Quase um ano se passou, e a vida de Gabriel não mudara em nada. Só a tristeza que adquirira nesse tempo era notada pelos outros. O garoto alegre, que adorava sair com os amigos e estudava - ok, às vezes - não existia mais, só ficava em casa pensando em Laura, e vendo a única foto que tinha com ela.

Mas foi num sábado de maio que algo aconteceu finalmente. Com muita insistência dos amigos, Gabriel aceitou o convite para ir a uma festa numa cidade próxima. Cinquenta minutos de carro e estavam lá.

Havia duas filas para entrar na boate: uma onde se comprava as entradas, e a outra era a fila para entrar. Ele estava na fila para comprar o convite, já ele decidiu ir À festa de última hora. Observava com atenção todas as pessoas ao seu redor. A vulgaridade das meninas, e lembrava-se de como Laura era diferente, até que...

- Laura??? - sussurrou.

- O que foi, Gabriel? - seus amigos lhe perguntavam o que ele tinha acabado de dizer.

- Nada. - nada? Ele jurava que a tinha visto passar do seu lado... Mas tratou de esquecer, pois estava tão bitolado que talvez já estivesse vendo coisas.

A fila havia diminuído um pouco, em compensação a fila da entrada, que estava enorme. E de novo, Gabriel viu Laura. Mas dessa vez tinha certeza que era ela.

Ela estava com seus cabelos mais compridos do que antes, com uma roupa do mesmo jeitinho daquelas que costumava usar, um pouquinho mais curta. Ele ficou eufórico e não se continha de alegria, porém pasmo, pois pensou que esse dia talvez não chegasse.

Ele a observava, e não tirava os olhos dela. Via todos os seus movimentos e se lembrava da Laura de antes, mas que agora tinha um olhar triste e desesperançado. Foi então que chegou um garoto, e a beijou. Pra Gabriel, foi como um balde de água fria, mas ele ainda insistia em olhá-la.

O tal garoto pegou na mão dela como Lala havia dito que odiava, e ela ficou calada, apenas com olhares baixos. Tentou o abraçar como fazia com Gabriel, mas o menino não a retribuía, apenas dava-lhe um beijo no rosto, praticamente a ignorando.

Em seguida, entraram. O menino que a acompanhava parecia superficial, e era visível a tristeza de Laura, já não mais fria como estava antes.

(...)

Todos já estavam dentro da festa, inclusive Gabriel, que insistia que tinha que falar com ela, pois pensava que essa poderia ser sua única chance.

Ele a procurou por todo lugar, ao contrário do que seus amigos queriam, pois pensavam que ele estava ficando maluco. Logo que a encontrou, continuou apenas a observando de longe. Depois de algum tempo, Laura se distanciou do garoto que a acompanhava e foi até o bar.

- Eu quero sem álcool, não ouviu?

- Mas ninguém pede sem álcool, menina! Para de ser fresca!

- Não sou fresca, só sou menor de idade e quero me lembrar de tudo que acontecer hoje quando eu acordar amanhã! Agora me dá logo isso que eu estou pagando...

Gabriel estava agora atrás dela, só escutando, com um sorriso no canto da boca. De fato, aquela era a Laura que ele teve medo de que tivesse morrido. Depois que a garota pegou sua bebida sem álcool, ele juntou toda sua coragem e mais um pouco, e então a chamou.

- Laura! - a garota não deu sequer o trabalho de olhar, e continuou tomando sua bebida. - Laura!!! - ele a chamou de novo, que agora olhava com um olhar de entediada, pois pensava que era mais um os amigos do seu namorado que queriam fazê-la trair o garoto.

Quando olhou nos olhos de Gabriel, ficou perplexa, imóvel ali. Gabriel também não dizia sequer uma palavra. Apenas a observava com um sorriso que há muito tempo não era visto em seu rosto. Laura finalmente abria um pequeno sorriso carinhoso, quando o namorado mala chegou e lhe meteu um beijo na boca, e a puxou dali, sem dar chance nenhuma dos dois se falarem.

Mesmo assim, Gabriel não desistiu. Ainda queira falar com ela. Disse aos amigos que a viu e eles finalmente acreditaram no garoto, pois ele estava feliz como não se via há muito tempo.

Depois de algum tempo, Laura ficou saturada do namorado, que só queria aparecer, e saiu, também com a intenção de procurar por Gabriel.

Ela andava perdida no meio da festa, tentando achar o garoto, e, depois de algum tempo, sentiu alguém puxando sua mão.

- Laura! - era Gabriel. A garota ficou feliz, com o mesmo sorriso dele. Imenso. - Há quanto tempo! - ela apenas concordava. Estava pasma, pois também pensava que nunca mais o veria. - Vamos lá pra sacada? - Laura de novo concordou, sem uma palavra.

Chegaram lá e fecharam a porta de vidro, para amenizar o barulho da música alta.

- Eu senti muito sua falta.

- Eu... Eu também. - disse ela. Finalmente, uma palavra de sua boca.

Os dois olharam pro longe. Ficaram em silêncio por algum tempo, pois para ambos a presença um do outro já era suficiente.

- Sabe, depois que você foi embora, eu não fiquei com mais ninguém...

Laura continuou com seu sorriso no rosto, pois ela ainda parecia ser a dona do coração de Gabriel.

