Capitulo II. Fairy Tail

   A loira se espreguiçou demoradamente, tentando acordar. Tarefa muito difícil, já que sua cama estava tão quentinha e garoava lá fora, fazendo o clima ficar pouco agradável. Bocejou, abrindo os olhos lentamente e tentando achar algum indício de Dragneel. Já estava acostumada com o amigo invadindo sua casa de noite, mas, mesmo assim, ainda tomava um susto quando acordava.

   Não encontrando o rosado, saiu da cama e caminhou em direção ao banheiro, tentando pensar no que fazer com sua hóspede: Lily. Por mais que já esteja mais do que acostumada com pessoas dormindo na sua casa, parecia que a morena escondia alguma coisa e isso a intrigava infinitamente. Talvez alguém a conhecesse e pudesse falar um pouco sobre a sua história. Queria descobrir um pouco sobre quem era a garota que agora dormia no chão do seu apartamento.

   Encheu a banheira e entrou dentro da mesma, afundando na água e deixando apenas seu nariz a mostra. E Natsu? O que acharia de ter que dividir o chão com uma desconhecida? E, aliás, porque estava tão preocupada com o que Natsu ia achar? Afinal, o apartamento era dela, mas... Mas a opinião do rosado definitivamente valia alguma coisa, e ela levaria em consideração quando fosse tomar suas decisões.

   Ergueu a cabeça e suspirou, um pouco irritada. Porque estava pensando tanto no amigo? Ela nunca fizera isso...

   Amigo, parecia que aquela palavra já não se encaixa em Natsu como se encaixava antes, e ela realmente não sabia se isso era bom ou ruim. Era difícil pensar sobre isso, e ela visivelmente não gostava de tais pensamentos sobre o rosado. Eram estranhos.

   - Mas que droga – Sussurrou, terminando de se lavar.

   Saiu da banheira lentamente, secou-se e se enrolou na toalha e indo para frente do espelho. Os fios molhados do cabelo estavam grudados em sua pele, alguns caindo sobre seus olhos castanhos, os quais estavam um pouco cansados. Abriu um sorriso tímido para o reflexo. Lucy era definitivamente uma mulher bonita, mas a única pessoa que ela queria que percebesse isso parecia não ligar.

   Abriu a porta do banheiro o mais delicadamente possível, tentando não acordar Lily. Mas é claro que por mais cuidadosa que ela seja, sempre era recepcionada por um Dragon Slayer acompanhado de um gato azul falando que voa. Automaticamente gritou.

   - O que vocês estão fazendo aqui? – Berrou, indignada.

   - Ohayo, Lucy – O felino falou, sonolento – Porque você faz tanto barulho de manhã? Pode me dar mais cinco minutinhos?

   - Foram vocês que invadiram a minha casa! Você não tem direito a cinco minutinhos – Respondeu, empurrando o gato de sua cama, que criou asas um pouco antes de cair no chão.

   - Isso foi cruel, Lucy – Happy lamentou, pousando novamente na cama, dessa vez um pouco mais acordado.

   A loira olhou para o seu quarto, tudo estava no lugar, como deixara antes de ir tomar banho: a cama um pouco bagunçada, as gavetas estavam milagrosamente intocadas, o tapete fora do lugar e o chão ocupado por uma cama improvisada. Tinha alguma coisa de errada naquilo, afinal, os garotos sempre mexiam em alguma coisa.

   - Onde está o Natsu? – Perguntou para o gato.

   Antes mesmo de obter resposta ouviu um grito feminino vindo de um amontoado de lençóis no chão. Lucy automaticamente escondeu o rosto com as mãos, envergonhada. Será que eles não podem ser normais pelo menos por um dia? Perguntou-se, mas logo seus lábios se abriram em um sorriso tímido. Ela adorava aquela rotina de ser acordada por Natsu e Happy, apesar de demonstrar o contrário.

   Mas dessa vez ela não estava sozinha, e isso poderia ser um problema. Mesmo assim permitiu-se rir, indo em direção à cama improvisada e tirando os lençóis de cima da mesma, se deparando com um Natsu envergonhado e confuso em cima de uma garota de cabelos negros visivelmente assustada com o Dragneel.

   - Natsu, quer sair daí? – Lucy sussurrou, tentando manter a pose de quem estava com raiva, sem muito sucesso.

   - A cama não era pra mim? – O rosado perguntou, triste.

