Minha Vida Antes... (annabeth) escrita por Marina Leal


Capítulo 11
Capítulo 11: CONHECEMOS A CASA DE LUKE


Notas iniciais do capítulo

*Nota da autora: Queridos, sei que estive muito tempo sem postar um capítulo sequer, peço que me perdoem do fundo do coração. Mas é que eu também preciso trabalhar no livro que estou escrevendo, peço que entendam. E também estou trabalhando na tradução de O filho de Netuno, por isso peço sua compreensão pela falta de novos capítulos postados, não é por negligência e sim por falta de tempo, ainda tenho que arranjar tempo para estudar, por isso não quero que fiquem bravos ou desistam de ler minha fic, por favor. E prometo que logo (assim que puder) postarei o próximo capítulo, está bem? Peço desculpas novamente e desejo a vocês uma boa leitura. Abraços.



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“Thalia! Espera!” Luke falou após alguns minutos, ela havia ido a nossa frente por todo o caminho e não parecia com disposição para falar alguma coisa, fosse para mim, fosse para Luke. “Por favor, me diz o que está acontecendo!”

Ele tentava acompanhar o passo dela e eu o dele, mas parecia que ela se mantinha a uma distância segura para que apenas pudéssemos segui-la pelos sons que fazia, mas não tão próxima para que conseguíssemos vê-la.

Então, sem aviso nenhum, o som parou, estávamos bem distantes do acampamento das Caçadoras agora, Luke e eu corremos para procurar Thalia. A encontramos encolhida embaixo de uma árvore, um cedro enorme, seus olhos estavam vermelhos, mas ela parecia fazer esforço para não chorar. Luke se abaixou e a segurou nos braços, sentei-me ao lado dos dois, observando com preocupação meus amigos, que pareciam frágeis e assustados de repente.

“Thalia,” Luke falou baixinho enquanto afagava os cabelos pretos dela “o que houve?”

Nenhuma resposta, ela apenas continuou a soluçar baixinho. Luke ergueu a cabeça, em seus olhos um pedido silencioso para que eu dissesse algo. Respirei fundo e falei de uma vez só.

“Ártemis convidou Thalia para fazer parte das Caçadoras, como você tinha dito para mim, mas ela recusou o convite, então ela e aquela Caçadora que me tirou de perto de você discutiram feio, não entendi muito bem o final da “conversa” entre elas, então saímos do acampamento delas daquele jeito.” Apenas a penúltima parte era mentira, mas resolvi que não devia falar nada para ele.

Assim que terminei de falar Thalia ergueu os olhos para mim, suas íris de um azul elétrico, agora estavam contornadas pelos seus globos oculares um tanto vermelhos. Ela me olhou e percebi que ela não explicaria a ele mais do que isso, esse seria um assunto que apenas nós duas saberíamos.

“Isso não é importante agora.” Foram as primeiras palavras que ela pronunciou, sua voz estava rouca e quebrou em lugares estranhos. “Você precisa nos dizer sobre a sua vida Luke, sei que esse é um assunto difícil para você, mas acho que eu e Annabeth merecemos saber mais, já que contamos nosso passado para você.”

Luke desviou o olhar, senti sua luta interna sobre falar ou para nós sobre aquilo, então suspirou e olhou para longe, abaixando a cabeça.

“Talvez você esteja certa Thalia.” Ele murmurou, seus olhos procuraram os dela, parecia estar procurando algo em que se manter firme, então ele olhou para mim. “Meu pai é Hermes.” Ele falou o nome com uma amargura que eu nunca havia ouvido em sua voz antes.

“Então...” comecei, mas ele ergueu a mão para me interromper.

“Apenas escute, está bem?” Ele falou, o tom de voz um tanto controlado.

Eu assenti com a cabeça, desconfortável.

“O nome de minha mãe é...” ele engoliu em seco, como se tentasse se forçar a dizer o nome dela. “É May Castellan.”

Sua expressão endureceu e eu estremeci ao ouvir o sobrenome de Luke, acho que teve algo a ver com a forma como ele falou, frio e distante.

“Eu fugi quando tinha onze anos, eu estava na terceira série. Minha mãe não era o tipo de mãe atenciosa, na verdade ela nem se parecia com uma mãe de verdade” ele respirou fundo e senti intuitivamente que ele estava editando alguma coisa naquela história “não agüentei ficar lá por muito tempo, então fui embora, Hermes nunca respondeu às minhas orações, não consegui mais ficar lá. Assim que saí jurei que nunca mais voltaria aquele lugar. Então dois meses depois encontrei Thalia vagando pelos arredores da Califórnia, se defendendo de um ataque de um cão infernal. E o resto da história vocês sabem.”

Eu assenti levemente, Thalia havia me contado o resto da história enquanto Luke dormia em cabanas improvisadas e nós ficávamos de vigia. Desviei o olhar, de repente não estava me sentindo confortável perto dele.

“Eu fico na primeira vigia. Vocês podem ir dormir.” Ele falou se levantando, Thalia parecia prestes a protestar, mas ele não permitiu que ela falasse. “Amanhã precisaremos ir para o norte, vocês duas precisam dormir o máximo que puderem, iremos parar apenas quando for necessário.”

Olhei para Thalia, mas ela apenas assentiu para que eu fosse me ajeitar em um dos sacos de dormir que estavam jogados no chão, embora não parecesse muito feliz com aquilo.

Não estava totalmente desconfortável dentro do saco de dormir, então consegui adormecer rapidamente, e tive meu pior pesadelo até então.

Eu estava sentada na frente de um tear, minhas mãos puxavam e repuxavam os fios com uma habilidade incrível, meu trabalho era o mais belo entre todos e eu sabia disso, mesmo que minha professora houvesse sido uma deusa, eu sabia que poderia superá-la. As pessoas juntavam-se ao meu redor para admirar meus trabalhos e isso me fascinava cada vez mais.

“Todos os louvores à Palas.” Uma voz gritou em meio aquelas pessoas. “Pois graças a ela esta bela jovem cria tão belos tecidos.”

Muitas pessoas murmuraram em concordância e se afastaram, vi algumas ninfas e outros espíritos da natureza voltando para a floresta, todos cantando e dançando para Palas, mas alguns ficaram para me ver tecer um pouco mais.

“Aracne,” uma moça chamou atrás de mim “você é tão boa quanto Palas, você aprendeu tudo com ela, não foi?”

“Sou muito melhor tecelã que Palas!” Murmurei com raiva, minhas mãos de fechando em punhos, senti as pessoas se afastando de mim. “Se ela viesse competir comigo, todos iam ver isso. E, se me vencesse, poderia fazer comigo o que quisesse.”

Para minha surpresa, na mesma hora que eu falei isso, uma senhora apareceu ao meu lado, por um momento fiquei confusa, mas logo me dei conta de que ela estivera ali o tempo inteiro e que mais pessoas haviam aparecido.

“Você precisa reconhecer e respeitar a sabedoria dos mais velhos. Deve reconhecer a superioridade dos deuses, suas palavras foram ditas em um momento de raiva, não deveria falar algo do qual pode arrepender-se.” Ela falou em minha direção, mas eu não dei importância, ela não sabia do que estava falando. “Se você se arrepender de suas palavras e pedir perdão, tenho certeza de que Palas a perdoará.”

Eu não iria me arrepender de falar algo que era verdade, eu era melhor que Palas, nada iria mudar aquilo, nem mesmo as palavras daquela velha.

“Você está é de miolo mole, sua velha.” Falei em sua direção. “Quer dar conselho? Vá procurar suas netas...” contive um sorriso involuntário. “Eu me defendo sozinha. Palas tem medo de mim. Se não tivesse, já teria vindo me enterrar.”

Então com um sorriso sinistro a velha deixou cair sua roupa e sua pele, revelando a deusa e todo o seu esplendor, minhas mãos tremeram e eu segurei um grito, mas eu não iria recuar, ela era uma deusa, porém ela mesma havia me ensinado tudo o que eu sabia, isso deveria valer alguma coisa.

“Pois Palas veio, sua tonta!” Ela falou em tom de zombaria. “Desafiou-me, estou aqui e aceito sua proposta.”

Olhei ao meu redor e vi que todas as ninfas e as mulheres haviam se prostrado perante a deusa, mas todas olhavam para mim, esperando minha reação.

“Pois bem.” Falei com firmeza. “Vamos tecer.”

Fui até a mesinha no canto e escolhi as mais belas linhas para meu tecido, nele eu contaria e recriaria todos os crimes cometidos pelos deuses, não precisava me preocupar com o que ela iria tecer, não seria nada em comparação ao meu bordado. Perdi a noção de quanto tempo estive tecendo, mas quando terminei as imagens arrematei todo o bordado com uma rica moldura dourada, não haveria nada mais belo que minha obra.

Estava na hora de decidir quem havia feito o melhor desenho, o melhor tecido.

“É uma tola! Desafia uma deusa?” Uma das ninfas perguntou a mim ao observar o desenho que Palas havia feito, seus dedos afagaram levemente o tecido. “É simplesmente divino! Não há outra definição.”

Todos ao redor concordaram e voltaram-se para meu tecido. A expressão de Palas ia ficando cada vez mais endurecida e ao mesmo tempo surpresa ao não encontrar uma falha sequer em minha obra, senti ainda mais orgulho de mim mesma.

Então a deusa fez algo que ninguém, nem eu mesma, esperava que ela fizesse: Pegou seu bastão e bateu em minha cabeça repetidas vezes. A dor era insuportável, havia ali uma linha próxima o bastante de uma de minhas mãos, sim, a morte era preferível agora. Passei a linha ao redor do pescoço para que assim pudesse morrer, mas a deusa segurou o fio e me suspendeu no ar e disse:

“Você tem má índole e é vaidosa, mas tenho que respeitar a sua arte. Não admito que morra. Porém, você e seus descendentes viverão sempre assim, suspensos o tempo todo.” Sua voz estava pesarosa no final, mas eu não me importei, eu só queria que a dor passasse logo.

Então, antes de partir ela retirou algo de dentro das vestes e borrifou uma poção em minha direção, senti uma dor estranha e pior que a de antes me preencher e tudo ao meu redor pareceu ficar maior, tentei gritar, mas minha voz não saía, olhei para os lados, para que alguém me ajudasse, mas todos apenas me observavam.

“É isso o que se ganha por desafiar uma deusa!” Uma ninfa disse chegando até mim e me tomando em suas mãos, ela levou-me até uma fonte e o que vi me fez gritar a plenos pulmões, mas minha voz não saía e eu não conseguia acreditar no que estava vendo: eu tinha oito olhos e oito pernas.

POV: Thalia

Finalmente Annabeth havia conseguido dormir, eu ela conversamos rapidamente sobre os últimos acontecimentos e decidimos que Luke não precisava de mais detalhes sobre o que havia acontecido no acampamento das Caçadoras. Eu apenas teria que lidar com o fato de que ela esteve lá, me viu dizer não à Ártemis, minha irmã que não havia reagido quando desafiei sua primeira tenente. Amaldiçoei minha sorte por ela não precisar saber o quanto aquilo havia me custado, ela era muito pequena para entender e eu não contaria para ela. Ajeitei seu cabelo cor de areia para longe de seu rosto rapidamente e me levantei, deixando-a no chão, no saco de dormir.

Caminhei lentamente até onde Luke estava, reconheci a árvore que eles haviam me encontrado mais cedo e suspirei.

Ele ouviu o farfalhar das folhas e ergueu os olhos para mim, e eu vi a dor em sua expressão, não precisava perguntar o motivo, eu sabia. Sabia muito bem o quanto havia sido difícil para ele nos contar o motivo de sua fuga, o que o fez ir embora de casa. Pensei ao acaso que eu, ele e Annabeth fazíamos o trio perfeito: nós três havíamos tido decepções além da conta com nossos parentes mortais. Eu hesitei, pensando em minha vida, talvez eu devesse contar a ele a verdade completa sobre mim. Não, minha mente gritou para mim, você não pode e sabe muito bem o porquê. Eu não teria essa coragem, percebi com espanto, jamais admitiria aquilo para eles, mas eu não conseguiria falar a minha história, o motivo pelo qual eu havia fugido. A história sobre a minha mãe era verdade, mas não toda ela, os dois não sabiam que eu havia perdido meu irmão, e por mim não saberiam, a dor era demais.

Jason. Respirei fundo e empurrei as lembranças sobre meu irmão para longe enquanto me sentava ao lado de Luke, e tentava ignorar as semelhanças entre ele e meu irmão morto. O cabelo loiro, os olhos azuis. Olhei para longe, não estava com vontade de praticar auto-piedade.

“Você está bem?” Luke perguntou um tanto preocupado.

Fiz que sim com a cabeça, ainda sem encontrar seus olhos. Ele suspirou, não percebendo minha mentira.

“Há uma coisa que eu não contei a vocês duas.” Ele se mexeu desconfortável ao meu lado e eu afaguei Aegis com preocupação.

“Eu sei.” Murmurei. “E também sei que foi por causa de Annabeth.”

Virei meu rosto para vê-lo concordar.

“Sim, ela é muito nova, não quero assustá-la.” Seu olhar foi até onde ela estava adormecida.

Eu entendo, pensei com tristeza, mais do que você imagina.

“Ela também é imprudente.” Comentei me lembrando dela nas costas do hipogrifo.

“Você quer dizer corajosa, não é?” Ele disse com um sorriso.

“É.” Cedi de má vontade com um sorriso, o sorriso dele se alargou por um momento, então ele ficou sério novamente.

“Você lembra o que eu disse sobre a minha mãe?” Ele perguntou num tom contido.

“Lembro.” Disse. “É impossível esquecer.”

“Há uma coisa estranha nela.” Ele disse parecendo nervoso, mas mesmo assim a raiva ainda estava em sua voz. “Não sei explicar direito.”

“Como assim “estranha”?” Perguntei.

Ele respirou fundo uma vez.

“Ás vezes... só ás vezes ok? Ás vezes ela ficava com os olhos brilhando em um tom estranho de verde e a voz dela ficava estranha, mais grave, e ela começava a resmungar algo sobre o meu destino...” Ele estremeceu ao lembrar daquilo e eu em uma reação automática o abracei. “Eu percebi que os ataques que ela tinha sempre ficavam piores quando estava perto de mim.”

“Não se preocupe, ela não vai mais atormentar você, eu prometo.” Falei, eu não podia vê-lo daquela maneira, me doía demais.

Ele me olhou, uma expressão agradecida em seu rosto. Seu hálito cheirava a hortelã, seus lábios estavam próximos aos meus. Ele se aproximou ainda mais, só que lentamente, sua expressão se alterou levemente ele parecia estar tentando tomar uma decisão. Eu estava indecisa, é claro que senti algo por Luke durante todo esse tempo de viagem juntos, mas não sabia se devíamos fazer aquilo.

“Thalia.” Ele sussurrou olhando em meus olhos, seu hálito soprou por meu rosto e eu não tinha mais força para resistir e eu soube que ele também não. “Eu quero...”

“Luke.” Foi o que pude dizer em um sussurro que foi quase inaudível, ele ouviu a entrega em minha voz.

Então seus lábios encontraram os meus e eu não ofereci resistência nenhuma, foi uma sensação incrível, seus lábios eram macios, quentes e gentis contra os meus. Ele me puxou para si intensificando mais o beijo e eu prendi minhas mãos em seu cabelo ainda sem interrompermos nosso beijo. O nosso primeiro beijo. O meu primeiro beijo. Por um momento esqueci-me de Annabeth adormecida a alguns metros de distância, só o que havia era Luke e seus lábios nos meus, o resto não existia e se existisse não tinha importância.

Então uma imagem mental veio à minha mente: uma garota de cabelos avermelhados e olhos dourados me olhava intensamente, sua expressão parecia de decepção. Mas eu não dei importância a ela, e teria continuado a beijá-lo não fosse pelos barulhos estranhos que ouvi atrás de mim, mesmo que me esforçasse para ignorá-los. Com uma boa dose de força consegui separar meus lábios dos dele, nossa respiração estava ofegante.

Ele encostou a testa na minha, seus olhos azuis nos meus.

Quando ele ia falar algo, um grito vindo das minhas costas nos assustou, tirando-nos do estado de felicidade que estávamos e impedindo que eu ficasse vermelha ao fitar o rosto dele.

“Annabeth?” Perguntei virando de costas para Luke.

“Aranha!” Ela gritou e eu corri até ela com ele logo atrás de mim.

POV: Annabeth

Acordei gritando algo que não consegui distinguir muito bem, me sentindo presa, abri meus olhos e chequei meus braços e meu corpo, mas ainda estava gritando quando senti dois pares de braços ao meu redor.

“Shhhhhhh, Annabeth.” Era a voz de Thalia, mas estava tensa demais para me acalmar. “Foi apenas um sonho.”

“Foi tão real!” Me queixei estremecendo e abraçando seu corpo, me certificando que ainda era eu mesma.

“Como foi?” Luke perguntou preocupado.

“Sonhei com minha mãe.” Comecei lembrando os detalhes do sonho. “E eu me chamava Aracne. E desafiava minha mãe para um duelo entre bordados, a disputa ficava empatada, mas minha mãe me transformava em uma aranha.” Não estava com vontade de dar mais explicações.

Fechei os olhos e lembrei a última cena de meu sonho, o corpo peludo e os olhos brilhantes que me encararam da água na fonte. Estranhei o silêncio que se seguiu à minhas palavras, curiosa ergui o rosto e vi que Luke e Thalia se olhavam intensamente, então Thalia ficou vermelha e voltou seu rosto para mim. Estranho.

“Você sonhou com uma antiga lenda grega.” Thalia falou ignorando o que havia acabado de acontecer entre ela e Luke. “O nome dela é: A tapeçaria de Aracne.”

“E?” Perguntei tentando entender o significado.

“Não sei o que quer dizer.” Ela admitiu. “Mas se eu fosse você, ficaria longe de aranhas. São descendentes da aranha de seu sonho e acredito que não gostem dos filhos de Atena, mas é apenas um palpite.”

“Tudo bem, nada de aranhas.” Falei. “Vamos embora daqui?” Minha voz ainda estava assustada.

Olhei para Luke.

“Por mim tudo bem.” Ele disse olhando ao redor, um lampejo de reconhecimento atravessou seu rosto. “Ah não.” Ele disse baixinho.

