Vida de Semideusa escrita por Jkws


Capítulo 23
Quando ninguém mais te entende...




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Tenho que ajudar David!

Pof!

Ai!

O que...

Levei a mão á minha testa. Doía mas depois de tudo o que passei, chegava até a ser uma dor boa. Não era uma dor avassaladora, era o tipo de dor com a qual se pode conviver: fraca e contínua.

Não sei por que estava pensando nisso.

Parei para analisar o lugar onde estava: um quarto com teto de vidro, logo reconheci meu chalé no Acampamento Meio-Sangue. Eu tinha levantado tão rápido que tinha batido a cabeça na madeira do beliche, eu estava na cama de baixo.

- Uoww fique calma! Jessie, você está bem?– Disse uma voz e mãos tentaram me fazer deitar. É claro que eu não deitei coisa nenhuma.

Procurei pelo dono da voz. Ali estava ele, sentado numa cadeira perto do beliche: David Trooskot, meu amigo filho de Apolo. Fiquei tão feliz em vê-lo bem que pulei pra ele e o abracei. Ele pareceu meio surpreso mas retribuiu o abraço. Quando a situação ficou constrangedora eu o soltei murmurando um “desculpe” nem sei bem por que. Ele deu uma risadinha.

- Você não está morto. – Analisei.

Dãã.

- É. Pelo visto não. – Ele disse rindo mais um pouco.

Sorri também. Analisei o quarto, estava exatamente como o deixei, até Misit estava empoleirada em cima do guarda-roupas com um curativo em uma das asas. A asa em que fora acertada por uma flecha... Então tudo voltou a minha cabeça rápido demais, todas as lembranças daquela noite despencaram sobre mim, como uma tempestade: as Amazonas, Misit, David inconsciente e... Luca, o beijo, o ataque em cima da montanha, a traição.

Tive que sentar.

Idiota.

Senti raiva. Muita raiva. Raiva dele por me beijar e depois me trair descaradamente. Raiva de mim por sentir o que sentia antes por ele. Raiva de não ter notado antes, era tão óbvio que se fosse um monstro teria me matado rápidinho. “Traída serás pelo que julgas amar”. Como eu fui burra.

Burra, burra, burra!

Mas algo ainda me incomodava, e muito, naquela profecia.

Como era ela completa mesmo? Parecia que a tinha escutado séculos atrás. Mas ninguém se esquece de um aviso de morte e traição assim tão fácil:

“Para a madrasta realizarás enfim uma missão.

O Sol e o indefinido acompanha-la irão.

Sob a ira de Hera, a morte acontecerá.

Do céu descerá a perda que sofrerás.

Traída serás pelo que julgas amar.

E um verdadeiro amigo, irá se revelar.”

É claro que ainda não tinha se realizado toda. E estava se realizando fora de ordem. Mas que liga pra ordem numa hora dessas?

David tinha ficado o tempo todo calado, como se estivesse esperando eu assimilar todos aqueles fatos.

- Estou bem. – Disse em resposta a cara de expectativa dele.

Mentira é claro.

Algo estava vindo á minha mente. Um sonho com Rachel e minha mãe. A parte de “ira de Hera” na profecia. Era como se a resposta que eu estava procurando estivesse lá. Invisível, ainda. Mas estava lá. Eu sabia. Com um pouco de esforço talvez... Não consegui nada. Minha cabeça doeu, já não era mais uma dor tão “boa” como antes.

- Descanse, você se desgastou muito. – Disse David, preocupado.

Descansar? Ah, claro. Ele não percebia? Era como eu dizer: Eu fui traída pelo garoto que eu gostava, alguém importante pra mim vai morrer. Mas quem liga para isso? Vou ficar aqui e descansar um pouco.

Ah tá.

-  Não quero descansar. Quero impedir uma morte, pode ser ou tá difícil? – No mesmo instante que disse isso me arrependi. Quanto grosseira eu estava sendo. Que vergonha, Jessie. Tsc, tsc.

- Desculpe. – Falei rápido. – É que...

- Tá eu entendo. – Ele não parecia tão magoado pelas minha palavras. – Então o que vamos fazer agora?

Pensei um pouco. Na verdade nem tão pouco assim. Decidi que faria o seguinte:

Primeiro: tomar um banho.

Segundo: arrumar tudo pra partir pra Nova York no dia seguinte, eu precisava conversar com minha mãe. Ela sabia quem ia morrer, e de alguma forma eu sabia que não conseguiria nada com Rachel. Mas por que Rachel tinha pedido que minha mãe me consolasse quando voltasse pra casa, então? A essa altura alguém já devia ter morrido, certo? (E não, não estou reclamando)

Bem tudo isso ia se esclarecer.

