Mundo dos Sonhos escrita por Trezee


Capítulo 28
Vez das dores do Francisco e promessa


Notas iniciais do capítulo

Cap completo again^^



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Indecifrável é uma palavra justa creio eu. De fato, eu não conseguia decifrar sua mente, entender alguns dos seus gestos, sua verdadeira intenção. Talvez esse seja o ingrediente que me cativa mais e mais.

             Deixei os pensamentos de lado, fechei a porta – eu ainda estava observando a esquina que ele dobrara já fazia um tempo – e entrei.

             - Mel! – uma voz grossa ecoou a casa, era meu pai.

             Subi as escadas de dois em dois degraus e fui para o quarto em que ele estava repousando.

             - Pai, chamou?

             - Sim. – disse ele se ajeitando um pouco na cama. – Sei que era para eu estar repousando, mas sabe como eu sou... Não me contive e fiquei um tempo debruçado na janela observando a rua, o movimento...

             Ele parou e fez uma grande pausa. Acho que isso era uma brecha para eu tomar a palavra, mas não me manifestei, só continuei fitando-o interessada.

             - Vi um rapaz saindo de casa a pouco.

             - Pai, não é nada do que você está pensando! – esbravejei sem pensar, arrependendo-me profundamente de não conseguir dobrar a língua.

             - Não sei porquê, mas estou com uma forte sensação de que eu já o conheço. – disse sério e pensativo.

             Achei estranho ele não ter comentado nada da minha quase entrega dos fatos, mas achei mais estranho ainda o fato dele estar tão sério.

             - De onde? – indaguei curiosa.

             - Esse é o engraçado da história... Acho que é de toda essa loucura que aconteceu!

             Fiz uma cara retorcida e desentendida.

             - Você está se referindo a isto? – apontei para sua perna quebrada.

             - Estranhamente sim. – murmurou.

             Há tempos que eu não via meu pai assim, tão pensativo e ao mesmo tempo inconformado.

             - Mas pai, é quase impossível!

             - Obviamente que sim, mas eu não sei. Minhas lembranças estão bem confusas, mas confesso que me recordo muito bem de um rosto, um rosto muito parecido com o dele.

             - Pai, acho que o coma afetou sua memória. – brinquei.

             - Oras Mel, não brinque! Estou falando sério, queria muito entender... – novamente ele ficou pensativo.

         - Olha pai, de uma coisa eu sei, você sofreu um acidente sério e ficou internado, mesmo que por pouco tempo. Acho que você está encontrando semelhanças entre algum médico ou enfermeiro com o Deni. Sim, deve ser isso!

         - É... Pode ser isso. – suspirou.

         Dei um beijo em sua testa e fui para a porta. Quando já estava quase que por inteira fora do quarto, ouvi novamente sua voz, agora mais alegre e brincalhona.

         - A propósito Melinda. – fitei-o rapidamente e ele deu um sorrisinho desconfiado. – O que era para eu estar pensando a respeito deste... Ah, deste Deni?

        - Oras pai... Nada. – sorri igualmente.     

        Fui para meu quarto pensando em muitas coisas, tantas que nem consegui raciocinar direito dentro de minha cabeça. Se algum dia, hipoteticamente é claro, eu fosse capaz de pegar o arquivo de minha mente e começar a ler, sinceramente, não conseguiria.

        Passei o resto do dia ajudando minha mãe com afazeres da casa e ajudando meu pai, que gritava por ajuda para fazer qualquer coisa.

        De noite, estava exausta. Minhas pernas trêmulas não conseguiam me sustentar, meu andar lento me arrastava pela casa, até que finalmente ele cessou e eu já estava deitada, encontrando o meu profundo sono.

        Parecia ser bem mais cedo do que o normal e minha mãe já estava me chamando.

        - Mãe, ainda não está no horário! – disse tentando acertar o lugar do relógio sobre o criado-mudo. – Me deixa dormir mais um pouquinho.

         A claridade intensa estava me incomodando extremamente. Eu me senti como um ursinho bravo sendo acordado um mês antes da hibernação.

         - Pode sair desta cama agora Melinda, não quero que você perca mais um dia de aula! – ouvi sua voz longe, mas ainda brava, gritando.

         - Ãh? Mãe...? – não conseguia ainda processar as palavras. Minha boca abria sozinha e dela saiam quaisquer palavras.