“O que foi?” Thalia perguntou.

“Acho que sei onde estamos.” Ele falou, mas um rosnado selvagem ecoou interrompendo sua frase, parecia ter vindo da maior britadeira do mundo. Os olhos de Thalia se arregalaram.

“Não pode ser!” Ela exclamou.

Coloquei-me de pé e Luke ajudou Thalia a fazer o mesmo. Outro grunhido selvagem chegou novamente até nós.

“Corram!” Luke gritou para nós duas antes que pudéssemos pegar nossas armas.

“Para onde iremos?” Thalia perguntou nervosamente.

“Thalia, olhe ao redor, sei que você reconhece este lugar.” Luke falou assim que começamos a correr, ele estava nervoso, eu arriscaria dizer assustado.

Ela fez o que ele pediu, vi quando sua expressão confusa se tornou de reconhecimento. Seu arfar baixo me assustou.

“Não pode ser.” Ela repetiu ao olhar novamente a nossa volta.

“Vocês já estiveram aqui antes?” Perguntei curiosa.

Thalia fez um gesto rígido com a cabeça, não parecia com vontade de falar mais nada sobre aquele assunto.

“Talvez isso nos seja útil.” Luke ponderou, mas ele não parecia confiante. “Temos um abrigo próximo, podemos nos esconder lá até que o perigo passe.”

Thalia fez que sim com a cabeça.

“Acho que você está certo.” Ela suspirou, e eles desviaram a rota que tomávamos e fomos para o leste.

******

“Acho que por enquanto estamos seguros.” Luke falou assim que nos acomodamos dentro de nosso abrigo. “Mas devemos estar preparados ao primeiro sinal de perigo, se o pior acontecer acho que sei para onde devemos ir.” Ele disse a última frase com relutância.

Thalia e eu concordamos com a cabeça, só o que queríamos era escapar de outro ataque de monstros, não sei o que Thalia faria se as Caçadoras topassem novamente conosco. Não quis nem imaginar a possibilidade.

Alguns minutos se passaram, então um rosnado ecoou de algum lugar bem próximo a nós três, Thalia me olhou com preocupação.

“Acho que não deu certo.” Murmurei.

“Você acha? Sério?” Ela perguntou com sarcasmo, mas sua voz estava tensa. “Luke,” ela arriscou a elevar a voz “temos que ir embora, agora!”

Ele olhou para nós duas e assentiu com a cabeça.

“Se não der para fugirmos vamos ter que lutar.” Ele disse. “Mas levaremos eles para um lugar onde possamos ter uma vantagem tática. Vamos, por aqui!”

Ele ditou as ordens e nós seguimos.

Ele abriu uma passagem que levava ao outro lado da cabana e fez com que eu e Thalia passássemos antes dele.

Saímos correndo, sem uma direção específica até Luke aparecer e nos guiar por um caminho um tanto complicado e cheio de raízes de árvores no caminho. Estava escuro e eu não conseguia distinguir o lugar a minha volta muito bem. Minha jaqueta me protegia do vento frio da corrida.

“Mais à frente tem uma clareira, podemos ir para lá.” Luke disse a nossa frente e eu me perguntei como ele conhecia tão bem aquele lugar.

Um clarão às nossas costas fez com que nos virássemos de imediato. As chamas lambiam o lugar que estivemos a poucos minutos antes. Thalia e Luke gemeram de raiva e insatisfação.

“Era o nosso abrigo mais próximo!” Thalia se queixou puxando o mapa de nossos abrigos escondidos pelo país e examinando-o perto dos olhos.

“Tudo bem, não vamos nos importar com isso agora.” Luke falou puxando nós duas na direção que íamos antes. “Eles não vão parar agora que possuem o cheiro de nós três, agora vamos precisar lutar.”

Tudo estava indo bem, até chegarmos ao local que Luke havia escolhido para lutarmos.

Uma matilha de cães infernais nos aguardava lá, os dentes de adaga ameaçadores. Mas se fossem apenas os cães, talvez déssemos conta, porém também havia alguns esqueletos mortos que brandiam espadas e outras armas, bem próximos a eles.

Ao meu lado Thalia bateu em Aegis e eu puxei minha faca, era hora de pôr em prática tudo que eles haviam me ensinado. Luke estava com uma espada.

Não esperamos que os monstros viessem até nós e os atacamos. Luke destruía tantos monstros quanto Thalia, e eu não ficava para trás. Até que em um momento de distração as garras de um cão infernal atingiram a perna esquerda de Thalia e ela gritou de dor. Luke se distraiu por um momento e se eu não metesse minha faca impedindo o ataque do esqueleto ele provavelmente estaria morto.

