PVO Silena

   --- Você está me fazendo de idiota garota?! --- perguntou Zeus irritado.

   Eu não conseguia responder. As palavras ficavam presas em minha garganta. Nunca havia ficado tão desesperada em toda minha vida.

   Eu nunca tivera problemas ao usar meus “poderes”. Tinha somente que pensar no que eu queria fazer, e acontecia. Aquilo sempre dava certo. Mas por algum motivo, naquele momento nada acontecia.

    --- Por acaso eu tenho cara de otário? --- disse Zeus me encarando --- Ou você me mostra seus “dons”, ou vou fazer você mostrá-los á força!

    Eu tinha vontade de chorar. Todos os deuses me encaravam. Zeus me olhava raivosamente segurando seu raio mestre e apontando-o em minha direção. Eu não sabia o que fazer. Por que não dava certo? Por quê? Todas as vezes havia funcionado, mas agora que eu precisava mais do que nunca de meus dons, eles não se manifestavam.

    Funciona, funciona, funciona pensava eu desesperadamente. Zeus estava cada vez mais enfurecido...

    --- Senhor --- disse papai --- Por favor, deixe-nos ir. Acho que Quíron deve ter se enganado sobre nossa filha. Veja, ela é apenas uma adolescente comum. Deusa? De onde ele tirou isso? Por favor, não a machuque --- eu não precisava de nenhum dom especial para perceber que papai estava com medo.

    Zeus passou a mão em sua barba longa e grisalha, pensativo. Pouco a pouco a expressão raivosa foi desaparecendo de seu rosto.

    --- Vou deixá-los ir --- disse por fim --- Mas só porque nós, deuses, temos uma dívida eterna com você, Jackson. E diga à Quíron que não temos mais tempo para esse tipo de palhaçada. Você sabe que estamos sendo ameaçados. A garota poderia estar trabalhando a favor do lado inimigo... --- ele parou por um momento --- Voltem para suas tarefas!

    Todos os deuses se retiraram da sala, com exceção de Atena e Posseidon. Estes diminuíram, ficando do tamanho de humanos comuns.

    --- Vamos acompanhá-los --- disse Posseidon --- levá-los até suas casas.

    Mamãe acentiu.

    --- Vovô, eu tentei. Juro. Mas não consegui --- disse para Posseidon. Eu conseguia chamá-lo de vovô, ao contrário de Atena, ele parecia um senhor de idade em nossa frente, enquanto Atena se mantém com uma idade próxima da de mamãe --- Eu costumo olhar nos fundos dos olhos das pessoas e elas ficam com... medo.

    --- Pequena concha --- era como mamãe me chamava --- O que mais sabe fazer?

    --- Consigo ficar invisível e...

    --- E... --- disse papai.

    --- Entrar na mente das pessoas fazendo-as reviver momentos de pânico. Posso fazê-las ver coisas de que mais temem. Posso também fazer as pessoas esquecerem de coisas boas.

    Todos se calaram.

     --- Como você descobriu tudo isso? --- perguntou Atena quebrando o silêncio.

     Não respondi.

     Já íamos saindo do elevador, quando papai comentou:

     --- Os anos passam e essas músicas continuam cada vez piores.

     Mamãe riu e deu um beijo rápido em papai. Os dois deram as mãos e abriram um sorriso.

     Atena e Posseidon reviraram os olhos.

      Entramos no carro e Atena repetiu a pergunta:

      --- Como você sabe desses seus poderes?

      --- Eu testei no verão passado, com alguns monstros e... com um garoto --- meus olhos se encheram de lágrimas só de pensar na morte de Logan --- Uma vez entrei na mente de papai e vi suas memórias, também.

     --- O que?! --- perguntou papai estupefato.

    --- Desculpa, foi quando você estava contando a história do primeiro beijo seu e da mamãe.

    Mamãe sorriu e apertou a mão de papai, que corou e depois sorriu também.

     --- Não acredito que uma das minhas filhas mais inteligentes se apaixonou por um filho seu --- disse Atena revirando os olhos.

     Papai fingiu não ouvir e mamãe olhou pela janela do carro tentando disfarçar.

     --- Já chegamos --- disse mamãe.

     Nós descemos do carro.

     Vovó sorria enquanto berrava:

     --- Charles, eles voltaram!

     Charles chegou e sorriu quando nos viu. Seus olhos estavam vermelhos de tanto...

      --- Chorar --- disse baixinho.

     --- O que? --- perguntou ele.

     --- Nada.

     --- Vocês não gostariam de entrar para conversarmos melhor? --- perguntou mamãe à vovó e vovô.

     --- Claro --- respondeu Atena entrando em nossa casa seguido por Posseidon, papai, mamãe, Charles e eu.

    Eu e meu irmão já íamos sentando no sofá ao lado de vovô  e vovó, quando mamãe disse:

    --- Si, Charles, será que voc6es poderiam sair da sala? Eu, seu pai e seus avós precisamos conversar... a sós.

    --- Mas... --- reclamou Charles.

    --- É claro mamãe --- respondi.

    Charles me encarou com um olhar de “o que você está fazendo?”.

    Puxei Charles pelo braço, e juntos subimos as escadas rapidamente.

     Quando chegamos ao topo, me agachei e comecei a espiar os adultos por um dos vãos do corrimão.

     --- Tinha certeza que você iria arranjar um jeito de ouvir a conversa --- murmurou Charles agachando ao meu lado.

    Mamãe começou dizendo algo, mas eu não consegui escutar muito bem

    Daquele lugar que estávamos escondidos, não iríamos conseguir escutar muita coisa da conversa. O problema era que se chegássemos mais perto, eles nos veriam.

    O único jeito seria se eu... não, é claro que não. Meus poderes não funcionavam mais. Uma prova disso era o que havia acontecido de manhã. Se meus poderes não haviam funcionado na frente dos deuses, provavelmente não funcionariam agora.

    No entanto, não custava nada tentar.

    Encostei minha mão na mão de Charles, fechei os olhos e me imaginei invisíveis, como se não houvesse nada no lugar onde estávamos.

     Quando abri os olhos, não enxergava meu corpo, e muito menos o de Charles. Havia funcionado.

      Fomos descendo as escadas cuidadosamente. Eu segurava a mão de Charles fortemente.

     Nos abaixamos na beira da escada e ouvimos vovó dizer: