Minha Vida Antes... (annabeth) escrita por Marina Leal


Capítulo 2
Capítulo 2: GANHO UMA NOVA “MÃE”


Notas iniciais do capítulo

*Nota da autora: Espero que vocês entendam o que eu fiz aqui, pois eu precisava mostrar como a nova mulher do pai de Annabeth havia entrado na vida dela, me desculpem por passar o tempo muito depressa.



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No dia seguinte, agimos como se ele não tivesse me dito a verdade sobre minha mãe, e nos dias que se seguiram também não. Nossos dias continuaram no mesmo padrão de distanciamento que tínhamos antes de ele me contar minha história, eu diria até que ficamos ainda mais distantes que antes, o armário que guardava meu berço parecia que ia pular em cima de mim a qualquer momento, eu não me sentia segura em casa, e muito menos feliz.

Eu só notei que meu pai estava mais distante de mim que o normal dois meses depois, quando o peguei conversando no telefone com uma mulher, que eu nunca soube que ele conhecia, quando eu estava fazendo meu dever de casa (ele havia conseguido me matricular em outra escola, agora como eu não sabia) na sala de estar ouvi a voz baixa e tensa dele na cozinha.

“Não Margaret, não tem problema. Não se preocupe com ela, ela vai ficar bem eu tenho certeza disso.” Eu não podia ver a expressão de meu pai, mas pelo seu tom de voz eu sabia que ela que ele estava se referindo era eu, e isso me deixou triste. “Sim, então está tudo certo. Ok, te vejo ás sete.”

Voltei de mansinho para o corredor e pisei firme de volta para a cozinha para ele perceber que eu estava indo naquela direção e que pudesse se preparar para ir logo para o quarto dele, não importava muito, mas eu fazia o que eu podia para que ele não ficasse mais chateado comigo, bom, não comigo, mas com o que eu era.

“Oi pai.” Eu disse parecendo desinteressada no que ele estava fazendo, eu não era muito boa nisso no começo, mas estava melhorando.

“Oi Annabeth.” Ele disse sem realmente olhar pra mim, seus olhos estavam no telefone, e ele estava tenso, como sempre acontecia quando eu estava perto, ou quando ele tinha que falar comigo.

Esperei que ele fosse para o quarto dele (eu estava surpresa que ele ainda não tivesse ido), que era a reação dele sempre que me via no mesmo cômodo que ele, mas para minha surpresa ele não foi, em vez disso se virou para me olhar o tempo todo que eu bebi água e peguei o material pra fazer um sanduíche de pasta de amendoim e geléia como se tentasse me dizer alguma coisa.

Suspirei, eu estava ficando um pouco deprimida com aquela situação, de novo.

“Annabeth?” eu me encolhi, toda vez que meu pai falava comigo ou era reclamação por algo que eu fiz ou era reclamação por algo que eu não fiz, dependia da ocasião e do humor de meu pai.

“Sim, pai?” falei baixinho evitando olhar em seus olhos.

“Eu vou precisar sair mais tarde, uma reunião com uma pessoa importante, eu queria saber se está tudo bem pra você. Você ficará bem sozinha ou quer que eu chame uma babá?” ele não parecia verdadeiramente interessado na minha resposta ou que eu soubesse que ele ia sair e eu sabia disso, mas ele sempre agia cautelosamente perto de mim e agora eu entendia o motivo melhor do que antes, mesmo que eu não gostasse muito, eu não me sentia especial nem poderosa como muitos dos meus colegas estariam se sentindo, na verdade eu me sentia como a esquisita no meio de gente normal e meu pai parecia concordar com a minha avaliação de mim mesma.

Dei de ombros e tentei manter a expressão neutra enquanto tentava me livrar desses pensamentos embaraçosos.

“Não me importo em ficar sozinha.” Eu disse tentando esconder meu terror em ficar com uma babá e me virei para a geladeira para pegar mais pasta de amendoim. Ele ficou calado por algum tempo, me perguntei se ele estava pensando que talvez eu precisasse de uma babá.

“Tudo bem, você que sabe.” Ele finalmente respondeu e saiu da cozinha enquanto eu suspirava de alívio e dor e também e reprimia as lágrimas que começaram a se formar no canto dos meus olhos e me concentrei em terminar meu sanduíche.

*****

Quando chegou a hora de meu pai sair eu já havia terminado meu dever e alimentado o Black, e estava vendo televisão, quer dizer eu estava passeando pelos canais, não havia nada de interessante para assistir e eu não conseguia ficar quieta por muito tempo para ver um filme.

“Não vá dormir muito tarde.” Papai disse na porta da casa. “Espero voltar logo.”

Suspirei e não disse nada, ouvi a porta da frente bater e me encolhi. Tchau pai. Pensei.

“Será que o papai não entende que eu não pedi por isso?” Murmurei para mim mesma assim que ele estava a uma distancia segura de casa. Eu não queria culpá-lo, muito menos a minha mãe, eu sabia que ela me amava, mesmo que eu não soubesse como tinha essa certeza.

Um minuto depois de comentar isso ouvi uma batida na porta, não podia ser o meu pai, ele tinha a chave. Quem podia ser? Uma nova batida soou, dessa vez mais apressada e exigente do que antes. Não poderia ser uma babá, eu disse a ele que eu não precisava, mas quando foi que ele me escutou?

Abri a porta e reconheci minha vizinha menos favorita, ela adorava dar em cima do meu pai quando achava que eu não estava vendo, era engraçado... e nojento. Engraçado porque meu pai ficava vermelho e esbarrava nas coisas, e nojento porque ele tinha idade para ser o pai dela.

“Ah. Oi.” Falei tentando parecer amigável e falhando totalmente. “Algum problema Emy?”

“Não, é só que eu vi seu pai saindo e me perguntei se você gostaria de companhia.” Ela falou, mas não conseguiu me convencer, cruzei os braços e a encarei, eu não queria ser rude, mas ela conseguia me irritar muito facilmente, isso sem falar que eu não estava de muito bom humor. Ela não parecia saber que estava indo pelo caminho errado ao tentar conquistar a minha confiança para chegar ao meu pai, mas não era eu quem ia falar alguma coisa sobre esse assunto.

“Não” eu disse impedindo minha raiva de aparecer completamente na minha voz “posso me virar sozinha”.

“Tem certeza? Eu posso ficar se você precisar.” Ela disse, mas eu já estava fechando a porta.

“Tenho, obrigada” eu disse batendo a porta na sua expressão de choque.

Perdi a noção do tempo. Acho que dormi no sofá, mas quando acordei estava no meu quarto, com meu cobertor lilás estendido por cima de mim, olhei ao redor, talvez procurando por meu pai, mas foi em vão, ele não estava ali.

Me levantei e comecei a andar pela casa, era a parte do transtorno do déficit de atenção atacando com força, eu mais parecia um fantasma que uma pessoa enquanto andava pela sala de estar, mas tinha algo que parecia estar me chamando para o lado de fora da casa, foi por isso que eu me dirigi até a porta da cozinha, na verdade eu não sabia muito bem o que estava fazendo até que ouvi vozes fora da casa.

“Não podemos deixá-la viver.” Uma voz de mulher disse fazendo os pelos da minha nuca se arrepiar, era poderosa, e me assustou bastante.

“Mas nem sabemos com certeza se ela é um deles.” Outra voz de mulher respondeu, parecia nervosa. “E mesmo que ela seja, ainda não tem idade para nos causar problemas.”

“Você pode até ter razão, mas em breve ela terá e poderá vir atrás de nós.” A outra disse quase rosnando.

De repente um latido alto me fez pular e quase derrubar um vaso de porcelana no chão. Black latiu de novo, só que dessa vez ele parecia estar mais perto, pude ouvir seus rosnados furiosos em direção do que quer que fosse que estava no quintal de casa, eu só consegui imaginar duas opções para meu cachorro, ou melhor, três.

Primeira opção: Os monstros o atacariam (eu tinha absoluta certeza que eram monstros, nas poucas vezes que meu pai havia conversado comigo sobre eles, ele havia avisado que alguns poderiam vir atrás de mim, eu havia tido vários pesadelos depois disso, agora parecia que meus pesadelos tinham se tornado realidade).

Segunda: Os monstros iriam embora.

E Terceira: Eu sairia de casa e defenderia meu cachorro.

Devo dizer que eu preferia a opção número dois. Rezei para minha mãe e de repente o Black parou de latir, fiquei preocupada, mas depois o ouvi ganindo baixinho, eu reconheci aquele ganido, e era de frustração.

“Graças aos deuses” murmurei suspirando de alívio e indo para meu quarto, aquela conversa havia feito com que eu quase me esquecesse da verdadeira razão de eu ter ido até ali, então voltei a me dirigir à estante que guardava meu berço, devia haver alguma coisa para mim ali, minha mãe devia ter mandado algo para mim.

“Mãe, por favor” eu murmurei enquanto levava o berço pesado até meu quarto. Eu não sabia bem o que estava pedindo, mas eu queria ter algum tipo de conexão com ela, tê-la mais perto de mim. Talvez fosse loucura, mas não desisti de tentar.

Passei bastante tempo analisando cada aspecto do berço, até que não agüentei mais de sono e cansaço e fui dormir, mas antes escondi meu berço embaixo da cama, depois daria um jeito de colocá-lo de volta no armário.

Deitei-me na cama e dormi rapidamente.

*******

Na manhã seguinte eu acordei com a forte sensação de estar sendo observada, olhei pela janela, mas não havia ninguém passando pela rua, fosse a pé ou de carro. Balancei a cabeça para tentar me livrar daquela sensação e fui até o banheiro tomar banho e escovar os dentes.

Desci as escadas depois de conseguir arrumar meu cabelo, que estava uma desordem total, e vestir uma roupa decente. Eu agradeci a Zeus por ser sábado e não ter aula hoje nem no dia seguinte.

Fiquei surpresa ao ver meu pai sentado à mesa, tomando café calmamente e parecendo feliz ao ler o jornal, mas também fiquei feliz ao vê-lo ali, eram raras as vezes que meu pai tomava café junto comigo, então decidi aproveitar enquanto podia e ele não começasse a agir todo estranho perto de mim. Cheguei bem perto, e vi que ele já havia notado a minha presença, isso era tão bom, ele não parecia com vontade de fugir de mim naquele dia.

“Bom dia pai.” Eu desejei abrindo um grande sorriso para ele.

“Bom dia Annabeth.” Ele falou e sorriu de volta, isso me pegou desprevenida, eu não esperava o sorriso dele, mas devo admitir que foi bom vê-lo sorrindo para mim. “Vejo que está de ótimo humor hoje.”

Eu apenas assenti com a cabeça.

“E o senhor também.” Eu disse e ele riu de novo.

“Vamos terminar de tomar café e depois vamos aonde você quiser.” Ele disse, e eu tinha todas as razões do mundo para ficar desconfiada, mas ao invés disso respondi:

“Podemos ir ao museu?”

Ele olhou para mim seriamente, e eu pensei que ele ia dizer não, mas me enganei, ele sorriu e acenou que sim com a cabeça.

“Depois disso tomaremos um sorvete. Fechado?” Ele falou estendendo a mão por cima da mesa, mais um ato que me pegou de surpresa, mas tentei não demonstrar meu espanto e apertei a mão dele.

“Fechado” respondi com um sorriso enorme.

Voltei minha atenção para o café da manhã e vi que ele havia preparado de tudo, sanduíches, sucos, tudo. E estava tudo uma delícia.

Eu não percebi que ele olhava atentamente cada movimento meu enquanto tomava o próprio café, mas olhei de vez em quando para ele e sorri. Eu estava sorrindo muito aquela manhã, e eu esperava que fosse ser assim o dia inteiro.

