Era sempre o mesmo pesadelo.

Um dragão verde me perseguindo, ele tinha asas mas não estava voando, soltava fogo. Eu estava fugindo dele, me escondi atrás de uma árvore a tempo de ver uma onda de fogo passar ao meu lado, uma mecha do meu cabelo ficou chamuscada. Uma voz estridente chamou:

- Jessica Katherine Parker, seu pai não a livrará de mim.

Meu pai? Eu não conhecia meu pai. Como ele podia me livrar de alguma coisa? Ele nem sabia que eu existia.

Eu ia me dar mal.

O dragão estava chegando mais perto, eu podia sentir o calor e a fumaça que emanava da sua boca, que estava prestes a me jantar.

-Jessie! Jessie! - Alguém me sacodia - Jessica! 

Acordei assustada, minha mãe estava ao meu lado com cara de preocupada.

-Outro pesadelo? - Ela perguntou.

-Não.- falei passando a mão nos olhos - É sempre o mesmo. Como sabia?

- Você sabe que fala enquanto dorme. E estava gritando algo sobre dragão, fogo e jantar.

- Claro.

- O café está na mesa. Venha, ou vai se atrasar para a escola.

Fiz todo o ritual matinal e fui para a cozinha. Minha mãe estava sentada, comendo um pedaço de bolo de chocolate, como sempre.

Vou falar um pouco sobre minha mãe.

Se chama Susan Parker, tem cabelos pretos ondulados até a cintura, olhos cor de mel e pele bronzeada. Era um líder nata: sempre sabia o que dizer, como dizer e para quem dizer, e era chefe de um escritório, onde um monte de executivos que protegiam aves. Estranho e legal ao mesmo tempo.

Comi meu pedaço de bolo, estava uma delícia.

- Como está? - ela perguntou

- Ótimo, você que fez? - falei 

- Sim, e ande logo, está atrasada.

Assim era minha mãe: direta. Era seu jeito de demonstrar que me amava.

Era o penúltimo dia de aula. Eu odiava isso. A escola. E mais um dia lá, seria como passar mais um dia no tártaro. Espera. Tártaro? De onde eu tirei isso? Ah claro, aulas de história. Está vendo? Um tempo na escola e você começa a pensar igual a professora, aquilo não presta, a escola quero dizer, não a professora, ela até que é legal.

Cheguei na escola, meu amigo, Matthew estava me esperando.

- E aí Matt? - Perguntei

- Tudo na boa -  ele falou se esforçando pra fazer pose de machão, mas não deu muito certo com as muletas. Sim, Matt é aleijado. E daí? É o melhor amigo que já tive. Tinha cabelos cacheados louros, como os de um anjo, olhos pretos, e pele bronzeada, e acne, muita acne. 

- Só mais um pouco. - ele falou, como se odiasse aquele lugar tanto quanto eu.

Entenda: quando se é uma pessoa como eu, ou como Matt, a escola não é um lugar onde se queira estar. É só um lugar com gente que te acha burra e inútil, tentando provar que você é burra e inútil, e ás veses conseguindo. Somente.

Meu problema é: tenho dislexia e transtorno no défict de atenção, me dou mal em todas as matérias exeto educação física, ás vezes. E não sou... como se diz... sociável. O problema do Matt é, ele é aleijado, um alvo fácil para os valentões. 

A primeira aula era de história, srta. Owens é a professora. Ela é a melhor professora na minha opinião, só por que não me chama de retardada. Parece me entender. Tem cabelos loiros, olhos escuros e um bronze de praia, era bastante jovem, mas parecia ter visto muita coisa com os seus 18 anos, nunca entendi como ela conseguiu lecionar na escola, sendo tão jovem. Mas muita coisa era estranha na minha vida.

-Olá meio-sangues! – Por isso todo mundo gostava daquela professora. Ela agia como se a história pudesse se repetir, como se não fossem... bem histórias, como se pudéssemos ser meio-sangues.

Eu gostava disso, de achar que minha vida podia ser outra, melhor. Eu queria ter poderes, ser filha de um deus e lutar contra monstros, parecia tão legal. Mas quando disse isso para a srta. Owens, ela assumiu uma expressão sombria e disse: “Ser um meio-sangue não é como você pensa, coisas estranhas e ruins acontecem aos semideuses. Se pudesse escolher, talvez...” e se interrompeu como se não pudesse me contar algo.

-Hoje falaremos sobre A Odisseia – ela disse animada.

Eu achava mitologia muito legal. Mas não conseguia focar a atenção por muito tempo em uma coisa só.

Olhei para a janela, e uma sombra passou e logo desapareceu, como se um avião tivesse coberto o Sol por um tempo. E por um momento podia jurar ter ouvido asas batendo, asas gigantes.

Eu estava ficando maluca.

Olhei para Matt, mas ele estava olhando para a srta. Owens com uma expressão aterrorizada. Só então me dei conta que todos estavam em silêncio. A srta Owens assentiu para Matt. Ele se levantou para ir falar com ela, mas então sua muleta esquerda escorregou e ele caiu.

- Oh, vamos me ajude aqui Jessie - a srta. Owens falou para mim

Levamos ele para a enfermaria,  ele estava gritando “está doendo, ah, está doendo muito!”

Ouvi um som esquisito. Assim que saímos Matt ficou normal, como se nada tivesse acontecido. E ele começou a correr,  ou o mais próximo disso com as muletas, as srta. Owens o acompanhou. Fiquei parada, no lugar onde estava.

- Espera! Você não tinha caído? E não estava doendo muito? – Gritei confusa.

-Shii. – ele olhou para o ceu – Venha, - eles me puxaram para fora da escola

- Aonde estamos indo?- eu perguntei. Tudo estava acontecendo rápido demais.

-Pro acampamento, deixar você segura- Respondeu a srta. Owens, se dirigindo ao carro dela.

- O QUE? Que loucura é essa? - tive que gritar pois alguma coisa rugiu. Estávamos quase no carro quando uma sombra surgiu. Eu olhei pra cima e gritei. Droga.

Lá estava ele: O dragão do meu pesadelo.