I Just Came To Say I Love You escrita por camila_guime


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Reviews no fim da página.
BOA LEITURA!



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Havia um caramanchão ornado com lindas violetas. Eu lembro que ela gostava disso. Logo adiante, um lindo espaço aberto de relva baixa, onde apenas uma amoreira madura se impunha contra os raios de sol, que perfuravam os vãos entre os galhos suspensos.

A varanda estava fresca, o chalé incrivelmente vazio. Pássaros gorjeavam nas árvores próximas e sobre a calha, que não mais pingava resíduos da chuva de ontem. Eu vi cada gota daquela calha formar a imensa poça ao pé da parede, e não havia nada que eu pudesse fazer para evitar. Assim como também não ouve nada que eu pudesse ter feito para evitar estar aqui, agora, sozinho.

O som de um motor se aproximando do outro lado do chalé me despertou de minha inatividade. Meu coração chegou a dar uma batida mais forte e eu corri para ver quem chegava. Sujei a barra das calças na poça e praguejei, atrapalhado. Já no outro lado, o mesmo carro grafite que eu conhecia há anos estacionava. Um leve desapontamento me abateu quando o vi, mas por outro lado, uma sensação de esperança e reconforto reascendeu.

― James? – Cumprimentei vendo meu melhor amigo saindo do carro. Parei de caminhar quando ele começou a vim até mim.

― Sirius! – Respondeu ele. Seu velho e habitual sorriso bondoso no rosto. Beirava os trinta, mas me parecia o mesmo moleque que conheci há anos atrás. ― Seu grande... Lerdo! – Insultou parando frente a mim.

― O que?

― “O que?” Como assim “o que”? – Prosseguiu ele. ― O que você está fazendo?

― Eu? Nada! Pensei que viesse me fazer uma visita amistosa, conversar sobre os velhos tempos. O que foi que eu fiz?

― Você mesmo acabou de dizer: nada! – James gritou, parecendo estupefato. ― Esse é o problema! Como assim você não está fazendo nada?

― Eu não sei do que você está falando! – Gritei de volta.

Vi James puxar o ar com força e passar a mão pelos cabelos geneticamente desgrenhados, e depois ajeitar os óculos que nunca saíam o rosto dele.

― Certo. – Ele prosseguiu. ― Não vai convidar seu velho amigo para tomar um chá?

Foi minha vez de passar a mão pelos cabelos, confuso. Conduzi James até dentro do chalé e o convidei para sentar à mesa, inutilmente, pois ele já havia sentado antes de eu dizer. Parecia cansado, afobado e inconformado. Ficamos em silêncio até o chá ficar pronto. Sentei-me frente a ele e ainda hesitei antes de reiniciar outra conversa:

― Hum... Está tudo bem?

James ergueu os olhos por cima de sua xícara e, por um breve momento, tive a impressão de estar vendo os olhos de Dumbledore: sérios e perspicazes.

― Você deixou Marlene. – Disse ele, curto e grosso.

Enchi e esvaziei os pulmões profundamente ao ouvir o nome.

― Eu não...

― Deixou. Deixou à própria sorte!

― Que quer que eu faça? Além do que, ela não está “à própria sorte”, ela vai casar, James! Não acho que seja realmente ela quem vai ficar à própria sorte.

Naquele momento senti medo pela primeira vez frente a James.

― Desde quando você virou esse cachorro covarde? Mete o rabo entre as pernas e sai fininho não se importando com o estrago que fez!

― Isso não é verdade.

― E ainda por cima some do mapa, se exila no seu retiro e dá às costas para todo o resto, para todo mundo. “Deixem-me em paz, pombas!”.

― James, o que você tem? Está mais alterado que eu, que sou quem está passando por trancos e barrancos agora!

― Olha... Vamos dar uma volta, preciso de ar!

James se levantou e saiu porta afora me puxando pela manga da camisa. Andamos em silêncio até a beira do lado, onde meu amigo respirou antes de continuar.

― Sírius... Eu vim aqui para abrir os seus olhos.

― Ótimo!

― Cale a boca! Eu não terminei. – James prosseguiu caminhando. Comecei a segui-lo. ― Eu sei que nos conhecemos há anos, desde a escola. Sei que você muitas vezes me ajudou com... Bem... As garotas que eu gostava. Aliás, muito do que me ajudou a conquistar Lílian eu devo a você, admito, e acho que chegou minha vez de retribuir. Mas de um tempo para cá... Eu gostaria de entender o que aconteceu. Lenne é linda, independente... É incrível!

― Acrescente aí geniosa, voluntariosa, mal-humorada, e tudo que eu faço agrada a todos, menos a ela! – Defendi-me.

― É, pode ser. Mas isso não se compara a tudo que ela é para você. – James parou por um tempo e me olhou. ― Sírius, só você não vê o que ela fez com você. Antes de Marlene entrar na sua vida, você era um cachorro vira-lata que ficava catando distração e divertimento barato por aí! Você passava se arrastando de ano na escola e só com ela você conseguiu entrar de primeira na faculdade. Lenne sempre falava que você dizia que ela era sua inspiração...