         - Oras você já esqueceu que seu pai está com o pé quebrado, como que ele vai te levar? Vamos você tem que pegar o ônibus!

         Ah não, eu havia me esquecido de todos estes detalhes. Por que a cada vez que eu dormia, parecia que nada havia acontecido? Como se tudo não passasse de um sonho. Talvez porque minha vida já tem tantos sonhos, que minha cabeça fica até confusa na hora de classificar. Imagino as idéias fazendo fila e sendo classificadas entre “sonho” ou “realidade”, ultimamente foram tantas informações que entraram de uma só vez, que deve ter causado uma hipertrofia neste setor. Não posso mais confiar veemente nas minhas suposições então.

         - Que horas é o ônibus? – perguntei tentando me manter acordada.

         - Vi os horários no computador. Você tem duas opções: 1ª, ou você toma dois ônibus e chega no horário da aula, talvez até um pouco mais cedo; ou 2ª, você toma só um ônibus, mas perde a primeira aula.

          - Acho que prefiro assistir a primeira aula...

          - Então vá se aprontar rápido que o ônibus passa daqui quinze minutos!

          - Só isso!? – espantei-me.

          - Sim senhora.

          Como uma louca eu pulei da cama e corri para me aprontar. Café da manhã passou longe de mim, fui sem comer mesmo. Cheguei ao ponto a tempo de pegar o ônibus que estava apontando no fim da rua. Na estrada para Bráscuba, desci e esperei a segunda linha. Não demorou muito para passar e os pontos estavam vazios, sendo assim, cheguei bem cedo na escola.

          A escola estava deserta. Pensei que fosse a primeira pessoa a chegar ali, mas me espantei ao entrar na sala e deparar com a figura de Francisco sentado em uma carteira bem ao fundo da classe.

         - Francisco?

         - Hei Mel... – disse ele normalmente. – Por que faltou ontem?

         - Bem, houve um acidente com meu pai segunda-feira de tarde, ele teve que ficar no hospital, chegou até a entrar na UTI. – ergui as sobrancelhas. – Mas ontem, milagrosamente, ele recebeu auta e já está lá em casa.

         - Nossa que sério! Acidente de...

         - De carro. – conclui. – Mas ainda bem que deu tudo certo, o pior foi a perna quebrada.

         - Só a perna mesmo?

         - Incrivelmente, sim.

         Deu-se um silêncio onde os dois ficaram pensativos. Já ia perguntar o motivo pelo qual ele chegou tão cedo na escola, mas uma outra pergunta veio primeiro na minha mente.

         - E você? Por que não veio segunda?

         - Foi um misto do despertador que não tocou somado com o próprio desânimo daquilo que aconteceu no fim de semana.

         Ele falou do “daquilocomo se eu soubesse do que se tratava. Até gastei um segundos pensando se realmente eu não sabia, mas logo conclui que não.

         - É... Exatamente de que “daquilo” você está falando?

         - Mel, tem certeza que você não sabe? Roberto falou que segunda-feira vocês só falaram disso!

         Lá foi ele de novo usando estes termos indefinidos para falar desse assunto que eu não fazia a mínima idéia do que era. Depois de uma série de caretas e esforços em vão para encontrar se quer uma pista sobre o assunto, consegui ter uma idéia do que poderia ser.

        - Claro, é isso!

        - Lembrou? – disse ele um pouco aliviado.

        - Não exatamente. Na verdade eu nem cheguei a saber do que se tratava. – fiz uma cara pensativa - Realmente, segunda feira o pessoal só falava de um assunto, um assunto sério por sinal. Mas eu não consegui descobrir o que era, porque sempre que eu tentava, algo acontecia e me impedia!

        Ficou novamente um breve silêncio.

        - E... Até agora eu não sei. – suspirei.

        - Bem, de certa forma foi melhor mesmo. Pelo menos agora eu vou te contar o que realmente aconteceu.

        - Se não for te incomodar...

        Ele negou com a cabeça. Fui em sua direção e sentei-me em uma carteira na sua frente. Algumas pessoas já estavam chegando, então tentei abrir ao máximo meus ouvidos para não perder nada.

       - Sabe Mel, por mais que não parecesse, tudo estava indo bem entre eu e a Sara. – começou.

       Nesse momento descobri qual era o assunto principal.

