Cap. 10

A Reposta da Saudade

Quando acordo é que vejo Liana sentada ao meu lado e tirando um pano molhado da minha testa. A visão embaçada começa a tomar forma e percebo que estamos de volta a Tive. Logo em um salto, tentando me levantar da cama, sinto meu coração acelerado.

- Calma! – põe a mão sobre meu peito e me força a deitar de novo – Tem que descansar.

- Liana, me conta o que aconteceu, por favor.

- Está bem... – ela suspira – Vamos ver... Se eu não me engano foi anteontem, pelo fim da tarde, que os garotos chegaram bem nervosos aqui. Parece que tinham anunciado na cidade que aqueles assassinos estavam pelas redondezas, e nisso eu me desesperei!

- Desculpe te deixar preocupada. – sorrio. Ela ri.

- Não tem problema. Mas, vejamos, onde estava?

- Estava falando de quando eles chegaram...

- Ah, é!... Bom, o Leório ficou cuidando dos aldeões comigo enquanto Gon e os outros saíram atrás de vocês. Depois de um tempo somente a Bosom e os outros lobos voltaram, então resolvemos ir atrás e deixamos a alcatéia de guarda. Foi bem quando o Korapaika estava... Bom... – ela nota o quanto fico chateada – De qualquer jeito, a flor que eu disse para você pegar tem um odor que faz quem aspira dormir por muito tempo, e nós usamos algumas para jogar em todos! Os que se esconderam na caverna ainda abriram a porta que tinha lá com seu colar e saiu uma enorme aranha venenosa do lugar!

- O quê? – gemo com dor no braço.

- Já disse: se acalme que eu conto o resto. – tosse de leve – O Korapaika e os outros estavam fracos para lutar, mas os linces conseguiram deter o bicho e ela foi trancada de novo pouco antes de todo mundo desmaiar! Os lobos trouxeram os aldeões e eles ajudaram a carregar vocês, mas quando a polícia chegou para prender os assassinos, tinham fugido...!

- Ah... Não é uma notícia que me agrade, mas eu posso conviver com isto. – viro o rosto – É melhor que ter visto uma luta em que todos iriam se machucar, e até morrer! – Liana parece sem jeito de falar.

- Olha Katri... É melhor que saiba de uma vez.

- O que foi? Aconteceu mais alguma coisa?

- Para falar a verdade, sim. O caso é que o Korapaika, no meio tempo em que sumiu com os amigos, fez o teste da faculdade e agora ele vai voltar para a terra natal para se especializar no que escolheu! – o choque me pega de surpresa e me viro.

- Sério? – ela confirma devagar com a cabeça.

- Sinto muito. Ele também te deixou este bilhete.

- Um bilhete? – seguro um pedaço de papel que ela tirou do bolso – Como estão os outros?

- Todos estão bem. Os pais da Kelly viram o modo como o Killua a protegeu até o final, então resolveram deixar que ela continuasse nos vendo! – anima-se.

- Mas ela foi embora? – interrompo.

- Não, mas ela vai ter que ver a família quando quiserem chamar. Ela aceitou.

- Se ela aceitou, então está certo.

- Vou deixar você ler sossegada. – sai da cabana.

"- Katrina, eu sei que a Liana já deve ter contado o que aconteceu enquanto está lendo esta carta, mas eu preciso te explicar por mim mesmo o que houve." – começo a ler – "Eu agradeço muito por tudo o que fez, porque, se não fosse você, eu certamente teria matado todos os membros dos dois grupos de assassinos naquela hora! Infelizmente, por muitos motivos, eu tomei a decisão de voltar para casa no primeiro vôo da manhã. Eu consegui passar no teste que eu queria e vou me esforçar para ser um ótimo ambientalista, o que é uma das coisas que eu devo a você!... Sinto muito por não me despedir; tudo o que eu falei naquele dia foi verdade, e por isso eu não conseguiria dizer adeus. Espero que você seja feliz, você merece! Também estou deixando o Sinner com vocês; sei que vão cuidar bem dele. Korapaika" – entro em paralisia.

