Mundo dos Sonhos escrita por Trezee


Capítulo 10
III - parte 3


Notas iniciais do capítulo

*-*



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                 Olhei para o relógio e me deparei com exatas onze e meia. Não havia problema com meus horários de saída, desde que eu avisasse uma hora prévia de retorno. Desta vez avisei, como sempre. Lembro-me muito bem das minhas palavras. “Mãe, volto lá pelas dez horas, no máximo dez e meia. A mãe da Jô vai me dar carona”. Eu estava encrencada. Peguei minha bolsa e logo revirei para achar meu celular. Nada. Fiz força para lembrar e infelizmente lembrei. Esquecera ele em cima do meu criado mudo. Agora sim eu realmente estava encrencada.

                 - Rápido gente, alguém pode me emprestar o celular! – pedi com uma voz ansiosa.

                 - Usa aí Mel. – disse Roberto que foi o primeiro a tirar o celular do bolso e me entregar.

                 - Obrigada Rô. – agradeci.

                 Disquei rapidamente o telefone de casa. Finalmente a música de chamada a cobrar começou a tocar.

                 - Mãe! É a Mel... – disse logo quando atenderam.

                 - Mel! Tentei ligar no seu celular. Primeiro chamava, chamava e ninguém atendia, agora eu tento e cai na caixa postal. – disse ela com uma voz aflita. – Você avisou que chegaria no máximo dez e meia, ficamos preocupados!

                  Logo de cara percebi porque o meu celular resolveu desligar sozinho. Com certeza ele estava ligado, mas a bateria devia ter acabado, dando a impressão de que eu supostamente desliguei ele por birra.

                  - Calma mãe, não precisa se preocupar. Eu esqueci o meu celular aí em casa e a bateria deve ter acabado. – O show atrasou para começar, daqui a pouco a mãe da Joana já vai chegar.

                  - Mel, onze e quinze seu pai saiu para te buscar... Estávamos preocupados. – disse ela calmamente. – Acho que é melhor você sair e ver se ele já está aí. Depois nós nos falamos. Tchau.

                  Só podia ser brincadeira. Eles realmente ficaram preocupados e meu pai com certeza estava do lado de fora, dentro do carro pensando se entraria ou não. Antes que ele se decidisse em entrar, me despedi rapidamente dos meus amigos que estavam na mesa e saí.

                  Quando olhei para fora, vi o carro do meu pai estacionado do outro lado da rua. Segui até lá e entrei em silêncio.

                   - Eu e sua mãe ficamos preocupados. – disse ele com uma voz séria. – Por que você não atendeu o celular?

                   - Esqueci o celular em casa, desculpe. O show atrasou e eu não dei conta de que horas eram. – tentei me justificar.

                   - Saí de casa onze e quinze, achei que tinha acontecido alguma coisa mais séria... Está tudo bem? – indagou, ligando o carro.

                   - Está sim... Não precisava se preocupar, a mãe da Joana ia me dar carona. – murmurei.

                   - Nunca ficamos impondo limites de horário para você. A única coisa que pedimos é que avise o horário que vai voltar, então evite quebrar isso. – disse com uma voz mais grave.

                   - Já pedi desculpas, eu me descuidei e nem me toquei que horas eram. – respondi. – Vou prestar mais atenção da próxima vez. Não precisam ficar se preocupando a toa.

                   - Depois sua mãe fala com você. – olhou rapidamente para mim, voltando novamente os olhos para a rua.

                   Eu só soltei um grunhido que soou como uma confirmação.

                  - A “festa” estava boa? – perguntou ele depois de um tempo.

                  - Estava sim... – confirmei. – Pena que não deu para me despedir de todos. – completei, me arrependendo profundamente segundos depois.

                  - Mas você não falou que iam estar todos na mesma mesa? Como você não falou Tchau para todo mundo? – indagou com uma cara desconfiada.

                   - Não... É que, não. – tropecei nas minhas próprias palavras. – É que algumas meninas estavam no banheiro, isso! – tentei parecer convincente.

                  - Ah bom... – fingiu acreditar ele.

                  Saí tão rápido do Open que nem havia dado tempo de sequer cumprimentar Daniel e a banda, quanto menos despedir-me.

                  Chegando em casa, minha mãe estava na sala e veio com a mesma conversa que meu pai teve comigo. Eu soube contornar muito bem a situação, coisa que me surpreendeu muito. Acho que estava saindo da fase da birra e entrando na do diálogo maduro. Creio que eu não fui a única surpresa com isso, pois minha mãe aceitou minha argumentação e não fez daquilo o fim do mundo, como estava acostumada a fazer.

                  Subi para o meu quarto, lavei o rosto tirando todo o excesso de maquiagem, vesti meu pijama e me lancei na cama. Em poucos instantes eu já estava dormindo.

                  Uma luz forte invadiu meus olhos, que estavam abertos observando uma paisagem que corria por uma janela, eu estava em alguma coisa que andava. A luz ficou mais forte e sua intensidade foi tanta que fui obrigada a proteger meus olhos com as mãos. Eu não via mais nada. Em instantes eu estava deitada, não sei onde, mais eu sentia calor, muito calor. Olhei em volta e vi labaredas de fogo. Assustei-me, porém meus músculos não obedeciam meus comandos, ficavam ali estatelados e imóveis. De repente, uma voz, uma voz fina, parecia de uma criança, pairou em meus ouvidos. Ela falava tão rápido que não consegui ouvir sequer uma palavra. Fiquei até em duvida se ela falava no meu idioma. Fiz uma força imensa e tentei me concentrar nas suas palavras, para ver se entendia algo. Foi aí que aquela voz, aquela já conhecida, doce como sempre, interrompeu a voz fina e começou a falar comigo. Em três palavras eu já estava mais tranqüila. Ela me disse para ficar calma, que tudo ia dar certo. Consegui mexer meus braços, minhas pernas e, com um pulo me sentei. Foi nesse ponto que o sonho se encontrou com a realidade.

                Mais um pesadelo para minha coleção. Se escrevesse um livro com todos os sonhos que já tive, acho que já teria centenas de páginas. Achei esse meu sonho curioso, nunca havia ouvido a nova voz. O que será que ela estava tentando me falar? Com certeza essa era uma curiosidade que eu não consegui descobrir, pelo menos não neste sonho.


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Notas finais do capítulo

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