― OPA! O que? Lenne dizia isso para você? – Indaguei pasmo.

― Bem, não. – James coçou a nuca. ― Lílian disse que Lenne falava isso. Elas são amigas e, Lílian é minha esposa, então...

― E você gosta de saber as fofocas das garotas? James, isso realmente me surpreende! – Comecei a rir e logo senti o soco de James no meu braço, me fazendo parar.

― Quieto! Eu não acabei! Mas... Continuando... Marlene fez acontecer mudanças em você que, meu Merlin, se não tivessem acontecido, acho que você estaria sentado na sarjeta agora. Que diabos fez, então, você de uma hora para a outra brigar com ela e dar o fora a deixando livre para o primeiro lobo que aparecesse?

― Eu não briguei com ela, ok! Nós dois brigamos! Foi um término recíproco.

― Bem, não foi isso que eu soube.

― As fofocas de novo não, James.

― Sírius...

― Não. Não James, você não pode pôr a culpa de tudo pra cima de mim. – Inferi enquanto eu tinha espaço. ― Marlene é tão adulta quanto eu e você, e não acredito que ela foi fazer minha caveira para Lílian!

― Sírius, não...

― É sim James. Marlene queria me pôr na coleira. Queria que eu fosse com ela para Itália por que os pais dela estavam querendo uma reunião de família lá. Marlene, Marlene não ligava se eu tinha que ficar no meu trabalho. Ela achava que tudo poderia se arranjar do nada, mesmo eu não estando aqui! Ela queria até falar em casamento e...

― E aí está o ponto! Você está com medo de ter um compromisso de verdade! – James retorquiu como se tivesse pegado um pomo num jogo de quadribol.

― Medo de um compromisso? James, você só pode estar doido. Quanto tempo eu estava com Marlene? Sete dias? Sete... Sete ANOS! Como pode falar uma coisa dessas? – James olhou para baixo. ― É. Finalmente encontrei um argumento furado desse meu amigo sabichão, não?

― Não. – Impôs ele. ― Você está com medo sim, e está cada vez mais claro!

Eu ri atônito.

― Ok, vou ouvir sua teoria.

― Você está com medo por que não tem certeza se pode dar suporte à Marlene dentro da segurança de um casamento. – James apontou o dedo e logo o baixou quando percebeu que não gostei. ― Sim, não tem como negar. Você nunca deixou de ser aquele maroto, um cara sem-vergonha, mas aprendeu a ser fiel com ela por que sabia que ela poderia dar o troco. Mas agora está aí, com medo como um cachorro largado. Eu só não acho que você vai conseguir se manter muito tempo na vida que vocês construíram sem ela. Eu não quero ver você, meu amigo, voltar para o roda-pé de onde veio. Bebidas e casas noturnas... Eu te conheço, Sírius, e você não é do tipo que resiste à tentação a menos que alguém esteja te vigiando.

E não parou por aí. James colocou mais verdades na minha cara. Eu relutava em admitir, mas negá-lo seria chegar a mentir, e eu não sabia mais o que era fazer isso há anos, ainda mais para James.

― Um casamento, meu amigo, - ele prosseguiu, ― é a melhor coisa que pode acontecer na vida de um homem desde que esteja com a pessoa certa. E a Lenne... Não vejo alguém que fez bem a você desde... Bem, acho que seu gosto por garotas nunca foi muito bom, mas por um milagre, acertou em cheio ao escolhê-la. E eu sei o que estou dizendo por que, por sua causa, eu consegui conquistar a mulher da minha vida!

― Lílian sempre gostou de você, isso contribuiu - acrescentei.

― Mas eu não saberia e nem teria chances se você não tivesse me dado uma mãozinha. Você sempre teve certo tato para isso, exceto quando se trata de si mesmo.

Eu ri. Era outra verdade. James riu mais aliviado também.

― Marlene te adora, Sírius. Ela é completamente louca por você.

― Isso é mais uma fofoca que você ouviu da conversa delas?

― Pior que é.

― Fofoqueiro de plantão heim!

― Não me culpe, aprendi na escola! – James e eu rimos e ele prosseguiu. ― Olhe pra você: o garanhão despedaçado, com as calças molhadas, aqui neste casebre abandonado... Uma imagem triste sem ela, não?

James continuou me fitando, esperando uma resposta. Olhei para minhas calças sujas de lama, minha camisa amarrotada de ontem, o lago vazio e inativo à frente. E meu amigo tinha razão. Onde estava minha cabeça? Medo da mulher que eu mais amava? Não, isso não parecia coisa minha.

― Como eu posso ficar apreciável até lá? Quando eu vim, não trouxe nada. Perdi a chave de casa...

James sorriu, parecia restabelecido. Estendeu sua mão para mim e deu tapinhas no meu ombro.