       - Então, nós sempre saíamos, íamos ao cinema, sorveteria, em vários lugares. A única coisa que eu não conseguia entender era por que ela ficava tão diferente quando não estávamos sozinhos, quando estávamos em grupo... – ele deu uma olhada sobre os ombros e, logo depois, fixou-se de volta no assunto. - Mas até aí, sei lá, pode ser o jeito dela e eu respeitei sem forçar nada.

      - Uhun... – confirmei.

      - Pelo menos eu, já estava ficando enjoado de “só isso”. Queria algo a mais, um progresso nessa relação louca. Comecei a observar nas nossas saídas, se isso chegaria a ser recíproco e concluí, através do jeito dela, que poderia sim!

      Arregalei um pouco os olhos. Parecia que o negócio entre eles estava realmente dando certo. Fiquei feliz, mas o resto da história de Francisco começou a me frustrar.

      - Pois é. – disse ele percebendo meu riso. – Eu também fiquei alegre de início. Tão alegre que até criei uma expectativa boa na minha cabeça. Eu estava determinado a finalmente pedir a Sara em namoro.

       Até esse ponto eu não estava encontrando o drama da história, mas...

       - Mas acho que levei tijoladas na cabeça. Escolhi domingo para ser o dia. Combinamos de ir à sorveteria às quatro da tarde e eu cheguei quatro horas em ponto. Ela não. Ligou para mim quatro e meia falando que ia atrasar um pouco. Cinco e meia, quando eu estava quase indo embora, ela me ligou de novo e falou que estava saindo de casa. Seis horas ela chegou. Depois desse pequeno atraso de duas horas, que eu tentei relevar, fiquei com aquela sensação de “é agora”. Mas não foi. Ela estava tão distante, não parecia a Sara que saia comigo, e sim, a Sara que se fazia de difícil na frente de todos. Tentei fazer brincadeirinhas e ela não correspondia, tentei puxar uma conversa, mas ela fazia o assunto morrer bem quando eu me empolgava, tentei elogiá-la, mas ela fazia pouco caso de tudo o que eu dizia. Até que chegou uma hora que eu parei, parei de ficar correndo atrás. E ficamos os dois mudos na mesa, cada um olhando para um lado. A situação estava bem incomoda para mim, embora para ela eu não sei. Foi então que decidi quebrar o gelo de vez, sei lá, esclarecer e entender o que estava acontecendo.

        - O que você fez Francisco?

        - Disse tudo de uma só vez. Falei o que pensava sobre mim, o que pensava sobre ela e o que pensava sobre nós. Reforcei a ideia dos meus sentimentos por ela, que os momentos em que ficávamos juntos eram muito bons e que gostaria de saber como ela encarava tudo isso, toda essa situação em que nós dois nos encontrávamos.

        - E o que ela disse?

        - Foi aí que morou o problema. A princípio ela não disse nada, só ficou me encarando com a mesma feição perdida que ficou durante todo o encontro, se é que posso chamar aquilo de encontro. Depois, acho que na hora em que processou a baita declaração que eu havia acabado de fazer, ela teve a coragem de olhar bem nos meus olhos e dizer: “Sabe Francisco, acho que por mim não vai dar mais...”.

         Ele imitou igualzinho a voz da Sara, porém em um tom melancólico, mas com um fundinho de sarcasmo. De início foi estranho, mas logo me acostumei.

         - Quando ela me disse isso achei não ter entendido muito bem, não sei se fiz parecer agora, mas a voz dela não era de uma garota triste por uma situação ruim, e sim, de uma garota que parecia estar se aliviando de um fardo... Chegou a ser irônico de certa forma. O que aliviou, foi que depois ela acrescentou um “desculpe” murcho, mas até então eu não estava conseguindo processar mais nada.

        - Espera aí! Depois que ela disse essas coisas ficou por isso mesmo ou aconteceu outras mais? – eu não sabia ao certo o que fazer, não sabia se minha curiosidade estava cutucando as feridas de Francisco.

        - Ela disse isso, eu não acreditei. Ela repetiu, só que com outras palavras e eu não acreditei de novo. Confirmei novamente, para certificar que eu não estava louco e foi aí que ela pediu as desculpas. Só então a ficha caiu de vez.

        - Sara teve coragem de terminar assim?

       - Acredite Mel, na minha pele foi bem mais dolorido. Imagine eu, pensando em pedir a garota em namoro e ela termina comigo antes mesmo de tentarmos começar, e ainda melhor, sem motivo ou explicação. O pior é que não conversamos sobre isto até agora e nem sei se vamos conversar...

