Vida de Semideusa escrita por Jkws


Capítulo 5
No Acampamento




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Abri os olhos. Ainda estava escuro, e eu não estava com sono, tinha dormido muito bem noite passada. Tentei dormir de novo mas não consegui. Resolvi então tomar banho e sair do chalé, dar uma volta.

Ninguém mais tinha acordado, vi Travis e Connor dormindo. Vi também Luca dormindo, ele se mexeu, e eu saí rápido, não queria acordar ninguém. Fui para a praia, o mar estava agitado. Olhei para longe, vi a linha do horizonte, era lindo ver como o céu se juntava ao mar enquanto o sol nascia, a cena era incrível.

– Lindo, não é?

Me assustei. Pelo visto todo mundo gostava de assustar os novatos por aqui. Olhei para ver quem era. Confesso que fiquei meio surpresa de ver alguém acordado tão cedo, mas ali estava ele, David filho de Apolo. Ele usava calça jeans, tênis e a camisa do acampamento. Estava com um fone de ouvido o outro pendia no ombro direito. Me recuperei do susto e da surpresa. Eu tinha ficado aborrecida, respirei fundo.

– É.

– Ártemis dando lugar á Apolo. – ele refletiu. E depois de um tempo olhou para mim - Sempre acorda assim tão cedo?

– Não. – respirei fundo. Aquele lugar estava cheio de doidos. E pelo visto, eu era a mais nova doida do hospício. – Geralmente minha mãe me acorda. Mas não estou com sono.

– Ah.

Ficamos um bom tempo em silêncio. Uma pergunta veio á minha cabeça, mas eu não sabia se queria fazê-la. Fiquei um tempo pensando se faria ou não. Por fim a curiosidade venceu.

– David.

–Sim?

– Como é... – ele me fitava tentando entender minha pergunta – Olha, eu sou nova nisso, de deuses, monstros e essas coisas. Queria saber como é...

– A vida de um semideus? – Perguntou.

Não. Não era isso que eu queria saber. Eu tinha o perfil da vida de um semideus na cabeça. Mesmo eu nunca tendo realmente vivido isso, era como eu esperava que fosse, e com certeza era uma maravilha ser um Meio-Sangue para mim.

Na verdade eu quis perguntar como era ser reclamado, tipo, eu não queria ficar como Luca, não queria que o meu pai me ignorasse. Mas pensei que não queria mesmo perguntar aquilo para David, sabe, ele não foi uma das melhores pessoas que conheci no acampamento.

– É. – menti.

O rosto dele ficou pensativo.

–Não é a melhor coisa do mundo.

Estranhei. Será que nenhum semideus gostava de ser semideus por aqui?

– Por que ninguém aqui gosta de ser meio-sangue? – perguntei incrédula.

– Por que não somos masoquistas. – ele falou grosso de mais pro meu gosto.

– Mas vocês são filhos de deuses. Não podem se orgulhar disso?

– Como você disse, você é nova aqui. Logo vai entender que todo dracma tem dois lados. Nós não mandamos em nossas próprias vidas. As parcas, o oráculo, os deuses são eles que decidem por nós. Se um deus quer te fulminar, ele pode fazê-lo. Se as parcas cortarem o fio da sua vida, não tem pra onde correr. Muitos de nós lutam para morrer, sabendo que vão morrer.

Tive a sensação que ele já vivenciou aquilo.

– Está dizendo que ser um semideus é ruim? – eu estava ficando com raiva. Descobrir que eu era uma semideusa foi a melhor coisa que me aconteceu.

– Não. Estou dizendo que tem seu lado ruim...

– Como tudo na vida. Ser mortal também não é o paraíso. – o interrompi.

– ... E ás vezes, o lado ruim é pior que o bom. – prosseguiu como se não tivesse sido interrompido.

– Ah, eu não estou acreditando no que você está me dizendo. Vocês são loucos. – falei quase gritando.

Ele me respondeu no mesmo tom.

– Você não sabe nada sobre esse mundo, - ele estava totalmente vermelho. – você nunca foi numa missão, você nunca passou pelo que eu passei, você nunca perdeu... – ele se interrompeu. – Você não entende. - Concluiu.

Se virou e saiu, assim mesmo. Me deixou lá plantada. Morri de raiva. Droga. Aquele idiota tinha acabado com o meu dia mesmo antes dele começar.

Achei que aquela briga tivesse sido desnecessária, mas isso não me impedia de sentir raiva dele.

Chutei areia. Olhei para o céu, estava totalmente azul, sem nuvens, e o Sol ainda estava baixo, estava lindo. Totalmente indiferente á minha raiva. Olhar pro céu me deixou um pouco mais tranquila.

Fiquei lá pensando na conversa, até que alguém disse:

– Hey Jessie! – Era a voz de Matt. Me virei e lá estava meu velho amigo metade cabrito.

Lembrei que não tínhamos falado sobre isso ainda, sobre ele ser metade cabra quero dizer.

– Ei Matt. – ele se aproximou. Quando estava perto falei: - Já pensou no que eu te disse?

Ele pareceu confuso.

– Sobre o que?

– Sobre tirar essa enorme quantidade de pelos das suas... – eu ia dizer pernas, mas não era o termo correto. – ãhn ... se depilar. – brinquei com ele. Precisava aliviar um pouco.

– Ah, - ele riu – essa eu passo.

Rimos juntos. Agora eu sentia menos raiva.