― Fique sossegado meu amigo, eu sei o que fazer. Já está mais que na hora de fazer aquela choradeira de mulheres na minha casa parar! A propósito, Lenne não tem noivo algum.

***

― Sírius está aqui? – Perguntou Lílian.

― Sim, por favor, não diga nada a ela, querida. – Acrescentou James. ― Ele parece que saiu de um buraco hoje de manhã. Deixei-o no nosso quarto, se arrumando.

― Claro. Vou deixar Lenne entretida na sala e nós dois vamos dar o fora daqui, certo?

― Certo.

James e Lílian foram um para cada lado depois de um breve beijo.

***

― Lenne? – Lílian perguntou adentrando na cozinha.

― Ah, Lily... – Marlene assuou o nariz. ― Eu sei que estou atrapalhando. Já mandei reservarem um hotel e vou embora amanhã. Obrigada por me receber.

― Não, não... Que isso, minha amiga. Você sabe que pode ficar o quanto precisar, e nunca vai atrapalhar.

Lílian abraçou Marlene ternamente.

― Obrigada. Mas já estou me sentindo impertinente. Aliás, vou ficar melhor um tempo sozinha... – Marlene se levantou ajeitando o cabelo para trás.

― Não acho que seja assim... – Lílian plantou um beijo na testa da amiga. ― Vem, fique um pouco na sala enquanto vou dar uma palavra com James, tudo bem?

― Claro.

***

― E como eu estou? – Perguntou Sírius terminando de colocar a camisa preta.

― Brilhante, mas, é melhor que feche o zíper, não? – Alertou James.

Sírius terminou de se arrumar e penteou o cabelo, mas sem conseguir evitar seu caimento natural nas laterais do rosto.

― Obrigado por ter me recuperado, James.

― Por nada. Você fica me devendo essa! – James piscou um olho. ― Agora vai. Ela está na sala. Veja se não faz nenhuma besteira. Não quero nenhum bêbado isolado num barraco de novo.

Sírius riu.

― Não.

― Ok.

***

A sala estava quieta. Marlene estava empoleirada numa poltrona, tanto que mal se via o topo de sua cabeça sobre o encosto. A TV exibia um filme qualquer. Sírius entrou na sala sem que ela percebesse, conjurando que o controle da televisão a desligasse.

― Lily, eu... – Marlene empacou ao levantar-se subitamente e virar para trás. Viu o homem deslumbrante, pelo qual era tão apaixonada, parado a poucos metros dela. A briga e a sua atual situação de repente pareceu um momento distante, e tudo sumiu de sua cabeça. ― O que veio fazer aqui? – Perguntou abobalhada.

― Boa pergunta! – Sírius ergueu os lábios num sorriso detonador. ― Mas eu acho que tenho algumas respostas... – Ele esperou que Lenne falasse, mas ela parecia continuar empacada. ― Bem, eu vim por que ficar sem meu apartamento é uma droga, e dormir numa casa sem cama ou sofá é pior ainda. – Ele admitiu e viu Marlene desamarrar um pouco mais a cara. ― Vim por que lama e mato não combinam exatamente comigo, e a solidão muito menos. Também vim por que James me deu bons argumentos sobre por que eu deveria vim.

― Ah, claro! O James...

― Shsh! Eu não terminei. – Disse Sírius, sutilmente, se aproximando de Marlene, que dava passos para trás, na defensiva. ― Como eu dizia, James foi atrás de mim. E depois, eu vim também por que ele me emprestou um banheiro decente para tomar banho e me trocar, por que eu duvido que você fosse gostar do que ia ver caso contrário. Ora, cachorros também se arrumam! – Sírius jogou e dessa vez Lenne sorriu de leve, mas assim que se tocou, fechou a cara.

A estante finalmente encontrou suas costas, fazendo-a parar. Sírius, por outro lado, Encurtou a distância entre eles fazendo com que Marlene não pudesse fugir de forma alguma.

― Mas então... Falando sério. Eu vim por que ser eu sem você não é nada bom. Por que eu não posso viver como eu gosto de viver sem você do meu lado, por que é de você que eu gosto! – Sírius tocou o rosto de Marlene, praticamente hipnotizando-a. ― Eu vim por que eu não quero recuar perante meus medos e ser um covarde para sempre. Vim por que quero deixar de ter medo do casamento, a final, ele não mata, não é?

― É o que dizem! – Riu Lenne.

― Além do mais, também vim só por que eu quero pedir desculpas por ser tão rude. Vim por que te quero comigo, Lenne. Eu só vim a final... Para dizer que eu te amo.

Sírius beijou Marlene e a abraçou com força. Nem que ela tivesse mais mil contra-argumentos, naquela hora não teria como usá-los, e logo todos sumiram da sua cabeça.

Sírius deu novamente espaço para ela e, de forma marota, perguntou:

― Foram respostas suficientes?

Marlene passou a mão pelo rosto de Sírius e sorriu.

― É, eu aceito assim!

FIM!


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
Críticas e comentários são bem-vindos!



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