       - Nossa Francisco, você deve estar... Mal. – eu não queria usar esta palavra, mas não encontrei outra.

       - No dia eu fiquei. Depois que ela falou, não encontrei clima para mais nada. Eu só peguei a fichinha e fui pagar a conta. Disse um tchau amarelo e saí da sorveteria. Nem sei se ela tentou me chamar de volta ou se tentou manifestar-se de qualquer outro jeito. Naquela hora, eu é que não queria mais, mas foi só naquela hora...

       Percebi os olhos de Francisco olharem para a porta e se baixarem rapidamente. Virei-me e vi Sara entrando na sala.

       - Hei Francisco, pare com isso, vocês ainda vão se entender! – encorajei.

       - Não sei não... Mas quer saber? Não me importo, decidi não me importar mais. Vou continuar a tratá-la do jeito que sempre tratei. Não foi ela quem pôs um ponto final? Então ela que o tire também! Se alguém aqui tem que ficar incomodado com tudo isso, esse alguém não sou eu. 

       Gostei de ver, era o Francisco novamente. Ele se levantou e foi cumprimentar Rafinha e Sara que haviam entrado na sala. Fiquei um pouco pasma com a recuperação repentina que ele teve, mas achei bom. Parecia que ali, naquele momento, ele estava abrindo uma nova oportunidade para dar certo novamente. Talvez nem ele tenha percebido e com certeza Sara também não, mas quando ele chegou para cumprimentá-la, um sorriso leve pairou nas duas bocas. Tão leve quanto uma brisa que passa, mas que trás sempre boas novas esperanças.

       No intervalo, esperei até uma hora em que eu e Joana ficamos sozinhas e então, tentei conversar um pouco sobre essa situação com ela.

       - Também achei muito estranho Mel, vou até tentar conversar com a Sara.

       -É, eu também vou tentar conversar com ela, entender um pouco. – fiquei um segundo pensativa. – Mas acho melhor só uma de nós tocarmos neste assunto. Sabe como a Sara é, ela vai ficar um pouco irritada se todos começarmos a cobrar isto dela!

        - Você tem razão. Hoje de tarde mesmo, vou tentar conversar. Amanhã te conto como foi.

        - Está bem. – cochichei.

        O sinal tocou e então fomos para a sala. Assim que entrei na classe, senti um puxão me impedindo de andar. Depois de retornar à força dois passos, olhei para trás e vi que era Daniel.

        - Você adora fazer isso! – tentei fingir que estava brava.

        - Só faço isso porque adoro ver sua cara de irritadinha. – ele ergueu as mãos e fez sinal de aspas quando falou a última palavra.

        - Eu não fico irritadinha – tentei imitá-lo.

        - Claro, eu é que fico. – retrucou ironicamente.

        Depois de eu dar uma breve fuzilada em seus encantadores olhos azuis, ele resolveu se manifestar novamente.

        - Mas e então Mel, seu pai, como está? – disse bem mais sério do que o normal.

        - Ah, está... Está bem. – não sabia se esta era exatamente a palavra certa.

        - Espero sinceramente que isto não ocorra novamente... – sua voz era gélida e totalmente diferente do tom brincalhão de minutos atrás.

        Dei um sorriso terno. Achei muito linda a preocupação, o cuidado que Deni sentia por mim, pela minha família. Demorei alguns segundos para concluir e agradecer, mas eu já estava acostumada com estes meus relapsos.

         - Foi uma situação bem ruim mesmo e, do que depender de mim, nunca mais quero que aconteça algo assim novamente. Obrigado por você se preocupar... – enrubesci certamente. Já envergonhada destes meus descuidos sucessivos, aproveitei que o professor estava entrando na sala e corri logo atrás. De longe, mas ainda perto o suficiente para escutar Daniel, ouvi algo.

         - O que você disse? – tornei novamente a ele.

         - Eu? Nada! – disse espantado.

         - Mas... – questionei.

         - Não, não falei nada, você que está ouvindo coisas, você! – ele estava nervoso. Parecia que eu havia o incomodado.

         - Nossa Deni, calma, só pensei ter ouvido você dizer... Ah, deixa para lá.

         - É melhor você ir sentar Mel. – advertiu ele e, só então, eu me toquei que era a única de pé ainda.