   - Só sai daí – Respondeu, percebendo que o amigo corou ligeiramente após perceber o erro – Aquela que gritou é a Lily – Sorriu – Ela quer entrar na Fairy Tail, e como não tem um lugar pra ficar, resolvi oferecer a minha casa – Explicou.

   - Oi – Happy sorriu, voando até chegar ao lado da garota, que estava sentada no chão com o cabelo levemente bagunçado – Meu nome é Happy e aquele ali é o Natsu.

   - Você também voa – A morena conseguiu murmurar, admirada – P-Prazer – Gaguejou, depois de alguns segundos, sorrindo timidamente – É a primeira vez que vejo outro Exceed.

   - O-Outro Exceed? – Dessa vez quem gaguejou foi o gato. Poucos humanos sabiam da existência dos Exceeds, pelo menos Happy só sabia de Dragon Slayers e os moradores de Edolas que sabiam o que era a raça Exceed. O silencio que ficou após essa pergunta foi mortal, principalmente da parte de Happy e Natsu.

   - Sim – Respondeu com naturalidade – Eu conheci uma Exceed quando era nova, acho que com oito anos. Desde então ela está comigo, só que agora está sobre cuidados de minha mestra.

   - Você é uma Dragon Slayer? – O rosado perguntou, um pouco esperançoso. Talvez ela soubesse onde estava Igneel.

   A única resposta de Lily foi rir e balançar a cabeça negativamente. Uma magia tão poderosa não poderia ser dada a alguém tão inexperiente quanto ela, pelo menos era isso que pensava.

   - Por um momento eu achei... – Happy começou a falar, mas depois balançou a cabeça, espantando o pensamento – Lucy, você tem peixe? Eu ‘to com fome – Pediu, manhoso, trocando rapidamente de assunto.

   - Peixe no café da manhã? – A loira estranhou, fazendo uma careta – Happy, isso é meio nojento.

   - Peixe é uma enorme fonte de energia e é gostoso. Eu quero peixe – Rebateu o gato – Peixe é a melhor comida de todos.

   - Não temos peixe – Lucy respondeu, entediada – Podemos comer alguma coisa na Guilda, o que acham? E poderíamos aproveitar e apresentar logo Lily para o Mestre – Propôs, sorrindo.

   - Obrigada – A morena sorriu, corada.

   - Acho que podemos pegar algum trabalho – Completou o felino – Devem ter colocado mais algum no Painel de Missões.

   - Boa idéia – Natsu sorriu – Eu to animado! – Após dizer isso seu corpo inteiro foi dominado pelas chamas, enquanto o sorriso em seus lábios só aumentava no momento que saiu pela janela.

   - Aye, sir! – Happy gritou, acompanhando o rosado.

   - HEY! Usem a porta! – Lucy gritou, inconformada.

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   Já eram quase 10h, a garoa finalmente tinha passado e um sol tímido brilhava entre as nuvens. O clima estava começando a ficar agradável, como eram todos os dias em Magnólia: estupidamente aconchegantes. Todos já estavam na Guilda, pegando trabalhos ou apenas bebendo e rindo. Mirajane atendia alegremente os pedidos, sendo ajudada pela sua irmã mais nova, Lisanna.

   - Você soube? – Mira começou a falar enquanto limpava o balcão – Vamos receber gente nova na Fairy Tail! O Mestre me avisou que recebemos uma carta avisando que uma garota chegaria aqui hoje, mas ainda não sabemos o nome dela – Sorriu, animada.

   - Onee-chan, eu estou preocupada – Lisanna suspirou, mudando de assunto – É sobre o...

   -... Natsu – A mais velha riu – Você gosta dele?

   - Bem... – Começou, relutante – Eu não sei – Admitiu, corando.

   - É normal você estar confusa, afinal, vocês não se falam há muito tempo. Natsu mudou muito desde que você foi para Edolas - Mirajane sorriu e se apoiou no balcão, olhando diretamente para irmã – Ele cresceu, apesar de ser um menino ainda. Dê tempo ao tempo, um dia você vai saber o que você realmente sente por ele.

   - Mas e a Lucy? Eles estão sempre juntos... – A mais nova abaixou o olhar, um pouco triste. Gostava de Lucy, e nunca seria capaz de ficar brava com ela por algo tão banal, mesmo assim ficava chateada com a aproximidade da loira com Natsu.