Assim que terminei meu café ele me mandou subir e me vestir enquanto ele lavava os pratos e os guardava, achei estranho, mas não falei nada do que estava na minha mente enquanto subia as escadas.

“O que será que houve pro papai estar tão feliz?” Eu me perguntei enquanto colocava uma bermudinha jeans simples, com uma camisa laranja-claro que eu encontrei em uma das minhas gavetas. Arrumei meu cabelo em um rabo de cavalo frouxo na nuca. Peguei minha sapatilha e desci novamente.

Papai já estava me esperando na porta da frente com as chaves do carro na mão, ele parecia mais bonito, seu cabelo cor de areia da praia (a mesma cor que o meu) estava penteado e percebi que ele havia passado perfume ao sentir o cheiro quando desci a escada e seus olhos castanhos cintilavam de empolgação.

“Você está bonita.” Ele disse e eu pude sentir minhas bochechas esquentarem.

Você também está. Respondi mentalmente sabendo que jamais teria coragem de dizer aquilo para ele.

“Obrigada” murmurei. “Vamos?”

“Vamos.” Ele disse e fez um gesto para que eu saísse primeiro.

Eu estava começando a me perguntar se aquele homem era realmente meu pai, ou se era um sonho, se fosse eu não queria acordar, fui para o carro e ele me seguiu.

A viagem até o museu foi silenciosa, ele não parecia saber o que falar para mim e eu também não tinha nada de interessante para conversar a não ser sobre a escola, mas ele passava o dia ensinando outras pessoas, devia saber como eram as minhas aulas. Mas ao contrário do que eu pensei, não foi um silêncio desconfortável, na verdade foi até bom. E pelo que pude perceber, meu pai também achou o silêncio entre nós uma coisa boa.

“Estamos chegando.” Ele disse de repente, e eu me perguntei o motivo. “Mas antes da gente chegar lá minha filha, tem uma coisa muito importante, e muito séria que eu preciso te falar, e eu quero que você entenda que não foi porque eu quis, na verdade aconteceu uma série de coisas que nos trouxeram até aqui hoje.” O que ele estava falando não estava fazendo sentido nenhum, para mim pelo menos.

“Pai” comecei, ele estava me deixando nervosa com aquela conversa “ o que está havendo? Tem alguma coisa errada?”

Ele apenas balançou a cabeça, negando, e sorriu.

“Não tem nada errado Annabeth, é só que...” ele parou “... é difícil de explicar.”

Eu o olhei pelo retrovisor, estava prestes a perguntar o que era quando ele estacionou o carro e pediu que eu saísse.

“Por favor, não fique brava.” Ele disse me deixando curiosa para saber o motivo daquelas palavras.

“Por que eu...?” Mas ele não me deixou terminar, ele estava apontando para uma mulher sentada no chafariz que ficava em frente ao museu, ela era bonita, com os cabelos ruivos soltos ao redor do rosto, parecia jovem, mas não tão jovem assim, ela era uma mulher oriental, isso ficou claro assim que vi seu rosto. Ela estava usando um vestido preto simples, não muito decotado, com um sapato baixo.

Ela ainda não havia nos visto, meu pai e eu, mas eu sabia que era questão de segundos e eu ainda não havia entendido o que meu pai havia dito até que seu rosto se virou na nossa direção e ela avistou meu pai e sorriu, olhei para ele e vi que ele sorria de volta, então a ficha caiu: Ela era a mulher que conversava com meu pai ao telefone, e eles estavam juntos.

Tentei nomear os sentimentos que passaram por mim naquele momento, mas não consegui me concentrar em nenhum em particular, eu só sabia que queria sair correndo para onde eu pudesse, mas a mão restritiva de meu pai em meu ombro me impediu de fazer aquilo.

“Ela está ansiosa para te conhecer minha filha.” Ele disse me repreendendo. “Não a trate mal.”

Eu não conseguia falar, não conseguia me mover, minha mente parecia entorpecida, mas eu estava incrivelmente lúcida e consciente de tudo, como se eu estivesse em perigo e pudesse registrar tudo o que estava acontecendo ao meu redor.

