Um jardim enorme e colorido atrás do palácio, três crianças corriam ao longo dele;

Haviam rosas azuis, rosas, amarelas, verdes, laranjas, roxas, brancas, vermelhas e de todas as cores, algumas borboletas de cores diversificadas voavam ao redor do jardim, haviam as mais variadas espécies de flores e um laguinho próspero corria em seu meio. A pequena capela no meio no jardim era o esconderijo da princesa, uma linda garota de apenas seis anos de idade, ela tinha curtos cabelos verde-água presos em duas pequenas marias-chiquinhas e olhos azuis e puros como o próprio oceano, tinha a pele alva e usava um curto vestido branco (que deveria ser sua roupa de baixo, mas era apenas uma menina, e aqueles adornos pesados de suas vestimentas lhe dariam desvantagem no seu jogo de esconde-esconde) soltou uma risadinha, imaginando que nunca seria encontrada naquele lugar. Eram maravilhosos esses momentos de inocência.

–Achei!-Exclamou alguém, tocando em seus ombros, a pequena andou alguns passos pra trás com o toque.

–Ahhh! Kaito!-Exclamou a garotinha, colocando as mãos na cintura, fazendo um bico de irritação-Como me descobriu?-Indagou.

–Você estava rindo, princesa!-Respondeu o garoto, era mais velho que a princesa Miku, tinha cerca de doze anos, foi encontrado caído na frente do palácio, aparentava não se lembrar de nada, que não fosse o seu primeiro nome: Kaito, o garoto usava roupas nobres, mas nenhuma família abastada no reino o reconhecia como integrante dela, o mesmo com os da classe baixa. O mais curioso é que isso havia acontecido duas semanas após o nascimento do príncipe e da princesa, ele possuía seis anos, o que significa que presenciou toda a vida das crianças, o fato de ter aparecido duas semanas após o nascimento dos pequenos monarcas foi tomado como sinal de sorte pelas musas que foram chamadas para resolver o caso; Solução? Ele foi criado no palácio, e era como o irmão mais velho de Mikuo e Miku, apesar de que não era reconhecido como alguém da realeza ou tampouco da nobreza, era “aquele garoto sem nome de família que foi adotado pela dinastia Hatsune” vindo diretamente das palavras de algumas senhoras fofoqueiro do reino. Aos doze anos, o jovem poderia ser facilmente reconhecido como alguém da dinastia Hatsune, seus olhos azuis como o mar e cabelos azuis-marinhos e pele alva lhe concedia a tamanha semelhança com a realeza local, sem falar que se vestia de maneira impecável. Um garoto admirável, por certo.

– A Miku não sabe brincar de esconde-esconde!-Reclamou Mikuo, por ser o mais velho, era claramente aquele que se tornaria o rei. E, acredite; a idéia não lhe agradava nem um pouco (mais tarde ele se sentiria mais a vontade com isso) afinal, o pai nunca tinha tempo para ficar com eles, sempre trabalhando e resmungando para lá e para cá. Os cabelos verde-água estavam penteados de modo desleixado e os olhos que pareciam penetrar fundo na sua alma eram azuis, a sua roupa estava amassada, de todo modo, não conseguia deixar de ser um belo garotinho (mesmo que ele mesmo tenha feito questão de despentear o cabelo e amassar a roupa quando a governanta deixou seu quarto).

–Idiotas!-Resmungou, empurrado os dois e abrindo caminho entre eles, isso havia sido uma declaração de guerra para o início de uma brincadeira de pega-pega, corria para dentro do palácio cristalino sendo seguida pelos garotos risonhos.

Virava os corredores aos passos leves e animados, a vantagem era enorme, os garotos precisariam suar muito para alcançá-la. Estava passando perto da sala do trono, quando ouviu a frase “Sua majestade, temo ter horríveis, horríveis notícias!” Escutou a voz melancólica em tom preocupado. Os ouvidos da pequena se aguçaram, e essa encostou a cabeça próxima à parede, tentando escutar a tão terrível notícia. A feiticeira conversava com seu pai, seu timbre de voz era bastante trôpego e preocupado. A Feiticeira Miki aparentava ser uma jovem de quinze anos, com sua estatura baixa, cabelos roseados e olhos rosa, seria confundida com uma adolescente se não fossem as juntas em seus braços, revelando que ela havia transferido sua alma para o copo de uma boneca há 500 anos e agora vivia com o rosto conservado. Podia não aparentar, mas era incrivelmente sábia e experiente. Ela falava com o papai de Miku. Ou melhor, falava com o soberano de todo o Reino de Azul. Mas ela o chamava de papai.

Kaito e Mikuo se aproximavam, mas o fizeram em silêncio, percebendo o sinal que Miku passou ao colocar o indicador entre os lábios, ambos apenas se postaram próximos a ela e passaram a escutar a conversa com concentração admirável:

–E qual seria Miki? Por favor, ao contrário de você, não tenho todo o tempo do mundo!-Resmungou o rei, tinha feições antigas e barba e bigode cheios, os cabelos esbranquiçados que já foram azules cobertos por uma bela coroa de ouro. O trono ao seu lado desocupado dava um ar de tristeza ao local. O rei havia se tornado uma pessoa muito triste depois do incidente.

–Ah... Certamente...Bem- Começou à explicar se ajoelhando no chão em sinal de respeito -Vossa Majestade certamente deve saber que a atual Diva do reino...Bom...Ela...-Começava à se atrapalhar com as palavras, mas foi interrompida.

–Morreu!-Completou o rei, friamente, não resistiu em olhar para o trono ao seu lado. Não, ao contrário do que você deve estar pensando, a Diva não era sua esposa. Mas a morte havia levado alguém do seu lado, com certeza.

–Oh! Um acidente lamentável!-Comentou a Feiticeira, abaixando a cabeça. Era uma amiga próxima de ambas as falecidas. Era incrível que a morte ainda abalasse alguém com tantos anos em vida.

–Por favor! Pare com essas lamúrias! Vá ao ponto! Está dizendo que previu quem será a próxima Diva?-Reclamou o soberano, com uma expressão irritada.

–Oh! Bem! É sobre isso que eu... -Disse a pequena, se sentindo menos confortável para falar, olhando para os lados nervosamente.

–Não tem nada para tratar sobre isso! Quem é a garota? Diga-me! Diga-me e mando soldados imediatamente para a casa dos seus pais... Eles a tirarão de lá! A trancamos na torre e todo o resto... Tem algo mais simples que isso?-Se exaltou o homem.

–Ah! Não será necessário tudo isso!-Murmurou ela, temerosa.

–O que quer dizer?-Enfureceu-se.

–A Diva é...A princesa Hatsune Miku, Vossa Majestade!-Declarou a mesma, lutando para não deixar lágrimas escaparem de sua face. A pequena Miku lhe era muito querida, sua afilhada, aliás.

O rei gritou, blasfemou, quebrou objetos, chorou e teve todo o tipo de reações negativas que se podia imaginar. A sua pequena? A sua linda flor? O único raio de beleza que entrava dentro daquela fortaleza de cristal... presa...isolada...em uma torre fria e escura! Inaceitável! Absurdo! Desparate!

Mas e a princesa? Como reagiu?

–Miku?-Indagaram Kaito e Mikuo. Mesmo que ainda chocados com a notícia recebida.

–Eu... vou fica presa...na torre?-Murmurou a pequena, em estado de choque.

–Miku! Acalme-se! Tenho certeza de que isso vai se resolver!-Tentou acalmá-la Kaito, mas o mesmo já estava nervoso demais pra transparecer alguma calma.

–Eu vou ficar presa naquela torre! Sozinha!-Exclamou ela, não ligando se a ouviriam, grossas lágrimas escapavam de seu rosto.

Em silêncio. Kaito e Miku se entreolharam enquanto tentavam consolar a pequena verde. Era uma promessa, ali e para sempre;

Fariam de tudo para tirar Miku daquela torre. Tudo.

Eles cumpriram a promessa, tardiamente, mas cumpriram.

E o silêncio doloroso ecoava pelo castelo de cristal;

Onde estavam a felicidade e as risadas? Trancados em uma torre, ao lado de uma chorosa princesinha azul.

Continua...