Diário Aberto, Amor Secreto escrita por Hina Townsend


Capítulo 5
Desconfiança


Notas iniciais do capítulo

"It's alive!"



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Cap. 5 - Desconfiança

 

            Um sorriso malicioso surgiu nos lábios de Draco Malfoy enquanto este lavava os instrumentos utilizados na poção. Um sorriso característico dos momentos em que algo de muito interessante estava prestes a acontecer.

 

            Enfim Draco colocava em prática a terceira etapa de seu plano, sendo que a primeira tinha sido dar o diário da Granger para o cão do guarda-caças e a segunda tinha sido enviar à Hermione uma cópia de suas anotações de todas as matérias. Nesse momento, ele sabia que a garota acabaria notando o pergaminho que ele tinha deixado "acidentalmente" à vista dela.

 

            Ele antecipava o que viria a seguir. Ele voltaria para a mesa e, assim que se sentasse, notaria que Hermione estava olhando-o de um jeito estranho. "O que houve?" ele perguntaria. "Era você que estava me enviando as anotações o tempo todo?" seria a vez dela perguntar. Então, ele iria se fingir de surpreso, tentaria disfarçar um pouco para despistar a grifinória e, finalmente, acabaria admitindo. Ela perguntaria por que ele tinha feito aquilo e ele diria apenas que estava tentando ajudar. E, mesmo que Hermione não dissesse isso a Draco, ele saberia que ela passaria a baixar um pouco mais a guarda quando estivesse perto dele. Draco só precisava de uma oportunidade para deixar Hermione completamente apaixonada por ele e, depois, descartá-la como se ela não fosse nada.

 

            E seu sorriso tornou-se ainda mais malicioso.

 

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            Hermione Granger era famosa por sempre possuir uma resposta para tudo. Qualquer situação, qualquer problema, ela sempre sabia a coisa certa a dizer. Por isso era tão estranho que a grifinória estivesse em um momento em que ela não sabia nem o que pensar, quanto mais o que dizer.

 

            "Era ele, desde o início. Por Merlin, o que será que isso significa? É possível que ele não seja esse idiota que sempre pensei que ele fosse?" Hermione pensava, preocupada.

 

            Mesmo sabendo que Malfoy era um canalha, ela sentia algo diferente de raiva toda a vez que o via. Era só uma atraçãozinha passageira, era o que a garota fazia questão de dizer a si mesma quando seu coração dava uma cambalhota ao som da voz de Malfoy. Não é nada demais, ela insistia, quando um olhar do sonserino a fazia esquecer-se de respirar. A única coisa que a impedia de se apaixonar era saber que o loiro não prestava.

 

            Porém, agora ela sentia que isso estava mudando lentamente. A descoberta de que Draco é seu benfeitor secreto, o fato de que o sonserino não arruma uma briga com ela há tempos, o jeito educado com que ele se ofereceu para lavar os instrumentos utilizados no preparo da poção. Aquela pessoa parecia ser completamente diferente do Draco Malfoy que ela conhecia, do Draco Malfoy que estava sempre procurando motivos para irritá-la, para ofendê-la.

“Ou será que... Será que ele está só brincando comigo? Conhecendo aquela serpente, eu diria que isso é perfeitamente possível” Hermione pensou, decidida a não se deixar levar por atrações fúteis e irracionais como a que estava experimentando.

 

            Ela pensou em olhar mais uma vez para o pergaminho, pela oitava vez, mas, antes que pudesse fazê-lo, ela viu que Draco se aproximava de sua cadeira. Um longo período de silêncio se seguiu após o garoto sentar-se ao lado de Hermione.

 

            Alguns minutos depois, o sinal anunciando o final da aula de poções pôde ser ouvido. Enquanto guardava seu material na mochila, Hermione evitava olhar diretamente para Draco, mas tinha notado que o sonserino tinha permanecido parado por alguns segundos após o toque do sinal, como se ele estivesse esperando por alguma coisa, antes de começar a guardar o material também.

 

             - Meus parabéns pela habilidade com a poção hoje, Granger. Até eu tenho que admitir que você fez um belo trabalho. - Draco disse, sem nenhuma ironia na voz.

 

            Hermione, apesar de surpresa com o comentário completamente fora do normal, não deixou a surpresa transparecer e devolveu o comentário de Draco, com sua melhor imitação de um sorriso encabulado.

 

             - Obrigada. Mas eu só fiz um bom trabalho porque pude contar com uma dupla como você. - nesse ponto, o sorriso de Hermione passou de falsamente encabulado para falsamente sedutor. Ela procurava, assim como Malfoy, ignorar os olhares abobados que todos da grifinória e da sonserina lançavam aos dois.

 

            “Eu vou mostrar a ele.” Hermione pensou, lançando um último olhar cheio de significado a um Malfoy visivelmente confuso antes de sair da sala de Poções. “Dois podem jogar esse jogo...”

 

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“Droga! Mil vezes droga! Ela está desconfiada de algo com toda a certeza! Será que eu apressei as coisas? Acho que eu subestimei a inteligência dela. Desde que ela não relacione nada disso com o incidente do diário eu ainda tenho uma chance.”

 

Mas Draco sabia que daquele momento em diante, teria que agir rapidamente. Ele não poderia dar a Hermione a chance de refletir muito sobre o assunto e acabar desvendando tudo. Ele precisava de algo que conquistasse a confiança dela rapidamente. O que poderia ser?

 

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             - Eu só estava sendo cordial! Não tem nada demais! - Hermione disse pela milionésima vez durante o jantar a Harry e Rony, que cobravam uma explicação pelo seu comportamento suspeito perante Malfoy.

 

             - “Cordial”? Só faltava vocês dois trocarem números de telefone! - Harry estava tão chocado que achava quase impossível manter o tom de voz baixo.

 

             - O que são filitones mesmo? Isso não importa! - Rony gritou aos sussurros. - Se você sair com o Krum já era confraternizar com o inimigo, isso é praticamente vender sua alma ao demônio! É isso o que você quer fazer, Mione?

 

             - Vocês estão exagerando! Eu só disse que ele é bom em poções, o que é verdade. Além do mais, o Malfoy pode não ser tão ruim como nós pensamos...

 

             - Ela não disse isso! - a expressão do Rony era do mais puro horror

 

- Claro que o Malfoy é tão ruim quanto nós pensamos que ele é! Não, esquece o que eu disse. Ele é pior! - Harry disse, tão chocado quanto Rony.

 

- Muito pior! - Rony enfatizou, sacudindo um garfo cheio de pudim de carne na direção de Hermione.

 

- Falando no diabo... - Hermione disse, acenando levemente para a cabeça na direção da porta do salão principal, por onde Malfoy entrava escoltado por Crabbe e Goyle.

 

- Então você concorda comigo quando eu digo que o Malfoy é o demônio? - Rony quis saber, sua voz um tanto abafada pelo excesso de comida.

 

- Foi só uma maneira de dizer. Você leva tudo ao pé da letra. - Hermione disse, sem dar muita atenção aos resmungos de Rony que seguiram seu comentário. Ela estava ocupada demais seguindo cada movimento de Malfoy com o olhar. Ela acompanhou quando ele se sentou à mesa da Sonserina e começou a olhar para a mesa da Grifinória. Assim que seus olhares se cruzaram, Malfoy sorriu levemente e Hermione sentiu seu rosto corar e desviou o olhar rapidamente na direção de Harry e Rony. Para sua sorte, nenhum dos dois pareceu ter notado seu pequeno deslize.

 

            Passou se cerca de um minuto antes de ela achar que seria seguro voltar a olhar Malfoy. Quando ela o fez, notou que o garoto não conversava com ninguém na mesa. Nas outras vezes que Hermione o observara - discretamente, é claro - ele sempre estava conversando com alguém. Mas não naquele dia.

 

            Naquele dia Malfoy estava simplesmente encarando o prato de comida – que permanecia intocado – com uma expressão que Hermione definiria como pensativa. De vez em quando ele levantava o olhar para seus colegas da Sonserina e parecia ficar mais e mais carrancudo a cada vez que fazia isso. Era como se a conversa dos seus colegas de mesa irritasse o loiro profundamente.

 

            “Quem é esse garoto e o que ele fez com o Malfoy?” Hermione se perguntou, por fim.

