Vida de Semideusa escrita por Jkws


Capítulo 17
Descubro um passado macabro




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Eu nunca tinha parado e analisado aquela faca, mas agora eu via coisas que não eram comuns em facas. Como o fato de ela mais parecer um espelho do que uma faca, tinha o punho elegante de couro. Legal.

- Brigada, Jessie. – Ela sorria.

- Imagina, família é pra essas coisas.

- Ok família, que tal irmos procurar um  metrô ou um ônibus? Acho que vi um escorpião gigante ali. Vamos!– Falou David.

Corremos para a rodoviária, o próximo ônibus ia sair dali a meia hora. Sentamos no canto mais distante das pessoas, que erma muitas, e Rebecca arrumou meus cabelos com a faca.

Isso mesmo eu deixei uma garota de onze anos cortar meu cabelo com uma faca-espelho de bronze celestial. Mas era uma garota filha de Afrodite, e devo dizer ficou bem melhor do que quando eu cortei. Não tirou muito do comprimento que já era pouco.

Ficamos conversando pela meia hora que se seguiu e depois umas quatro horas na viajem de ônibus. Eu não tinha percebido o quanto estava precisando conversar com uma garota normal, já que meus companheiros de missão eram dois meninos e uma águia.

Rebecca me contou que toda a sua família (seu irmão mais velho e seu pai) tinham morrido quando ela tinha cinco anos, num ataque de hipobereos , uns gigantes do gelo. A última coisa que seu pai lhe tinha dito foi a sua verdadeira identidade, e ela acreditou desde o começo, mas não contou para ninguém, além do seu amigo sátiro, até hoje á tarde.

Recebeu o chamado de Ártemis dez dias atrás, fugiu da casa dos avós, que tinham ficado com a guarda dela depois da morte do pai, e agora estava saindo de São Francisco para se juntar ás caçadoras.

Começamos a conversar sobre como seria ser uma caçadora, e acabamos chegando ao quesito garotos.

- Ah é, não vou poder namorar, mas quem se importa com isso?

- Não é meio nova para dizer isso tão cedo? – Perguntei alisando as penas de Misit, que estava no meu colo.

- Não. Eu sei o que quero. Não aguento mais tantos ataques, esse não é o tipo de vida que eu quero para mim.

O jeito que ela falava me lembrava David, lembrei de Matt ter dito que ele perdera alguém... todos os meio-sangues, perdiam entes queridos? Segundo a profecia eu também ia... Não,  não vou pensar nisso.

Olhei pra ela, obstinada a conseguir o que queria, ela perecia ter sido obrigada a amadurecer rápido demais. Ela só queria um sossego dessa vida de semideusa.

- Você sabe que o acampamento também é seguro, né?

- Sei. – Ela falou. E mudou de assunto – Mas e aí, você e David, hein?

- O que? – Perguntei um pouco alto demais.

- Ah, fala sério Jessie, dá pra ver que...

- Do que você está falando? Eu e David? Rá. Não, não, não, não daria certo.

- E de quem você gosta? De Luca?

Bem eu negaria até o final, mas a forma como ela perguntou aquilo me fez dizer num impulso:

- É, por que?

Não dava pra os garotos escutarem a conversa, David escutava música na nossa frente e dava pra ouvir a Rihanna cantando California King Bed  há quilômetros de distância, e ele estava com fones de ouvido. Luca estava sentado umas duas cadeiras á frente dele e estava conversando com um garoto  que aparentava ter uns dezesseis anos.

- Nada. É vocês se dão bem mesmo. Parecem pensar de maneiras iguais. – Ela falou e saiu, se sentou ao lado de David que deu pausa na música e eles ficaram conversando sobre o acampamento e as caçadoras.

Assim que Rebecca saiu, Luca veio se sentar ao meu lado.

- O que achou da Rebecca? – Perguntou tentando puxar assunto.

- Ah ela é ótima. Muito madura pra idade, teve que amadurecer rápido.

Ele assentiu.

- Como David.

- Como assim? O que aconteceu?- Pensei que ele fosse fazer como Matt e dizer algo como: “Ah, é, eu  mencionei isso mas não posso te contar. Morra de curiosidade.” Mas ele começou a falar.

- A mãe dele... hãn... não batia bem da cabeça, desde que Apolo a deixou ela ficou meio pirada, então David cuidou dela, sempre. Desde pequenininho ele é quem cuidava da mãe, e isso fez com que ele amadurecesse cedo, não brincava com os garotos da sua idade, até mesmo por que, além da mãe tinha lidar com todos os problemas que um semideus tem que lidar. – Falou ele, com pena.