   - Lucy parece ser só uma amiga, uma nakama – Sorriu, voltando a limpar o balcão – Seja paciente, Natsu ainda é muito inocente.

   Lisanna suspirou, voltando a se concentrar em seus afazeres. Não era de hoje que ela gostava do rosado, afinal, ele era seu amigo de infância e seu futuro “esposo”. Lembrou-se de quando ‘encubaram’ o ovo do Happy e automaticamente sorriu. Porém sua cabeça estava confusa demais, e precisava saber o que estava sentindo pelo amigo.

   Um estrondo pôde ser ouvido, vindo da porta, interrompendo os pensamentos da garota. Claro que os causadores de tanto barulho só podiam ser um garoto de cabelo rosa literalmente pegando fogo, um gato azul voador e uma garota loira famosa por fazer cosplay. Mas dessa vez tinha uma coisa diferente, uma menina de aproximadamente 17 anos de cabelos negros, e foi isso que atraiu a atenção de todos.

   - Mira-chan! – Lucy gritou, indo em direção ao balcão e, ao mesmo tempo, puxando a garota desconhecida pelo braço.

   - Lucy! – A mais velha a cumprimentou com o mesmo ânimo de sempre, e logo direcionando a atenção para a morena ao lado da garota – Como é seu nome?

   - Lily – Respondeu, extremamente corada – Lily Baker.

   - Seja bem vinda! – Mira saiu de trás do balcão, indo em direção a morena – Você é a aprendiz da Yuko Izumi?

   Os olhos da garota se arregalaram ao ouvir o nome da mestra, e a única coisa que conseguiu fazer foi balançar a cabeça afirmativamente. Mirajane sorriu e a conduziu até onde um velho baixinho e com aparência sábia estava sentado, bebendo.

   - Mestre – A voz de Mira saiu delicada, como sempre, chamando a atenção de Makarov – Esta é a aprendiz da Yuko: Lily – Sorriu.

   Lentamente o velho levantou a cabeça para olhar para as duas garotas, abrindo um sorriso logo depois. Yuko fora sua amiga por longos anos, até que, infelizmente, perderam o contato. Era literalmente uma honra ter uma discípula de Yuko em sua Guilda.

   - Como Yuko está? – Foi à primeira coisa que ele conseguiu perguntar, a esperança em seus olhos era mais do que visível: era palpável, emanava de sua aura de um modo que chegava até a ser estranho. Tinha um passado com Izumi, coisa que nunca contara para ninguém, e provavelmente iria levar esse segredo até seu túmulo.

   - Ela está bem – A morena respondeu, com a voz falha – Mandou eu dizer ‘olá’ por ela, e falou que precisava conversar com o senhor depois – Contou, ainda um pouco – muito – corada.

   Makarov ficou em silencio, digerindo a informação. O sorriso chegou a morrer em seus lábios, mas logo voltou à vida quando ele lançou um olhar paterno para a garota. Mira também sorriu, sabendo o que significava: teriam um novo membro na Fairy Tail.

   - Bem vinda à família, Lily – O velho sorriu – PESSOAL, TEMOS UM NOVO MEMBRO NA FAIRY TAIL! – Gritou, levantando o copo, fazendo todos da Guilda o imitarem.

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   Lily suspirou, deitada na cama improvisada que Lucy fizera para ela. Estava cansada e tivera um dia longo, mas bastante proveitoso. Passou a ponta dos dedos sobre a ‘tatuagem’ vermelho-vinho que fizera na perna, um pouco acima do joelho. O símbolo da Fairy Tail era, definitivamente, muito bonito. Abriu um pequeno sorriso, indo em direção a mochila pegar seu caderno e sua caneta. Lucy já estava dormindo, então procurou não fazer muito barulho para não acordá-la. Depois de muito tempo, estava feliz.

   Após pegar os materiais necessários, se sentou no chão, ao lado da mochila, e começou a escrever, com um sorriso nos lábios.

   Querido Desconhecido,

   Essa é uma das raras vezes em que eu estou feliz. Fui aceita na guilda Fairy Tail, e lá, com toda certeza, é um lugar que emana felicidade. Mas tenho medo da minha alegria não durar por muito tempo, tenho um passado escuro no qual eu queria esquecer, mas simplesmente não consigo. Tenho medo de contar para essas pessoas que conheci quem é a verdadeira Lily, tenho medo de eles não aceitarem meu verdadeiro (e obscuro) eu. Mas pudera, eu menti muito no decorrer desses anos e esse arrependimento, senão remorso, está me matando. Será que eles um dia poderão me perdoar por mentir? Provavelmente não. É um segredo muito grande e poderoso, e por mais que seja correto omiti-lo, às vezes acho que é melhor contar para alguém e me livrar de todo esse peso que tenho que carregar dia após dia.

