Mundo dos Sonhos escrita por Trezee


Capítulo 55
Decisões




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– Vai, é você que é um Arauto Nato, você que tem que me dar explicações... – murmurei olhando fixamente para a minha cama, onde Dora estava sentada.

A garota, se é que agora posso chamá-la assim, estava com um olhar mais perdido que o meu. Se eu achava que Dora estava sem estrutura alguma enquanto estávamos no deserto, agora então ela já estava desabada!

– Em que lugar... exatamente nós estamos? – seus lábios pouco se moviam ou se esforçavam para dizer algo, embora seu olhar, antes vago, agora estava bem mais atento, mirando em cada cantinho do meu quarto.

– Bráscuba. Uma cidade. No meu mundo. No mundo Real.

Ela tornou a olhar para mim. Eu podia jurar que quando eu dissesse isso, ela iria dar um pulo e começar a gritar ‘que nojinho!’, mas não. Dora fez uma feição contorcida e começou a passar a mão sobre a minha cama. Com a ponta do dedo seguiu o desenho de letras chinesas que estampavam o meu lençol. Ficou fazendo isso por uns bons minutos até que deu um pulo e ficou de pé.

Ela andava de um lado para outro, mas sem aflição ou preocupação. Ela ia observando cada lugar que pisava ou tocava. Parou em frente ao espelho da minha penteadeira.

– Um portal!
Franzi a testa e fiquei olhando ela inclinando o dedo indicador para tocar no espelho. Fazia isso com muita cautela, quase com medo de quebra-lo com um simples toque.

– Quê? Lógico que isso não é um portal. Não surta! É só um espelho... –grunhi. Eu estava irritado com a situação. Na verdade eu não sei por que eu estava assim. Talvez pelo fato de estar mais confuso ainda com a situação.

– É um portal sim. – ela me lançou um olhar furtivo e zangado. Parecia a minha mãe quando tem surtos de convicção.

– E como você sabe disso? – bufei dando trela pra esse papo furado.

– Eu não sei. – ela parecia não querer dizer isso, mas foi obrigada a dizer. Seu olhar vagou para o lado, extremamente pensativo. Parecia que estava em dúvida das próprias palavras que saiam da boca. – Eu simplesmente sei que é um portal, ou pelo menos parece com um portal. Mas não sei por que eu sei. – suspirou por fim.

Por um instante, bem breve por sinal, eu esqueci que ela era um Arauto Nato que tentara me matar há pouco. Na situação que estávamos agora, ela parecia uma pobre mocinha indefesa que precisava de uma mão no ombro. De um simples: ‘não se preocupe’.
E acabou que foi isso que eu fiz. Aproximei-me dela e apoiei minha mão no sei ombro. Ela tirou o dedo do espelho e olhou para minha mão. Acho que eles não estavam muito acostumados a serem tocados. Ficamos assim por uns segundos. Tentei dizer algo, mas a situação dizia por si só.
– Venha... – disse apontando para a porta.

– Deve estar por aqui... – eu já estava quase soterrado por tantas meias que voavam por cima de mim. – Achei!

Era uma meia premiada. Continha umas economias que guardei quando eu era meio criança (ou meio jovem) ainda. Era pra comprar um videogame, mas meus planos foram meio frustrados devido ao... acidente.

– Com esse tanto acho que a gente consegue arranjar uma pensão pra você passar um tempo. – eu não sabia muito bem o que fazer. Mas Dora não podia ficar na minha casa.

Fomos andando até eu encontrar um lugar beeeeem caidinho. Mas era barato o suficiente para ela ficar um bom tempo com o dinheiro que eu tinha.

Entramos e o lugar era até que normal. Um pouco velho, mas não tão velho quanto sua faixada. Fui em direção ao senhor que estava no balcão, enquanto Dora esperava um pouco mais distante, muda igual ficou todo o caminho.

– Não sei por quanto tempo ela vai ficar. Posso te pagar diariamente de acordo com os dias que ela for ficando? – tentei negociar.

– Claro! – exclamou o velho com uma voz bem rouca, entregando-me uma chave.

Era o quarto treze. Não sei se isso era azar ou sorte. Seja o que for, era um lugar onde eu e Dora iriamos entrar e pensar. Tentar colocar as coisas no lugar. Isso é se ela saísse daquele transe que entrara desde a hora em que acordou para a realidade.

Após subir três lances de escada, nos deparamos com uma porta de madeira mofada. O número 3 do 13 estava caído o que mês fez hesitar ao girar a maçaneta, com medo de me deparar com uma festa de baratas e ratos dentro do quarto. Mas eu sabia que essa era nossa única alternativa. Abri a porta e ao mesmo tempo abri minha mente para todas as possibilidades que eu teria que enfrentar daquele momento em diante.

Dora ainda parecia abobada com tudo. Acho que a sensação de realidade, o tato, a textura de cada novo objeto era um frenesi para ela. Por um certo momento eu esqueci o que a presença daquela menina ali do meu lado significava. Esqueci que foi por causa deles que minha vida estava de cabeça para baixo, que eu tinha uma missão a cumprir e que tudo que eu mais queria era recuperar a Melinda.

Mel... A lembrança de seu olhar perdido a última vez que nos encontramos me fez tremer. Tudo que estava acontecendo ao meu redor era novo. E eu precisava descobrir um jeito de arrumar as coisas.

Mas que bela droga. Cada vez que eu tento resolver um problema, um novo me aparece. Primeiro tenho que cumprir uma missão: achar a porcaria de um segredo que eu não faço a mínima do que é, male má sei por onde procurar e minha melhor pista é uma voz do meu subconsciente proveniente de um Arauto que já não existe mais. Não suficiente, como segundo problema, a Mel é deletada, apagada, sem explicações, talvez para me enfraquecer, o que me põe no dever de salvá-la. E por último e não menos importante (não mesmo!), Dora, está plantada do meu lado, me olhando com cara de ponto de interrogação e parecendo toda dependente do vermezinho aqui.

Era de enlouquecer. Mas eu não podia ficar me dando ao luxo de pensar muito. Por que quando pensamos muito, tendemos a procurar o caminho mais certo, a solução mais segura. E acredite, naquele momento a minha única saída era não ser racional e sim partir para a loucura.

– Vamos infiltrar! – dei um pulo da cama, decidido.

Uma meia dúzia de insetos não identificados correram de baixo da cama e Dora se levantou também, tentando se desviar deles e não esmagá-los.


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