“Precisamos ir embora daqui!” Luke gritou para nós duas enquanto travava uma batalha complicada com o último esqueleto.

“Eu também acho!” Thalia falou enfiando sua lança na minha frente, impedindo que um cão infernal conseguisse me atacar.

“Obrigada!” Gritei para ela ao me virar para lutar com outro monstro.

“Temos que ir!” A voz urgente de Luke chegou até mim e ele me puxou para longe da briga, percebi que Thalia estava esperando por nós no canto mais próximos da floresta, espantando os monstros que restaram com seu escudo.

“Vocês vão na frente.” Ela falou, pelo seu tom de voz não haveria discussão. “Irei repeli-los enquanto sigo vocês.”

Luke fez que sim com a cabeça e me guiou novamente para dentro da floresta. Enquanto corríamos fiquei preocupada com Thalia, mas sempre que olhava para trás ela estava lá, brandindo seu escudo e assustando os monstros que estavam nos perseguindo, mesmo que mancasse da perna machucada.

“Só mais um pouco!” Luke falou com determinação e uma pontada de dor em sua voz, não entendi muito bem o que ele quis dizer com aquilo.

Corri alguns passos então tropecei em uma raiz de árvore que não havia visto, Luke me levantou rapidamente segurando minha mão. Senti que o terreno começava a ficar um pouco mais íngreme e paramos no que parecia o topo de um morro.

Olhamos para baixo e vimos uma casa branca em estilo colonial abaixo de nós. Luke murmurou algo como:

“Se não fosse por você e Thalia.” Havia uma amargura em sua voz.

Os latidos e uivos ainda estavam distantes, mas calculei que tínhamos poucos minutos até que eles chegassem até nós.

“Muito bem.” Disse Luke se virando para falar comigo. “Vou entrar sem ser percebido e pegar comida e remédio. Esperem aqui.”

Seus olhos percorreram a distância entre nós e a casa, pensei em impedi-lo de roubar algo, mas Thalia falou algo antes de mim:

“Luke, tem certeza?” Ela perguntou nervosa. “Você jurou que nunca mais voltaria aqui. Se ela pegar você...”

“Não temos escolha!” Ele respondeu, sua voz se elevou um pouco. “Queimaram nosso esconderijo mais próximo. E você precisa tratar esse ferimento na perna.” Ele falou com preocupação e algo mais que não consegui identificar.

Eles conversavam entre si, ignorando minha presença por mais que fosse inconsciente, a tensão entre eles era quase palpável. Então algo que Thalia falou se encaixou na minha cabeça: ‘Você jurou que nunca mais voltaria aqui.’

“Esta é a sua casa?” Perguntei surpresa. Ele me olhou, indeciso se falava algo.

Era a minha casa.” Murmurou ele por fim. “Acredite, se não fosse uma emergência...” Ele olhou novamente para a casa abaixo de nós.

“Sua mãe é mesmo horrível?” Perguntei me lembrando de como ele a havia descrito, mesmo que ela fosse como meu pai não havia motivo para ele agir daquela forma. “Podemos vê-la?”

“Não!” Ele disse secamente e com uma expressão feroz.

Dei um passo automático para trás, ele nunca havia falado comigo daquela maneira. Ao me ver recuar sua expressão se tornou de dor.

“Eu... me desculpe.” Disse ele chegando mais perto de mim. “Esperem aqui. Prometo que vai ficar tudo bem. Nada vai ferir vocês. Vou voltar...” Mas qualquer que fosse o final da frase de Luke não tivemos oportunidade de saber.

Um forte clarão dourado iluminou a floresta próxima a nós. Corri para perto deles e estremeci. Uma voz masculina saiu do meio da luz e chegou a nós:

“Você não deveria ter voltado para casa.” Olhei para Luke e vi que ele havia ficado pálido na luz dourada que ainda emanava da floresta.

“Quem...?” Comecei a perguntar, mas Luke tapou minha boca gentilmente e se colocou na frente de mim e de Thalia.

“Por que não?” Ele se dirigiu a voz, seu tom deixou claro seu desafio. “Até onde sei aqui ainda é minha casa.”

“Luke.” Thalia tentou avisar algo a ele e eu não compreendi o motivo, ele a dispensou com um aceno de mão.

Houve um barulho de folhas se arrastando na nossa direção e então um homem surgiu por entre as árvores, aparentava ter vinte e cinco anos, tinha cabelos grisalhos encaracolados e feições de elfo. Vestia um uniforme militar de piloto, com minúsculas asas de pássaro tremulando no capacete e nas botas de couro preto. Na dobra de seu braço havia um comprido cajado, no qual se entrelaçavam duas serpentes vivas.

