Fim de Turno escrita por fosforosmalone


Capítulo 1
Capítulo Unico


Notas iniciais do capítulo

A fic se passa imediatamente após o final do conto, mas não é necessario te-lo lido para a comprensão da historia.



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Brogan acende a sua lanterna, e ilumina as carcomidas escadas de madeira que levam para o misterioso alçapão que os funcionários da fabrica têxtil haviam encontrado há pouco mais de uma hora e meia. Esta era pra ser uma noite tranquila. Alguns funcionários da fabrica têxtil haviam concordado em ganhar um dinheiro extra para trabalhar no turno da noite durante o feriado, realizando uma grande limpeza nos porões da fabrica.

Mas ninguém contava que a quantidade de ratos e ratazanas naqueles porões estivesse tão acima do normal. Ninguém conseguia explicar de onde vinham tantos ratos. Até que encontraram o alçapão, coberto por um monte de moveis velhos e carcomidos, moveis que datam do começo do século. Warwick, o capataz, e o novato Hall, desceram juntos ao alçapão para verificar se lá embaixo é que se encontrava o ninho dos roedores, e se eles eram numerosos o bastante para interditar a fabrica até um extermínio ser realizado.

 Brogan não achou que fosse boa idéia aqueles dois descerem sozinhos, devido ao clima tenso que havia se estabelecido entre o novato e o capataz, mas na hora, Stevenson preferiu não se meter. Mas já fazia uma hora que a dupla havia descido, e desde então, não havia mais dado sinal de vida. Brogan decidiu que eles deveriam ir procurar Warwick e Hall. Pediu a seu colega Stevenson para que fosse buscar lanternas para todos.

Ao total, eles eram seis. Alem de Brogan e Stevenson, havia Ippeton, Dangerfield, Nedeau, e Winconsky que se recusou terminantemente a descer. O covardão disse que esperaria os outros ali mesmo. Brogan começa a descer as escadas, e sente a madeira ranger aos seus pés. O grupo decidiu descer um de cada vez, temendo que a velha escada desabasse.

Ao terminar de descer a escada, Brogan passou o facho de luz da lanterna ao seu redor. Havia somente barris e caixotes podres apoiados em uma parede mofada coberta de limo. Suas botas pisavam em um chão de terra úmida. Um a Um, os companheiros de Brogan foram descendo as escadas para se juntar a ele. Após todos descerem, o grupo começou a avançar pelo túnel. O cheiro do lugar não era nada agradável. O odor era uma mistura de fezes com comida estragada. O único som que se ouvia era de água pingando no chão.                                                                             

DANGERFIELD                        

  - Caras, esse lugar fede, hein!           

STEVENSON

- O que esperava? O ar aqui é uma droga, e ainda por cima esta infestado de ratos, e sabe deus o que mais.

BROGAN

- Vamos em frente!

O Grupo começou a andar.Todos gritavam pelo novato e pelo capataz, mas não obtinham resposta alguma. Brogan acreditava que os dois desaparecidos podiam ter caído em um buraco ou sido vitimas de algum deslizamento de terra. Ou pior, que Hall tivesse surtado e matado Warwick, resolvendo permanecer escondido naquele alçapão.

Brogan tinha certeza de ter visto um brilho estranho nos olhos do rapaz quando este desceu pelo alçapão juntamente com o capataz. O grupo continuava a avançar, e a ficar cada vez mais distante da entrada do alçapão. Subitamente, Brogan começou a ouvir um estranho ruído. Como se algo se arrasta-se nas rochas ao seu redor.Foi então que Ippeton soltou uma exclamação ao iluminar as paredes com sua lanterna.

IPPETON

- Puta que pariu!