“Pai quem é essa mulher?” Foram as primeiras palavras que saíram da minha boca quando consegui me mexer elas saíram um pouco rudes, mas não dei importância enquanto esperava uma resposta, mas ele não respondeu, a mulher estava muito perto, mas para minha sorte parecia que não havia escutado minha frase de rebeldia.

“Oi Frederick” a mulher disse sorrindo para meu pai a alguns passos de distância. Como assim Frederick? Porque ela não o chamou de Senhor Chase, ou Professor Chase? Ele ainda era meu pai e eu estava ali.

“Oi Margaret” ele disse com a maior cara de bobo, em outra circunstância eu teria rido, mas eu não estava com humor para rir. Não deixei de perceber que ele também estava a tratando pelo primeiro nome.

“Então essa pequenina é a sua Annabeth?” Ela perguntou olhando para mim com um sorriso leve nos lábios, parecia um tanto nervosa, assim como meu pai.

“Sim.” Meu pai respondeu acenando para que eu desse um passo à frente.

Suspirei e a olhei nos olhos, ela pareceu surpresa e até um pouco assustada, mas conseguiu disfarçar bem.

“Oi” consegui dizer depois de alguns segundos de esforço, parecia que tinha alguma coisa enorme e desagradável presa na minha garganta.

“Oi, meu nome é Margaret.” Ela disse estendendo a mão na minha direção, um convite.

Olhei para meu pai e ele assentiu para que eu pegasse a mão dela, eu hesitei, não confiava nela da forma que meu pai parecia confiar, mas decidi fazer minhas perguntas quando chegássemos em casa, lá ele teria que me responder, de uma forma ou de outra. Peguei a mão dela e rapidamente a larguei.

“Tudo bem” meu pai disse tentando me acalmar “porque não vamos lá para dentro?”.

Eu o olhei, acho que ele percebeu que para mim o passeio havia acabado. A mulher não pareceu perceber meu olhar, mas ainda assim deu um jeito para que o passeio acabasse naquela mesma hora.

“Na verdade eu gostaria, mas não vou poder ficar.” Sua voz demonstrava que ela estava falando a verdade. “Tenho algumas coisas do trabalho para resolver.”

“Ah!” Meu pai falou desapontado. “Então a gente deixa pra outro dia, que tal?”

Ela sorriu e assentiu.

“Agora tenho que ir” ela falou. “Foi bom conhecer você Annabeth.”

E com isso ela se dirigiu até meu pai e o abraçou, eu virei o rosto para não ver aquela cena, quando voltei a olhar ela saiu andando e dando tchau para mim e meu pai.

Assim que eu tive certeza que ela não ia voltar eu esperei meu pai se virar na minha direção, ele parecia estar divido entre a vergonha e o medo da minha reação. Ele olhou nos meus olhos e pareceu perceber que eu não ia deixar com que ele escapasse tão facilmente.

“Vamos para casa pai” falei ainda irritada e lutando contra as lágrimas que queriam sair, lágrimas de raiva e traição. “Temos que conversar.”

Ele assentiu e me levou de volta para o carro, eu percebi que aquela cena estava invertida, mas não me importei.

*******

“Mas que cena foi aquela que eu vi?” Perguntei assim que estávamos dentro de casa, minha voz saiu mais aguda do que eu pretendia.

Meu pai soltou um suspiro, parecia que ele não esperava a intensidade da minha reação, eu sei que foi exagerada, mas eu não consegui evitar.

“Desculpe-me, mas eu não sabia como te contar.” Ele começou parecendo triste. “Eu achei que em um passeio seria a melhor maneira.”

Eu respirei fundo, eu sabia que aquela cena estava, de muitas maneiras estranhas, errada, mas a parte da minha mente que estava com raiva me fez fazer uma pergunta que eu havia jurado nunca fazer.

“Mas e a minha mãe?” Falei um pouco mais alto.