Reprimi um arfar de choque, eu o conhecia. Ele olhou para mim rapidamente, seus olhos transmitiam que eu realmente deveria manter nosso primeiro encontro em segredo de Thalia e Luke.

“Isso não importa no momento.” Ele falou. “Vim aqui para ver sua mãe, porque não me acompanha?”

O rosto de Luke se empinou.

“Não quero sua ajuda.” Ele falou com raiva.

“Mas acho que sua amiga precisa de um curativo na perna.” O deus falou, eu ainda estava em estado de choque.

Luke se virou para Thalia, em seus olhos uma pergunta clara.

“Eu preciso limpar o ferimento.” Ela murmurou e ele fez uma careta.

“Tudo bem, vamos até lá, mas apenas por você.” Ele falou, depois se voltou para Hermes. “Ela não vai saber que estarei lá.”

O deus olhou em seu rosto e assentiu.

“Vamos.” Foi sua resposta e ele assumiu a frente de nosso grupo.

Nós três caminhamos em silêncio, Luke de vez em quando murmurava algo, mas era baixo demais para que eu ouvisse.

Quando chegamos próximos a calçada da frente da antiga casa de Luke percebi que a mãe dele tinha um fascínio por mitos gregos, pois antes mesmo de chegarmos à porta da frente o caminho estava cheio de bonecos de saco com enchimento de feijão. Havia miniaturas de leões, porcos, hidras e até um bebê minotauro de fralda.

“Horrível.” Luke murmurou atrás de mim.

“Se acalme.” Thalia murmurou de volta.

A varanda da frente estava repleta de sinos de vento. Pedaços brilhantes de vidro e metal tilintavam com a brisa. Tiras de latão soaram como água. A porta da frente era pintada de azul-turquesa. O nome CASTELLAN estava escrito em letras romanas e abaixo também em grego.

“Acho melhor você se esconder e entrar sem que ela perceba meu filho.” Hermes falou antes de tocar a campainha.

Olhei para Luke e percebi que ele se enrijeceu com as palavras ‘meu filho’, mas ele arranjou coragem para falar.

“Tudo bem. Thalia fique perto de Annabeth.” Ele disse e foi se postar bem ao lado da porta, me perguntei como ela não o veria parado ali.

Hermes apertou o botão, eu não sabia dizer quem estava mais nervoso ali, se era Luke, ou seu pai, ou Thalia, ou se era eu. Um vulto apareceu contra a luz que emanava da porta fechada. Então a porta se abriu e eu reprimi um grito de susto.

A mãe de Luke realmente não era parecida com uma mãe comum. Ela parecia alguém que gostava de enfiar o dedo em tomadas elétricas. O cabelo se projetava em tufos por toda a cabeça. O vestido simples azul estava coberto de manchas cinza e marcas de queimado. Ela estava sorrindo para Hermes assim que o viu, e quando sorria, seu rosto parecia artificialmente esticado, e a luz verde que emanava de seus olhos me fez pensar se ela era cega.

“Luke!” Ela gritou ao ver o deus parado a sua porta, seus braços o rodearam. “Ah meu menino. Entre, seu almoço está pronto.”

“May,” Hermes disse com carinho desviando a atenção dela de Luke que entrou pela porta aberta e se escondeu em um dos cômodos “sou eu meu amor, Hermes.”

A senhora pareceu confusa.

“Hermes?” Ela perguntou. “Onde está Luke? Eu tinha certeza que ele estaria aqui com você.”

Não sei se foi minha imaginação, mas vi o rosto de Hermes ficar triste.

“Ah, senhor Hermes.” Thalia chamou sua atenção. “Será que podemos entrar?”

“É claro que podem!” A Sra. Castellan falou. “São suas amigas meu amor?” Seus olhos vidrados me assustaram e eu queria pedir para Thalia me levar embora dali, mas ela me empurrou pela sala até que chegássemos a cozinha.

Hermes disse algo para ela e foi para a sala de estar, algo me disse que Luke estava lá.

Olhei para a mesa da cozinha, tachos grandes de biscoitos queimados e sanduíches ocupavam toda ela e parte da pia, o cheiro que coisa queimada me disse que havia mais biscoitos a caminho.

“Sra. Castellan?” Thalia chamou sua atenção enquanto ela andava pela cozinha.

“Sim?” Ela falou em um tom aéreo.

“A senhora pode me ajudar com minha perna?” Thalia perguntou com um toque de medo na voz.

“Claro!” A mãe de Luke exclamou indo ao armário e tirando de lá o que era necessário para enfaixar a perna de Thalia. “Tome querida,” ela disse falando comigo e me entregando um boneco de enchimento de feijões, pelo que reconheci dos mitos que li ela havia me dado uma pequena medusa “eduque a dona Medusa para mim, por favor.” Thalia olhou para mim e segurou uma risada ao ver minha cara de confusão e medo.