Ratos enormes andavam pelos juncos nas paredes, alguns inclusive parando para observar o grupo. Ao apontar o facho de sua lanterna para cima, Brogan viu os maiores morcegos que havia visto na vida, pendurados nas vigas de sustentação. Cada um deles pareciam ter mais ou menos o tamanho de um galo. Mas o mais assustador veio quando Stevenson ao ouvir um som estranho atrás do grupo,

voltou-se com sua lanterna para o caminho que já haviam percorrido, e notou que este estava coberto por ratos. Centenas deles, de pêlo negro e cinzento, andavam de um lado a outro do túnel, como se esperassem por algo. As caldas rosadas davam a impressão de haver minhocas zumbis rastejando pelo chão.

STEVENSON

- O que esses bichos tão fazendo?  

DANGERFIELD

-Pode me chamar de louco, mas parece que eles tão tentando nos acuar. Pessoal, acho melhor a gente voltar.

BROGAN

- Não vamos voltar sem saber o que aconteceu com Warwick e Hall. Alem do mais, não temos por que ter medo, pessoal. São só ratos. Na pior das hipóteses a gente toma uma vacina quando sair daqui. Vamos em frente!

O grupo andou por mais dez minutos. Apesar do que disse aos seus homens, Brogan estava ficando mesmo apreensivo. Podia ouvir os ratos os seguindo pelas paredes, e cobrindo o caminho que ele e seus colegas percorriam. Os animais não estavam tendo um comportamento comum, mas Brogan queria acreditar que não era motivo pra alardes.

 Porem, isso não foi mais possível quando sua lanterna iluminou um aglomerado de ratos a frente da “equipe de resgate”. Alguns ratos se dispersaram ao serem iluminados pela luz da lanterna, mas outros permaneceram ali, mastigando a carne do que um dia fora um homem. O rosto do cadáver estava virado para os homens, mas não havia mais rosto, pois os pedaços dele pareciam ter sido arrancado a dentadas.

 O corpo não possuía mais um dos braços, e no membro restante, podiam ser visto roedores entrando e saindo de enormes feridas. Apesar do uniforme que o cadáver usava estar em frangalhos, era inegável que se tratava do uniforme da empresa.

STEVENSON

- Meu deus! É Hall ou Warwick?

DANGERFIELD

- Não importa! Eu não sei vocês, mas eu vou voltar agora...

Neste momento, um morcego do tamanho de um travesseiro veio de cima, e mordeu Dangerfield. O homem grita desesperado, enquanto o animal bate as asas freneticamente, tentando levantá-lo. O som de ossos partidos e carne rasgada enche o ambiente. Brogan vê incrédulo que alem de bater as asas, o morcego mutante balança de um lado para o outro uma cauda que lembra a de um rato.

 Stevenson e Brogan avançam na direção do morcego, e batem nele com suas lanternas. O animal volta a voar para o teto, surpreendentemente conseguindo entrar em um buraco. Os quatro homens circulam Dangerfield, que cai no chão semi decapitado, com um horrendo ruído escapando de sua garganta enquanto o sangue esguicha.

 Logo o ruído para, mas é substituído por um ainda mais assustador. Os ratos que haviam se espalhado pela trilha que os trabalhadores percorreram parecem alvoroçados, guinchando incessantemente. Desesperado, Nedeau corre para o caminho que leva as escadas, tentando atravessar o mar de ratos no chão. Esmaga vários ratos com os pés, mas logo começa a sentir os roedores subirem por suas pernas, mordendo impiedosamente a sua carne. Uma ratazana pula da parede, e arranca a orelha de Nedeau com uma dentada. Seus companheiros observam horrorizados Nedeau cair no chão, e os roedores o cobrirem, logo os gritos do homem cessam.

BROGAN

- Não podemos voltar por onde viemos. Corram!

Os três homens restantes correm desesperadamente pelo túnel, até que Ippeton tropeça em algo. Brogan vê horrorizado, um rato do tamanho de um pitbull rastejar para cima do homem caído. O animal não tem as patas traseiras, e parece ser cego, já que não reage á luz da lanterna de Brogan. Ippeton sente o bafo podre do rato gigante, e tenta gritar por ajuda, mas o monstro envolve a sua cabeça com a boca, partindo seu crânio.