          Sentei, mas minha mente ainda estava na conversa. Juro ter escutado algo no sentido de “eu não vou deixar que aconteça novamente”. Fiquei pensando como estas palavras poderiam se encaixar no contexto e principalmente, por que ele não quis repeti-las. O que há de incomodo nisto? E melhor, Deni não tinha nada a ver com o acidente, não teria o porquê ele falar “novamente”. Depois de muito pensar e gastar uma aula procurando respostas, acreditei nas mais viáveis. Ou ele não falou comigo, ou ele não disse nada de fato. Não havia motivo para eu continuar insistindo neste impasse bobo.

         No fim das aulas, Daniel e eu fomos paro o ponto. O ônibus não demorou, mas estava muito lotado. Fiquei agarrada em um ferrinho por boa parte do percurso. Devido à lotação, não consegui conversar muito com ele, pelo menos não até chegarmos a Paineiras, onde, já no primeiro ponto, metade dos passageiros desceram. Consegui me ajeitar em uma poltrona individual, enquanto Deni ficou de pé ao meu lado. Encostei a cabeça no vidro e fiquei olhando para o caminho. Comecei a observar os pontos em que parávamos, as árvores que corriam ao nosso lado, as diversas placas que ficavam para trás. “Alencar com a Principal”. Avistei de longe duas placas de rua que me chamaram muito a atenção.

         - Olhe Deni, foi bem aqui que aconteceu! – exclamei puxando seu braço. – Bem em frente àquele ponto que você desceu no outro dia. – minha voz falhou. – Mas espera aí, você desceu aqui no dia do acidente!

          Os olhos de Daniel se aprofundaram de tal jeito que o azul não ficou tão evidente quanto ao preto de suas pupilas.

         - Deni? Você está bem? – ele ainda observava fixamente, seguindo com o olhar o cruzamento das ruas que ficavam para trás.

         Ele não me respondeu. Foi então que uma pergunta improvável veio em minha mente. Tão improvável, mas tão curiosa que acabei deixando-a escapar.

         - Era você o garoto que estava no ponto na hora do acidente? – perguntei já esperando por um simples e óbvio “não”.

         - Não, não, não! Não era eu, impossível! – seu nervosismo estava dez vezes mais exaltado agora do que na hora em que ele negou ter falado seja lá o que fosse.

          - Calma! O que está acontecendo? Para que tanto nervosismo? – eu estava preocupada, Deni estava realmente exaltado.

          - Que nervosismo? Não, Ninguém está nervoso aqui não! – sua voz estava um pouco mais disfarçada, mas todo o resto contradizia suas palavras.

          - Deni, desculpe, mas você está nervoso sim! – olhei para seus olhos e da testa vinha escorrendo uma gotinha. – Você está até suando! Por quê?

          - Eu não estou nervoso e acabou, está bem Mel? Já chega! Para de ficar me enchendo de perguntas, é esse o único problema. Você não consegue se contentar, quer sempre saber mais e mais!

          Ele estava me dando uma bronca em bom e alto tom no meio do ônibus. Os poucos passageiros começaram a olhar para nós e eu não estava acreditando que ele estava sendo tão grosso.

         - Deni, muitas das minhas perguntas, que sempre te incomodam, são para te ajudar! – tentei parti para uma conversa mais calma, mas ele não estava dando espaço.

         - Eu não quero sua ajuda, não quero ajuda de ninguém! Ninguém pode me ajudar. Então, para de ficar querendo entender uma coisa que você não vai conseguir, está bem? Para! – esbravejou.

         - Está certo Daniel Floukin. – disse puxando minha bolsa e indo em direção da porta. – Vá curtir seus problemas sozinho, porque eu não vou mais me meter. Acho que eu estava muito enganada a seu respeito. Você não cumpre suas promessas! Isso não é coisa que se faça com uma pessoa que você... Ah. Deixa para lá! Eu não te devo explicações também. – segurei ao máximo minha gotinha de lágrima. Pelo menos minha voz não saiu tremula nem chorosa, e sim, forte e confiante.

        - Promessa...?– sussurrou ele atrás de mim enquanto o ônibus parava.

        Olhei rapidamente para trás e vi os olhos dele voltarem ao normal, seus lábios totalmente voltados para baixo e, talvez, algumas lágrimas querendo escapar, mas isso pode ser só fruto da minha imaginação.

        - Sim Daniel, uma promessa. – a minha lágrima escapou e eu desci.


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Notas finais do capítulo

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