore, com Kelly e Meggie ao meu lado. Logo depois, quando comia meu lanche, senti uma aproximação. Drew se sentara ao meu lado e Rafe se sentou perto de Meggie. Ela se mexeu um pouco bruscamente e me cutucou, mas eu me mantive controlada, sabia que ficar histérica dá muita bandeira sobre seus sentimentos.

-Então pessoal, hoje temos que retomar os ensaios, ficamos quase uma semana sem ensaiar por causa da recuperação das duas cabeçudas aqui, é melhor retomarmos logo, senão, não teremos nada para apresentar. –Disse e dei uma cutucada na cabeça de ambas. Elas esfregaram o lugar onde cutuquei com um pouco de dor.

-Verdade, nós estávamos quase acabando de criar um ritmo novo além do ritmo de “Six Thousand Dollars”. É melhor nos apressarmos, a feira é dentro de um mês. –Disse Meggie ainda esfregando a cabeça.

-Sim. Bem, as salas, segundo uma reunião que tive no grêmio, serão dispostas normalmente, ou seja, nossa sala será a sala de apresentação do nosso projeto. E também, aqui no pátio será montado o palco. O pai da Brianna trabalha como costureiro e fará cortinas para a o Overated ficar atrás. A iluminação será parte do Ginásio e o Rafe será o responsável por trazer os instrumentos e equipamentos de áudio. Então, tudo organizado.

-Uau, vocês dois são eficiente hein? –Disse Kelly, dando um espreguiçada. Hábito velho dela, pensei.

-Não é eficiência, é costume, temos que ser sérios no grêmio e tomar as decisões de maneira rápida e correta para que tudo corra bem. Mas e então, está certo assim? –Perguntou Rafe.

-Sim. Bem, pelo meu ver, sim. Mas temporariamente não podemos dizer que a banda que vai tocar é...

-Ora, ora, anda passeando muito com a Senhorita May, não é mesmo, Senhor Drew. –Uma voz irritante se aproximou, me interrompendo. Para ser sincera, dou graças a Deus que não tenha terminado a frase.

-É, a May está ajudando no trabalho do Rafe com o áudio, não é mesmo? –Drew fez sinal para mim apenas com os olhos, como se dissesse para eu confirmar.

-Ah, sim. Meu pai entende de instrumentos e estou ajudando o Rafe, afinal, vejo que o encerramento desse ano será brilhante. –Disse tentando passar muita naturalidade. A cadela pareceu um pato afogado e caiu. Me olhou com aquele mesmo toque de arrogância, mas nem me importei. Dane-se!

-Entendi. Bem, poderia vir aqui um minuto, Senhor Drew? –Perguntou Brianna e agarrou o braço de Drew. Queria segurá-lo, mas era a atitude errada. Então, fiquei quieta remoendo a raiva.

-Brianna, eu estou ocupado, depois eu...

Não houve tempo para que Drew terminasse. Brianna se atirou sobre ele e o beijou. Arregalei os olhos. Kelly percebeu minha reação. Eu estava tonta.

-M-May, o-o que você tem? –Perguntou Kelly, me vendo levantar e cambalear um pouco.

-N-Nada. Só preciso de ar. Já volto. –E assim, andei calmamente como se não soubesse de nada e aquele beijo não importasse. Porém, logo, comecei a ir caminhando em passos cada vez mais rápidos, até que finalmente estava correndo. Correndo e chorando, correndo pra longe daquela vagabunda e do... Do Drew. Por quê? Por quê? O que eu fizera para merecer aquilo? E-Eu guardei a boca todos esses anos, eu nunca beijei o Brendan, eu nunca beijei ninguém, esperando por aquele beijo e, e... Tropecei. Minha unha colada voou longe e bati o rosto no chão. Não estava a fim de mais nada. Coloquei o rosto entre os braços e chorei, chorei, mas...

-May? –Disse uma voz que não estava a fim de ouvir tão cedo. Levantei o rosto e sentei encostada na parede do corredor. Ele se sentou ao meu lado. Pare, não quero isso! –O que você tem?

-N-Não é da sua conta! –Fui ríspida com ele pela primeira vez. Levantei e fiquei de costas para ele.

-É sim! Você ficou assim do nada, o que é?! –Ele retrucou e senti a respiração dele tocando meu ombro. –Me diz o que você tem, por favor!

-D-Drew... Por que não vai lá com a sua namorada?! –Bufei e olhei para ele com os olhos queimando de raiva mas cheios de lágrimas de dor.

-N-Namorada?! O que está dizendo?!

-Ah, quer dizer que uma garota te beija assim, do nada, sem nem ter algo com você?! Os homens não prestam mesmo hein?! E eu que... E eu que... –Pare, não fale besteira! Abaixei a cabeça e solucei forte e lágrimas caíram pelo meu queixo.

-Você... Fala logo, May! –Ele berrou. Eu já estava estourando e ele queria que eu dissesse mais o que? “Eu te amo, eu queria ter te beijado antes dela”. Poupe-me Senhor Drew. –Fala! –Ele berrou e me pegou pelo ombro e me deu uma chacoalhada leve.

-EU TE AMO SEU IDIOTA! –Berrei, já não suportando mais aquela dor. Ele estava estático e com os olhos tremendo de espanto. Eu mal podia vê-los, mas sabia que olhavam no fundo dos meus olhos mareados. –EU TE AMO, EU TE AMO! E-EU...EU NUNCA BEIJEI NENHUM GAROTO SONHANDO COM O DIA DE TE BEIJAR E VOCÊ... VOCÊ BEIJOU AQUELA VADIA DA BRIANNA! POR QUÊ?! POR QUÊ?

-M-May...

-Não, não precisa falar. –Dizendo isso, dei as costas para ele e dei alguns passos a frente para me distanciar dele. –Se quiser ficar com a Brianna, fique, é seu direito de amar e também...

-MAY!

-CALE A BOCA! NUNCA MAIS FALE COMIGO! Eu juro que só não saio da Overated porque amo muito cantar ao lado das minhas amigas e tenho muito respeito pelo Rafe, mas... Eu não sei como vou agüentar ficar perto de você sabendo que você beijou a Brianna.

-M-May... Pare de falar assim. A Brianna é louca, eu nunca tive nada com ele, eu sempre a rejeitei, me escuta!

-Chega Drew! Eu estou cansada. Me dê licença, vou ter que colar minha unha de novo. –Disse, me agachando e pegando o pedaço de unha quebrado. Eu dei passos fracos a diante e nem quis tentar ver o que acontecia pelo canto dos meus olhos. É melhor evitar ver, senão eu iria sentir mais dor e eu não estava muito a fim. Eu respirei fundo. É, sempre dizem que uma boa princesa tem que sofrer. Entrei no banheiro e sentei encostada na parede em frente à pia. Mas, por que as princesas no final conseguem seus príncipes e eu não? Talvez a resposta estivesse mais clara agora: Eu não era uma princesa e o Drew jamais foi meu príncipe. Parabéns palhaça! Contos de fadas não existem! Bem feito pra você!

Continua...