Nem tinham passado das 11:00 da noite quando cheguei em casa. Melanie tinha me dado dinheiro pro táxi, o que me poupou de pegar uma carona com a Srª Benson e Freddie. Claro que, naquele momento, ficaria um silêncio bem estranho no Prius da Srª B, isso sem falar que Freddie iria querer distância de mim, achando que enlouqueci. É, talvez eu tenha perdido a cabeça essa noite...

-Hey, maninha... –Melanie me chamou do sofá da sala, onde ainda estava sentada com sua montanha de cadernos.

-Não me chama de maninha. –Respondi meio dura enquanto desfazia o rabo de cavalo e bagunçava o meu cabelo. Em questão de segundos, voltei a ser eu mesma –mesmo que só um pouco.

-Ih, o que foi? A noite não foi legal? –Mell se levantou do sofá e foi pro meu lado.

-Eu beijei o Freddie de novo... –Sussurrei tão baixinho e tão rápido que Melanie não conseguiu escutar.

-Como é, Sam?

-EU BEIJEI O FREDDIE DE NOVO, NÃO OUVIU NÃO? –Gritei meio desesperada, meio sem saber o que fazer direito. Me joguei nos braços da minha gêmea e comecei a chorar.

-Ah, Sammy, não dá pra acreditar... Você finalmente admitiu, finalmente!!!

-Do que você tá falando, criatura?

-Bom, acho que ainda não conseguiu admitir pra si mesma... –Mell bagunçou ainda mais o meu cabelo em um carinho- Bom, ainda não é tarde demais pra isso. Eu só espero que você consiga admitir isso pra você e pro Freddie. E eu vou querer saber de tudo quando esse dia chegar... –Melanie sorriu e beijou o alto da minha cabeça enquanto voltava a se sentar no sofá- Troque de roupa e se arrume pra dormir, mas antes vá pra cozinha. Fiz uma coisinha pra você...

Encarei minha irmã, ainda com lágrimas nos meus olhos, confusa com tudo o que ela dissera, mas fui para a cozinha. E lá estava na mesa. Duas cestas cheias de bolo gordo, um prato cheio de bola de bacon frita, algumas caixas de pizza de presunto e uma garrafa de refrigerante de morango. E no meio de tudo aquilo, um bilhete, escrito na letra terrivelmente elegante de Melanie.

“Eu te prometi um lanche antes de ir embora se fosse nesse encontro com o Freddie e cumpri. Sempre cumpro as minhas promessas. Agora é a vez de você cumprir o que prometeu. Continue mantendo seu segredo e só conte a todos quando chegar a hora certa. Boa sorte quanto a isso.

Melanie.

P.S.: Você tá me devendo 80 dólares pelas pizzas e pelas cestas de bolo gordo. Sei que não vai pagar mesmo, mas só tô falando...”

Estiquei a cabeça e vi Melanie toda concentrada em seus estudos. Naquele momento, minha irmã não me irritava tanto. De um jeito meio estranho, eu devia agradecer a Melanie por essa noite, por mais que tenha sido confusa pra mim.

Peguei uma caixa de pizza, a garrafa de refri e uma cesta de bolo gordo e fui para o quarto. Ouvi Melanie murmurar um “boa noite”, mas não respondi de volta. Me tranquei no quarto e, por incrível que pareça, não consegui comer nada. Só fiquei sentada, encolhida na cama, com meu pijama –não é bem um pijama mesmo. É só um short curto e uma camiseta gigante do Elmo– pensando em tudo o que tinha acontecido naquela noite. Eu ainda podia sentir o toque dos lábios de Freddie nos meus, como se ele ainda estivesse me beijando. Bati a testa nos meus joelhos, me sentindo sem esperanças. Eu nunca mais conseguiria olhar pro Freddie do mesmo jeito de antes. Pra mim sempre vai ficar marcado aquele segundo beijo que demos. É, pode dizer, eu sou uma idiota...

-Sam, tá dormindo? –Ouvi Melanie sussurrar enquanto batia na porta.

-Não, Melanie. Pode entrar... –Falei ainda de cabeça baixa, ouvindo a porta do quarto sendo aberta.

-Você não comeu nadinha. Tá tudo bem?

-Não... –Grunhi enquanto mexia na barra da camiseta.

-Bom, isso dá pra ver. –Melanie brincou- Enfim, só queria saber o por quê daquele choro lá na sala há umas horas antes. O que foi, o Freddie beija tão mal assim?

-Não... –Muito pelo contrário, o beijo dele é... Uau- Não foi o beijo, eu acho. Foi eu ter querido tanto aquilo... Sabe como é se sentir confusa a ponto de achar que sua cabeça vai explodir a qualquer momento? –Levantei a cabeça e vi Mell assentir com a cabeça- Bom, eu tô assim...

-Olha, eu sei que não sou uma expert em relacionamentos, mas se você tá tão confusa quanto ao Freddie, pode ser que você sinta mesmo algo por ele...

-Mas eu não...

-Não tente negar. –Melanie colocou o indicador nos meus lábios- Negação é o primeiro passo pra pegar uma confissão...

-Isso aqui não é um tribunal, Mell. Dá pra parar com isso?

-O que importa é que, se está com tanta dúvida assim, por que não espera um pouco antes de tomar uma decisão? Se essa confusão que você tá sentindo não passar, uma hora ou outra vai ter que contar ao Freddie...

-Contar o quê?

-Que você ama ele, que quer ele, quer casar com ele, ter belos filhinhos loirinhos com olhos fofos cor de chocolate ao leite... –Melanie cantarolou na minha orelha, segundos antes de arremessar um travesseiro na cara dela.

No dia seguinte, no apartamento da Carly, foi fácil demais fingir que não aconteceu nada na noite anterior. Pra Carly, foi a Melanie que saiu com o Freddie, por isso eu e Mell combinamos de esconder isso de todo mundo até a hora certa. Seria uma bomba e tanto pra Carly saber do meu encontro com o nerd.

Eu e Carls estávamos sentadas na sala, jogando balão e procurando motivos pra falar mal do “Q” quando a campainha do apartamento tocou. Era aquele garotinho que vive pegando no pé do Spencer, o tal do Chuck, com o pai dele. O cara estava usando uma blusa listrada amarela e cinza-azulado... Já estou sentindo a vontade de vomitar chegando perto...

-Urgh, listras... –Torci o nariz enquanto batia o balão na minha raquete.

Cinza e azul. Separadas não causavam nenhum perigo, misturadas em uma cor só ficava muito estranho –assim como as listras daquele cara. Sério, ele não pode trocar de blusa não?– e juntas em listras me faziam lembrar o Freddie na noite anterior, antes de beijá-lo pela segunda vez. Ok, talvez eu conseguisse enganar todo mundo por um bom tempo quando eu disser que odeio o Freddie, mas sei que não vou conseguir enganar a mim mesma...

Enfim, voltando à situação no apartamento, Carly e Spencer estavam em frente a porta, comemorando a vingança contra Chuck. Spencer falou algo sobre tomar o banho da vitória e Carly voltou pro sofá, pegando a raquete.

-Onde estávamos? –Carly perguntou.

-Estávamos jogando balão, malhando o “Q”... –“Mas antes disso estava pensando no patetão”, quis responder. A sorte é que a minha melhor amiga ainda não pode ler mentes...

Voltamos a jogar o balão quando Freddie abriu a porta do apartamento. As lembranças da noite anterior voltaram, mas não sei como, consegui manter minha poker face intacta.

-Oi, o seu... –Freddie me encarou e fez cara feia. Não esperava outra atitude dele depois do que aconteceu ontem- Ah, está aqui.

-É, como se ver sua cara alegrasse meu dia. –Inacreditável como eu estava me esforçando mais pra atuar ali, como eu mesma, do que quando fui Melanie.

-Você parece ter gostado da minha cara ontem, quando sua boca percorreu ela toda. –“Você não faz ideia do quanto...”, pensei melancólica.

-Não era eu, seu bocó... –“E o Oscar de melhor atriz vai para...”

-Você e a Melanie se beijaram? –Carly arregalou os olhos. Até eu faria essa cara se não soubesse da verdade.

-Cara, por quanto tempo vocês vão continuar tentando me enganando com essa história de Melanie? –Freddie balançou a cabeça, impaciente- Já falei, eu não sou ingênuo, eu sei que não tem Melanie nenhuma...

-Tem sim... –Carly começou a falar, e nessa hora eu juro que acendeu uma lampadinha na minha cabeça.

-Whoa. –Interrompi a Carly na maior cara dura- Vamos parar, não deu certo...

-Não deu? –Ela me encarou, sem entender nada, naturalmente, enquanto eu me virava pra Freddie, disposta a colocar meu plano em ação.