 

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            Draco nunca pensou que ficaria entediado com os assuntos da mesa da Sonserina. Mas ali estava ele, pronto para apontar a varinha para o próprio peito a gritar “Avada Kedabra!”.

 

            E isso não tinha acontecido de repente. Ele vinha perdendo o interesse nas conversas de seus colegas lentamente desde que tinha começado a ler o diário da Granger.

 

            No começo, ele só estava lendo o diário para ter material de primeira mão na tarefa de conquistar a grifinória. Depois, ele lia o diário porque sentia uma satisfação indescritível ao se ver descrito pela sua inimiga como “o garoto mais bonito de Hogwarts”(palavras dela!). Porém, no final ele teve que admitir que o principal motivo de estar lendo o diário não era massagear seu ego ou conseguir informações para fazer a Granger se apaixonar por ele definitivamente. Ele teve que admitir que achava os relatos da garota terrivelmente divertidos.

 

            Não era só o que ela escrevia, mas principalmente como ela escrevia. Mais de uma vez Draco tinha sido levado às gargalhadas por uma frase engraçada ou por uma história estranha contada pela garota.

 

            Ele conseguia não pensar muito sobre como estava gostando de conhecer a veia cômica da Granger, mas quando estava em uma mesa repleta de gente superficial, sem nada de inteligente ou divertido para falar, era impossível não imaginar como seria bom se ele tivesse o diário dela ali para poder passar o tempo.

 

            “Eu não tenho tempo para isso” Draco concluiu, se endireitando na cadeira e finalmente começando a comer “Tenho que pensar num jeito de fazer a Granger acreditar que o meu interesse no bem dela é verdadeiro. O que eu posso fazer para ela confiar em mim?”

 

            Ele ao conseguiu ter nenhuma idéia. Mas, para a sua felicidade, a oportunidade perfeita viria exatamente uma semana depois, na aula de Poções, sem que ele precisasse fazer nenhum esforço.

 

 

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            Hermione estava tendo dificuldades para se concentrar. Era a primeira aula que ela tinha com o Malfoy desde que eles tinham tido sua “conversa cordial” na semana anterior. Desta vez a poção era para ser feita individualmente, mas, mesmo não ficando ao lado do Malfoy (ele estava trabalhando no caldeirão atrás do dela), Hermione podia sentir que ele a observava atentamente, como se a estivesse estudando.

 

            Curiosa sobre o motivo desse interesse repentino, Hermione fazia a poção no piloto automático, sem prestar a menor atenção no que estava fazendo. Naquele momento, saber quais eram as intenções de Malfoy parecia mais importante (e muito mais interessante) do que fazer a poção perfeita. Se o que Malfoy pretendia desde o início era fazê-la ir mal nos estudos, Hermione seria obrigada a admitir que ele estava conseguindo.

 

             - Granger?

 

            Hermione quase pulou de susto ao ouvir a voz de Malfoy chamando seu nome.

 

             - Sim? – disse Hermione, se virando para olhar para Malfoy e tomando cuidado para manter a voz doce em honra à trégua que parecia ter se interposto entre eles.

 

             - As raízes. – Malfoy disse como se isso explicasse tudo. Como Hermione ainda parecia não ter entendido ele elaborou – Você colocou mais do que o triplo do que a poção pedia.

 

             - Não coloquei não! – Hermione se apressou a negar, esquecendo completamente da trégua, muitíssimo ofendida com a idéia de que ela cometeria um erro tão monstruoso. Mas a verdade era que ela não sabia ao certo o que ela tinha colocado naquele caldeirão, já que sua mente estava em outro lugar enquanto ela preparava a poção.

 

             - Colocou sim. – insistiu Malfoy, gentilmente, embora Hermione estivesse ofendida demais para enxergar a gentileza – E parece que a poção está bem mais quente do que deveria.

 

             - Eu sei o que eu estou fazendo – Hermione encerrou o assunto com seu melhor olhar de “Cuida da sua vida, ok?” e Malfoy, não querendo discutir com ela, voltou a trabalhar na sua própria poção.

 

            Foi então que Hermione parou pela primeira vez na aula para observar sua poção. Ela definitivamente não sabia o que estava fazendo.