   Mesmo assim, amanhã é um novo dia e provavelmente será tão agitado quanto esse. Rezo para que a felicidade dure mais que uma semana, e, se não durar, eu espero que o que estrague essa alegria não seja algo relacionado ao meu passado ou a mim. Ahh, queria tanto a companhia da Seah (minha Exceed) agora, ela provavelmente conseguiria dizer algumas palavras para eu ficar mais confiante. Confiança é uma palavra tão estranha, mesmo depois de ter entrado em uma Guilda, ainda não consigo me acostumar com essa palavra, ou com esse sentimento. Mas é melhor eu ir dormir.

   Deseje-me sorte para não estragar tudo como da outra vez.

Oyasumi nasai, Anônima

   Após terminar de escrever e dar uma pequena lida, resolveu não enviar aquela carta. Existiam alguns textos os quais ela guardava, textos muito pessoais para um desconhecido ler, como, por exemplo, textos os quais ela relatava morte, felicidade em demasia, tristeza em demasia ou medo. Para ela era sinal de fraqueza ter algum dos sentimentos citados anteriormente, era até vergonhoso. Guardou o caderno e a caneta novamente em sua mochila, indo em direção à janela observar a Lua, que, como nas outras noites, bailava encantadoramente no céu. Uma dança sem musica, um silencio melodioso que só podia ser apreciado por Lily.

   Sorriu. Adorava aqueles momentos sozinha, momentos onde ela conseguia pensar com calma, arrumar as idéias dentro de sua cabeça. Respirou fundo, tentando memorizar o cheiro daquele lugar, assim como a direção do vento e o clima, presentes em Magnólia. Definitivamente tinha gostado daquele lugar, era aconchegante. Como uma... Casa.

   Espantou o pensamento e se virou. Sua intenção era andar até sua cama improvisada e dormir, mas não foi bem assim que tudo ocorreu. Assim que a morena se virou se deparou com uma silhueta provavelmente masculina, acompanhada de outra silhueta parecida com um gato com asas. Levou a mão à boca para não gritar.

   - Quem são vocês? – Perguntou, apesar de já ter reconhecido o Exceed – O que estão fazendo aqui?

   - Happy e Natsu – O felino respondeu, batendo continência, apesar de nem a própria garota e nem o próprio Dragon Slayer saberem porque o gato fez aquilo – Queremos convidar vocês para um trabalho.

   - Um... Trabalho? – Lily repetiu, tentando processar a informação.

   - Isso! – O rosado confirmou, animado – Já está chegando no final do mês, e você vai ver como Lucy fica insuportável quando chega o dia de pagar o aluguel – Riu – E você precisa de dinheiro.

   - Quem liga pra dinheiro? – Happy interveio – O problema mesmo é a Lucy, ela me dá medo quanto está dormindo – O gato fez uma cara assustadora, como um zumbi – Fica repetindo “o aluguel, o aluguel... Preciso pagar o aluguel. Aluguel. 70.000. Jewels. O aluguel, o aluguel...” – Imitou, arrancando risadas e comentários desnecessários.

   - Quando vamos sair a que horas? – Lily perguntou – Isso é... Se eu também for com vocês – Automaticamente corou, envergonhada.

   - É claro que você vai – Natsu afirmou, confiante – Você precisa fazer trabalhos também. E vamos sair agora mesmo.

   - Agora? – Os olhos da garota arregalaram – Porque agora?

   - A viajem é longa, e ainda temos que passar na casa da Wendy para chamá-la pra ir com a gente – Happy explicou.

   A morena suspirou, se dando por vencida. Era um fato que precisava trabalhar, e pelo menos estaria ao lado de pessoas experientes. Fez sinal que sim com a cabeça, deixando os dois garotos acordarem Lucy – que obviamente fez um escândalo – e partiram para a casa de Wendy. Ainda era de madrugada, e eles provavelmente iam pegar o trem logo de manhãzinha e todos estavam animados. O único problema era: como a própria Lily falou, a alegria pode não durar por muito tempo.