- Querido, você precisa ir pra casa descansar, ou pelo menos comer algo. – a voz da mulher saiu triste angustiada.

O garoto de olhos amendoados, a ignorou e continuou imóvel sentado na cadeira gélida e desconfortável daquele hospital. Suas mãos cobriam seu rosto e seus cabelos loiros estavam um pouco mais arrepiados que o normal. O garoto estava exausto, e sua aparência não era a das melhores.

- Filho! – chamou novamente a mulher a sua frente. Seu coração estava apertado no peito ao ver seu filho naquele estado. Ela se aproximou e afagou o cabelo do garoto, lhe dando um beijo no topo da cabeça em seguida. – ela vai ficar bem. – afirmou ela, mais para si mesmo do que para o filho.

- Eu não vou mãe. Eu vou ficar. Quero estar aqui quando ela acordar. – sua voz saiu rouca e abafada por sua mão que ainda tapara o seu rosto.

- Mais filho, o médico disse que a grandes chances de ela sofrer perda de memória temporária. Ela não vai se lembrar de você, vá pra casa e descanse. Eu fico aqui. – um sorriso sincero, ainda sim, fraco, brotou em seus lábios. O garoto levantou o rosto e fitou a mãe por milésimos segundos. Sua expressão estava séria, o que fez com a mãe parasse instantaneamente de sorrir.

- Eu não vou deixá-la. – sua voz agora era fria e seca. – a Megan, minha melhor amiga, está lá dentro, toda machucada e em ‘coma’, e a única coisa que você consegue pensar é em mim?! – o garoto suspirou frustrado e passou os dedos dentre os fios de seu cabelo loiro e sedoso.

Sua mãe sentiu seu coração diminuir com as palavras do filho, mais se rendeu e voltou a se sentar de frente para o garoto.

Megan, Megan, Megan – era o que ecoava na mente do garoto loiro. Seu rosto estava com olheiras de noites mal dormidas e um nó começara a se formar em sua garganta. De repente um flash se passou em sua cabeça:

Ela não vai se lembrar de você – a voz de sua mãe, agora o atormentava com aquelas palavras.

Ela tem que lembrar, ela vai se lembrar – dessa vez sua própria voz ecoou em sua mente

O garoto por sua vez, se levantou e caminhou até a cafeteira que havia dentro do hospital.

- Um descafeinado por favor! – pediu à atendente que sorriu simpática e assentiu.

O garoto se ajeitou no balcão aguardando o pedido. Por mais que tentasse seus pensamentos sempre vacilavam para a garotinha - de olhos claros e cabelos escuros. Uma combinação perfeita em sua opinião. – que estava toda machucada e em coma, deitada em uma maca fria do hospital.

- Senhor?! Aqui está seu descafeinado. – a atendente sorriu para ele lhe entregando o pedido.

- Obrigado. – disse simplesmente sem nem ao menos retribuir o sorriso.

O garoto já não sorria desde o acidente de Megan. O que dava no exato, três semanas e cinco dias. Ele só voltaria a sorrir, se a visse sorrir novamente.

Ele levou o copo á boca e tomou um gole do seu café enquanto caminhava de volta a sala de espera. Chegando na mesma ele se sentou um pouco mais afastado da mãe que lhe deu um sorriso triste por sua atitude.

- Isso não vai te ajudar. – a mulher indicou o café em suas mãos, frias e tremulas.

- Me deixa em paz. – sua voz rouca saiu num sopro e ele a olhou feio.

Sua mãe estremeceu com o veneno em sua voz. Ela baixou o olhar e fitou o chão, e voltou a encarar o garoto minutos depois.

- Você não pode falar assim comigo, Justin. – sua voz falhou e o garoto que estava prestes a levar o copo à boca novamente, voltou seu olhar para a mãe. – eu sou sua mãe. – sussurrou.

O garoto pode ver os olhos da mãe, lacrimejar e seu coração se apertou no peito. Ele se levantou deixando o café na mesinha ao lado de seu banco e caminhou até ela.

- Me desculpa. – sua voz saiu num sopro. Logo já se podia ver lágrimas escorrendo pela face do garoto. Sua mãe deu um sorriso angelical e o abraçou de imediato. Era possível ouvi-lo fungar no pescoço da mãe.

- Eu sei que está sofrendo querido, mais você tem que estar bem pra quando ela acordar. – a mulher deu um beijo no topo da cabeça do garoto e afagou seus cabelos arrepiados. Mais foram interrompidos por um pigarrear alto. O garoto se separou da mãe e encarou o homem alto de cabelos grisalhos, roupa branca e uma prancheta na mão.

- Alguma novidade Doutor? – Pattie foi a primeira a se pronunciar. O Doutor olhou para o garoto que tinha uma expressão preocupada e ao mesmo tempo aliviada.

- Não. – disse simplesmente. O garoto suspirou pesadamente. – os quadros de Megan estão um pouco mais estável, mais é quase impossível notar a diferença. Acabamos de aplicar os remédios e já fizemos o curativo. Eu posso liberar a visita por aproximadamente meia hora apenas. Mais só pode entrar um de cada vez. – explicou calmamente o Sr. Que aparentava ter 52 anos. Pattie olhou para o filho e sorriu de canto.

- Vá, Justin. – sussurrou.

O garoto sorriu triste e seguiu o Doutor até o quarto de Megan. Quando adentrou o quarto seus olhos marejaram ao ver a garota, sua garota, ali, toda machucada e tão dependente de máquinas para seu coração bater. Se é que ainda estava batendo.

O garoto se aproximou lentamente da cama em que sua pequena estava. Ouviu-se a porta do quarto fechar atrás de si, mais ignorou o barulho irritante da porta rangendo. Seu coração se apertou ainda mais – se é que era possível – dentro do peito. Sua mão tocou levemente a mão fria da garota, subindo por seu braço e chegando em seu rosto. O garoto afagou o local de leve por conter uns arranhões ali. Ele aproximou seu rosto do da garota e beijou o topo de sua cabeça. Um lágrima caiu por sobre a bochecha da garota e o loiro se afastou, esfregando os olhos com as mãos e secando todas as lágrimas.

Minutos se passaram e ele não saiu de perto da garota um só segundo, suas mãos seguravam as dela que agora estavam quente, devido ao contato de ambas as mãos. De repente um barulhinho irritante soou da maquina ao lado, fazendo o garoto despertar do transe em que se encontrava, o garoto desviou o olhar para a maquina ao lado vendo que era a que media a pulsação de Megan a se calou e voltou a fazer outra barulho em seguida. Era como se o coração da garota lutasse para viver.

- Jus. – a voz fraca e maltratada da garota ecoou no quarto.

O garoto virou rapidamente em direção a amiga que forçava um sorriso, dolorido.

- Megan. – sua voz falhou enquanto lágrimas caiam por seu rosto. Megan levou a mão tocando o rosto do amigo secando o caminho das lágrimas.

- Não chora. – sua voz parecia cada vez mais fraca e baixa.

- Eu vou chamar um médico. – o garoto faz menção de caminhar mais a garota segurou seu braço. – não pode se esforçar Meg.

- Você precisa me ouvir. – arfou. Suspirou e continuou. – eu não podia partir sem me despedir de você. – sorriu de canto enquanto lagrimas desciam desesperadamente pelos rostos de ambos.

- Não, Meg. Não diga isso. Você vai ficar bem. – disse o garoto tentando acalmá-la e a si mesmo também. A garota balançou a cabeça levemente em um ‘não’ e tossiu.

- Eu precisava te dizer... – suspirou – eu te amo. Sempre amei e sempre vou amá-lo. – disse com certa dificuldade. As lagrimas desciam mais freqüentes agora no rosto de ambos.

O garoto sem nada dizer aproximou seu rosto de dela e selou seus lábios. A garota tocou seu rosto com a ponta dos dedos, para sentir pela ultima vez sua pele macia. Lentamente a mão da garota foi escorregando por seus rosto até já não tocá-lo mais. O garoto se afastou lentamente de seus lábios, agora, frios e sem cor.

Ela se foi. Para sempre. – o garoto aproximou seus lábios do ouvido da amiga.

- Eu também te amo Meg. – sussurrou como se ela ainda pudesse o ouvir.

... Talvez ela estivesse ouvindo!