Para Brogan e Stevenson, o som dos ossos sendo triturados é ensurdecedor. Tudo que eles podem fazer é pular por cima do corpo de Ippeton e do animal, e continuar a correr. As lanternas se tornaram inúteis agora que eles estão correndo tanto. Enquanto corre pelo breu, tudo o que Brogan consegue pensar é em voltar a ver a luz do sol.

Seus pensamentos são interrompidos quando o chão lhe falta aos pés, e ele juntamente com Stevenson rolam um barranco. Brogan consegue se por rapidamente de pé, mas Stevenson não é tão rápido, sendo coberto por centenas de ratos. Stevenson sente um dos pequenos roedores tentando enfiar o focinho em seu ouvido, e o repele nauseado. Logo, o homem sente a dor de centenas de pequenas mordidas rasgando a carne de seu corpo, ele se debate um pouco, mas logo perde os sentidos, para nunca mais acordar.

Brogan tenta ajudar, mas logo um tapete vivo de ratos avança em sua direção. O ultimo sobrevivente do grupo corre até a parede da vala em que caiu, e começa a escalá-la, botando mãos e pés em pequenos vãos que ali se encontram. No chão, os raros põem as suas patinhas nojentas nas paredes, e guincham contrariados, esperando que o homem despenque.

Brogan sente uma dor aguda no dedo, e tira a mão de um dos vãos, não caindo por pouco. Uma ratazana solitária esta grudada em seus dedos pelos dentes. O homem bate a mão desesperadamente na parede, até que a ratazana cai. Foi neste momento, que Brogan viu a coisa mais bizarra daquela noite infernal. No centro do buraco onde havia caído, havia um gigantesco rato, um pouco maior que um touro. O animal não tinha patas, e sua única função parecia ser apenas gerar mais monstros para aquele inferno subterrâneo.

Brogan sentiu o pescoço ser envolvido por alguma coisa, e foi içado para cima. Um morcego mutante enrolou sua cauda de rato no pescoço do homem, e agora voa com ele para o centro do buraco. Brogan viu o rato gigantesco erguer a cabeça e abrir a boca. Ele se sentiu como um inseto que é pego por um pássaro, e é dado de comida aos filhotes, embora agora a situação fosse inversa. Estranhamente naquele momento, Brogan se viu pensando em Winconsky, que não quis descer. Winconsky era um covarde, mas pelo menos sobreviveria ao turno da noite. O aperto no pescoço de Brogan se afrouxou, e então, ele sentiu o corpo cair em queda livre, até que um par de dentes atravessou seu peito. Um par de dentes de rato.

Na entrada do alçapão, Winconsky consultou o relógio. Já fazia uma hora que a equipe de resgate de Brogan desceu aquele alçapão para procurar Hall e Warwick. Winconsky sentiu que aqueles homens nunca mais voltariam. Alguma coisa os pegou. A mesma coisa que pegou Hall e Warwick. Winconsky era um covarde, e sabia disso, mas sabia que só havia uma coisa a fazer.

Ele fechou a porta do alçapão, e foi até o armário de ferramentas, onde encontrou um maçarico. Winconsky voltou ao alçapão, e o lacrou. Então, começou a fazer o trabalho inverso que ele e seus companheiros haviam feito horas atrás. Voltou a encher o lugar com móveis velhos, voltando a ocultar a entrada do alçapão. Aquele lugar permaneceu oculto por décadas, e na opinião de Winconsky, assim deveria permanecer.

Winconsky cadeou o porão que ele e seus companheiros foram chamados para limpar, e saiu da fabrica, tapando os olhos por causa do sol. Já havia amanhecido, e seu turno havia acabado. Winconsky respirou fundo, sentindo o ar matinal. Era muito bom estar vivo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Se puder, deixe um review.