Comecei a vagar pelo sonho observando atentamente cada região. A qualquer momento eu deveria encontrá-los. Não senti nada de estranho. Nenhuma sensação suspeita a respeito deles terem saído daquele sonho extra cor de rosa. Eu só não podia desviar meu foco.
                           E não desviei. Porém depois de passar quatro vezes pela mesma árvore inconfundivelmente lilás, eu concluí que talvez eles não estivessem mais naquele sonho. A questão era: como eles saíram do sonho sem que eu percebesse? Não, porque a final, Arautos são sensitivos a respeito de sonhos Infiltrados. Sabemos quando algo ou alguém entra e sai. É nosso dever ter este controle.
                          Então, eles não saíram.

                        Ou saíram sem pedir permissão.

                        E isso era realmente grave. É uma lei pedir permissão para infiltrar. Se eles conseguiram descumprir essa lei, só pode significar uma coisa...

                        - Eles se tornaram Manipuladores... – sussurrei, caindo de joelhos naquele chão fofo de nuvens rosadas.

                        O teto do meu quarto era tão branco que já estava me dando nervoso de ficar olhando pra ele. Eu matei aula mesmo. E isso não pesava nem um pouco na minha consciência.

                        Com o meu animo, eu só conseguia ir pra escola, fazer as provas e depois voltar direto pra casa. Isso também ajudava eu evitar encontros com a Mel.
                        Não que eu quisesse deixar de vê-la todos os dias. De passar momentos jogando conversa fora, sem sentido nenhum, mas que para nós era mais do que suficiente. Porque o que valia era a companhia. O que acontece é que eu não posso arriscar a mente da Mel. Uma pessoa Apagada fica extremamente fragilizada. Se ela ficar me vendo a qualquer hora, suas lembranças vão ficar muito, mas muito mesmo aguçadas. E isso não pode acontecer. Não posso deixar a Mel ser levada pela insanidade.

                        Fiquei tentando procurar soluções por um bom tempo. Mas tudo o que vinha na minha cabeça era um amontoado de inutilidades que só serviam pra me deixar mais aflito ainda. Não era possível que eu não conseguisse der um jeito nessa situação. Tudo estava tão instável e insustentável pra mim. Não que antes as coisas fossem boas. Nunca. Só que estavam melhor do que já foram um dia. Melhor do que quando a aceitação era um fato impossível.
                       Melhor do que quando eu só queria ser eu novamente.