21 de março de 2003 – Apartamento emprestado (quarto do Will e da Maely)
Willian P.O.V

- Você simplesmente me tira do sério! – estava gritando Maely enquanto eu ouvia pacientemente sentado na beirada da cama dela. Fazia pelo menos quinze minutos que ela estava me passando o maior sermão da face da Terra por causa da garrafa vazia de Jack Daniels que ela havia encontrado debaixo da cama no dia anterior e porque eu tinha bebido um pouquinho de Red Bull antes da apresentação. – Quantas? Quantas latinhas de energético você tomou?

- S-se-cofcof-t-te - enrolei, para não dizer a vergonhosa verdade.

- SETE? – gritou ela de volta. Fala sério, não dá pra enganar essa garota, ela só pode ter sangue ninja! – Você acha isso pouco?

- Hm...

- Não, é melhor que você não responda! – ta legal, então porque, diabos, ela pergunta?! – Sabe, Will, se você bebesse e ficasse numa boa, não teria problema. Se você fosse como o Gabriel ou como o Matheus, que bebem e ficam noiados, não atrapalham ninguém e vão dormir, seria tudo muito mais fácil... Mas você não é. Você fica impossível quando bebe!

- Não, espera ai, porque eu fico impossível? O que foi que eu fiz dessa vez, foi só energético, juro que não coloquei uma gota de álcool na boca ontem, juro! – reclamei.

- Certo, mas você acabou reagindo pior do que se tivesse bebido uma arca inteira de uísque. – parei um momento para imaginar uma arca inteira de uísque e não percebi quando Maely me lançou aquele olhar novamente, aquele que fazia parecer como se ela fosse uma garotinha outra vez e virou-se de costas. Fiquei de pé em um salto para ir até ela e perguntar de uma vez por todas porque toda aquela raiva da bebida, mas ela voltou a se virar para mim e continuou falando – Você ficou lá, se enroscando com aquela morcega e nem percebeu quando eu fui levar pra você...

- O que? – perguntei quando ela parou de repente de falar – O que você foi levar pra mim?

- Esquece, não era nada. – respondeu ela e caminhou até a porta do quarto.

- Não, espera ai – falei, agarrando-a pelo pulso e puxando-a de volta para dentro do quarto – Você falou tudo o que queria falar, então agora é a minha vez.

- Sua vez...?!

- Senta ai – decretei, empurrando-a para que se sentasse onde eu fiquei sentado escutando o sermão dela. Agora era eu quem ia dar o sermão – Nós precisamos falar sobre o que vocês fizeram ontem.

- Nós? – perguntou Maely, emburrada.

- Sim. Você, Gabrielle e Suze.

- O que nós fizemos?

- Não se faça de desentendida. Estou falando daquele episódio lastimável em que as três donzelas subiram no palco para ofender a vocalista e a baterista da banda Hellcats. Eu realmente estou decepcionado. Com as três; mas em especial com você.

- Decepcionado? Ah, faça-me o favor, Willian! – respondeu ela, descruzando os braços e sorrindo de lado, sarcástica – Aquelas duas estavam dando em cima de você e do Gabriel na cara dura e vocês estavam dando corda!

- E daí? – atalhei, encarando-a sério. Eu podia não estar no meu melhor momento naquela hora por causa do energético, mas eu me lembrava perfeitamente do que havia acontecido – Eu e o Gabriel somos livres, lembra-se?! Não devemos nada pra ninguém. É pecado querer receber um pouco de atenção às vezes?

- Mas vocês não têm atenção quando estão com a gente? – perguntou ela, aparentemente perplexa – Nós não somos o bastante para vocês? Vocês dois precisavam mesmo procurar um rabo de saia qualquer por ai?! Afinal, não somos nós os seus amigos?

- Exatamente – respondi – Você, a Suze, a Gabrielle, o Matheus, o Paulo, a Marielle, o J.C... todos vocês são nossos amigos, os melhores amigos. Se nós estamos felizes em estar com vocês? É obvio. Mas não é desse tipo de atenção que estamos falando.

- Acho que eu entendo... – disse ela finalmente, abaixando o olhar para as mãos.

- Maely?! – chamei-a, me abaixando para ficar na altura em que ela estava. Puxei o queixo dela para que ela olhasse para mim – Eu não gosto quando nós brigamos. Por favor, não vamos mais fazer isso, ta?!

- Certo – respondeu ela.

- Então dá um sorriso! – pedi, chacoalhando-a de leve pelos ombros. Ela abriu um sorrisinho tímido, mas logo sua boca se contorceu num enorme sorriso, extremamente contagiante. – É isso ai! Estamos bem agora?

- Acho que sim – respondeu ela passando os braços pelos meus ombros quando a puxei para um abraço.

- AH, MEU DEUS, GENTE VEM VER QUE COISINHA MAIS FOFA!

Desgrudamos um do outro e demos de cara com o Paulo e a Marielle parados na porta do quarto com as mãos no rosto e nos olhando com uma cara estranhamente vidrada. Deu medo, é sério, sério mesmo.

- O que, o que aconteceu? – perguntou Suzannah passando por entre os dois para ver o que estava acontecendo. Logo depois Gabriel, J.C, Matheus e Gabrielle apareceram e atulharam ainda mais o quarto.

- Fala sério, é só o Will e a Maely num momento overdose de fofura! – comentou J.C empurrando todo mundo para fora do quarto. – Espera, eu disse Will e Maely?
- Sim – respondeu Marielle.
- Corram para as colinas, é o Apocalipse!
- J.C? – disse Gabriel com uma sobrancelha arqueada – Isso foi muito... Paulo.
- Claro, porque era eu quem estava ‘experimentando’ sutiãs e fingindo ser minha irmã gêmea – rebateu Paulo antes que J.C pudesse responder.
- O que? – gritou Gabrielle. – Meus sutiãs?
- Hm, na verdade eram os sutiãs da Suzannah – dedou Matheus.
- E você estava junto! – acusou Gabriel.
- MAS É O QUE, HEIN?! – gritou Suzannah. Mas parei de prestar atenção quando todo mundo saiu correndo escada abaixo atrás dela, que começou a ameaçar o Gabriel e o Matheus de morte... Gente doida.