Meu pai enrijeceu como se eu tivesse falado algo errado, ruim.

“O que tem ela?” Seu tom de voz era rude.

Eu me encolhi com a raiva em sua voz, mas não completei o que eu quis dizer e não precisei, ele percebeu aonde eu queria chegar.

“Eu e ela nunca iremos ficar juntos Annabeth, entenda isso, por favor.” Ele parecia mais triste do que com raiva.

“Por quê?” Perguntei.

“Porque eu e Margaret vamos nos casar!” Ele disse me pegando de surpresa, mas pude perceber que não era apenas por isso.

 “Mas...” Eu comecei, minha cabeça ficando uma confusão ainda maior do que antes, mas ele me cortou.

“Chega de perguntas.” Ele disse de repente, me assustando. “Vá para o seu quarto.”

“Pai...” Eu tentei novamente, só que ele não quis ouvir.

“Vá agora.” Ele parecia estar se controlando para não fazer alguma coisa impensada.

“Tudo bem.” Murmurei triste.

Subi as escadas devagar, sem pressa. Eu não conseguia assimilar o fato que meu pai ia se casar com aquela mulher, nada contra ela, ela era bonita e parecia ser legal, mas ele era meu pai, ele era a minha família, e ela nunca seria minha mãe.

“Por quê?” Perguntei para o nada assim que fechei a porta do meu quarto, como eu esperava, nada aconteceu. Suspirei e me deitei.

Olhei pela janela, a solidão estava me sufocando mais do que o de costume, e eu pude ver que estava anoitecendo do lado de fora, havíamos passado a tarde quase inteira fora de casa.

O que eu devia fazer?

Levantei-me e fui até meu guarda-roupa, de lá tirei meu livro de mitologia grega, todo escrito em grego antigo (eu havia descoberto que não era tão difícil ler em grego), eu precisava me distrair e para mim a melhor maneira era ler.

Eu havia lido o bastante sobre Zeus, Poseidon e Hades, quando ouvi meu pai subir as escadas, eu não queria que ele tentasse se desculpar, não ia parecer sincero. Levantei-me rapidamente e tranquei a porta para impedir ele de entrar.

“Mãe” comecei a pedir me impedindo de chorar “me ajude.”

Eu esperei que ela respondesse, mas não houve nada sobrenatural ao meu redor e isso me deixou triste também, ela devia ser ocupada, tentei me enganar e fui dormir.

Tive um sonho estranho, eu estava em algum tipo de colina e a namorada de meu pai estava lá comigo, mas ela não sorria, apenas olhava para algo atrás de mim com uma expressão assustada no rosto como se fosse algo ruim, eu ia perguntar o que era, mas antes que eu pudesse acordei. Respirei fundo uma vez e voltei a dormir, sem ter pesadelos dessa vez.

******

Um mês se passou desde meu último pesadelo, muita coisa havia acontecido de lá até mais recentemente. Primeiro: meu pai levava aquela mulher com cada vez mais freqüência a nossa casa, fato esse que me deixava bastante irritada, mas que eu tentava não demonstrar. Segundo: aquele era o dia do casamento deles e eu havia sido obrigada a usar um vestidinho cheio de babados e bastante desconfortável, mas que segundo a minha futura madrasta “me deixava bastante elegante”. Sim, eu era a dama de honra deles e isso tornava tudo ainda mais humilhante.

Ela havia contratado duas cabeleireiras para cuidar de nós duas, algo que eu achei bastante desnecessário, mas como o casamento era dela, resolvi não falar nada.

Mas quando a mulher baixa e magra falou em cortar meu cabelo eu pensei em fazer um escândalo, mas ela deve ter percebido pela minha expressão e mudou de ideia rapidamente, falando que poderia fazer algo mais simples com meu cabelo e não o penteado estranho e que faria meu cabelo ficar parecido com um ninho de passarinho no topo da minha cabeça.

“Nossa, nem acredito que é hoje.” Minha futura madrasta faltava dar pulinhos de alegria, algo que eu não consegui compreender. “O tempo passou tão depressa.”