E terceiro: Lembrar de deixar a faca de Rebecca no arsenal. Não sei como ou por que lembrei disso nas circunstâncias em que estava, mas algo que ela me disse sobre alguém mais importante usá-la melhor, me fez querer deixa-la lá logo.

- Eu vou pra casa. – Falei.

- Eu vou com você então.

- Acho melhor não, Dave. – Falei calmamente.

- Por que? Não me quer por perto? Não quer ter que me salvar de novo? – Ele perguntou.

Andei pelo quarto pra evitar que ele visse meu rosto.

- Não é isso. – Falei ainda mais camalmente.

- Então o que é? – Ele me parou e fez com que eu olhasse pra ele.

- Você fica aqui. – Ordenei. – Onde é seguro.

- Ah, eu preciso ficar em segurança. Que clichê, Jess. – Ele bufou.

Dei de ombros.

- Vou amanhã de manhã. Obrigada por cuidar de mim e tal...

- Não acredito nisso.

- Não é sério, obrigada. E a propósito quanto tempo eu dormi, mesmo? – Falei sem notar que o rosto dele estava totalmente vermelho.

- Três dias. – Só então notei seu tom de voz magoado. – Sabe, Jessica, não pensava que você era assim, deixando seus amigos para trás, quando eles tanto te ajudaram. Eu não sei o que aconteceu na ilha e não sei por que Luca sumiu. Mas seja o que for, te afetou bastante. – E saiu pisando forte do meu chalé.

Ele estava exagerando. O que aconteceu na ilha não tinha nada a ver com isso. Eu não queria que ele fosse, pelo simples fato que era bem mais difícil ele morrer dentro das defesas mágicas do acampamento.

Mas se ele ia ficar com raiva de mim por eu tentar salvar a vida dele...

Quanta estupidez, acho que ele queria era atenção. Ou não. Não sei.

Acho que nem devo perguntar se vou, não é? Perguntou-me Misit.

Não. Eu disse.

Tudo estava confuso. Eu não queria pensar nisso. Então deitei e dormi de novo. Não tive sonhos.

Cheguei na minha casa.

Há quanto tempo eu não ia lá? Quase um mês. Uns 24 dias eu acho. 

Bati na porta, Susan Parker ainda não tinha ido para o trabalho aquela hora. Eu estava com saudades da minha mãe, eu sei que ela era um pouco ausente, mas ainda é minha mãe, e eu sentia falta de ela me acordando todas as manhãs para o café, ou quando chegava a noite com chocolates que ela comprava na padaria ao lado do trabalho. Nós duas amamos chocolate. Uma família chocólatra. Estava pensando nisso quando ouvi minha mãe perguntar pelo interfone o típico “quem é?”

- Eh... Sou eu mãe.

- Jessie? – Ela perguntou já abrindo a porta, e me envolveu num abraço apertado. – Ah querida que saudades! Como você está? Ah cortou o cabelo!

Eu só sorri. Ela me levou pra dentro sentamos na mesa e ela pôs chocolate  quente na minha caneca preferida. Bebi uns goles e contei pra ela toda a história desde o ataque do dragão e o resgate de Peleu até hoje, senti que tinha que contar tudo pra ela até o que eu não pensava em contar para mais ninguém, como o que Luca fez e o sequestro de Hera. Ela ouviu tudo preocupada, mas quando terminei ela só disse:

- Agora você está bem, que tal fazermos umas comprinhas de aniversário? – Ela disse contente. Olhei pro calendário, meu aniversário seria dali a 7 dias no dia 31 de junho. Mas isso não é importante.

- Não, mãe. Quer dizer. Faltam alguns dias pro meu aniversário. Quero saber quem vai morrer. Aliás, não vai morrer, eu não vou deixar.

Ela me analisou.

- Querida, você merece um descanso. Acredite em mim, não adianta se preocupar com isso agora. Eu sei o que estou fazendo.

Pensei um pouco, minha mãe sabia quem ia morrer, e com certeza ela não ia me levar para fazer comprinhas de aniversário sabendo que alguém importante pra mim ia morrer.

- Mãe, me diz quem é, eu tento por a pessoa em segurança, ai prometo que vamos fazer compras certo?

- Eu só vou dizer quando você vir comigo. – Ela disse, e eu soube que ela não voltaria atrás.

- Certo. Vamos fazer compras. - Respondi.

Tomara que não aconteça nada até terminarmos. Fiz minha prece silenciosa.


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Notas finais do capítulo

Vocês vão entender o por quê disso no próximo capitulo ;D