 

            O líquido que deveria ter ficado verde-esmeralda tinha atingido um tom berrante e rosa, além de soltar um vapor com forte cheiro de naftalina e borbulhar de forma assustadora, como se tudo fosse explodir a qualquer momento.

 

            Alarmada com aquilo (especialmente com a ameaça de explosão por parte da poção), Hermione fez a única coisa que parecia sensata e segura naquela hora: desligou o fogo.

 

            Isso se provou um grande erro, já que, assim que o fogo sob o caldeirão se apagou, o líquido subiu rapidamente, transbordando e encharcando os pés da pessoa mais próxima. Claro que, como a sorte não estava do lado de Hermione, a pessoa mais próxima era ninguém menos do que o professor Snape.

 

            Assim que Snape soltou uma exclamação de dor e o cheiro de naftalina encheu o ar da masmorra, os alunos que estavam na rota de derramamento com a poção, incluindo Hermione, subiram em suas cadeiras, de modo a escapar do poder corrosivo da poção, que se mostrou um acido potente. O professor sentou-se na cadeira vaga mais próxima, tirou os pés da poça rosada de ácido, e, com um aceno de varinha, fez toda a poção desaparecer. Com outro aceno, ele conjurou ataduras que se envolveram em seus pés visivelmente queimados.

 

            A única coisa mais propensa ao homicídio do que o Snape era o Snape com dor. E era isso o que Hermione teria que enfrentar. Ela não sairia viva daquela masmorra.

 

             - Desça – ordenou Snape, com a voz tão gelada que Hermione sentiu o ar na masmorra ficar instantaneamente mais frio. Só então Hemoine notou que todos os alunos já tinham descido de suas cadeiras e que ela era a única que ainda não o tinha feito. Ela obedeceu, trêmula.

 

             - Pro-professor, e-eu sinto muito, eu...

 

             - Cale-se – Snape mandou, fazendo Hermione fechar a boca no meio do pedido de desculpas – Um mês de detenção. Estão dispensados.

 

            Mas nenhum aluno se moveu.

 

             - E-eu n-não quis... – Hermione começou a se justificar, só para ser interrompida novamente.

 

             - 10 pontos a menos para a Grifinória pela sua insolência.

 

            A garota começou a sentir seus olhos se encherem de lágrimas e resolveu se conformar com a detenção e fazer o possível para não chorar na frente de todos aqueles alunos, que ainda observavam a cena, embasbacados. Já tinha se sentado na cadeira para aguardar a saída dos outros alunos e saber os detalhes da detenção quando aconteceu a última coisa que ela esperava que acontecesse.

 

             - A culpa é minha, professor – disse uma voz e Hermione não precisou se virar para saber de quem era.

 

Continua...

 


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Notas finais do capítulo

Sim, o capítulo foi bem mais-ou-menos, mas a fic está viva! Está aí para todas as pessoas que não desistiram da fic(ainda tem alguém?).

Aconteceu tanta coisa nesse tempo todo em que a fic não é atualizada! Eu fiz o vestibular, passei no vestibular, comecei a faculdade, quebrei a cara na faculdade, odiei a faculdade, desisti do curso e resolvi começar do zero, em outra faculdade e em um curso completamente diferente. Claro que isso não é desculpa para dois anos(dois anos!) de espera, mas eu realmente espero que esta tenha sido a última vez que eu demorei tanto para postar.

No próximo capítulo, que eu já comecei a escrever e deve ficar pronto logo logo, a relação deles dois dá uma avançada(finalmente!) mas já vou adiantar que eles só vão “engatar” beeeem lá pro final.

Por último, e mais importante, eu gostaria de agradecer a todas as pessoas que mandaram reviews para a história nesse hiatus. Se não fossem por vocês é provável que eu já tivesse deixado essa história morrer. Na verdade, eu cheguei a pensar nisso, mas, a cada review que eu recebia, eu ficava pensando “Caramba, se tantas pessoas gostam tanto dessa história eu teria que ser muito idiota para simplesmente desistir dela. Não seria justo com esses leitores que dedicaram tanto tempo lendo e, principalmente, mandando reviews. Eu tenho que escrever!”. Ah, e à partir desse capítulo eu vou passar a responder todas as minhas reviews. Adoro vocês!

Muito obrigada pelas reviews (e pela paciência)! Que venha o próximo capítulo!