- Aquele lá é o seu namorado? - ele disse, agora mais chateado.

- Sim. Felipe.

- E... Você gosta dele?

- Se você quer saber, não. Eu só namoro ele porque senão eu vou ficar sozinha aqui... Meu único amigo é popular e eu nem peço pra ele ficar perto de mim mais do que ele tenta.

- Mas... Por que você foi embora? Por que fez questão de me esquecer, se agora não é feliz com ele?

- Eu não te esqueci.

Gabriel na mesma hora voltou com seu sorriso. Talvez ainda houvesse uma chance...

- Nunca?

- Não. Eu sempre te amei e sempre vou te amar, não importa o que aconteça...

- Você disse que...

- Eu sei o que eu disse.

- Por quê?

- Eu sabia que iria embora. Minha mãe arrumou um emprego aqui e viemos quase que imediatamente. E como ainda estávamos no começo, achei melhor encerrar ali o começo do sofrimento, já que ficaria cada vez mais difícil nos vermos devido à distância.

- Eu nunca deixaria de te ver, meu amor.

- É difícil... Eu pensei que te esqueceria, mas eu não consegui.

- Então quando eu te beijei pela última vez...

- Eu fiz o possível e o impossível, juntei as forças que eu tinha e as que eu não tinha e tentei resistir a você, e juro: essa foi a coisa mais difícil que eu fiz na minha vida. - Laura há essa hora já estava chorando, de emoção, felicidade.

- Ah, meu amor, vem aqui. - Gabriel a abraçou como fazia antes e ela se derreteu em seus braços.

Mesmo chorando, a felicidade que trazia consigo era aparente. Gabriel também estava feliz, quase chorando também, emocionado. Eles tinham ali reencontrado a felicidade.

Laura olhou em seus olhos e lembrou o quanto foi feliz com ele, e em tão pouco tempo. Logo ele se aproximou de seus lábios e chegando cada vez mais perto, quando abriu a porta um menino aloka corta-clima:

- Lalaaaa! O que é issooo!! Que bofe é esse hein?

- Edgar! Tudo bem?

- Garota, eu não te vejo feliz assim desde... Desde nunca! Não vai me apresentar?

- Ah sim. Esse é Gabriel. Gabriel, esse é meu amigo Edgar.

- Aquele seu namô patife não chega nem aos pés do Gabriel... Mas não se preocupe, eu não conto nada pra ele. Eu estou feliz por você, amiga, e você nem sabe como!!!!!

Gabriel ficou feliz por saber que ela nunca o esqueceu, e concluiu que ela pensava nele assim como ele pensava nela. Edgar saiu.

- Esse é o meu único amigo aqui.

- Aloka ele, não?

Laura riu, e foi um colírio para os olhos do amado, que esperava por um sorriso desses há séculos. Eles desfizeram o abraço, mas continuaram a se olhar fixamente.

Depois de alguns segundos, entrou Felipe, até então namorado de Laura.

- Laurita, olha só! Você está diferente... O que aconteceu?

- Nada, oras...

- Não mente! E quem é esse aí?

- Meu... Meu amigo, Gabriel.

- Amigo... Aposto que essa sua felicidade tem a ver com ele. Hmmm... Sabe de uma coisa? Vou terminar com você.

- Por quê??

- Você está estranha, e algo me diz que é por causa desse Daniel.

- É Gabriel! - disse ela.

- Viu? Olha quanta intimidade...

Ela fez uma cara de desprezo e ele foi embora. Namoro terminado, Laura sozinha...

- Que cara estúpido! - Gabriel disse, porém Laura estava triste, pois não teria mais ninguém com quem contar lá. - Calma, eu não vou te deixar, eu prometo de ver todos os dias!

- Promete?

- Mas é claro! A minha única felicidade é estar com você.

De novo, Gabriel foi se aproximando e quando seus lábios estavam prestes a se tocar, o alarme do celular de Laura tocou.

- Ah, desculpa... É que eu prometi ao meu pai chegar em 15 minutos, tenho que ir.

- Vai de táxi?

- Não, vou a pé. Eu moro a sete quadras daqui...

- Então eu vou com você, não é legal uma garota ficar andando sozinha pela rua essa hora, e além do mais, eu já fico sabendo onde é a sua casa.

Os dois iam saindo quando Laura lembrou-se da bebida que pediu. Agora na saída teria de pagar, mas Gabriel se prontificou e se dispôs a arcar com o pouco gasto dela. Enquanto ele pagava, ela ficou mais para trás observando o movimento do lugar, quando chegou Felipe totalmente bêbado dizendo que ela ainda era sua namorada e tentou agarrá-la, mas ela se soltou, e disse a ele:

- Desculpa, mas eu não preciso mais de você... Assim como você me usava pra ter status, eu não queria ficar sozinha, mas agora eu não estou mais assim, então, dispenso seus serviços. - ela deu um empurrão no idiota, que quase caiu no chão, de tão bêbado.

Logo depois seguiu até onde Gabriel estava, e saíram. No caminho pra casa, ele a abraçou pela cintura e Lala compreendeu que sua felicidade era ao lado dele. Só ao lado dele.

E ele sentiu-se completo, depois de quase um ano de tristeza e solidão, reencontrou Laura, seu único motivo pra sorrir.