Caminhos para o Inferno escrita por Nynna Days


Capítulo 2
Capítulo 1




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Capítulo 1

Tudo começou a acontecer dois dias antes do enterro, a única coisa que tinha em comum era que eu tive o mesmo sonho. Na verdade, toda noite eu tinha esse sonho, mas nunca conseguia decifrá-lo e isso me deixava, realmente, fula.

O despertador tocou exatamente as sete da manhã. Bati com tanta força nele que achei que, finalmente, tinha quebrado o desgraçado. Meu quarto ainda estava escuro, mas eu conseguia ver claramente Snickssah deitado na minha barriga. Seus lindos olhos pretos me encararam com admiração e ele simplesmente ... miou.

Eu tinha pesquisado na internet que os gatos tinham em média dez anos de vida, mas Snickssah já estava comigo durante meus 17 anos. Eu sempre soube que ele não era um gato comum, assim como eu também não era uma garota comum.

Fingi ignorá-lo e me virei de bruços. Dois minutos depois que eu tinha acordado, a porta do meu quarto foi aberta. Ouvi passos se aproximando e senti um peso no meu colchão. Logo em seguida, mãos acariciaram meu braço e uma voz doce me chamou:

“Tá na hora de acordar, Emi.”, minha mãe chamou.

Afundei ainda mais meu rosto no travesseiro e gemi. Cara, eu amava muito a minha mãe , mas odiava ir a escola. Minha mãe virou o meu corpo até que eu ficasse em frente a ela e abri meus olhos.

Minha mãe era como um anjo. Tudo nela era perfeito. Seus lindos olhos cinza tinham o poder de hipnotizar qualquer um e seus longos e lindo cabelos pretos atraiam a atenção de todos. Sua voz era como um canto de sinos. Como meu pai pôde abandoná-la? Como ele pôde abandoná-la grávida?

Minha mãe nunca gostou de tocar no assunto do meu pai. Tudo que eu sabia sobre ele era que tinha olhos verdes. E só sabia disso porque eu era a única da família que tinha olhos verdes. O restante tinha os olhos cinzas , assim como o de minha mãe.

“ Você vai chegar atrasada na escola. De novo.”, minha mãe disse me fazendo cocegas na barriga. Não tinha como não rir.

Depois de dois minutos de cocegas , minha mãe parou e estalou a língua para Snickssah. Eu já sabia o que ela diria em seguida.

“Eu já não te disse para o gato não dormir com você?!”, ela me repreendeu. Minha mãe gostava de Snickssah , mas odiava tê-lo dormindo comigo. Era uma mania da minha avó e da minha mãe , mas eu não dava muita importância para ela.

“Ele estava arranhando a porta , mãe. Eu pensei que ele estava com frio e o deixei entrar.”, eu fiz a minha carinha de cachorrinho e isso a fez sorrir.

“Tudo bem, mas que essa seja a última vez. Agora,”, ela disse me levantando a força. “se levante, mocinha. Não quero reclamações do diretor, de novo.”

Minha mãe me levantou com tanta vontade que Snickssah , tomou um susto e saiu porta a fora do quarto. Seu pêlo era tão preto quanto o meu cabelo. E dizem que gato preto dá azar. Snickssah nunca me deu azar, apenas sorte.

Entrei no banheiro e me enfiei no chuveiro sentindo meu longo cabelo caindo bem abaixo da cintura. Outra característica do meu pai desconhecido. Eu era a única da família que tinha o cabelo ondulado. Nem liso , nem cacheado. Mas sim , ondulado.

“Emi”, ouvi vagamente minha mãe gritando enquanto a água continuava caindo pelo meu corpo. “Está frio.”

Isso me fez sair do banheiro mais rápido. Frio significa chuva, uma coisa muito rara em Drexel, Carolina do Norte. Minha mãe e eu adorávamos a chuva. Meu irmão sempre odiava porque não podia sai para andar de skat.

Sai do chuveiro escovando meu cabelo. Sem pedir, minha mãe tomou a escova de minha mão e começou a penteá-lo , rápido e maternalmente.

“Eu prefiro seu cabelo solto.”, ela disse quando finalizou.

Fui correndo até o meu armário e peguei uma calça jeans escura com correntes pratas do lado, uma blusa de manga longa preta e outra de manga curta com um desenho de uma caveira pegando fogo, também preta. Me vesti em tempo recorde enquanto conversava com a minha mãe.

“Eu comprei um novo livro pra você”, ela disse enquanto eu colocava a calça e fechava os botões.

“Sério? Qual ?” , perguntei colocando a primeira blusa de manga longa.

“O mistério da avenida 16.”, ela declarou sorrindo.