“Tudo bem.” Murmurei pegando o boneco enquanto a mãe de Luke começava a enfaixar a perna de Thalia.

Fiquei quieta por um momento tentando escutar a voz de Luke, mas Thalia me deu um olhar de advertência e logo voltei a prestar atenção no que a senhora Castellan estava falando.

“Pronto, querida.” Ela falou assim que terminou de enfaixar a perna de Thalia.

“Obrigada.” Ela falou assim que a mãe de Luke começou a andar pela cozinha e nos serviu refrescos instantâneos.

“Ah, Luke era tão lindo quando era um bebê.” Ela falou servindo biscoitos queimados para nós em um grande tacho. “Sabe igual ao pai dele...” ignorei o que ela estava falando e peguei um biscoito queimado antes de olhar para a sala, deparei-me com o olhar de Luke. Ergui o biscoito que estava segurando para que ele visse que eu já estava cansada de estar ali.

“Podemos ir agora?” Perguntei baixinho para que Thalia não ouvisse, ele acenou levemente com a mão para que eu esperasse e voltou a olhar para o pai.

“Para onde vamos daqui?” Cochichei para Thalia.

“Não sei.” Ela respondeu. A senhora Castellan continuou andando pela cozinha e falando sobre Luke, não me parecia uma pessoa ruim, mas entendi porque Luke não quis mais morar com ela, ela me dava arrepios.

“Acha que ele vai demorar muito?” Perguntei mordiscando a ponta do biscoito que eu estava segurando e fazendo uma careta ao sentir o gosto amargo.

Ela olhou para a sala e depois para mim.

“Eu acho que eles têm muito que conversar. Não devemos interferir.” Ela simplesmente disse pegando um sanduíche que estava bem no topo da pilha que a mãe de Luke estava fazendo e o mordeu sem vontade alguma, sua testa vincada de preocupação.

Eu olhei novamente para a mãe de Luke e ela estava sorrindo para mim enquanto passava manteiga de amendoim em mais um sanduíche. Estremeci. Como ele agüentou morar tanto tempo com ela?

“E então pequenina?” Ela perguntou e eu fiquei sem entender. “Já educou a dona Medusa para mim?”

“Ah sim, tome.” Eu falei estendendo o boneco para ela.

“Você é um doce.” Ela falou e colocou a pequena Medusa com enchimentos de feijões no console da cozinha. “Agora ela não vai mais atacar ninguém, não é mesmo?”

Eu abri a boca para responder, mas minhas palavras não passaram de meus lábios.

“Então você não se importa!” Era a voz de Luke e ele não parecia feliz, senti Thalia ficar tensa ao meu lado.

“Luke?” Chamou a senhora Castellan distraída pela voz de Luke. “É você? Meu menino está bem?”

Luke virou de costas, não pude ver como estava seu rosto, mas suas costas estavam tensas.

“Estou bem.” Ele respondeu alto o bastante para que ela ouvisse e sua voz falhou um pouco. “Tenho uma nova família. Não preciso de vocês dois.”

“Eu sou seu pai.” Hermes disse tentando fazer Luke aceitar.

“Um pai deve estar por perto. Eu nunca nem mesmo o conheci.” Rebateu Luke com raiva. “Thalia, Annabeth, venham! Estamos indo.”

Eu me levantei rapidamente e ajudei Thalia a fazer o mesmo, passamos pela mãe dele rapidamente, mesmo que ela estivesse mancando um pouco.

“Meu menino, não vá!” gritou a mãe dele vindo atrás de nós. “Já preparei seu almoço.”

Ele passou rapidamente pelo hall de entrada e saiu como uma tempestade pela porta, já eu e Thalia tivemos que passar mais devagar, a perna dela não ajudava com movimentos rápidos, mas assim que conseguimos passar pela porta de tela ela não quis mais minha ajuda para se apoiar.

“Precisamos ver como ele está.” Ela falou e foi mancando atrás da sombra de Luke, olhei para trás uma vez, mas não havia ninguém na porta.

Respirei fundo uma vez e fui atrás deles dois, decidida a nunca mais ver Luke daquela forma, sim, ele tinha uma nova família agora.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela paciência, espero que gostem e continuem a acompanhar minha fic, beijos.
Obs: se quiserem me encontrar para dar sugestões ou reclamar de algo, é só me adicionar no msn: leal_cat@hotmail.com ou no orkut que é o mesmo endereço.
Obs 2: A história sobre Aracne é real e foi adaptada para minha fic de um livro.