As imagens de tudo o que fizemos começa a vagar pela minha mente como a tela de um filme quase mudo a não ser pelas palavras "Eu te amo!". A carta cai no chão e meu corpo dormente ganha uma força repentina. Saio da cabana e vou quase correndo para Kelly, fazendo Bosom, Sinner e Excuser levantarem.

- Kelly, por favor, me diga que o Gon e os outros ainda estão dentro da reserva! – sacudo seus braços.

- Não Katrina, eles já foram embora tem uma hora.

- Meu Deus!... – solto-a e bato na testa – Eu não posso perder tempo, tenho que ir!

- Ir aonde? – a voz dela alerta Gene e Liana.

- Você vai sair Katrina? – escuto Gene perguntar.

- Katrina, espere! – exige Liana, ficando na minha frente – Você não vai a lugar algum do jeito que está!

- Mas eu não posso deixar que ele vá embora!

- Quem? – Gene chega perto junto da Kelly.

- O Korapaika. - Kelly responde - Mas você não disse antes que nem queria ouvir o nome dele? – sorri. Ruborizo.

- Isso foi ANTES! – enfatizo – Por favor, Liana...!

- Certo, eu não vou te impedir de ir atrás dele, mas do modo como está machucada vamos ter que pedir ajuda ao Leório e os outros para chegar ao aeroporto.

- Ótimo, vou deixar os lobos de guarda. – avisa Kelly – A Excuser e o Sinner podem ajudar.

Quando nos aprontamos para ir chegamos bem rápido na casa da Mito, mas descobrimos que eles já tinham saído fazia um tempo. Resolvemos pegar um táxi e usamos do fôlego que nos resta para correr por todo o aeroporto. De repente uma moça avisa pelo alto-falante que o avião no qual ele deveria estar saiu.

Para o aumento da minha frustração, os olhares alheios dos rejeitadores de sempre caem sobre Kelly e eu. O sinal de desgosto nos afasta a passos largos do lugar e voltamos a entrar na reserva pela porta de ferro aberta. Kelly estica as garras e faz dois buracos na grade, se afastando raivosa. Gene tenta acalmá-la.

- Ninguém merece, depois de tudo que passamos!

- E nem sabíamos que o Gon e os outros também decidiram ir com ele... – Gene suspira – O que eu vou fazer agora que o Gon foi embora?

- Você pode voltar a se divertir com os animais, como sempre. – Liana procura animá-la.

- É, mas não vai ser a mesma coisa!...

- Se eu pudesse botar as mãos naquele...

- Kelly, nós estamos lamentando pela Katrina, em?

- Não diga nada, porque eu sei que você também gostaria que o Leório não tivesse ido embora!

- Tudo bem, então por que não falamos do Killua?

- Cala a boca, vovozinha!...

- Ok, já chega! – Gene fica no meio – As duas parem com isso! Eu já disse que detesto ver brigas.

- Ela que começou! – as duas falam em uníssono.

- Não importa mais. – interfiro – Vamos para casa.

- Mas logo agora? – Gon chama nossa atenção.

Kelly se vira de supetão e nós logo em seguida: lá estão eles, sorrindo e apoiados na grade. Noto que usam correntes com crucifixos feitos em Tive, provavelmente o símbolo de gratidão dos aldeões.

- Vocês... Vocês não iam embora? – estranha Liana.

- A gente ia... – explica Leório, dando a volta junto com Korapaika – Mas esquecemos uma coisa.

- Na verdade, nós esquecemos quatro coisas. – Killua corrige, rindo e olhando para Kelly – Vocês! – entreolhamos e rimos. Kelly se aproxima do Killua.

- Ah, vocês não tem jeito. – ela aumenta as unhas e segura o pescoço dele com força – COMO É QUE TIVERAM CORAGEM DE SUMIR ASSIM? SEU...!

- Ei, você está me sufocando!... – ele tenta respirar. Enquanto os outros tentam separá-los, Korapaika se afasta comigo e sussurra.

- Katrina, eu sei que não posso ficar no lugar dos...

- Não se preocupe Kora. - interrompo sorrindo - Você repõe a saudade!

Fim