Escolhas 2 escrita por sophiehale
Epílogo
Verão... Ah, o verão! Por que tinha que terminar tão rápido?
Ainda mais este.
-Está tudo pronto? – perguntei a Travis. Meu filho assentiu com um sorriso e começou a tirar suas malas de dentro de seu quarto.
Seu antigo quarto.
-Ah não. – ele começou a rir de mim quando notou meus olhos cheios de lágrimas. – Mãe, você não vai chorar, né?
Ri entre lágrimas teimosas e abracei meu menino, que de menino não tinha mais nada.
-Vou sentir tanto a sua falta. – confidenciei em seu ouvido.
-Eu sei. – senti o sorriso em sua voz, e então ele me soltou. – Mas não aja como se eu estivesse indo para o outro lado do país, mamãe! É só a NYU. Todos os finais de semana estarei aqui.
-Vou cobrar. – prometi, o abraçando novamente. Travis riu de novo e se deixou ser abraçado.
- Rose, deixe o garoto ir. – Emmett disse ao meu lado, rindo também.
Fiz um bico, soltando Travis para que ele pudesse encher o carro com suas malas, e Emmett beijou o topo de minha cabeça. Para mim era absurdamente difícil deixar meu filho ir embora para a faculdade.
Sete anos haviam passado rápido demais... Eu não enxergava Travis como um rapaz de dezoito anos indo construir seu futuro com os próprios esforços. Eu ainda o via como o garotinho de onze anos que tinha crescido rápido demais.
Emmett continuava rindo de mim, mas eu sabia que ele também sentiria falta do enteado.
-Vou até à casa da Sue. – avisei, revirando os olhos de brincadeira. – Ela vai me entender.
-Mas é claro que vai. – Emmett me seguiu, atravessando a rua junto comigo para ir à casa de minha vizinha. Bree, sua única filha, também estava de malas prontas para estudar na Universidade de Nova York.
Avistei Sue abraçada a Mikey, o rapaz que estudara comigo na escola e que tinha se casado com ela havia três anos. Ela chorava copiosamente.
-Viu? – cochichei para Emmett a fim de que ninguém ouvisse. – Ela está pior do que eu e Mike a está apoiando. Aprenda, marido!
Emmett revirou os olhos, divertido.
-Ah, Rose! Não consigo acreditar nisso! – Sue soltou-se de Mike para me abraçar. Ela segurava um lenço de papel para limpar as lágrimas. – Parece que foi ontem que me mudei para cá e conheci todos vocês. Bree era só uma menina, agora olhe só pra ela.
Eu e Sue encaramos a figura de Bree do outro lado da rua, ajudando Travis a encher o carro que levaria ambos para a universidade. O cabelo negro de Bree estava na altura de suas costas, liso e com cachos apenas nas pontas. Ela continuava magra, mas agora seu corpo já era de uma mulher adulta.
Travis, por outro lado, tinha ganhado massa muscular nos últimos anos frequentando a academia ao lado de Emmett. Seu cabelo, quase tão escuro quanto o de Bree, já não era mais tão rebelde quanto em sua infância. Meu filho mais velho parecia tão adulto, tão responsável. E agora entraria na faculdade de medicina... Eu não poderia estar mais orgulhosa dele.
Ainda do outro lado da rua, notei quando Ella, agora com quatorze anos, saía de casa com o irmão caçula, Benjamin, que acabara de completar sete. Eles se aproximaram de nós e Ben parecia choroso.
-O que houve? – me pus de joelhos para ficar da altura dele. – Você se machucou?
Ella deu uma risadinha e então foi para o lado de Emmett, se apoiando nele.
-Ele não se machucou, mãe. – ela deixou claro, achando a situação divertida.
-Fala, filho. O que aconteceu? – ignorei minha filha adolescente.
-Não quero que o Travis vá embora! – ele fez um bico.
-Também não quero. – abracei-o. – Mas ele volta todo final de semana pra jogar videogame com você.
Então olhei para Ella, embora ainda falasse com meu caçula.
-E eu tenho certeza que, apesar dessa sua irmã ficar gozando de você, ela também vai morrer de saudades do Trav. – sorri quando a expressão de Ella murchou.
Emmett bagunçou o cabelo dela, tentando animá-la.
