– Ela tá viva? – Dizia uma voz feminina ao meu lado.

– Está. – Falou uma voz masculina.

– Ela vai ter uma surpresa quando acordar – a garota dizia entre risadas.

– Por que?

– Sendo carregada por um desconhecido, faça as contas. – debochou ela.

– Tanto faz. – O garoto me puxou mais para cima.

Aos poucos fui tomando mais consciência e abrindo os olhos devagar. Minha cabeça doía, aliás, não só minha cabeça, mas todo o meu corpo, que parecia ter sido esmagado por um caminhão. A primeira coisa que vi foi um pescoço tatuado com uma cruz invertida, e o cheiro de perfume masculino amadeirado invadiu minhas narinas,consumindo meu cérebro. Aparentemente eu desmaiei. Fui me afastando do pescoço desconhecido, um pouco zonza, com as mãos nos ombros de quem quer que fosse a pessoa a me carregar.

– Aaah, Caleb! Ela acordou Caleb! – gritava alguém. Quando olhei para o lado notei que era um morcego, ou deveria dizer morcega?

– Eu notei Adariel, pare de gritar, as pessoas estão olhando. – a voz masculina em questão pertencia a um garoto, aparentemente normal. O tom da voz não mudou desde a primeira vez que ouvi, calmo e indiferente. – Está bem para andar?

– Eu acho que sim... – esfreguei meus olhos que ainda estavam um pouco desfocados. Ele olhava para mim de forma indiferente, mas eu podia notar um pingo de preocupação, mesmo que minúsculo. – Desculpe se preocupei.

Imediatamente que falei ele me soltou no chão. Idiota.

– Como? – Caleb batia nas costas, como se estivesse sujo. Realmente. algo muito delicado de fazer. Eu não sou suja! Eu não estava suja!

– Ai! Ei! Por que fez isso? – esbravejei, me levantando rapidamente, a queda fez o favor de me acordar 100%. – Eu podia ter me machucado!

– Numa queda de meio metro? – Ele se virou para mim e cruzou os braços. Dessa vez pude ver melhor a tatuagem no pescoço, um S pequeno, a marca de um Sombra.

– Essa marca... – Sombras não são dos guardiões mais agradáveis de se dialogar. Suzane diz que eles têm uma “moeda de troca”, sempre querem algo em compensação por seus serviços particulares, e geralmente não costumam pedir coisas simples. Tudo deve ser da maneira que eles querem e como querem.

– Caleb é um humano abençoado pelos poderosos Sombras, senhorita... – a morcega pousou em minha cabeça e abaixou o pescoço para me encarar. – Que olhos interessantes você tem.

– Adariel, cala a boca. – mandou Caleb, pegando a morcega com as duas mãos e a guardando na mochila. Ele se virou e continuou a andar, largando minha bolsinha de alça no chão.

Peguei a bolsinha e corri atrás do garoto.

– Caleb, certo? Eu sou April. Você é humano? Foi tocado por um Sombra sendo humano?

– Não, moça, antes eu era uma linda succubus que desejou ser humano e homem. – Caleb debochou de mim, sem desviar os olhos do caminho, que até então eu sequer havia reparado.

Vários adolescentes caminhavam por uma estrada de pedras que seguia até a porta principal do enorme internato. Uma mansão com diversas salas e dois prédios separados, que suspeito serem os dormitórios. No caminho, várias criaturas diferentes conversavam e alguns encaravam Caleb.

– Que engraçado, já pensou em ser piadista? – cerrei os olhos e o encarei, parando bem a sua frente e atrapalhando que seguisse. Caleb foi para um lado e eu o segui, ele foi para o outro e continuei atrapalhando.

– O que você quer?

– Apenas que me diga onde me achou e o local do dormitório feminino.

– Floresta. Logo em frente.