Nisso eu não discordava dela, o tempo havia mesmo passado depressa.

A mulher que estava cuidando do meu cabelo terminou rapidamente uma vez que tinha escolhido um penteado mais fácil, eu aproveitei que já estava vestida e fui ver como estava meu pai no quarto ao lado, era difícil me locomover, parecia que tinham colocado uma bigorna na minha cabeça e a roupa não ajudava nem um pouco meus movimentos eu achei que ia acabar rasgando minha roupa, mas para minha sorte consegui mantê-la inteira.

Papai estava bonito, e muito elegante também, seu cabelo estava penteado para trás e ele estava usando lentes de contato ao invés dos óculos, seu terno era tradicional: preto com uma flor branca na lapela.

“Uau pai!” Eu disse assim que o vi.

Ele olhou para mim e riu, mas apenas superficialmente.

“Uau pra você também Annabeth.” Ele falou, percebi que ele estava surpreso em me ver totalmente vestida.

Ele voltou a se olhar no espelho.

“Acho que ficou exagerado.” Ele disse franzindo a testa ao ver a sua imagem refletida no espelho.

“Não pai.” Eu disse. “Ficou perfeito.”

“Obrigado Annabeth.” Ele falou emocionado. “Acho que agora você deve ir, até daqui a pouco minha filha.”

“Até daqui a pouco papai.” Eu disse indo na direção da porta.

Quando voltei para o quarto da noiva percebi que muita coisa havia sido arrumada quando eu estive fora. Minha futura madrasta estava totalmente vestida, era um vestido simples, mas que combinava com ela, e com um buquê de rosas na mão e parecia prestes a desmaiar de nervosismo. Fui até o bebedouro e peguei um copo com água para ela.

“Falta quanto tempo?” Ela perguntou ansiosa para uma mulher alta e bonita que havia entrado no quarto como um furacão.

“Dois minutos.” Ela falou rapidamente.

Margaret ficou mais pálida ainda e eu comecei a ofegar, mesmo sem saber por quê. A outra mulher pegou meu braço com força e me colocou na frente da minha madrasta.

“Me siga assim que eu sair.” Ela falou olhando para mim.

Eu assenti com a cabeça e ela abriu a porta do quarto e saiu andando. Obriguei minhas pernas a irem para frente, no meio do caminho senti que alguém havia colocado uma cestinha de vime, com pétalas de rosas dentro, na minha mão e eu soube para que elas eram. Respirei fundo e dei o passo que me colocou bem na entrada da capela que meu pai e Margaret haviam escolhido para hoje, todos estavam olhando para mim no primeiro momento, mas depois ergueram os olhos para a mulher que eu supus estar atrás de mim.

A marcha nupcial começou a tocar e eu comecei a jogar as pétalas no chão enquanto caminhava, mas não me sentia feliz fazendo aquilo, estava mais para me sentir prisioneira de uma situação que eu não queria que existisse do que de fato participando de um casamento.

A cerimônia não demorou muito, foi bem simples. Os votos deles foram as mesmas palavras que já haviam sido ditas por muitos outros casais. Mas elas me doeram de uma forma que eu não consegui explicar, era como se com aquelas palavras eu havia perdido meu pai de vez.

“Então eu vos declaro: Marido e mulher.” O padre disse e eu me senti só, abandonada por meu pai. “Pode beijar a noiva.”

Meu pai se inclinou para ela e eu desviei o olhar, todos bateram palmas e estavam rindo e chorando de alegria, mas eu não estava fazendo nenhuma das duas opções, me dirigi até a saída da igreja e me sentei nos degraus, mas não pude ficar lá por muito tempo, pois eles estavam vindo na minha direção: os novos Senhor e Senhora Chase. Meu pai, e minha nova “mãe”.


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Notas finais do capítulo

e aí, gostaram, mereço comentários? Obs: algumas parlavras saíram erradas, mas eu já estou trabalhando nisso ok?