-Estamos indo. – Travis anunciou após terminar de carregar o carro com suas malas e as de Bree.
Sua mão pousava na cintura dela. Os dois namoravam desde que finalmente perceberam que aquele carinho todo que tinham um pelo outro desde pequenos excedia a grande amizade que insistiam em manter.
Quando anunciaram que estavam juntos, Sue e eu nem ficamos surpresas, apenas felizes por eles. Era mais do que óbvio que eles deviam ficar juntos.
-Nós ligamos quando chegarmos! – Bree brincou após ela e Travis se despedirem de todos. A NYU ficava aqui mesmo em Manhattan. Eles chegariam em meia hora se o trânsito estivesse viável.
Os dois foram ao carro de mãos dadas e, quando Travis deu a partida, acenaram para nós, que retribuímos o gesto.
-Vou sentir tanto a falta dela! – Sue voltou a chorar, abraçando Mike, que apenas sorria e dizia coisas para acalmá-la. Os dois voltaram a entrar em casa.
Então, na rua, restamos eu, Emmett, Ella e Ben, que agora estava bravo com a partida do irmão.
Suspirei enquanto nós quatro andávamos de volta pra casa. Daqui a pouco seria Ella a ir embora, e depois Ben. Tudo passava tão rápido!
Eu só queria que o tempo parasse.
Emmett, vendo minha expressão chateada, sorriu de leve e beijou minha bochecha. Ele sabia quando podia rir de mim e quando tinha que me apoiar. Era por isso que o amava tanto.
Assim que chegamos, Ella e Ben sentaram-se no sofá, um pouco calados demais.
Então eu sorri. Já sabia exatamente o que dizer para elevar aqueles ânimos.
-Quem quer jogar videogame? – convidei e, automaticamente, Ella e Ben correram para o quarto de Travis para ver quem pegava o controle melhor.
Emmett riu quando começou a ouvir uma briga de Ella e Benjamin no quarto.
-E o que foi isso? – ele parecia encantado, talvez surpreso com minha atitude repentina.
-Tudo passa tão rápido, Emm! Temos que aproveitar mais o tempo que temos com eles. – minha voz ganhara certa tristeza. – Daqui a pouco não terá mais ninguém aqui com a gente...
Fiquei cabisbaixa ao pensar naquele fato. Aquilo não demoraria nada para acontecer, e eu não queria que esse dia chegasse nunca.
Emmett levantou meu queixo com uma mão e, com a outra, colocou uma mecha de cabelo que insistia em cair em meus olhos em minha orelha.
Ele estava fazendo com que eu olhasse pra ele, e foi o que fiz. Ficamos sorrindo um para o outro até que ele me deu um beijo.
-Não vai ser tão ruim assim ficar só comigo, vai? – ele falou após pararmos de nos beijar com uma voz que lembrava muito a de um garoto que tinha acabado de fazer algo que sabia que não devia.
-Bobo. – ri e lhe dei um selinho, pronta pra esquecer toda aquela tristeza e ir curtir meus filhos mais novos. – Quem chegar por último...
Mas, antes que eu terminasse de dizer qualquer coisa, Emmett passou por mim como um raio.
-Emmett! – gritei, rindo que nem criança, correndo ao encontro dele no quarto com as crianças. – Emmett, volte aqui!
Se pudéssemos ter consciência do quanto nossa vida é passageira, talvez pensássemos duas vezes antes de jogar fora as oportunidades que temos de ser e de fazer os outros felizes. Mas a gente não sabe adivinhar. E descuidamos. Cuidamos pouco. De nós, dos outros. Nos entristecemos por coisas pequenas e perdemos minutos e horas preciosos; nos calamos quando deveríamos falar, falamos demais quando deveríamos ficar em silêncio. E passa a noite e chega o dia, o sol nasce e adormece e continuamos os mesmos, fechados em nós. Reclamamos do que não temos ou achamos que não temos suficiente.
Cobramos. Dos outros. Da vida. De nós mesmos.
E o tempo passa... Passamos pela vida, não vivemos. Sobrevivemos, até que, inesperadamente, acordamos e olhamos pra trás. E então nos perguntamos: e agora? O que passou, passou.
Mas ainda é tempo de apreciar as flores que estão inteiras ao nosso redor.
(Adaptado da obra “Agora é o Tempo”)
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