- Ah. – Me senti meio mal por ter discutido com David, não deve ter sido fácil ser um meio-sangue com uma mãe biruta. – E o que aconteceu com ela?

- Ela arrumou um esposo, que agora cuida dela. David só vai pro acampamento nas férias. – Aquilo me pareceu bom. Ele tinha uma família. Por que tanta mágoa? Por que perdeu a infância?

- Mas por que ele, odeia tanto isso? Ser um meio-sangue, quero dizer.

- Por que, um pouco depois que a mãe dele arrumou o cara e tal, pouco depois da guerra dos titãns, pouco depois de eu chegar ao acampamento, chegou uma menina, Cecília Gomez filha de Hécate. Ela era muito bonita e legal, uma maga das boas. Ela e David ficaram muito amigos e todos viam que se gostavam, Melody apoiava totalmente o relacionamento deles.

Senti um nó no estômago, não sei bem por que.

Luca continuou:

- Eles tinham doze anos, mas David sentia como se tivesse dezesseis. Um dia o oráculo deu uma missão á Melody. Ela deveria se assegurar que o Labirinto de Dédalo foi destruído, é claro que foi. Mas só pra ter certeza, além disso ela deveria trazer um casco do Javali de Erimato. Como companheiros de missão Melody escolheu Cecília e David. A profecia dizia que a feiticeira iria morrer. Mas ela ignorou e disse que nada a mataria, ninguém permitiria sua morte. Ela lutaria pela vida. – Ele suspirou. – Eles já tinham se assegurado quanto ao labirinto. Certa noite eles acamparam, não sabiam mas Sínis, um ser que antigamente fora derrotado por Teseu, estava naquela região. Sínis tinha o costume de amarrar as pernas de viajantes á um pinheiro preso ao chão e os braços á outro e depois soltar, esquartejando-os. Cecília não conseguiu dormir, foi dar uma voltinha e deu de cara com ele, não deu tempo nem de pedir por ajuda. Sínis a esquartejou com seus métodos frios. No dia seguinte David e e Melody encontraram seus restos e mataram Sínis. O resto você deve imaginar. Eles terminaram a missão. Mas aquilo os traumatizou. Ele é muito forte em sair numa missão de novo.

- Nossa, eu...eu não sabia. Que coisa horrível. – Agora eu entendia por que ele odiava tanto ser um semideus. Era muita coisa pra uma pessoa só. Mãe pirada, namorada esquartejada. E ele só tinha quinze anos.

Se fosse comigo não sei se aguentaria.

Luca sorriu.

- Vamos esquecer isso.- E mudou de assunto - Gostei do seu novo corte de cabelo.

Eu pasasei  a mão pelos cabelos.

- Obrigada. – E sorri. Ainda meio horrorizada pela história.

O resto da viagem passou rápido, conversamos muito, sobre praticamente de tudo.

Assim que chegamos um grupo de cinco empousai nos atacou, lidamos com elas facilmente e seguimos viagem.

Chegamos a West New York e decidimos acampar, tínhamos ficado muito em hotéis. Adentramos uma área verde, procurávamos uma clareira quando Misit começou a ficar inquieta e Rebecca quase dançou de felicidade.

- É aqui! É aqui! Ela está aqui! – Ela cantarolava. Olhamos ao redor mas nada vimos. Andamos mais um pouco e eu pude ver a borda de uma clareira.

Rebecca pulava de expectativa chegamos a clareira e vimos um acampamento todo armado, as barracas eram pratas. Lobos e garotas andavam de um lado para o outro tranquilamente, outras cantavam na frente  de uma fogueira. De repente a ponta de uma lança estava em meu pescoço e flechas apontadas para os meus amigos.

- Apresentem-se, forasteiros. – Ordenou uma voz de garota.

Virei-me para ver de quem era a voz e vi uma garota com cabelos pretos com um corte meio punk uma tiara prata na cabeça, olhos azuis como o céu, um pouco de sardas e brandia um escudo com a cara horrível da Medusa.

- Jessica Katherine Parker, filha de Zeus. – Falei. – e você é...

A garota me olhou confusa.

- Sou Thalia, - e agora mais confusa ainda. – Filha de Zeus


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Notas finais do capítulo

Realmente existe esse Sínis na mitologia grega. E ele realmente foi morto por Teseu.