Eu tinha muitas manias que os pais comuns não aprovariam. Como, por exemplo, usar preto. Não que eu fosse gótica ou emo ou roqueira. Não. nada disso. Eu era apenas eu mesma. Noventa e nove por cento das minhas roupas eram pretas e os outros um por cento eram as meias brancas que eram obrigatórias na escola.

Outra mania, era de ler livros sobrenaturais. Eu era viciada nesses livros. Tinha começado a ler esse tipo de livro nos meus dez anos e nunca mais larguei. Minha mãe apoiava a minha leitura, enquanto minha avó odiava e meu irmão me chamava de estranha.

“É sobre o que?”, eu perguntei enquanto sentava e colocava meu All Star preto. Quando terminei coloquei a mochila nas costas e fui em direção aos corrimões da escada em frente ao meu quarto.

Minha mãe me seguia descendo as escadas. Eu parecia um elefante com um espinho no pé descendo as escadas, mas minha mãe parecia uma pluma. Sempre tão silenciosa e delicada.

“É sobre um casal que acabou de se casar e se muda para uma

casa mal assombrada.”, minha mãe respondeu quando chegamos a cozinha.

Minha avó estava sentada na mesa comendo um bolo recém feito. Eu conseguia ver a fumaça saindo do bolo enquanto ela colocava um pedaço na boca. Minha mãe se sentou a mesa e tirou um pedaço para si , enquanto eu pegava um copo de suco que estava ao lado de minha avó.

Minha avó tinha os cabelo lisos e grisalhos que andava sempre em um coque bem arrumado no alto da cabeça.

“Bom dia , vó Lucinda.”, eu disse dando um beijo em sua bochecha.

“Bom dia , Emi.”, minha avó respondeu e se virou para a minha mãe pegando em sua mão. “Bom dia , Elisabeth.”

“Bom dia , mãe.” , minha mãe respondeu e ela tirou o olhar da vovó e me olhou com doçura. “Vá chamar o seu irmão.” , quando eu estava saindo , ela me chamou de novo. “Emi, você pode levar Cristinne e Teddy para a escola também? As mães deles vão estar ocupadas hoje.”

“Tudo bem , mãe.” , eu disse revirando os olhos com a idéia de levar os amigos nerd do meu irmão para a escola e parando no meio da escada. Puxei todo o ar dos pulmões e gritei com toda a força. “Koren!”

Ouvi um baque surdo e passos correndo. Koren era meu irmão mais novo de 16 anos. Na verdade, éramos meio irmãos , porque os nossos pais são diferentes. O pai dele, Erik Doutran, foi casado com a minha mãe por dois anos depois que meu pai sumiu, mas morreu em um acidente de carro. Fim trágico para um cara de 23 anos. Mas , mesmo sabendo que a minha mãe não o amava de verdade, se comprometeu a se casar com ela. Pelo andar da história, eu diria que ele já era de olho na minha mãe no tempo em que ela estava com o meu pai, mas esperou meu pai vazar e tomou o seu lugar. Minha avó também gostava de Erik, não que eu não gostasse, mas toda hora ele queria tomar o lugar que pertencia ao meu pai no meu coração, me presenteando, mas mesmo com três anos, eu já entendia tudo o que se passava em sua mente.

Se vocês acham uma criança de 3 anos saber tudo isso, deveria saber o que eu sabia agora que tinha 17. Eu sempre tive um crescimento mental muito avançado para a minha idade. Já quiseram me avançar de ano, mas minha mãe disse que eu merecia um crescimento normal como todo mundo.

Mas eu não era um tipo de nerd. Não, nada disso. Eu era diferente. Quando me contavam alguma coisa, sem que a pessoa terminasse, eu já sabia a resposta. Podia ser com pessoas conhecidas ou não. Koren odiava assistir filmes de mistério comigo, porque eu sempre descobria primeiro que era o culpado.

Em falar em Koren, ele estava descendo as escadas correndo, com o cabelo despenteado, com a mochila em uma mão e tentando colocar a blusa com a outra. Ele parou na minha frente e me olhou de cima a baixo.

“Bom dia , esquisita.”, ele me cumprimentou, se é que se pode chamar isso de cumprimento.

Ouvi minha mãe gritando de dentro da cozinha. “Koren, não chame a sua irmã de esquisita. Ela é diferente. Tem seu próprio estilo, como você.”, ela me defendeu.

“ Bom dia , Koren.”, eu respondi. “Quer uma ajuda?”

“Não, obrigado.”, ele respondeu bruscamente e foi para a cozinha, eu fiquei sentada na poltrona da sala o esperando e o ouvi falando com a minha mãe. “Mãe, me ajuda aqui.” Eu pouco ligava para ele. Tinha a minha própria vida e enquanto ele não tivesse seu próprio carro, teria que andar na linha comigo, ou ia a pé para a escola.

