Mundo dos Sonhos escrita por Trezee


Capítulo 24
Pardon, amigos tensos e a viagem.


Notas iniciais do capítulo

=D



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Não tinha essa sensação, que agora estava de novo em meu peito, desde o primeiro dia de aula. Desde aquele dia, que simplesmente ele me tratou como um nada, que eu não sinto essa angustia imensa dentro de mim. Ele havia prometido nunca mais fazer algo daquele tipo, não mais me machucar. Mas machucou. A reação dele foi infantil e sem motivo. Não consegui entender por que ele agiu daquela forma. Não me deixou ao menos explicar. Sei que essa explicação não é das mais convincentes: “Olha Daniel, estávamos no maior clima e, de repente, eu ouvi uma voz na minha cabeça e entrei em pânico”. É difícil até mesmo para eu acreditar, mas se ele realmente gosta, ou melhor, gostava de mim, ele deveria tentar me entender. Mas não, ficou todo estranho e ainda me mandou ir embora.

               Comecei a andar com os passos apertados, só não corria porque as pessoas que  vissem, pensariam que eu era uma louca e no momento, não precisava de ninguém mais, além de mim mesma, achando isso.

                Entrei no shopping, que ficava no caminho do salão, e troquei-me rapidamente. Olhei para o relógio e vi que eram exatas cinco e meia. Apertei ainda mais o passo, pois não queria que meus pais começassem a desconfiar de algo. Naquela hora eu limpei minha mente e enxuguei minhas lágrimas. Sabia muito bem que se eu ficasse martelando o assunto “voz” e “Daniel” na minha cabeça, eu iria dar muito na cara que algo de errado havia acontecido, então me esforcei ao máximo para não pensar nisso, pelo menos não até chegar em casa.

               Já estava entrando no salão, quando reparei que a rua ainda estava cheia de carros. Um alívio chegou e com sorte meus pais nem teriam percebido que horas eram, evitando possíveis perguntas. Parei na porta, respirei profundamente e olhei para dentro da grande sala. As mesas não estavam ocupadas, mas havia muitos grupinhos conversando. As risadas eram altas e eu pude perceber que com certeza não deram muita falta da minha presença. Passei perto de vários grupos de pessoas, para ver se encontrava meus pais. Por mais que eu tentasse evitar os assuntos, eles ainda vinham insistentemente na minha mente e eu expulsava um a um com muita dificuldade. O barulho exuberante já estava fazendo minha cabeça começar a doer. Eu estava vendo que se ficasse ali por muito tempo não iria aguentar. Fiz questão de rodar o salão duas vezes para tentar achar alguém, mas não tive muita sorte. Por um segundo me desesperei. E se a festa tivesse acabado e aquela ali fosse outra? Mas minha agitação durou pouco, pois logo avistei uns amigos de meu pai em um canto, conversando com duas moças. Pensei em pedir ajuda a eles, porém tirei essa ideia de imediato da minha cabeça. Não queria ser inconveniente e quebrar todo o clima que eles deveriam estar tentando fazer há algum tempo. Senti um puxão rápido em meu braço e eu olhei para trás assustada. Era minha mãe, junto com meu pai e dois rapazes.

               - Mel, não tinha visto que você já tinha voltado! – exclamou ela.

               - Bem – disse olhando para o relógio. – Já cheguei faz um bom tempo. Bastante mesmo, mas não encontrei vocês. – aproveitei a situação para dar uma leve exagerada.

                - Já estamos indo... Você perdeu a melhor parte! – disse meu pai mais atrás.

                - Não se preocupe pai, vou ter muitas festas. – Vamos sim, já estou ficando com dor de cabeça. – falei em baixo tom.

                - Dor de cabeça? – indagou minha mãe com uma cara de preocupação. – Por quê?

                - Não sei... – tentei disfarçar. – Talvez o clima que mudou.

                “Talvez o clima que mudou?” Não, essa não foi nem um pouco convincente. Já fiz desculpas muito melhor, mas naquela hora meu cérebro não estava muito apto a criatividades.