– Cara, você nunca me falou nada sobre ser garoto-cabra. – falei quando paramos um pouco de rir.

Ele pareceu ofendido. Pensei que ele devia mesmo guardar segredo, e não podia me contar antes. Mas aí ele disse:

– É garoto-bode.

Pra mim isso é detalhe. Afinal, qual é a diferença, de cabra e bode? Tudo a mesma coisa. Mas ele pareceu mesmo ofendido, então eu disse:

–Claro. Eu já sabia. Mas desculpe.

Ele não conseguiu evitar rir.

– O nome politicamente correto é sátiro.

– Hmm, sátiro, legal.

Pensando bem, agora eu entendia, o por quê das muletas, das calças e...

– Peraí. Como você usa tênis?

– Pés falsos.

– Ah, claro.

Ele ainda estava sorrindo quando disse:

– Já conseguiu arrumar uma briga né? Acho que você é filha de Ares. – ele deu uma risadinha, eu também mas a minha foi meio forçada.

– Está errado. Por que eles não gostam disso? Melody e David, não gostam de ser meio-sangues. Por que? – protestei.

– Não sei se devo te contar. Mas resumindo: eles perderam uma pessoa muito importante numa missão.

Tá certo, eu não queria ser fria, mas hoje em dia era comum mortes, não devia ser diferente com semideuses.

– Como?

– Digamos que ela quis mudar seu destino, que já estava selado. Foi uma morte horrível.

– Ah. - Matt não iria contar mais que isso. Fiquei imaginando que tipo de morte teria sido essa, para traumatiza-los a tal ponto. Deve ter sido horrível mesmo.

Houve um silêncio constrangedor. E Matt mudou de assunto.

– Vai participar do capture a bandeira na sexta né?

– O que é isso?

– É um jogo onde os chalés se juntam e formam duas equipes: azul e vermelho. Cada um tem uma bandeira, e quem capturar a bandeira do outro primeiro vence. – explicou ele.

– Parece legal.

– E é.

Conversamos mais um pouco até que ele precisou ir. Não entendi muito bem o que ele ia fazer, algo como “ tentar beijar as ninfas”.

Eu fiquei lá sozinha por mais cinco minutos antes de aquela garota a tal Annabeth vir me analisar.

– Olá. – falou me analisando mais de perto.

– Ooi. – falei, achando estranho uma garota, que eu mal conhecia ficar me estudando daquele jeito.

– De onde você é?

– Nasci no Texas, mas minha mãe e eu nos mudamos pra cá faz um tempo.

– Ah – ela falou. De repente seu rosto clareou. – lembrei.

–O que?

– Você me lembra uma amiga minha.

Agora ele estava com um rosto sério, como se tivesse resolvendo um problema de matemática.

– Sério? Quem?

– Ei Annabeth, Quiron está chamando você e a garota nova para o treinamento de arco e flecha.

Era o namorado de Annabeth.

– Ok, já estamos indo, Percy. – e para mim disse - vamos.

Estava tão distraída, com o fato de ela achar que eu parecia uma amiga dela, que esqueci que não sabia atirar com arco e flecha. Não era por que era amiga de Annabeth, é só que se eu parecia com essa tal garota, eu podia ser meio-irmã dela. Mel também tinha mencionado algo sobre eu lembrar alguém.

Annabeth ficou muito ocupada depois que chegamos aos alvos de forma que não falamos mais sobre a tal amiga. Quando tentei convencer Quiron que não tinha jeito com arco e flecha ele não acreditou e me fez provar. Fiz o melhor que pude, o que não impediu a flecha de acertar o topo da árvore onde estava pendurado o alvo, mas não o meu alvo, a árvore do alvo de Quiron, que estava á cinco árvores da minha.

Ele me levou para treinar lança e espada, com os quais eu me saía melhor, embora não encontrasse uma arma equilibrada.

E o resto da semana passou assim, treinar, refeitório nada de mais.

Eu tinha chegado ali na segunda de manhã. Percebi que tinha sido atacada logo na primeira aula, legal. Não tinha falado com minha mãe ainda. Podia até ser maldade, mas eu simplesmente não estava afim de explicar tudo para ela, então pedi que Quiron o fizesse. Ele disse que ia mandar um Mensagem Instantânea para minha mãe. Bem na verdade ele disse que ia mandar uma M.I, o que mais poderia ser uma M.I?

A sexta chegou. Capture a bandeira.

Quiron explicou, as regras eram simples: pegar a bandeira do outro time primeiro. Não era permitido matar nem aleijar.

O chalé de Hermes tinha aliança com Atena, Íris, Poseidon, Hécate, Hefesto e Hipnos éramos a equipe azul. Na equipe vermelha estavam Ares, Afrodite, Apolo, Hades, Deméter e Dionisio. Acho que tinham mais mas eu não consegui nomear.

Annabeth era a estrategista principal da equipe, o que achei bom já que era filha de Atena. Mas a única coisa que me mandou fazer foi: “ desviar a atenção da maioria deles para longe da bandeira”. Tradução: Você é a isca.

Eu não lutava muito bem, então minha estratégia foi simples: surpresa. Eu não iria fugir da luta óbvio, então decidi me esconder atrás de uma árvore e por minha lança no caminho dos inimigos de surpresa, eles cairiam e nem saberiam o que os atingiu. Simples.

E teria dado muito certo, se não fosse o idiota do David.



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