Koren tinha os cabelos mais claros que o meu, assim como os de seu pai, castanho claro e os mesmos olhos de minha mãe, cinzas. Eu poderia ser a mais velha, mas ele era mais alto que eu. Dois ou três centímetros , mas mesmo assim , mais alto. Bem, Koren era bonito, só um pouco criança, por isso eu tinha um namorado e ele não tinha uma namorada. Na verdade, ele tinha uma queda pela minha melhor amiga, Korinna Stand, e ela também , meio que gostava dele. Eles só não ficavam juntos por causa da idade.

Bobeira, não é? Só porque ela tinha 17 e ele 16 , eles não poderiam ficar juntos, mas eu nunca esboçava a minha opinião nos assuntos deles dois.

“Vamos”, disse Koren, me tirando dos pensamentos sobre a sua vida amorosa com a minha melhor amiga. Minha mãe estava parada logo atrás dele , me olhando confusa.

Eu me levantei e dei um beijo em sua bochecha, da minha mãe, quer dizer, e ela também me deu outro beijo na bochecha.

“Tchau , Emi. Cuidado ao dirigir . Eu te amo.”, ela disse tudo o que ela sempre dizia quando estávamos indo para a escola. “ E você, mocinho.” , minha disse para o Koren. “ Cuidado com esse skat. Eu te amo.”

“Eu te amo também, mãe.”, nós dizemos juntos e minha mãe riu.

Saímos de casa direto para a garagem. Por fora, minha casa era cinza. Parece estranho, mas é real. Cinza , como a cor dos olhos de minha família. Ela tinha dois andares, cinco quartos, cada um com o seu banheiro e um sótão, também uma garagem e a cozinha.

E na garagem ficava o meu “xodó” . Meu carro. Um Volvo preto. Tão lindo e maravilhoso, e principalmente, meu por direito. Uma curiosidade sobre o meu pai desconhecido é que ele nunca dá as caras , mas nunca nos deixa na mão. Sempre manda presentes , dinheiro e coisas assim. Por exemplo, o meu carro foi presente de aniversário de 15 anos. Eu já o tinha sem ter a minha carteira de motorista, mas depois que tirei minha carteira, ninguém o dirigiu a não ser eu.

Koren sempre me pedia para dirigir, mas adivinhem a minha resposta. Se vocês falaram Não, estão certo, e isso o deixava fulo comigo.

Minha avó não gostava dos meus presentes, mas nunca poderia devolvê-los porque não vinham com remetentes. Era assim que eu sabia que o meu pai estava vivo e que se importava comigo.

Koren se sentou atrás , porque sabia que Korinna iria estrar no carro. Quando estávamos saindo da garagem , eu tive que dar uma parada brusca. Por quê ? Por causa do carro da mãe da Barbie que estava fazendo o retorno. Ela abaixou o vidro para ver se todos estávamos bem e sorriu.

“Bom dia , Emily. Bom dia, Koren.”, ela nos cumprimentou.

“Bom dia , senhora Collen.”, nós respondemos.

“Não me chamem assim, eu pareço velha.” , ela disse ainda sorrindo. “Me chamem de tia Meilyn.”

Merilyn Collen ou tia Meilyn, como gosta de ser chamada, era minha vizinha e mãe da Barbie, ou Katerine Collen, Katy. Tia Meilyn tinha os cabelos cacheados e loiros até o ombros e seus olhos eram azuis como os de sua filha. Ela estava dirigindo uma BMW prata e Katy estava ao seu lado nos encarando.

Cara, eu nunca fui com a cara de Katy Collen. Ela sempre foi uma patricinha metida a besta, mas que nem tinha o seu próprio carro. Ela também tinha cabelos loiros, mas os delas eram longos e lisos e seus olhos também eram azuis, mas azuis quase... dóceis , amáveis, quase angelicais, mas eu disse quase.

“Diga ' bom dia ' , Katy.”, Merilyn disse a sua filha.

Katy chegou o seu corpo para frente e me encarou. Ela estava com uma regata florida e uma calça jeans clara e um casaco por cima de tudo.

“Bom dia, Polly.”, ela me cumprimentou.

“Bom dia , Barbie.”, eu retruquei.

Como eu havia dito antes, eu não ia com a cara de Katy e nem ela ia com a minha. Nós éramos como sal e açúcar, água e vinho, cão e gato. Nunca ficávamos de bem e sempre que nos deixavam dois minutos sozinhas estávamos discutindo.

Depois desse momento desconfortável para a mãe da Barbie, elas seguiram o seu caminho para a escola, mas eu ainda tinha coisas para fazer, ou melhor, gente para buscar.


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