                 Por sorte minha mãe não deu muita importância a isso, puxando meu pai, que ainda conversava animadamente, para a porta. Eu fui seguindo atrás em silêncio. Fiquei assim por todo o trajeto de volta, até chegar em casa. Subi para meu quarto, arranquei aquela roupa que me sufocava e me lancei na cama.

                Um turbilhão de coisas veio na minha mente de uma só vez. Parecia que eu havia aberto as portas da minha cabeça, forçando os pensamentos a fazerem uma fila e pegarem senha. Com calma e sem muito desespero permiti que cada coisa viesse em seu tempo. A primeira lembrança que chegou foi do olhar amargo que Daniel lançou para mim ainda neste dia. Eu estava tão angustiada com ele, mas meu coração teimava mais alto. Como eu queria ficar brava, gritar, ou sei lá o que, porém o máximo que conseguia era ficar triste e imaginar onde eu havia errado. Fique nessa questão por um tempo, mas não consegui respondê-la. Talvez por que não havia uma resposta, a errada não era eu, e sim ele. Por que sempre custa tanto entender isso? Eu gostaria de saber, gostaria de mandar no coração, de dar um basta quando se está sofrendo.

             Eu ainda pensava em Daniel quando um outro pensamento tomou o seu lugar. A voz estava na minha cabeça novamente. Comecei a lembrar de seu timbre invadindo minha mente em plena lucidez. Gelei por uns instantes e tentei achar uma razão para isso. Por que será que a voz me chamou no mundo real? Será que eu realmente ouvi ou estava ficando louca? Sejam quais forem as respostas, não sei qual me dá mais medo de descobrir. O meu mundo dos sonhos já é bem conturbado e sem nexo. Meu melhor momento de paz é quando não estou dormindo. Agora, se os dois começarem a se misturar, quando vou conseguir ficar tranquila? Outra coisa que me incomodou muito foi a reação inesperada que meu corpo teve. Claro que não era para achar normal uma voz falando dentro da minha cabeça, mas também não precisava entrar em estado de pânico como se tivesse visto um fantasma. Mas será que não tinha? Essa voz é muito misteriosa e eu não sei da onde ela vem, tanto nos sonhos como agora, na realidade. O pior de tudo é que continuo tendo medo de saber.

             Ouvi passos no corredor e logo um toque soou através da porta.

              - Mel, está tudo bem aí? – era a voz da minha mãe. – Você está tão quietinha!

              - Estou sim... Mãe. – respondi em baixo tom. – Só estou com um pouco de dor de cabeça, acho que já vou deitar.

              - Ainda são oito e meia, mas se você já está com sono... Quer um remédio? – perguntou abrindo de vez a porta.

              - Não precisa... – resmunguei, colocando o travesseiro em cima da cabeça.

              Ela veio até mim, tentou achar um pedaço do meu rosto e deu-me um beijo, desejando boa noite. Não demorou muito para eu pregar os olhos.

              O campo estava tão verdinho e uma brisa suave batia em meu rosto, olhei para o lado e avistei Daniel sentado ao pé de uma grande árvore. Era a única por ali, o resto era apenas uma grama macia e molhada de orvalho. Fui a sua direção e quando me aproximei por completo não pude conter o espanto. A menininha de cabelos castanhos e olhos azuis, que vi desmaiada uma vez na frente da escola, estava deitada com a cabeça apoiada nas pernas dele. Fiquei a alguns passos de distancia, mas percebi que eles ainda não haviam reparado na minha presença. Aproximei-me mais um pouco, agora ficando praticamente de frente a eles. Quando ambos me avistaram, fizeram uma cara de espanto tão grande que não consegui entender o motivo, até porque, foi bem neste instante que acordei.   


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Notas finais do capítulo

Leitore queridos, me ajudem a divulgar a história o/
Indiquem se puderem, sei lá rsrs
Ou só continuem lendo mesmo... O incentivo de vcs já é o suficiente para a minha motivação :p