-Tá legal, você venceu. –Declarei a minha “derrota” pra Freddie que começou a esticar um sorriso- Tentamos te enganar, mas não conseguimos...

-A-há! –Freddie fez aquela cara de Sherlock Holmes quando solucionava um crime. Me deu até vontade de rir, mas não queria desfazer a minha poker face- Então admita que não existe Melanie e que eu não sou ingênuo e que eu sou muito esperto pra você...

Suspirei derrotada por dentro enquanto terminava de executar meu plano.

-Não existe Melanie, – “Só por que você quer, patetão”- você não é ingênuo, – “Menos quando se trata de romance. Nisso você é muito lerdo”- e é muito esperto pra mim... –“É, por que se eu fosse mais esperta que você, eu já diria em alto e bom som que... Eu te amo...”

-É isso mesmo. Bem feito, Puckett!!! –O sorriso da vitória já se espalhava pelos lábios de Freddie enquanto ele erguia as sobrancelhas naquele movimento quase sedutor que só ele sabia fazer- Tchau meninas... –Se despediu de mim e da Carly, todo feliz.

Agora eu estava reparando uma coisa. Agora que ele sabia da “verdade”, não se importou em brigar comigo por que eu o beijei. Um “por quê?” martelava a minha cabeça sem parar agora. “Por quê ele não se importou?” Seria por que... Ele também tinha gostado daquele beijo? Bom do jeito que ele correu da “Melanie” na danceteria, eu teria minhas dúvidas, mas naquele momento eu tinha... Esperanças...

-Ele adora ter razão. –Carly balançou a cabeça, divertida.

-Coisa de homem. –Concordei enquanto pegava a minha blusa. Melanie já ia chegar pra gente sair. E falando na minha irmã certinha, olha quem chega de elevador, com seu costumeiro rabo de cavalo...

-Oi, vamos ao shopping? –Melanie perguntou animada enquanto eu e Carly nos arrumávamos uma última vez. Eu já estava no elevador com a Mell, trocando um olhar cúmplice pra ela. Até onde a Carly sabia, a Melanie não me contou nada do encontro, fazendo de mim uma completa ignorante sobre o assunto “encontro com Freddie sábado a noite”, então decidi pôr meus talentos ocultos de atriz pra funcionar mais uma vez.

-Como pôde ter ficado com o Freddie? –Perguntei a minha irmã, fingindo indignação.

-Ele é um fofo... –“E você sabe disso, Sammy...”, pude ver aquilo escrito no olhar dela.

-Eu não acredito que vocês são irmãs... –Carly falou, ainda com aquele ar divertido.

-Nem eu... –Eu e Melanie falamos ao mesmo tempo, como gêmeas de verdade. Pois é, eu sei que na maioria das vezes a Mell me dá nojo com o estilo perfeitinho dela, mas ela consegue me entender melhor até do que a Carly...

Horas depois eu já estava no Aeroporto Internacional de Seattle, me despedindo da Melanie.

-Me escreva sempre que puder, Sammy... –Melanie pediu enquanto me abraçava- Quero saber de tudo sobre você e o Freddie.

-Fica quieta, Melanie... –Revirei os olhos enquanto cochichei pra ela- Acho que ele gostou do beijo também.

-O quê? –Melanie se soltou de mim e gritou completamente animada.

-Atenção, última chamada para o voo 724 com destino a Londres. Embarque no portão B. –A mulher do aeroporto anunciou nos alto falante, fazendo Melanie murchar um pouco.

-Eu te mando um e-mail assim que eu chegar em casa falando tudo, prometo... –Nunca fui muito de fazer promessas, mas as poucas que fiz eu cumpri ou estava cumprindo. Aquela seria mais uma que eu iria cumprir.

-Eu vou ficar esperando... –Melanie sorriu antes de pegar as malas e correr para o portão B, me dando um tchauzinho de lá.

Peguei um táxi pra casa e fiquei o caminho inteiro quieta, sem falar nada, só vendo a chuva fina molhar os vidros do carro. Eu nunca pensei que um final de semana iria mudar tanta coisa que eu pensava. Tipo, eu pensava que odiava o Freddie, agora ele é minha paixonite secreta. E ele ainda será assim até eu conseguir revelar isso. A menos que inventem um aplicativo pra revelar o que sentimos, aí eu estaria perdida pra sempre... Mas isso é outro assunto. Um assunto bem mais complicado...

FIM? EU ACHO QUE NÃO...